- Perdoa se não me levanto.
Epitáfio para João Meufriend.
Sempre admirei muito os Seixianos, em especial o João. Suas frases curtas. Uma vez escritas fariam um livro de aforismos inapelavelmente concisos sem conscienciosidades. “ Toda a literatura do Paulo Coelho, se é que podemos a tratar assim, vale menos que um aforismo do Groucho Marx. Então João morreu. Morreu o João que um dia me disse que tudo passa. João passou. Comigo quedará esta verdade. Disseram que pediu para que o deixassem só. João nunca esteve só, não sabia sequer o quê disso, dizemque. João não inventava palavras, diziaque já as há em demasia, faltam gestos.
-... E isso não é ruim. Disse João. Com seus cotovelos já calejados e cravados na tábua do balcão, enquanto seus olhos vítreos fartos do quê dele ainda não havia bebido dele (o copo) à sua frente.
- Mas, se escasseiam os gestos... Balbuciei.
- Claro, se fosse o contrário mancariam as palavras. Rebatia João. Mal podendo pronunciar as tais palavras, pois seu queixo suportava todo o peso da cabeça, pousado na concha das duas mãos, esse natural prolongamento do punho, seguida dos naturais dedos que batiam em seu ritmo lento, tais dedos na bochecha avermelhada.
Quando eu desocupei o tamborete outro interlocutor dele se apossou. João não ficara só. Mas João já estava cansado de representar João. Eu ao contrário nunca me cansei de João... Por isso seguirei inventando palavras, nem que seja somente para irritar a João. Pensava nesta homennota, enquanto perpetrava uma feijoada que era o prato do João, quando o João comia alguma coisa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário