18 de set. de 2014

Redação. O homo sapiens.

Redação. O homo sapiens.





Uruk
Ut- napishti
Há 200 mil anos surgia o homo sapiens, como a espécie mais sanguinolenta, o homo sapiens, que triunfou e aniquilou outras espécies de homos, e também de animais, e em algumas destas aniquilações, o homo sapiens contribuiu efetivamente como o maior serial killer da história, tudo isso enquanto produzia a revolução cognitiva, com a criação da linguagem e da linguagem ficcional. Foi então que o homo sapiens se tornou independente da biologia. É isso que diferencia o homo sapiens dos outros animais, sua independência das ordens biológicas.
No neolítico, passou de uma sociedade de caçadores e coletores nômades, àquela de agricultores e pastores sedentários, isso há uns dez mil anos.
Este momento do progresso humano foi complementado pela aparição de organizações complexas, com um ordenamento da produção e da distribuição dos bens então acrescentados, o que levou a uma inevitável hierarquização dos grupos, de modo que as classes superiores (reis, sacerdotes, administradores, grandes proprietários) tenderam à discriminação e opressão das massas de trabalhadores e o predomínio do homem sobre a mulher, que sucessivas ideologias têm tratado de legitimar como '' a ordem natural das coisas'', que nem é ordem e tampouco natural, mas sim só mais uma forma de domínio histórico dos grupos mais poderosos sobre os mais frágeis.
Neste ponto chegamos à primeira globalização, os grandes impérios mundiais. O português, o espanhol e o britânico. Sua base é a ambição, o dinheiro, dissimulada sob “ O fardo do homem branco” ( Poema de Rudyard Kipling) de evangelizar, civilizar e contemporaneamente o de democratizar outros povos. A religião tem papel, ou as religiões exercem um grande papel, sejam monoteístas ou politeístas.
Matar, parece-me, ser a grande maestria da espécie.
Com um ou muitos deuses, ou nenhuns.
Gilgamesh segura um leão
Roma, em três séculos, mandou muitos cristãos aos leões, mas menos dos que os próprios cristãos que os milhares huguenotes enviados à morte no dia de São Bartolomeu, em 24 horas, que é celebrado por magnatas católicos e se inclui o Papa de Roma, por serem supostamente caritativos.
O Homo sapiens desenvolveu-se cientificamente em busca da imortalidade. A imortalidade noticiada é buscada desde Gilgamesh, rei de Uruk, que havia visto tudo até os confins do mundo. Leia com atenção, pois é aqui que começa a busca pela imortalidade...
noite de são Bartolomeu- Paris
Um touro desenfreado, que nunca deixava em paz as moças, as filhas dos soldados, as mulheres dos homens. A paz das mulheres de Uruk só foi possível, graças a criação pela sua mãe Aruru de um monstro, a que chamou Enkidu, e que depois de bater muito em Gilgamesh, o acalmou. Gilgamesh e Enkidu foram grandes e inseparáveis amigos, até o dia em que Enkidu morre, e incrédulo Gilgamesh permanece em vigília, esperando que despertasse, mas tudo que vê é um verme a sair pelo nariz. “Sete dias e sete noites, como um verme jazia de cara para o chão e não recobrou sua saúde, então corri pela planície como um caçador” cantou em seu poema, Gilgamesh, Gilgamesh que havia junto com Enkidu, a tudo vencido, estava então decidido a vencer a morte. Foi então que se lembrou, ele que em toda parte havia estado, havia estado além das “águas da morte”, onde vive Ut-napishti, o imortal. Depois de várias portarias, com guardiãs de olhares mortais, encontrou num vale de beleza indescritível o barqueiro de Ut-napishti. Vale lembrar que uma gota daquelas águas significava a destruição.
Gilgamesh por fim encontra-se a Ut-napishti, e lhe pergunta pelo segredo da vida eterna, fica decepcionado pelo que ouve: numa época remota, os deuses decidiram destruir a humanidade, com uma inundação, e ele e sua esposa foram os únicos a quem permitiu-se sobreviver. Advertido pelos deuses, o casal construiu uma gigantesca barca e nela reunirão um casal de animais de cada espécie. Depois do dilúvio de seis dias, Ut-napishti abriu a janela do barco e descobriu que estava encalhado numa ilha. O trabalho era imenso, repovoar a terra, por isso foi recompensado pelos deuses com a imortalidade, mas que jamais tal ação se repetiria. Gilgamesh fica desolado. No entanto Ut-napishti, querendo recompensar Gilgamesh por sua busca, diz ao gigante que no fundo do oceano, do oceano mais profundo da terra, cresce uma planta que devolve a juventude. Gilgamesh não perde mais tempo. A procura. Encontra. E no caminho de volta a Uruk um serpente lhe rouba a planta. Desolado, volta para casa para esperar pelo tempo que os deuses ainda lhe permitiam.    

