18 de jul. de 2013

Neo Massa.

Neo-Massa.
Comunicação total? Não saberia dizer, mas mais conectados que nunca, ainda que mais peso especifico ganhe a solidão. Sabemos tanto do que acontece aqui, ali e acolá, perto ou algures remoto da nossa realidade que irrefreavelmente saí das profundezas a vulgar ''voz da consciência'' para nos falar em tom diáfano, sobre a vida dos outros e da nossa, que desde sempre esteve jogada no meio do mundo. Cara a cara às injustiças, alegrias e dores, girando como aquelas espirais de desenho animado a nos hipnotizar. Por vezes gostaria de saber da minha intimidade projetada, se devia ou não gestioná-la?

Grafite.  Carrer Marina amb Concell de Cent, diante da estação  de Metro "La Monumental" Linha 2, de Barcelona.
Serão tempos privilegiados para a consciência ou não? Pode-se dizer que há quem nem tenha consciência e gastem seu tempo maquinando enganos, estafas, abusos aos mais frágeis, aparentemente impunes. No entanto cada vez menos pessoas permanecem caladas, e aparentemente também querem se consciencizar delas próprias e do mundo. Gente interessada em tudo e donos de uma consciência, até mesmo beligerante. Pouco a pouco vai se formando e conformando a nova massa.
Os partidos políticos, ainda que malogradamente, representem o ponto de fuga da moral individual para uma vida em comum, se encontram cada vez mais renegados, retardatários diante das urgentes transformações atuais, e impotentes veem seu papel formador de ideologias coletivas nada representar. Mais ainda os grandes partidos, estão se degradando, dissolvendo, e alguns beiram o ridículo e provavelmente o desaparecimento.
A transversalidade é uma exigência em todas as nossas atividades, cientificas, culturais, produtivas e por que não a política? E na politica os partidos políticos, porque as consciências de hoje são vultosamente transversais, a ponto de cindirem-se em duas ou mais consciências, uma espécie de esquizofrenia, mas que estão dispostas a mudar algumas coisas importantes, principalmente quando se refere ao exercício do poder.
Por outro lado a necessidade de equilibrar a felicidade em vez de cindi-la, como a brutalidade com as elites querem romper o processo histórico, num perigosa volta ao passado.
Exercício de liberdade. A liberdade é uma arma perigosa se manipulada, ou quando se encaminha a finalidades perversas, como a gestão da informação que por hora tem se apresentado.
A consciência jogada no meio do mundo vai se adequando aos cenários que se apresentam, se adaptam, julgam e atuam, e por fim podem até serem demissionárias. Afinal demitir, tanto quanto se revoltar também transforma.

17 de jul. de 2013

Quididade.

O mensalão instaura uma crise. Logo vem a crise financeira pelo mundo, que se transforma em crise econômica, em muitos países árabes social, na Europa e EUA política e econômica, aqui ética e ideológica. Tudo aumentou quando das dúvidas da sub-prime estadunidense, agora o debate aberto sobre o sistema econômico em conjunto, a rua disse isso, os valores ou desvalores da nossa sociedade e o futuro, se é que assim possa ser chamado. Antes de mais nada, que venham os debates, porque pouca coisa funciona ao nosso redor.

