30 de jun. de 2011

Caçador de obras fantasmas.


Administrar – no sentido pequeno, a la português de padaria - é difícil. Mais difícil ainda será – claro levando a sério - se se fala em missão, visão, estratégia e gestão de pessoas. Não basta o resumo de Peter Drucker, às vezes não “cai” na prova. Mas, ora vamos, vestir o velho estilo com estas miçangas sob luz dicroica, convenho, é só brilho. Há problemas que parecem, por crônico, insolúveis, com tendencia a piorar. Exemplo é o transporte coletivo. Peter Drucker – diga-se já ultrapassado - aproximou os vários setores e hierarquias da empresa, acabando com os vazios de mando e distribuição de poderes e responsabilidades nessa geografia. Por aqui, aponta-se justo o contrário, a criação de vazios, só por um acaso, aumentando o custo do transporte, não só coletivo, mas a logística urbana. Ficam os terrenos baldios, criando “de um tudo” mesmo pequenos bosques. Mas, se se entende que lutar com unhas e dentes para perpetuar um evento é o máximo. Sabe-me mui amaro, ágrio show.
Falar mais é coisa para Ghostbusters. Ou Ghostobrasbusters.    

28 de jun. de 2011

Fumo: Serra e FHC.

Unidos e separados pelo Fumo, Serra e FHC vêm-no, um como inimigo dos homens, portanto aliado politico, via saúde; este o toma por aliado pensando no voto do maconheiro pasmado das décadas de 80-90 do século passado, ao que parece ter se tornado Classe C, e se esquece que maconheiro é mais traíra que a própria e ele próprio, fuma mas não traga. Serra não entende que tudo que passou, não volta; FHC, que é próprio do fumo ser a não solidez de uma fogueira que se apaga.  

26 de jun. de 2011

ODE AO FUMO.





ODE AO FUMO.
Oh, Fumo redentor, que alegrais os meus pecados.
Fumo do meu passado.
Fumo da primeira luz, filho de toda a honra e glória, aquele Fumo que do pé de um havano e lentamente alastrastes os seus fios dançantes de Fumo interminável, subistes ao céu da câmara que eu habitava, habitação, quarto amigo, restaurante, bar ou onde outras almas perdidas repousavam nas altas horas, nos baixos círculos.
Oh, Fumo de claridade, Fumo de tempo elementar, quando entre os meus dedos consumíeis e queimáveis os minutos que faltavam para acender a fogueira eterna, onde crepita o canto dos deuses inalcançados, que se escondem para não me perdoar.
Fumo do meu passado. Fumo do meu primeiro sopro cinzento e espesso. Fumo que me deu sentido e gosto ao sabor de todas as coisas. Fumo que me livrastes do mal, do bem e da insípida alface.
Oh Fumo do meu presente, que é o Fumo do Fumo dos meus passados e dos passados de todos aqueles Fumos que me acompanharam na glória de todas as solidões de fumantes que se buscam e se encontram e se dissipam pela leveza da essência.
Oh, Fumo de hoje que velais por mim, que chegais lá onde minha profunda ignorância, não chega. Vades e percorrais os caminhos, os abismos por mim. Oh, Fumo do instante que carregais o pecado do mundo, sinuoso e quente, na boca aberta dos homens boquiabertos.
Fumo fugaz e eterno Fumo.
Fumo sincero.
Fumo que na tua morte e ressurreição vivestes e morrestes para me salvar. Fumo meu de cada dia, te confesso, oh Fumo todo-poderoso, que pequei por minha culpa: eu traguei.
Tenhais piedade. Fumo que ascendeis ao além de todos os olhos, nos altares das coberturas conjugadas, do milagre dos anéis de depois de amanhã, que escondeis entre os dedos que apontam o caminho, que asfalteis os caminhos entre palavras pronunciadas.
Fumo, Verbo que em ti cada manhã fostes e sois o primeiro, pura revelação, mistério e santidade.
Oh Fumo do meu futuro, te exilaram, estais proscrito, te abjuraram, e agora clamais no deserto, Vós, Fumo do amanhã e de toda esperança e fé. Fumo que subis o Calvário, crucificado pelos pregos dos ignorantes, tenhais piedade.
Agora que és fumaça, recordação longínqua, sacrifício meu, apiedai-vos de mim. Oh Fumo onipresente, guardai a tua ira, o gosto da minha alma pecadora, e esperai-me no teu paraíso infernal; enquanto espreito com minha língua, isenta de sua impureza, a triste paisagem granjeira; a hora de botar o ovo, de bicar a ração, de virar pasto. Eu, seu consorte e comparsa, a cometer o pecado, saneado, desnatado, esterilizado, pasteurizado, bombado e lubrificado e infalível, como se falhar não fizesse parte da própria infâmia.

