8 de fev. de 2016

Dolly, Mundo Clone.

Um Mundo Uniforme.

Nascemos originais, morremos cópias, Carl Jung. Pode parecer que tenha uma pulga de exagero a afirmação do psicanalista, mas a verdade é que vamos, no caminho de nossa vida, nos fundindo num magma uniformizador e medíocre. Tudo que nos cerca contribuí, os meios sejam, noticiosos, publicitários, culturais, a arte em particular - salvaguardadas as raridades, gostamos em massa do mesmo - os carros têm o arco iris cinza, o sistema educativo, o trabalho, o calendário - de dezembro ao Carnaval é tempo de… - . A vida assim pautada nos leva de únicos a clones. Tirante os buracos, se bem que todas as cidades brasileiras têm buracos, as cidades perdem sua personalidade, mas ninguém percebe, parece que está bem. O mais raro é ver que o esforço para se diferenciar nos iguala. As lojas do centro são as lojas do centro de qualquer lugar, as mesmas marcas. Nosso picolé, o famoso pau gelado é paleta, aqui, na Europa… As lojas chinesas de baixo preço para produtos inúteis são os Bazares chineses em Barcelona. As mesmas boutiques e as mesmas vitrines. Chegará o dia que os viajantes perderão o gosto por viajar, os food trucks, as comidas terão o mesmo gosto, os cheiros e as mesmas paisagens. Mas isso nos diz respeito, já passou o tempo da crítica ao consumidor, pois agora já somos consumidores-ovelhas em rebanhos. Certa feita, alguém, ineludível, justificava comer McDonald em Espanha, porque ao menos se sabia o sabor. Pergunto, sabe a quê? Enfim, como a consciência é o que faço, a cidade é uma franquia, e minha consciência é a franquia duma outra ovelha-consumidora, ela também Dolly. 

7 de fev. de 2016

Poema: Über die Schwierigkeiten der Umerziehung. Hans Magnus Enzensberg, Das dificuldades na reeducação.

 Über die Schwierigkeiten der Umerziehung


Einfach vortrefflich
all diese großen Pläne:
das Goldene Zeitalter
das Reich Gottes auf Erden
das Absterben des Staates.
Durchaus einleuchtend.

Wenn nur die Leute nicht wären!
Immer und überall stören die Leute.
Alles bringen sie durcheinander.

Wenn es um die Befreiung der Menschheit geht
laufen sie zum Friseur.
Statt begeistert hinter der Vorhut herzutrippeln
sagen sie: Jetzt wäre ein Bier gut.
Statt um die gerechte Sache
kämpfen sie mit Krampfadern und Masern.
Im entscheidenden Augenblick
suchen sie einen Briefkasten oder ein Bett.
Kurz bevor das Millenium
anbricht kochen sie Windeln

An den Leuten scheitert eben alles.
Mit denen ist kein Staat zu machen.
Ein Sack Flöhe ist nichts dagegen.

Kleinbürgerliches Schwanken!
Konsum-Idioten!
Übereste der Vergangenheit!


Man kann sie doch nicht alle umbringen!
Man kann doch nicht den ganzen Tag auf sie einreden!

Ja wenn die Leute nicht wären
dann sähe die Sache schon anders aus.
Ja wenn die Leute nicht wären
dann gings ruckzuck.
Ja wenn die Leute nicht wären
ja dann!


(Dann möchte auch ich hier nicht länger stören.)

Hans Magnus Enzensberger,



tradução livre.
dificuldades para reeducar. 


Sensivelmente magníficos
todos esses grandes planos:
a Era dourada
o reino de Deus na terra.
A morte do Estado.
Obviedade ululante.

Se não houvesse essa gente!
Sempre e em todas as partes a estorvar.
Tudo vira imbróglio.

Quando se trata de libertar a Humanidade
vão ao cabeleireiro.
Ao invés de seguir entusiasmada a vanguarda.
Dizem: agora é hora de beber um chopp.
Em vez de lutar pela causa justa,
a lida agora é com as varizes e o sarampo.

