9 de fev. de 2015

Perguntou ao Gato...


Perguntou ao gato: Se sente muito só? Aquela parecia ser uma pergunta boba, assim que decidiu perguntar novamente: Tá se sentindo muito só? E, como de costume, deixou a resposta ao gato ocre amarelado que ondeava o rabo com lentidão. Claro que se sente só! Eu também me sinto. Quando disse estas palavras, sentiu um leve remordimento. Na realidade deveria ter comprado mais um ou uma gata, para que seu gordo gato ocre amarelado tivesse amigos e formasse uma pequena comunidade felina. Mas, ao mesmo tempo, temia que a compra de mais gatos o fizesse perder a comunicação que já tinha com esse. Havia algo de especial entre ambos, como nesse momento, em que o gato permaneceu imóvel, mirando-o com seus olhos amarelados, enquanto seu formoso rabo se agitava em câmara lenta. Tá na cara, que estamos sós, os dois – resumiu. Se ergueu e foi a cozinha preparar um café. Duas colheres de Alta Mogiana, uma de Cerrado mineiro e uma de Altinópolis em vez do Sul de Minas, para provar. Era assim, com alguns tipos de café, era necessário ser mais comedido. Se ajeitou dentro da calça e da camiseta que escapava pelo ombro, e se dirigiu de novo ao gato: Sabe do pior? O pior é que já não se pode estar em paz com a solidão, porque agora não está de moda estar só; tem sempre alguém te espreitando; agora eu queria saber do mais pior ainda? Isto garanto, você não sabe! É! Há a solidão compartida! Se ao menos você deixasse seu sorriso! Dizia, enquanto o gato sumia. 

8 de fev. de 2015

...



Antes, Inda Antes de Ter Pressa,
Antes de Pessoa,
Se Antes do Inventar da Hora,
Antes de Darwin, Dinossauros e Fósseis,
Tapete, Tabaco e Tabacaria
Nem Trânsito,
Pântanos, Enchentes e Secas,
Antes do Mar, sem Cronistas, Inquiridor,
Antes das Estrelas Caírem Sobre o Tabuleiro do Desassossego,
Antes dos Sábios, Prisões, Arenas e Toda Sorte de Apego.
Quando Tudo Era Vácuo de Fina Tripa
o Negro Sol Duma Sem Beirada Cor
de Criança que Chora, Esta Dor
Já Estava Aqui


6 de fev. de 2015

Um Pedaço de Nuvem, um Reflexo de Lua



A mãe gosta de sair para dar uma caminhada quando o sol se põe. Nesta hora; que é quando há um hálito do noroeste, esta brisa que entra depois do vento leste; pego minha espreguiçadeira e vou para a calçada tomar vento, cerveja e ver meu vizinho deitado na calçada, para descansar e refrescar-se. Depois de um demorado passeio, lá vem a mãe. Fui longe hoje, até aonde você foi? Fui até as barrancas do mundo! E como visse minha cara de espanto, me mostrou nas mãos que trazia escondidas atrás, um pedaço de nuvem e um reflexo de lua...  

Nem a Água não é Água Não.

"Cachaça não é água não..."

Deve ser muito complicado ser Historiador. Uma data – um dado – isolada, não diz nada. Se faz necessário interpretá-la. Conhecer seu imprescindível contexto. Minhas recordações de infância não têm nada a ver com a de um garoto de cidade grande. Os meus anos 60/70 são os anos da ditadura. Sem miséria, mas anos de chumbo. De vez em quando emerge uma cena felliniana que me põe em contradição com o calendário, bebendo vinho do padre, vestido de coroinha, sambando...
Penso na excitação pueril que me produziam os fevereiros de carnavais de há tantos anos. Longos anos e me parece impossível que esteja a falar da mesma época, em que Artur da Costa e Silva instituía o AI-5. Ou que se estivesse sendo fundado o Pasquim. Seria necessário se traçar com uma rotring uma linha para interceptar esta linha do tempo com a minha, anos em que surgiam The Who, Rolling Stones, Beach Boys, Bob Dylan, Jimi Hendrix, dos festivais da TV Record, de Vandré. E a minha, se olho para trás, tinha como trilha sonora Tonico e Tinoco, Meu limão meu limoeiro, Paulo Sérgio e Roberto e Erasmo Carlos, Wanderley Cardoso, as Escolas de Samba do Vila Virgínia que vinham nos visitar, as marchinhas, os Mamãe eu Quero, Cachaça não é água não, tudo me faziam enlouquecer. Hoje, eu espírito carnavalesco é só quarta-feira de cinzas, mas sem cruz de cinzas na testa, mas pudera, nem a água não é água não.

5 de fev. de 2015

Futebol. Corinthians e Tabelinha, um Resgate do Passado, Peladeiro!