Picho e trepo.

Picho e trepo, era uma frase pichada, que via a cada dia no muro em frente de casa. Frase curta, memorável e contundente. Digna de ser esculpida em pedra para epitáfio. Alguém, não sei o motivo, apagou-a, depois de anos, ali, e sua incontestável presença no bairro, este falto de genialidades, nem inúteis candidatos a apagaram. Pode ter sido um rompante súbito de civismo, assaltado pela consciência desvelada.
Mas ainda assim com o passar dos anos, lá está ela, aqui está, no cabeçalho dessa blogada, e em tantas outras linhas, nestas linhas, entrelinhas, recordando-me a paisagem urbana que habito, e creio que me pertence, sentimentalmente.
Não era bem um grafite, tampouco, uma ególatra declaração de intenções, mas sim, uma simples constatação sem assinatura com os verbos na primeira pessoa e a conjunção que a ninguém exclui. Capaz de unir realidades e botá-las à mesma altura e criar, de certo modo, uma
realidade nova. Pixar e trepar , este, pode certamente, ter uma importância capital na vida de uma pessoa, tanta e bastante para ficar imortalizada em uma parede pelo recurso da primeira, a pichação, e não sei se praticada concomitantemente, nem que fosse de pensamento.
Picho e trepo. A pintura como uma necessidade de expressar o inefável que nos povoa, e o sexo como cenário alternativo a esta, ou vice-versa, em perfeita harmonia.
Pichar e trepar, que alegria. Excelsa realidade, não se espante, plausível, veemente. Mais que um epitáfio, uma constituição.
Sem duvida, aquela frase naquela parede suja, à parte sua gloriosa semântica, significava um motivo de satisfação à vista, uma recordação de alguém que se move e que pode fazer que os outros se movam, intimamente.
A maioria dos muros do mundo caem, se espatifam, com o peso das assinaturas e garranchos de toda sorte de energúmenos, com vontade de aparecer a qualquer preço, pela via fácil da imbecilidade. Picho e trepo. Este não, por filiação apaixonada, paixão anônima, a verdadeira inteligencia emocional, inédita, nos muros de uma cidade erotizada por cartazes e propagandas, por isso triste. Espero que o “artista”, onde estiver, siga praticando.

25 de jun. de 2011

Sem Utopia.

A leveza, o simples, o sensível – domínio dos sentidos - são aquelas coisas que pelo dia nos alegram a vida. Entidades pequenas, elementares, que por óbvio, funcionam, sem falhar, nem nunca decepcionam, sempre dispostas a fazer as honras a qualquer tempo, prenda que a nossa condição de bichos complexos devemos agasalhar com a delicadeza duma orquídea e a vagarosidade bovina: o espesso silêncio antes de sair da cama, o cheiro do café e do pão torrado na mesma manhã, a redondeza de um café com açúcar, a primeira luz do dia para um dia todo de sol, a toa, e seguiria uma longa fila de cotidianidades, que por isso, monótonas, mas diferentes, sempre são diferentes, se não, é por uma fé perdida.
Miudezas, que sem crescer se enraízam em outras rotinas, as ruins, que sendo diferentes são sempre as mesmas; as mixórdias próprias, as dúvidas que nos fazem tropeçar, tropicar – feitos cavalgaduras - as fraquezas que vêm do mesmo lugar, o outro, aquele que esconde-se detrás de uma revolta, disposto a te amargar o dia, e aqui mais uma fila, extensa fila de coisas lamentáveis.
Podemos reinventar a solidão, a própria e a dos outros. Explorar o mito da nossa consciência, até obter pó de mico e então gozar, e de passagem fazer com que outros gozem. Se, não nos amarguremos, não amargamos.
Se descobrimos as partículas infinitesimais da felicidade, nossa, estaremos dispostos a dar umas quantas ou compensar a falta de umas poucas. Mas se buscamos a densidade dessa alegria, e a desparramamos e enchemos de contentamento aquela bolha que nos sustenta desde a mesma manhã naquele silêncio espesso, até a noite, no ruido das ideias, que depois da jornada se amontoam no cérebro, antes de dissolverem-se no branco do lençol.
A arte da leveza, da beleza rara, por outro lado. da superficialidade, é difícil. Caminho comprido e ignoto. É preciso queimar lágrimas, papéis, palavras e imbecis.