No momento decisivo,
procura uma cama ou a caixa de correio.
Pouco antes do nascimento do Milênio,
hora de comprar fraldas.

Tudo fracassa por culpa das pessoas.
Não servem para grandes alardes.
Um saco de pulgas não é nada, se comparamos.

Vacilos pequeno burguês!
Idiotas consumistas!
Sobras do passado!

E não podes matá-la!
Nem convence-la, o tempo todo.

Se não fosse essa gente,
a coisa seria bem diferente.
Se não fosse essa gente,
ai sim, era vapt vupt, então sim!

(então eu tampouco queria estar estorvando)


Muito rápido para uma curva tão fechada.

Muito rápido para uma curva tão fechada. JJ cai com sua Yamaha 535cc dois cilindros numa ribanceira, logo na saída de Altinópolis. Poucos metros atrás vem seu irmão M numa velha Guzzi 599 cc 8 cilindros e encontra JJ estendido no chão no meio de uma poça de sangue, JJ lhe diz que , se não escapar desta, quer ser enterrado com sua jaqueta. Foram suas últimas palavras.
No dia seguinte os membros do Rider a Suck nos reunimos para o funeral de JJ. Pouco antes da cerimonia M convida a todos a beber. Parece mais um pub irlandês que um funeral, cada um com uma Heineken em poucos minutos esgotamos as duas caixas, rimos, choramos e contamos histórias de JJ. M suspira, “JJ ia gostar disso”.
M e outros três carregam o caixão até o cemitério, quase deixam cair o caixão quando desde seu interior soa Born to be wild de Steppenwolf. É tom do celular de JJ quando lhe chamavam. O celular havia ficado no bolso da jaqueta. Um dos carregadores, com tremedeira nas pernas vomita toda a cerveja que havia bebido sobre a lápide. Nem M pode segurar a gargalhada. O toque não demora a parar e o ataúde é baixado.
Em casa fico até tarde vendo um filme pela televisão. Começo a pescar no fim do filme, decido não ver o final e vou dormir, com uma ideia que faz 'cosquinhas' na minha cabeça dormente. Pego o celular e ligo para JJ. Um toque, dois, no terceiro se ouve um ruído:
- JJ...Sou C, e daí véio? Sempre quis saber se realmente tem algo Além. Sim... é só curiosidade.


6 de fev. de 2016

Internet, e a Geopolítica nas artes.

Internet, e a Geopolítica nas artes.

Há sem dúvida um local, no tempo, para a arte. Paris sempre foi centrípeta, atraindo artistas de todo o mundo, desde há muito, mas no fim do dezenove e começo do séc XX virou obrigação estar lá para ser 'alguém'. Mesmo sem nunca ter posto o pé em New York, sei de bairros que concentravam a vida artística da metrópole do império mediático, Greenwich Village, Soho, Tribeca, Union Square eram nutridos e nutriam 'Studios' e artistas. Como Montmartre e Montparnasse, onde pus os pés mas a cabeça não creio, ligados pela linha Nord-Sud desde 1910, não foi diferente. No entanto, hoje estes bairros se tornaram, principalmente em NY, reduto de gente muito rica, o que pode incluir artistas, ricos. Aqui, me parece que os artistas foram defenestrados dos seus bairros boêmios. A arte virou profissão? Antes, me parece, era um modo de vida que gerava uma arte, hoje, uma arte que gera um modo de vida. A Boemia paulistana, carioca, ribeirãopretana... estão no Shopping Center, nos condomínios de baixo e alto padrão. Isolados do mundo, quero dizer, do mundo problemático, que sempre foi o substrato da arte. A arte nunca foi bem-comportada, pode-se dizer que efetivamente não fosse subversiva, em absoluto, mas caseira, absolutamente, como Chiquinha Gonzaga, Mario de Andrade, Millôr... nem mesmo Nelson Rodrigues, ou Manuel Bandeira que por muito tempo teve logos num sanatório.
De repente penso em Jorge Luis Borges, não o primeiro, mas certamente um dos primeiros criadores de arte com fundamento tácito e explicito na informação, escrevendo a respeito do que lera, é o mestre a ser seguido, porque dá a dimensão do que se pode fazer tendo como substrato o já feito, como matéria prima, é o que fez com Quijote e Odisseu, e se não bastasse com Homero.
Na música brasileira houve um claro 'apartheid' dentro de sua produção, sem que isto queira dizer, que houvera uma mistura, mas um contato produtivo entre as variadas formas musicais, sim, e que conste: o fornecimento de matéria prima sempre foi mais frequente e intenso da mais popular para a menos popular, como fica explicito, e explicitado verbalmente por Villa-Lobos, no caso do “Choro”.
Desta forma, o que vemos e ouvimos hoje é a luta solitária da periferia para erguer uma obra musical, enquanto outros expoentes ruminam sobre o já feito.