Se o futebol brasileiro se ancorar no fundamentalismo do futebol europeu, estratégico tático, ficará a merce deles, pela já denotada capacidade deles em cumprir script, roteiros e tal e coisa. Na copa 2014 os alemães mostraram o futebol de ''espontaneidade'' ensaiada, como é sua maestria em tudo na vida tedesca. Como era a Espanha guardiolada, e tudo faz crer que influenciou alemães, bávaros e mesmo o Real Madrid segue uma devaricada dessa onda, etc. A objetividade do futebol europeu, e o que tentamos imitar, não nos serve, não sabemos ser objetivos, transparentes, não isso não é nosso, podemos até ser em outras esferas que nos melhora, mas no futebol, bater a carteira não é imoral. Enganar também não. Fazer de bobo é a ética do nosso futebol. Na objetividade, somos obrigados a apelar, porque eles são melhores de nascença nessa coisa, e então somos violentos, não somos duros como eles são, somos violentos.

O Corinthians dos últimos jogos apresenta algo novo, velha nossa conhecida, a tabelinha. A tabelinha em velocidade, com passes curtos e verticais. Essa é característica inata do futebolista, boleiro, peladeiro brasileiro. Pelé e Coutinho nadaram de braçadas nessa lagoa.
A vantagem do futebolista brasileiro é essa, mesmo os menos craques, coisa que é o Corinthians, São Paulo, Palmeiras, times com bons jogadores, mas craques não os têm. Mas mesmo o jogador mediano brasileiro faz tabelinhas de nascença, é o sarro da coisa. Note que o Santos, sempre apresenta-se bem quando consegue engrenar seus ''meninos'' neste aspecto: A Tabelinha, fora disso sofrem...
Pela entrevista que deu Elias, depois do jogo contra Once Caldas, me deixou a impressão de que os treinos têm enfoque prioritário neste tipo de ''jogadas''. E dá mesmo para perceber, são algumas tentativas, uma que resultou no gol de Fábio Santos na Arena, ainda no ano passado, e no jogo contra os colombianos, isso ficou mais insinuado, ainda não está ''patente'', vou torcer e esperar, pode ser a salvação da nossa lavoura.

Resgatar o passado, pode ser a vanguarda!     

4 de fev. de 2015

Magnanimidade.



Tirante uma agência de risco – Standard & Poor's no caso “Subprimes” - que “en passant” se pode dizer: fraudulenta, e foi multada nos EEUUAA em bilhões de dólares por essa superestimação mafio-criminosa na crise financeira de 2007\8, nenhum outro órgão internacional, como FMI, por exemplo, nada têm dito ou a dizer sobre o caminhar do Brasil. Vamos com as próprias pernas, mal podem, entretanto, dizer, mas com as próprias pernas, antes íamos mal e ouvindo e levando dedo nos olhos desses peregrinos.

No entanto, as vitórias se envenenam se não são administradas com magnanimidade. E pode ser a origem do fracasso do PT como um projeto coletivo. E na tentativa de borrar a personalidade, existência dos então derrotados antecessores. De tal forma que a consolidação do critério uniformizador, se plasma numa interpretação enviesada e reducionista, e de certa forma uma parte significativa dos petistas continuam a fazer da realidade. A reação é belicosa, e o governo Dilma é por dizer, quase que não salvável, pelo reflexo evidente de não ser capaz de ser compatível, ou ao menos complementário às aportações de outros grupos, apesar de nos últimos anos ter conduzido de forma formidável algumas questões distributivas.
Vejo o reflexo das mobilizações de faz dois anos, e das últimas, ao mesmo tempo do imobilismo da população frente ao estado de calamidade pública que conduziu, o PSDB frente ao governo, o Estado de São Paulo. É como se o PT não tivesse deixado outra opção, senão que fechar os olhos. Não sei... como diz Fernando, um amigo meu, na corda bamba...   

3 de fev. de 2015

O Gato do Bar do Toba.





O gato do bar do Toba é negro e lustroso, e o pelo do lombo, olhando de perto, tem a marca da forca. Dizem que matou o seu dono. Todo mundo sabe que o gato chega depois que a missa já começou, ou já vai pelo ofertório, e os canabravas já comeram alguma coisa. Com certeza passou toda a tarde a dormisquejar no canto do curral. O gato vai de mesa em mesa, ao mesmo tempo que um francano vende botas e cintos e sandálias trançadas e bolsas, essas vacas tiveram menos sorte que o felino. Parece que o gato aprecia o espaguete da mesa de dois, em contrapartida, come sem vontade o lambari do Lesmão, ou não aprecia os Jihadistas no jornal que lhe serve de prato, tanto que deixou umas espinhas do peixe. Na mesa dos fumantes ele nem passa... antes de ir-se ainda revira uma migalha de pão da mesa do fundo. Passa por mim e lhe acaricio a cabeça. Como fui generoso, sem demasias, me deu um conselho ao pé da orelha, que me quis passar como um texto de Cortazar – sempre me disseram que os gatos de rua são os mais cultos, ainda que frequentemente lacônicos e mentirosos – O Plagiário, porque não adianta nada roubar uma flauta e não saber tocar.