Não se pode no entanto mexer no estado de bem estar, recém-adquirido. Deve-se, sim, pensar em cortes nas despesas públicas da folha de pagamento, legislativo, judiciário ou cargos em comissão etc .
Deve-se sim, pensar e praticar a reforma política.
Deve-se, sim, pensar na reforma tributária, com olhos porque os pobres e a classe média não paguem mais impostos que os mais ricos.
Quanto ao mercado que seja respeitado, mas que este também respeite as regras e que o estado as aplique, sem parcimônia, então que o Estado forte atue onde o mercado não consiga regular, seja, por toda parte, pois o mercado não se regula em nada. Por exemplo, telefonia, eletricidade e bancos só sabem nadar se for de braçada, boiar nem pensar.
Debater, debater, debater, porque não virá nenhum mascarado nos salvar.
Polarizados estamos. Bem-avindos às discrepâncias, mais que isso, claramente em confronto, se queremos ser uma sociedade multicultural de verdade, onde os diferentes interesses, que refletem pontos de vistas diferentes, devem permanecer e isso não quer dizer ideologia, porque não acredito nisso, acredito é no bolso, quesito que se pode medir facilmente: Quem perde? Quem ganha? É o que me importa, não preciso ganhar, mas não quero perder!
Mais ou menos Estado?
Moralmente, me parece que quem acusa e quem veicula esta tão sujo quanto o réu e quem julga ! E a plateia é santa de pau oco, um santo de pés de barro!
Desconfio de quem afirma qualquer coisa, porque tudo está conectado, a crise no primeiro mundo, a China etc. Toda afirmação contundente é falsa, menos esta, é claro! Pois o mundo não é por partes é o todo, é global!
Portanto até quando vamos crescer, onerar para distribuir ou redistribuir?
Penso que são problemas sistêmicos e não técnicos, e como tal cultural, social, moral, ético e tudo profundamente. Este é o porquê, da dificuldade de entendimento deste momento que vivemos.
Por exemplo, se nunca nenhum político foi exemplarmente punido, por quem deveria punir, como aceitar uma punição? Sendo ela justa! Como considerar justo? Se quem sempre fez justiça está enlameado! Quem dirime esta questão? Gilmar Mendes? Joaquim Barbosa? A Globo?
É um debate azedo!
Mas neste debate temos que desconfiar dos voluntarismos. O ser humano é limitado quanto aos conhecimentos e irracional na sua conduta, cheio de pulsões egoístas, portanto não haverá nem o super-homem nietzschiano nem o novo homem, o se preferirem o neo-homem, se um dia concluirmos estes debates.
Aprendemos muito vagarosamente, e as vezes por força de chineladas, de bons exemplos quase nunca!
A educação pode mudar a nossa juventude, mas antes temos que mudar os mestres, e me incluo, e você deve se incluir, a família deve se incluir, a mídia má e a boa devem se incluir.
Chega de leis, que trazem no bojo o próprio fracasso. A lei só transforma em delito um ato que já existe, daí o tal dito: feito a lei, feita a trapaça.

Detalhe: humildade intelectual e bons costumes diante de quem pensa diferente.

15 de jul. de 2013

Hospital.


No hospital, as caras se amontoam a tua frente, enquanto passa, e ao mesmo tempo aquelas caras veem a tua. Mais que caras, arquétipos de dores, gestuais de dores, uns buscando algo firme, seguro que os salve por um instante, outros abandonam-se ao abismo, cegos, quase salvos, que de tão sós só podem recorrerem a si próprios, lá na sua verdadeira e grande verdade. As expressões surgem do nada ou de toda parte, gemidos igual balas num tiroteio, parece que em qualquer momento podem te saltar encima, no tráfego petrificado de uma sala de espera, ou num corredor deserto de um andar silencioso, saindo de uma porta entre aberta de um quarto todo branco e azul celeste.
Os visitantes e os doentes percebem na pele os procedimentos do trabalho, enquanto os profissionais, já imunizados à maioria das circunstâncias adversas e corriqueiras, procuram fazer seu trabalho alheios a estas manifestações, desta novela final que é um indivíduo no seu extremo mais íntimo. Não há intimidade, mas. Paradoxalmente, quando o homem se encosta ali, para ficar ali, na antessala do seu lote final, quando aquilo que é e foi se dilui e se transforma, subitamente na consciência, no que está a ponto de se tornar ou poder ser, é quando menos tem a possibilidade de manter-se firme na sua intimidade, ou seja a sua capacidade de se expressar dentro do âmbito pessoal da existência, num cenário que não permite dispor da própria liberdade para se tornar mera ferramenta de um sistema superior, que o cataloga e o enclausura. '' - qual é seu problema sr. Cidão? '' ''não dá para cochichar?” ''não'!' ''me doí o cu”.

Quando os ilustrados procuravam, faz trezentos anos, os mecanismos que poderiam organizar as multidões, o faziam porque cada sujeito fosse capaz de se desenvolver na sua particularidade, procuravam também uma via de liberdade. Mas a aplicação das teorias racionalizadoras deu na escravização do ser, sob umas normas gerais que pouco a pouco se confundem com sua razão primeira. Os hospitais públicos com seus horários impossíveis, a aglomeração de carne nos seus quartos, nem tão brancos nem tão azuis, a exploração dos trabalhadores, o esquecimento da essência humana, a novelesca indiscrição, traz de volta o latim à missa, um passo atrás nas conjeturas mais humanas.