Acontece que a internet ganhou força, suas redes sociais, acabam por colocar em contato, virtual, uma variedade de espécies. Por hora, há muito ódio, e o entrelaçamento me parece exíguo, frente ao que se poderia construir, mas creio que passado esse estranhamento, algo florescerá. Afinal sempre foi assim, os artistas têm essa afinidade com os problemas, de onde esculpem obras de vertigem.  

Assassinatos, Romance e a vida como ela é.

Assassinatos.

Se as técnicas cirúrgicas não tivessem evoluído exponencialmente o número de homicídios teriam também potencias elevadas. Fica claro, que a maior parte das tecnologias evoluíram muito mais que a moral. O que me chama atenção tem sido a falta de arte nos crimes e sua banalidade, sua quase desrazão. Frente a outros países, sempre me pareceu, que fomos mais criminosos. Do ponto de vista social do assassinato, a justiça brasileira sempre mirou no cadáver e não no assassino. A origem e a etnia do morto, davam e dão a direção, o sentido e a velocidade do inquérito policial. Dessa forma o crime sempre foi banal em nosso país, sempre que o morto seja um zé ninguém. Talvez venha disso nossa pouca desenvoltura no ramo do romance policial. Por outra, outro motivo é e foi a técnica empregada no assassinato, seja, nenhuma. Mata-se. Não há arte, porque não há planejamento. O crime se dá de supetão, quase sem querer, como um tropeção numa pedra. Se se quer o dinheiro dos pais, mata-se os pais, de tal modo que qualquer seqüência lógica e cartesiana de elucubração, sem nenhuma sofisticação, se chega ao ou aos criminosos.Insulina, venenos, metais pesados... não são usados, os crimes são praticados com revólver, marreta, faca, boné ou uma mascara qualquer.  A falta de conhecimento é fundamental para que seja como é, alem da preguiça, porque uma boa pesquisa, nos dias atuais, levaria a se planejar melhor, podendo até se levantar suspeitas, principalmente em se tratando de receber seguros de vida, pois há um pacto tácito das seguradoras com a policia, de maior empenho nestes casos.
Eu suspeito que seja da natureza humana o desejo pelo ilícito, por isso há sempre, quando se vem do passado para o futuro, um aumento da criminalidade. Como já disse, a técnica e a moral progridem com diferentes velocidades. Lembrando meu curso de Vetores, muitas das vezes, têm sinais inversos.

Por fim, o que era para ser uma irrupção inesperada num mundo ordenado, o assassinato acaba por ser conseqüência natural do modo como vivemos.
 Não se trata aqui de preferir um modo de vida ou outro, no sentido de uma nostalgia da merda, pratica corriqueira das gerações, só uma constatação, e escrever um romance policial seria descrever universos opostos. Uma vez, que existem muitos casos no qual um morto, antes de morrer, se atira na direção do projetil, e por vezes, faz isso mais de uma vez.  

5 de fev. de 2016

És um velho, Fausto, um velho.

És um velho, Fausto, um velho.



