12 de out. de 2014

O Banquete.

O Banquete ou O Churrasco.
''agradecimentos especiais à Fafá, Cláudio, Donato, Silvana e Gil Gil."

Quem nunca ouviu falar do amor platônico? E ainda mais, quem não teve um? Aquela professora de Geografia! Virgem mãe santíssima, e a de português, então, de biquíni lá em Miguelópolis? Tem gente que amou Thatcher envolvida em papel celofane. Sempre acreditei que o amor platônico se referia ao amor impossível, eterno desejo jamais satisfeito. Sonho sonhado desperto de quem aspira e jamais obtém, e sabe que isso é assim e assim será.
Mas, no diálogo 'O Banquete' (tem até filme francês), Platão, que se diga, não é o autor, desenvolve uma teoria do amor que nada mais tangencia, e se ajusta ao que atribuímos, hoje, à expressão. Ele fala de amor desejo, que não tem nada a ver com a carne sexual. Fala de uma aspiração ao saber que começa pelos corpos, e vai além deles. Entre nós isso parece, em muitos círculos, sem sentido, mas para ele, o desejo de saber, a aspiração à verdade e à beleza eram o verdadeiro e último objetivo da paixão amorosa.
O Banquete, eram reuniões entre comensais, para comer e beber, muito comum entre os gregos e entre nós, poderíamos chamar de O Churrasco. E pelos mesmos motivos pelos quais metemos fogo num monte de carvão. Depois de comer, e durante, se metiam a conversar, era a sobremesa, regadas com vinho, nós regamos com cerveja, com certeza.
Hoje, pude experimentar um pouco disso no mundo virtual. Travamos um Diálogo, aonde o banquete acontecia a léguas de distância. Foi um começo. Trocamos fotos dos nossos pratos, sentimos o cheiro, deu água na boca, etc...


10 de out. de 2014

Cidão na cidade das maravilhas. El Pulgatório

Ficaria feliz de ser velho
numa cidade com poucos policiais,

onde a música boa soasse nos beirais,
onde a pintura fosse admirada,
as orquídeas, e os bonsais,
os ipês amados como as cerejeiras,
no japão.
Onde ser criança ou operário,
nada tivessem que ver com tristeza.
Uns dentro de casa, outros na janela fumando
conversas, hospitalidades, como se fossem flores a queimar,
nos dias, poucos, de muita geada.
Uma feirinha de velhos objetos de interesses
inúteis, como restos de um naufrágio
bananas de todos os tipos,
tudo muito e para todos.
Por ela vagaria, sem melancolia, ou melhor
por amor a melancolia,
onde uma velharia,
grande novidade
ainda outro dia encontrada,
como um relógio de pulso,
não fizesse sentido.
Sábios muitos de muitas maneiras,
com guarda-sóis coloridos,

ainda que as casas aninhassem sombras.

8 de out. de 2014

Ão.

Tenho um rabo travesso.
E o pelo ouro mosqueado
o parapeito meu lugar
por parente o jaguar.

Dizem que sou anacoreta.
Não é bem isso, arte minha
é bastante, o rebuliço.
Frita, sim frita a sardinha.

Com a pata no mosquito.
Desenrolo o novelo.
Finjo que não me vês.
Salto ao teu joelho.

Já me agrada esta vida,
preguiça, saltos, preguiça
e queixar-se é de mau gosto.

Mas as vezes querias
ter um gato sem manias
que te desse algum desgosto.


Brisa.



Paciência, paciente leitor. É paciente, porque sabe olhar para isso e gastar o teu tempo lendo estas linhas, palavras vãs de um anônimo que o vento nético leva para olhos anônimos como os teus, que tudo veem, paciente leitor.
Deixe que te fale de paciência, de lentidão, de ofícios feitos das gotas que caem, pouco a pouco, na borra das horas. Deixe que te fale dos últimos discos, quaisquer dos últimos discos, que deixamos passar despercebidos, ocupados que estamos com tantos ruídos.
Não pelo que são em si estes álbuns ou outros, compostos por temas suaves, alma pura, peças curtas, quase ínfimas, imperceptíveis. Mas sim, pelo que representam, se é que as miudezas representem, e portanto engrandecem, conectam a novos ritmos mais amplos e mais altos, neste mudo doente. A música, qualquer música é uma brisa, leve, sem parar, pelas ruas da clave, rua acima, rua abaixo para aonde a leve o tempo meteorológico. A música, qualquer música, essa brisa que é quase silêncio, sem deixar de murmurar. Não importa se vozes, guitarras, tamborins, cavacos, agogôs, um surdo afogado, tum, desde que nos faça, que nos faça não, que nos tente, uma tentação de acreditar nas amizades, ou mesmo, de voltar a crer na bondade dos seres... música, lenta, brisa, murmurando, inoculando harmonia, elegância por dentro da etiqueta, música e dignidade de fazer
passado e presente, paciência, paciência, como a tua que chegou até aqui, que combateu cada linha com silêncio, suspendido na tua sensibilidade, na transparência do teu tempo, diante da turbulência do tempo lá de fora, que te procura, e te procurará sempre, mas mantenha-se intacto, com teus amigos, para ser melhor, e nos fará a todos melhor.