Tirar de alguém seu direito a solidão é causar uma dor ignota à dor física concreta. Porque sem liberdade, não nos sentimos dignos de nada, nem tão só de nós mesmos. 

13 de jul. de 2013

A hipocrisia como vaidade ou a mentira sagrada ou ainda Pia fraus.




''''Falsidade ''necessária para que continue a me permitir o luxo de minha veracidade'''.
Frase que Nietzsche diz em Humano, demasiado humano e soma, faz-se necessário ao indivíduo seleto envolver-se hábil e corajosamente no manto da solidão exterior e espacial: isso pertence à inteligência''. ''Astucia e disfarce necessários para que tal homem, seleto entre os numerosos, a use como legitima defesa, para a sua conservação''. Isso aparentemente explica a primeira frase, que em suma é arte da dissimulação e é vista com bons olhos. Entretanto há outra hipocrisia, a hipocrisia moral, que nada mais é que a vaidade. A vaidade é o querer preponderância de um frente a outro, ou mesmo face a determinada comunidade. O indivíduo percebe que o que lhe confere poder extra é não aquilo que ele é, mas aquilo pelo que é tido.

Àquela falsidade necessária, seja hipocrisia deliberada, a vaidade ampara-se no auto engano, muito peculiar, pois é crença naquilo que se supõe e se diz ser. Uma vitrine, onde se mostra o que se quer e se esconde outras, com fim último de auto-enganar-se. O auto-engano por seu turno, isso é difícil a beça, pois não se questiona a honestidade, mas o caráter ''desonesto-mendaz'' de tal honestidade, que embora honesta, a crença, é movida por uma mentira desonesta, e mentida para si próprio, seja a mentira sagrada.   

Uruk, ou Babilônia, o berço da palavra.





A origem da escrita aponta à Mesopotâmia, antiga Suméria, em concreto, Uruk, onde surgiram as primeiras manifestações escritas há mais de quatro mil anos. Diz-se que de Uruk veio Iraque.
Ao sul da planície, atual Iraque, nos braços do Tigres e Eufrates, lá estava Uruk, a primeira grande urbe da raça. Quarenta mil a habitavam, por humanos, uma complexa sociedade urbana.
Diz-se que Gilgamesh, mitificado, e plasmado n'O poema de Gilgamesh, reinou Uruk há cinco mil anos e a amuralhou, mereceu a primeira epopeia conhecida escrita pelo escriba Sin-leqi-unnini, com tons legendários, no tempo mítico da origem do mundo. Já, e muito antes do dilúvio bíblico, os deuses mesopotâmicos ameaçavam destruir o mundo com um dos grandes. Não é difícil ser leviano, coisa que por demais gosto, porque o medo de quem mora em meio ao deserto deve ser a água, água exabundante, pois de fogo já andavam escaldados.

Em tábuas de argila escreviam a contabilidade, ensinavam a criar gado e métodos para calcular superfícies, mas havia além da heroicidade e da praticidade, platitudes sobre aspectos da vida social de Uruk.


Acontece que os chineses, ou seus áporos escavadores, encontraram umas lascas de pedras com inscrições, sendo mais antigas que as antigas e acostumados a explicar enigmas com um conto, chinês, os habitantes do Império do Centro atribuem a origem de sua escritura a uma espécie de gigante cabeçudo com quatro olhos que irradiam um brilho misterioso, que se chama Cang Jie. Cang Jie viveu durante a dinastia Xia. Cang Jie se inspirou em imagens do céu e da terra para dar forma aos
caráteres. Da abóboda celeste com suas estrelinhas surgiram as curvas, dos rios, vales e montanhas, as linhas. Para complicar um pouco cada caractere usou penas e pegadas de pássaros na areia ou ainda os desenhos das carapaças das tartarugas, e estas mesmas carapaças lhe serviram de mídia. Tudo aconteceu em distintas bacias ao longo dos rios Amarelo e Yangze.

