Perguntou ao gato:
Se sente muito só? Aquela
parecia ser uma pergunta boba, assim que decidiu perguntar novamente:
Tá se sentindo muito só? E, como de costume, deixou a resposta ao
gato ocre amarelado que ondeava o rabo com lentidão. Claro que se
sente só! Eu também me sinto. Quando disse estas palavras, sentiu
um leve remordimento. Na realidade deveria ter
comprado mais um ou uma gata, para que seu gordo gato ocre amarelado
tivesse
amigos
e formasse uma pequena comunidade felina. Mas, ao mesmo tempo, temia
que a compra de mais gatos o fizesse perder a comunicação que já
tinha com esse. Havia algo de especial entre ambos, como nesse
momento, em que o gato permaneceu imóvel, mirando-o
com seus olhos amarelados, enquanto seu formoso rabo se agitava em
câmara lenta. Tá na cara, que estamos sós, os dois – resumiu. Se
ergueu e foi a cozinha preparar um café. Duas colheres de Alta
Mogiana,
uma de Cerrado mineiro e uma de Altinópolis em
vez do Sul de Minas,
para
provar. Era assim, com alguns tipos de café, era necessário ser
mais comedido. Se ajeitou dentro da calça e da camiseta que escapava
pelo ombro, e se dirigiu de novo ao gato: Sabe do pior? O pior é
que já não se pode estar em paz com a solidão, porque agora não
está de moda estar só; tem
sempre alguém te espreitando; agora eu queria saber do mais pior
ainda? Isto
garanto, você não sabe! É! Há a solidão compartida! Se ao
menos você deixasse seu sorriso! Dizia, enquanto o gato sumia.
9 de fev. de 2015
8 de fev. de 2015
...
Antes, Inda Antes de
Ter Pressa,
Antes de Pessoa,
Se Antes do Inventar
da Hora,
Antes de Darwin,
Dinossauros e Fósseis,
Tapete, Tabaco e
Tabacaria
Nem Trânsito,
Pântanos,
Enchentes e Secas,
Antes do Mar, sem
Cronistas, Inquiridor,
Antes das Estrelas
Caírem Sobre o Tabuleiro do Desassossego,
Antes dos Sábios,
Prisões, Arenas e Toda Sorte de Apego.
Quando Tudo Era
Vácuo de Fina Tripa
o Negro Sol Duma Sem
Beirada Cor
de Criança que
Chora, Esta Dor
Já Estava Aqui
6 de fev. de 2015
Um Pedaço de Nuvem, um Reflexo de Lua
A
mãe
gosta de sair para dar uma caminhada quando o sol se põe. Nesta
hora; que é quando há um hálito do noroeste, esta brisa que entra
depois do vento leste; pego minha espreguiçadeira e vou para a
calçada tomar vento, cerveja e
ver meu vizinho deitado na calçada, para descansar e refrescar-se.
Depois
de um demorado passeio, lá vem a mãe. Fui longe hoje, até aonde
você foi?
Fui até as barrancas do mundo! E como visse minha cara de espanto,
me mostrou nas mãos que trazia escondidas atrás, um pedaço de
nuvem e um reflexo de lua...
Nem a Água não é Água Não.
"Cachaça não é água não..."
Deve ser muito
complicado ser Historiador. Uma data – um dado – isolada, não
diz nada. Se faz necessário interpretá-la. Conhecer seu
imprescindível contexto. Minhas recordações de infância não têm
nada a ver com a de um garoto de cidade grande. Os meus anos 60/70
são os anos da ditadura. Sem miséria, mas anos de chumbo. De vez em
quando emerge uma cena felliniana que me põe em contradição com o
calendário, bebendo vinho do padre, vestido de coroinha, sambando...
Penso na excitação
pueril que me produziam os fevereiros de carnavais de há tantos
anos. Longos anos e me parece impossível que esteja a falar da mesma
época, em que Artur da Costa e Silva instituía o AI-5. Ou que se
estivesse sendo fundado o Pasquim. Seria necessário se traçar com
uma rotring uma linha para interceptar esta linha do tempo com a
minha, anos em que surgiam The
Who, Rolling Stones, Beach Boys, Bob Dylan, Jimi Hendrix, dos
festivais da TV Record, de Vandré. E a minha, se
olho para trás, tinha
como
trilha sonora Tonico e Tinoco, Meu limão meu limoeiro, Paulo Sérgio
e Roberto e Erasmo Carlos, Wanderley
Cardoso,
as Escolas de Samba do Vila Virgínia que vinham nos visitar, as
marchinhas, os Mamãe eu Quero, Cachaça
não é água não,
tudo me faziam enlouquecer. Hoje,
eu
espírito carnavalesco é
só quarta-feira de cinzas, mas sem cruz de cinzas na testa, mas pudera, nem a água não é água não.
5 de fev. de 2015
Futebol. Corinthians e Tabelinha, um Resgate do Passado, Peladeiro!
