Estava lendo uns escritos de Guy de Maupassant e
me deparei com esta frase: "Elle tourne comme une mouche dans une
bouteille fermée". Ele o pensamento, que gira como uma mosca dentro
de uma garrafa. Nada nada mais se explica, é tão só uma metáfora.
Fiquei viajando nas acrobacias que ela faz, e estão longe, faltos da razão,
e se parecem, se calhar, a uma rápida sucessão de imagens num
anúncio. Se o díptero pudesse parar no meio dela, garrafa, a
vertigem o faria rodar a cabeça e despencaria em queda livre, por isto
está condenado às constantes divagações aéreas, e se por acaso
quisesse repouso haveria de buscar terra firme e trancar os olhos, ou
fixar a vista nalgum ponto, à moda das obsessões alienantes. O
pensamento faz o mesmo; deixado solto é uma montanha russa, suspensa
na consciência, e repete e se repete, e repete os mesmos gestos a
faltar pedaços, sem se dar conta, acaba criando uma geringonça
parecida à elipse, como um arado a sulcar a terra sem conceber
outras incisões, itinerários e incógnitas crescentes. O pensamento
se tece e se destece a si mesmo sobre a velha tela, como uma Penélope
traíra que não espera nenhum Odisseu. Assim a cada vez que tromba
com o vidro perde o rastro e se desconcerta, acaba por se conjurar a
fazer voos sempre sempre mais curtos.
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