23 de jun. de 2011

Neymar, o Príncipe herdeiro.

Entrincheirado na sua área porque é assim que se sente cômodo, o Penharol planejou um duelo a contra-ataques, como fez anteriormente em outros jogos eliminatórios, sempre como “zebra”, e saiu vitorioso. Até então não tivera como rivais a Ganso e Neymar. Ganso é o talento, o virtuoso da redonda, quebra as cadeiras e encontra espaços para traçar uma reta entre os adversários e seu companheiro. Neymar é gol, regateia, penteia, esquiva, arranca e quando pensam que está brincando, fala sério, Gol! Arouca leva a gorda colada. Elano é conservador. Todos, somados, escalpelaram o Penharol, mais Esparta que Atenas. Arouca esquiou entre uruguaios esperou o zagueiro refugar, empacar e atendeu a uma piscadela de Neymar, que andava saindo da área, assim recebe mais bolas, e dali focaliza melhor os três paus. Passe, foco, chinelada e gol. Depois o Danilo foi muito respeitoso com o ala esquerda uruguaio, pois se esperasse, um milésimo, para dar o corte, para dentro, causava uma crise ciática no cisplatino, trocou de pé bicou pela hipotenusa. Dois zero , os orientais brio e garra fizeram um. Ganso é só Didi, tão moderno quanto e Neymar o príncipe herdeiro e claro, Santos Tri.   

22 de jun. de 2011

República. Episódio II. Direito de Ir e Vir.

 Acordei com tanto desejo de contar, mais, do teatro dos seres-brinquedos na calçada do ir, quanto o rei Xariar tinha de ouvir Sherazade. Aqueles marionetes estavam tão cansados de irem-se quanto eu entediado de vê-los ociosos de interesses. Bastaria com afixar cartazes rente um dos lados da calçada por que desarrumasse aquela monotonia. Não o fiz. Há temas mais urgentes, como o sagrado vir.
Praticante do ir, ir e não voltar, sempre ir, sem saber onde, pois o onde está além dele mesmo, e onde, por longínquo, não retornável, como aquele rio, ou qualquer rio, como essa calçada, ou qualquer calçada. Mas ir-se, largar-se, é também coisa que acaba por ser tão inútil ou ociosa quanto não ir, ou se preferirdes, ir e vir. Assim que sem monumentos ideológicos e sem base no real que impeçam o vir e como quem não quer a coisa:
Emendo a constituição. Aonde havia direito de ir, leia-se ir e vir.
Se pudesse defenderia o ir, por mero depositário do positivo, perante aparente negação da ação vir, como quem na fábula ficava grãos a fazer caminho para então voltar, para ir não é necessário saber caminho ou para onde ou aonde anda o onde, essa coisa é ir, ato solitário, estar-se a ir. Mas basta reconhecer o outro, e esse outro ser levado em conta, que o ato banal, vir, ganha outra dimensão. De todas, uma: eu digo: aquele vai à casa do outro e da casa do outro vai à própria casa. Mas ele, e se ele disser, ele dirá: venho da casa do outro.
Há significados profundos no sempre ir. Uma ideia de movimento largo, demorado, a percorrer certa dimensão. Enquanto ir e vir, apesar do aparente frenesi, revela-se algo estático, que não é o repouso, mas a anulação de deslocamentos iguais com sentidos opostos, por certo é muito triste, ir de casa e voltar a ela, e nisso só haver o registro da nulidade e a contabilidade do dia consumido. Mas não povoarei de bandeirolas essa ópera.
Os seres-brinquedos fruem do ir e vir. Vão e voltam. Repetem-se, multiplicam-se pela calçada, de tal maneira que não se pode discriminá-los. Zanzam e flanam, desviam-se e seguem, e nenhum destaque há, senão de um que outro aparentarem certa loucura, num ir i vir; que não cessa , cansativo e aborrecido feito robozinhos em parafuso, a girar, sem objetivo, sem estancação. E girar é, não poder distinguir do início o fim, é perder-se, sem encontrar saída, inda que tangencial.