17 de set. de 2014

Recreação antonímica.

Recreação antonímica.


Penso que gosto dos matizes, talvez prefira os antônimos que admitam gradações: Frio e quente, espera ai, mas também morno quando convém, e ainda mais se ampliemos aos extremos: Gelados e ferventes... sempre que o passar do tempo nos permita outras eleições. Entre o preto e o branco, se prescindo de outras cores, vejo inumeráveis tons, não 50, mas cinzas para dar e vender, ainda que estejam disfarçados no Arco-Íris.
Vivo ou morto? Não sei, mas deve haver um meio termo. Há mortos que atuam mais objetivamente que os vivos mortos. Ou será mortos vivos ?

E ganhar e perder? A Marina inventou uma que gostei: prefiro perder ganhando que ganhar perdendo! Não vai longe o tempo das amargas vitórias e das doces derrotas. No entanto creio que nisso de vitória e derrota, há um estado líquido, ou volátil: o empate. Tablas, diz-se no xadrez e se apertam as mãos. 

15 de set. de 2014

Triplo Filtro socrático. Bom. Útil. Verdadeiro.

Triplo filtro socrático´
Bom, útil e verdadeiro.

Muita coisa dos filósofos gregos permaneceu graças ao famoso: boca a boca, que para mim deveria ser boca orelha. Outras foram transcritas.
Uma destas histórias, relata que um conhecido de Sócrates vai se aproximar para dizer: “sabe que escutei sobre aquele teu amigo? Pergunta a qual Sócrates responde com outra: “ Vc está completamente certo que o que vai me dizer é absolutamente certo?” . - Não, só ouvi a respeito...” E Sócrates o interrompe: “ Então, não sabes ao certo, se é ou não verdade?”. E continua: “é uma coisa boa e construtiva a que quer me contar, sobre meu amigo?”. - Não, bem pelo contrário, realmente é negativa...”. O ateniense replica: “Então deseja me dizer uma maldade sobre ele e não está, entretanto, certo que seja verdade?” . “Bom te farei mais uma pergunta, se o que quer comentar sobre o meu amigo é de alguma utilidade?”. -”Não, pensando bem, creio que não”, responde o fofoqueiro. E Sócrates conclui: “ Se o que quer me dizer não é certo, nem positivo, e tampouco útil para mim, por quê me há de contar? Por qual motivo haveria de ter algum interesse de saber dessa sua história?”

Este é o famoso filtro triplo socrático.

14 de set. de 2014

Como dar uma má notícia.

Como dar má notícia.



O sitiante despertou na madrugada pela insistência do telefone: Oi! Sou o Tonho, que cuida do seu sítio. - Ola, seu Antônio, que aconteceu para o senhor me ligar a estas horas? - Nada, seu Doca, só queria lhe dizer que o seu loro morreu. - O meu loro, o louro que ganhou o concurso na TV? - Exato, este. - Que tristeza seu Antônio! Mas, morreu como? - Ele comeu carne podre. - E quem lhe deu carne? - Ninguém, ele comia a de um dos seus mangalargas puro sangue que morreu. - Como? Seu Antônio, me explica isso direito! - De cansaço, seu Doca, cansaço, de tanto ir ao poço buscar água. Valha me deus! E porque fazia isso? - Para apagar o fogo! - Fogo? Onde? Que fogo? - Na sua casa, seu Doca. - Meu deus, mas como pegou fogo! - Foi acidente, puro acidente, um círio que estava perto da cortina, pois veja... - Círio! Para que tinham um círio acesso? Se no sítio tem energia elétrica? - Então, seu Doca, foi um círio do velório! - Velório! Velório de quem, seu Antônio? - Então, da sua mãe, senhor. Ela veio para cá tarde, sem avisar, e eu disparei um tiro de escopeta, pensava que era um ladrão...

12 de set. de 2014

Areia Movediça.

Areia movediça.