Se o futebol
brasileiro se ancorar no fundamentalismo do futebol europeu,
estratégico tático, ficará a merce deles, pela já denotada
capacidade deles em cumprir script, roteiros e tal e coisa. Na copa
2014 os alemães mostraram o futebol de ''espontaneidade'' ensaiada,
como é sua maestria em tudo na vida tedesca. Como era a Espanha
guardiolada, e tudo faz crer que influenciou alemães, bávaros e
mesmo o Real Madrid segue uma devaricada dessa onda, etc. A
objetividade do futebol europeu, e o que tentamos imitar, não nos
serve, não sabemos ser objetivos, transparentes, não isso não é
nosso, podemos até ser em outras esferas que nos melhora, mas no
futebol, bater a carteira não é imoral. Enganar também não. Fazer
de bobo é a ética do nosso futebol. Na objetividade, somos
obrigados a apelar, porque eles são melhores de nascença nessa
coisa, e então somos violentos, não somos duros como eles são,
somos violentos.
O Corinthians dos
últimos jogos apresenta algo novo, velha nossa conhecida, a
tabelinha. A tabelinha em velocidade, com passes curtos e verticais.
Essa é característica inata do futebolista, boleiro, peladeiro
brasileiro. Pelé e Coutinho nadaram de braçadas nessa lagoa.
A vantagem do
futebolista brasileiro é essa, mesmo os menos craques, coisa que é
o Corinthians, São Paulo, Palmeiras, times com bons jogadores, mas
craques não os têm. Mas mesmo o jogador mediano brasileiro faz
tabelinhas de nascença, é o sarro da coisa. Note que o Santos,
sempre apresenta-se bem quando consegue engrenar seus ''meninos''
neste aspecto: A Tabelinha, fora disso sofrem...
Pela entrevista que
deu Elias, depois do jogo contra Once Caldas, me deixou a impressão
de que os treinos têm enfoque prioritário neste tipo de
''jogadas''. E dá mesmo para perceber, são algumas tentativas, uma
que resultou no gol de Fábio Santos na Arena, ainda no ano passado,
e no jogo contra os colombianos, isso ficou mais insinuado, ainda não
está ''patente'', vou torcer e esperar, pode ser a salvação da
nossa lavoura.
Resgatar o passado,
pode ser a vanguarda!
4 de fev. de 2015
Magnanimidade.
Tirante uma agência
de risco – Standard & Poor's no caso “Subprimes” - que
“en passant” se pode dizer: fraudulenta, e foi multada nos
EEUUAA em bilhões de dólares por essa superestimação
mafio-criminosa na crise financeira de 2007\8, nenhum outro órgão
internacional, como FMI, por exemplo, nada têm dito ou a dizer sobre
o caminhar do Brasil. Vamos com as próprias pernas, mal podem,
entretanto, dizer, mas com as próprias pernas, antes íamos mal e
ouvindo e levando dedo nos olhos desses peregrinos.
No entanto, as
vitórias se envenenam se não são administradas com magnanimidade.
E pode ser a origem do fracasso do PT como um projeto coletivo. E na
tentativa de borrar a personalidade, existência dos então
derrotados antecessores. De tal forma que a consolidação do
critério uniformizador, se plasma numa interpretação enviesada e
reducionista, e de certa forma uma parte significativa dos petistas
continuam a fazer da realidade. A reação é belicosa, e o governo
Dilma é por dizer, quase que não salvável, pelo reflexo evidente
de não ser capaz de ser compatível, ou ao menos complementário às
aportações de outros grupos, apesar de nos últimos anos ter
conduzido de forma formidável algumas questões distributivas.
Vejo
o reflexo das mobilizações de faz dois anos, e das últimas, ao
mesmo tempo do imobilismo da população frente ao estado de
calamidade pública que conduziu, o PSDB frente ao governo, o Estado
de São Paulo. É como se o PT não tivesse deixado outra opção,
senão que fechar os olhos. Não sei... como diz Fernando, um amigo
meu, na corda bamba...
3 de fev. de 2015
O Gato do Bar do Toba.
O gato do bar do
Toba é negro e lustroso, e o pelo do lombo, olhando de perto, tem a marca da forca. Dizem que matou o seu dono. Todo mundo sabe que o gato chega depois que a
missa já começou, ou já vai pelo ofertório, e os canabravas já
comeram alguma coisa. Com certeza passou toda a tarde a dormisquejar
no canto do curral. O gato vai de mesa em mesa, ao mesmo tempo que
um francano vende botas e cintos e sandálias trançadas e bolsas,
essas vacas tiveram menos sorte que o felino. Parece que o gato
aprecia o espaguete da mesa de dois, em contrapartida, come sem
vontade o lambari do Lesmão, ou não aprecia os Jihadistas no jornal
que lhe serve de prato, tanto que deixou umas espinhas do peixe. Na
mesa dos fumantes ele nem passa... antes de ir-se ainda revira uma
migalha de pão da mesa do fundo. Passa por mim e lhe acaricio a
cabeça. Como fui generoso, sem demasias, me deu um conselho ao pé da orelha, que
me quis passar como um texto de Cortazar – sempre me disseram que
os gatos de rua são os mais cultos, ainda que frequentemente
lacônicos e mentirosos – O Plagiário, porque não adianta nada
roubar uma flauta e não saber tocar.
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