25 de set. de 2011

Juízo final.


Laura estava dentro do cristal de um vitral, 
melhor dito,
 estava dentro da própria luz que o varava.
 A luz a forçava a abaixar a cabeça 
a fugir os olhos brilhosos da luz incidente.
 Mesmo assim esta luz a cegava.
 Então cerrava os olhos.
 Ainda cegados pela luz. 
Laura quer responder a uma pergunta ausente.
 Insiste. 
Tartamudeia ao responder:
 fui sim e sou, o quê que sou.
 O tempo passa lentamente, em seu sempiterno vagar.
 Agora a luz tépida é leitosa,
 menos aguda. 
É como se Laura estivesse dentro de um copo-de-leite cheio de leite que a permitisse levantar a cabeça,
 abrir os olhos, 
mas a nada vê, 
senão o leitoso branco dentro dos olhos sendo os próprios olhos lácteos.
 E o tempo escorrega viscosamente mel. 
Laura se desmancha como uma miga de miolo de pão em leite demolhado.
 Não houve pergunta que ela não ouve ou pensa em respostas,
 nem o pensamento existe,
 apenas o leite por toda parte,
 mas parece não lembrar-se se existiu pergunta ou acusação, mas ela sopra lentamente um sim,
 também. 
Os séculos passam melífluos e esbarram-se entre uma não-pergunta e outra.
 A vaga luz resume-se lentamente.
 O vagaroso branco se abruma.
 Detido. 
Lentamente.
 Quieto. 
Lacra-se completamente,
 igual o apagar-se de uma televisão de válvulas,
 com um ponto luminoso no meio da tela escura,
 que perdura em nossos olhos, 
além da sua existência. 

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