10 de jun. de 2013

Mercador veneziano.

"A patologia está em usar a vítima como brinquedo". cidão!



O mercador veneziano, de outro mercador veneziano, havia recebido em pagamento do ágio devido deste àquele, uma sorte de mercadorias vinhos, azeites, anchovas italianas, trufas em conserva, saches de funghi porcini e latas de tomates pelados; quais armazenava num quarto entre a garagem e a sala de jogos de sua mansão, na escarpa do bairro nobre. Era mercador, gourmet, negociante, agiota e corria o boato que tinha conexões com off shores e partidos políticos. Visitava sua casa por sua bela filha, mas quando me dei conta, pois pensava em dizer '' não, signore tenho verdadeiro desejo, amico, por este gallo nero, ma, e so, de origem controlada, ma claro que so, de pescoço comprido, ma...'' enquanto engasgava o não, ele lotava o porta-malas do 147 vermelho, com suas próprias mãos macias e gordas. ''Non!'' ''Non!'' ''Non se preocupe'' dizia engolindo meio ''o'' de preocupe, ''casa mia tem dinheiro que no so dove sia!'' um tanto cative, ''questo acciughe é belissimo, prende una caixa?'', ''deusdocéu 60 latas por 10 dólares cada lata...'' Matutava enquanto ele acrescia simpático ''doppo você me paga''. Bo! Sem ser efusivo, fazia eu, sem entender completamente tal interjeição, mas encaixava bem. Dois dias depois, conseguia de mim alguns cheques cujos valores somados daria para trocar o 147 por um carro zero. Todo pré-datado tem seu dia de chegar, impor sua verdade e, vencer, impossível deter o tempo, inútil sonhar com a curvatura einsteiniana e ultrapassar um futuro e viver outro, sumir para o universo paralelo toda vez que o visse, se teu credor for um mercador veneziano! Assim passamos a nos encontrar, na rua, no semáforo, ''Ciao amico'', '' o cara é onipresente'' remordia-me enquanto engolia o café quente queimando a goela no Café Regina, ''também compra no mercadón?'', ''pur troppo'', ruminara, no Pão-de-Áçucar nas horas mais idas, e por fim trocar cheques por mais cheques no seu escritório, com mais grades que Alcatraz, andava temeroso que me cortasse um dedo, dois, pesadelos entrecortados, ou toda a punheteira mão, cheguei mesmo a pensar que fora a melhor solução, comecei a ler sobre estancar o sangue. Como não conseguira vender todos os vinhos naquele inverno, resolvi levar para casa uma caixa de gallo nero, para as horas em que o vinho nos empresta caráter, e o sangue não pode ser dissimulado, e qual não foi o meu espanto ao abri-la, repleta de notas de 20 e 100 dólares.     

9 de jun. de 2013

Embotamento.




Estava lendo uns escritos de Guy de Maupassant e me deparei com esta frase:  "Elle tourne comme une mouche dans une bouteille fermée". Ele o pensamento, que gira como uma mosca dentro de uma garrafa. Nada nada mais se explica, é tão só uma metáfora. Fiquei viajando nas acrobacias que ela faz, e estão longe, faltos da razão, e se parecem, se calhar, a uma rápida sucessão de imagens num anúncio. Se o díptero pudesse parar no meio dela, garrafa, a vertigem o faria rodar a cabeça e despencaria em queda livre, por isto está condenado às constantes divagações aéreas, e se por acaso quisesse repouso haveria de buscar terra firme e trancar os olhos, ou fixar a vista nalgum ponto, à moda das obsessões alienantes. O pensamento faz o mesmo; deixado solto é uma montanha russa, suspensa na consciência, e repete e se repete, e repete os mesmos gestos a faltar pedaços, sem se dar conta, acaba criando uma geringonça parecida à elipse, como um arado a sulcar a terra sem conceber outras incisões, itinerários e incógnitas crescentes. O pensamento se tece e se destece a si mesmo sobre a velha tela, como uma Penélope traíra que não espera nenhum Odisseu. Assim a cada vez que tromba com o vidro perde o rastro e se desconcerta, acaba por se conjurar a fazer voos sempre sempre mais curtos.