Havia um tipo de cinema em que o que se reservava aos malvados, que me amedrontava, era a armadilha movediça. Invisível. Quando o mocinho estava em perigo, sorrateiramente aparecia uma areia, e tremia na poltrona, por vezes nosso herói se safava com algum truque, um galho, mas o malvado não tinha salvação, morte terrível. Lenta e cruel. Agônica. É a prova de existência da potência posta em ação, a impotência, quanto mais se movia, mais a desapiedada natureza o engolia, voraz. Do infeliz sendo chupado, com calma pela areia, nada mais que ver suas mãos se despedindo.
Era recorrente, até um ajudante de Lawrence da Arábia foi vitimado.
Mais tarde, descobri que o corpo humano é menos denso que a areia, e que no deserto é ainda menos provável acontecer tal solapamento. Alívio e descanso aos meus pesadelos, então viver sem este sofrimento.
No entanto, os candidatos ao Planalto continuam a afundar na areia movediça da política, e Tarzan ou Peter O'Toole, nada poderá fazer com seus olhos tristes, ou seu lenço palestino, porque o reino da realpolitik é mais desapiedado!



11 de set. de 2014

Incidente em Antares.

Democracia é no voto.


Não sei se a vocês, mas a mim dá medo, o caráter belicista de alguns do anti-petismo. Nem por tanto, isso será um pedido de reconciliação, por não estarmos em guerra. No entanto, resultam surrealistas seus gritos de guerra, totalitários, nazis e não sei quantos floretes mais desembainharão, digo tudo isso, partindo do quê e como explicitam seus slogans, que vejo e leio, e nada menos, a pedir o desaparecimento do partido dos trabalhadores. Sim, lhes convém,    se entende os partidários, cada vez menos dissimulados, do submetimento de parcelas da população, que mal botou a cabeça para fora, nestes cinco lustros de democracia parca, e como não nos conseguem assimilar, pedem nossa desaparição.
Têm usado de todos seus equipamentos para além do limite do razoável, e as vezes de forma bizarra como o insepulto defunto, e as eleições ganham contornos do Incidente em Antares.
Gostaria muito de não pensar nisso tudo. Gostaria muito que nas próximas eleições celebrássemos uma democracia menos rarefeita de ideias. Gostaria muito de celebrar uma vitória, não a derrota deles, mas isso tardará outros lustros.
Por agora, pode parecer, que queira justificar os descaminhos defraudadores de alguns, porque não me gosta muito isso tudo, titular a vida política como ''politiqueira'' e ''corrupta''. No entanto, ainda que pareça, não sou contra conhecer as porcarias que estão debaixo do tapete, dentro dos armários. Me debato, sim, pela emancipação cidadã, que por sorte me parece desairada, respira outros ares...

Assim, se quero emancipação, quero também transparência, decência, da mesma forma que quero um país mais justo e limpo. Com vertigem. Com valor, Com vontade e voto. Acima de tudo, Voto.    

10 de set. de 2014

Vale-tudo.

Vale-tudo.

Valor, é o que vale, e o que vale tem valor. Curiosamente, se dizemos: vale-tudo, não é porque tudo tem valor, ou que haja abundância de valor, é justamente o seu contrário. No âmbito pessoal é um troço melindroso, é quando nos pomos sérios, e haja valor próprio, porque os valores são bens prezáveis e como tal hão de ser limitados e aceitáveis comumente, é um princípio da regra do jogo.
Outro complicador dos valores é a temporalidade. A ação do tempo. E com isso os valores supõem tradição, postura... pose em palavra mais chula. Ao longo do tempo, pessoas de determinada comunidade ou hábitos culturais, confeccionam uma escala daquilo que os parece valioso. Neste sentido, o valioso que deveria ser levado em conta para se ter uma sociedade humana que funcionasse, é que não suponha surpresas súbitas, rupturas traumáticas com a moral e a ética.
Entretanto o tempo, senhor implacável, tem ritmo acelerado, e as novas gerações junto com as velhas, que querem se modernizar, provocam questionamentos, criam novos valores ou contravalores frente aos que pareciam imutáveis.
Não sei dizer quais são os meus valores ou os valores da sociedade mais próxima de mim. Há uma mistura de concretude com abstração, multiplicados por variáveis circunstanciais, e vejo filósofos honrados jogando o balde no fundo do poço e só sair água barrenta. Família, povo, trabalho, vida e seus subgrupos e grupos dos subgrupos tudo dentro do chapéu que o prestidigitador remexe, para sair uma pomba branca, ou o que ele quiser, e que sabemos que não é, mas aplaudimos. Estamos mais interessados na refutação da pomba, que no truque, e divagamos enfáticos.