Isso foi escrito ouvindo Breeze Eric Clapton & Amigos. se clicar em Breeze vai direto ao youtube. 

6 de out. de 2014

A Educação, Sexismo, Barbárie, no país que mais vende sofás no mundo!

matheus urenha A Cidade


Ainda que mal interpretem o que direi, creio que é bom dizê-lo: “O pior inimigo de uma mulher não é o homem senão uma outra mulher”. Todavia, é de justeza recordar, que o referente histórico das desigualdades de gênero sempre foram os homens, e por isso que surgiu o movimento feminista, que tinha como a finalidade conseguir a igualdade política, econômica e jurídica da mulher relativamente ao homem. Na longa história de desigualdades temos infinidades de exemplos, alguns por demais dramáticos, e outros que dão a entender até que ponto a sociedade tinha e tem interiorizada esta desigualdade, tanto que se pode dizer: se vivia e vive com total naturalidade. É por isso que práticas atuais voam em céu de brigadeiro, é o caso de uma empresária que não direi o nome, para não me implicar, pois não tenho departamento jurídico como ela, eu não posso me defender, mas eles podem me acusar que focinho de porco é tomada. Pois esta empresária não é partidária de contratar mulheres com alguma possibilidade de gravidez, pois é um estorvo, financeiro. Penso que se venha em algum momento pedir um certificado de esterilidade, será um passo. Estamos nas antípodas do mundo civilizado.
Até os anos 70, havia pouquíssimos professores, elas dominavam esse mercado de trabalho. Só as mulheres acudiam a ele, por um salário inferior, que se dizia: o segundo salário da casa, adonde se supõe que era um ‘complemento’ da renda familiar. E por essa e outras, que o salário na educação é muito inferior a qualquer outra área que exija nível superior.
É impudico este país. Sempre aos mesmos, aos membros das castas privilegiadas, dos que têm bula papal, carta branca, imunidade absoluta para fazer e desfazer, do pertencimento à grande família dos de sempre, uma turba que não se move, nem em tempos de ditadura ou em tempos democráticos. Alguns têm origem na mais pura essência ditatorial, que se ao menos nos dissesse seu projeto de país, mas não, é um projeto particular, privado, familiar dentro de um país... nada que não fosse antes... Pode-se dizer que uma boa televisão, um jornal impresso etc é muito pouco para um país desse porte, mas não é, se você for o dono dessa TV, desse jornal... Fala-se demasiado em mercado, em auto regulação de mercado, mas não temos mercado, senão que um mercado distribuído em forma de capitanias hereditárias. Para citar um, a CBF não me deixa mentir...
É por essas e outras que se vende tanto sofá.  

4 de out. de 2014

Churrasco com Borges!


Estava à churrasqueira quando Jorge Luis Borges tropeçou num saco de carvão. ''Cuidado, Borges” falei, “O pedaço aqui está cheio de coisas esparramadas'' . “Joana, por favor, tire o isopor de cervejas do caminho, para nosso amigo poder transitar, sem perigos”. “Claro, sempre sobra para mim”. “Ah! Meu amor!” Botei os bifes de picanha com o lado da gordura para as brasas. “Borges, você já parou para pensar, o quanto está implícito numa frase, como : Traduzo Guimarães Rosa para o espanhol? “Sim! Está implícito que Guimarães Rosa tem seu próprio português, como tenho meu próprio espanhol. E quando um professor de espanhol traduz para espanhol, se trata do
espanhol que pertence a todos os hispanos falantes e a nenhum”. “Entendo, pois o professor de línguas sente a responsabilidade do idioma, não nas suas modificações, senão pela sua integridade monolítica, são os piores tradutores”?Sim” disse ele todo entusiasmado e acrescentou “Digamos que há o italiano de D'Annunzio e o inglês de Auden, como o português de Guimarães, o espanhol de Cervantes, e as línguas dos professores de línguas”! “Ao ponto?” “Sangrienta como la luna”!



3 de out. de 2014

Nós!

Nós!

Liamos nossa autobiografia,
tudo se passava numa sala
num quarto
a sala dá saída para a rua
ninguém transita
não há barulho
árvores cheias de folhas
carros estacionados
nada se move.
Continuamos a passar as páginas
a espera de alguma coisa,
de misericórdia talvez
uma mudança,
nada nos une
senão uma linha obscura,
também nos separa.
Parece um livro vazio,
o mobiliário já foi novo,
os tapetes estão gastos
justo aonde passam nossas sombras,
a sala é nosso mundo
líamos juntos,
e do lido discutíamos sobre o sofá,
liados,
digamos: o ideal é:
Não botar os pés sobre a mesa de centro!