Todas as imagens que tinha, até ontem, de minha avó materna eram lembranças de uma mulher muito viva, benzendo quebrantes, apartando nossas brigas no campinho... não a vi morta. Outro dia fui visitar um primo de um tio, este também falecido, que me mostrava fotografias antigas, e ao me ver com os olhos estanques numa fotografia com algumas mulheres, numa rua de cafeeiros, disse assim de supetão: “Esta é sua avó” e completou dizendo, que por ocasião da fotografia eu não havia ainda nascido. Era ela, sim, sem tirar nem por, com um avental furado, seus longos cabelos, e uma verruga que também conheci, mas bem mais crescida. Analfabeta, benzedeira, e a beira do borralho me contava contos. Era uma vez um ferreiro... Fui descobrir – com o luxuoso auxilio do Google, e meus parcos conhecimentos de outras línguas – que os filogenéticos Tehrani e Graça da Silva, deram este conto como um conto de seis mil anos, da era do bronze. Diria que é de uma época, em que até o diabo era um jovem. Pois o ferreiro entregou sua alma ao jovem Demônio, em troca de que este o ensinasse a misturar os materiais e uni-los da forma que quisesse. Há uma frase que ronda nossa cultura, que o demônio é mais poderoso por velho que por diabo, e naquele momento isso de nada lhe serviu, e acabou se deixando enganar pelo ferreiro, que pendurou o maligno numa árvore, depois de conseguir o segredo da mistura de lâminas. Fausto não teve a mesma sorte, pois é da terra kantiana, e palavra dada... Me pergunto de qual embornal minha avó tirava essas histórias, apago a pergunta e digo que ela os inventava, enquanto depenava uma galinha, para nos fazer uma canja para as longas madrugadas do Carnaval. ... por estas bandas, seguimos enganando o capeta.


3 de fev. de 2016

Desdicionário. Falácia: acreditar que o tamanho do pênis tem a ver com o do nariz.

Desdicionário.
Alvo: avô branco.
Papada: o papo do Papa papa, papou no papo, levou no papo, 
Canabis: dar o segundo pega. Ir em cana por isso e só ter cana pra chupar.
Infimose, pênis diminuto inviabilizando a circuncisão.
Ridiculites : pequena inflamação do nervo da vergonha.
Ministério: mistério sobre o ministro da cultura.
Multicanal: Veneza, Recife.
Colossal. Grão de sal do tamanho do buraco da rua de casa.
Lúcifer. Brilhante em tons avermelhados.
Parca, burca que só tapa os olhos.
Peritonite: doença que dizimou os Peritos da era Collor.
Melodrama, melão com gosto de pepino, ou bucha.
Lacônico, na forma de um cone.
Malária. Uma parte da ópera que não presta.
Saudável, pessoa digna de um “Olá, como vai”
Diatribe. Tribo das criticas virulentas. Virulenta: vírus disseminado pelo Bicho Preguiça.
Lavadora , Suíça.
Retificar: fazer ás pressas.
Veleidade: vovô cantando mocinha.
Pedagogo, muito gogó e pouca coisa mais.
Bimestre, proprofessor/a.
Advérbio et órbio, modifica não só o verbo, mas todo o universo.
Vespa, inseto italiano de duas rodas.
Libélula, inseto que acusa,
Purpurina, urina carnavalesca.
Auto-estima, gostar de si cuidando mais do automóvel.

Copy right. Direito de copiar, então copie.
Conífera, reino animal, a fera cone, Fred. Botânica: a árvore dos cones. Figura de linguagem: diálogo de lacônicos.
Fraudulenta, péssimo nome para uma senhora alemã. Dulenta.
Enrugado, Bovinos não fazem cirurgia plástica?
Autocensura.
Balada. Festa que termina em tiroteio.
Bissexual. Por isso inventaram o viagra. Mais uma, mais uma...
bronze: o onze do br.
Clara, uma loira com juízo.
Daltonismo, transtorno congênito que nos impede distinguir os Daltons
Ecografia. Cografia, grafia, fia ia, a ....
e-difício. construção virtual de difícil acesso.
Esfincter, figura estrambótica ou estrambólica e enigmática, pela qual Édipo tomou verdadeiramente no cu.
Esquerdismo. Insistir nos péssimos resultados da mão esquerda quando se é destro.
Falácia. Acreditar que o tamanho do pênis tem a ver com o do nariz.

Favorita. A pedra que sempre tropeço.