8 de set. de 2014

Ici, n'y a pas d'Élite.


Ici, n'y a pas d'Élite.

Elite no país, já faz tempo, que só existe a tropa e de mentirinha, cinema anemic. A pá de cal foi jogada, pela Alemanha, no nosso futebol, que era um dos estertores de nosso elitismo. A bossa-nova é um cadáver insepulto. O samba chegou ao paroxismo do samba de raiz. Nossa arquitetura de único pilar centenário, foi-se.
No cinema segue a cruz nos ombros de um pagador de promessa, câmeras na mão para filmar '' Ceci n'est pa une pipe '' Magritte por Michel de Foucault, sem roteiro, pois rola na hora.
Nosso negócio é o de tirar do chão, botar num navio e exportar, terra sólida ou líquida, sem transformação, commoditie.
Na literatura, temos como vermes num cachorro morto, que sugar as últimas proteínas mumificadas e remastigadas de Machado de Assis, o demais, carboidrato, engorda!
Somos embusteiros, e faz tempo, Camões imitou Homero e nós o velho do Restelo.
Talvez Chico Mendes fosse vanguarda, elite ambiental, mas os retrógrados acabaram com essa dúvida a tiros, retrógrados sim, mas elite não! Não temos e nunca tivemos elite, nem na popa como queria Roberto Campos.


A granada anunciada!



     O teatro Pedro II de Ribeirão, certo dia, amanheceu cercado de viaturas policiais, e toda sua fachada destroçada, seus bisotês estilhaçados, suas escadas, vítimas de vandalismo. Os fotógrafos, jornalistas, os curiosos, se perguntavam: Como? Quem? Os flashes disparavam como metralhadora. " Isso vai dar JN " disse o câmera. " É um ataque à cultura ", " querem acabar com a cultura "  gritaram em meio a multidão. 
     Os peritos policiais, amealhavam provas, enquanto transeuntes faziam o mesmo com outros propósitos, um souvenir. Um casqueira que dormira no banco da praça, dizia ter visto o vândalo, “Ele ameça fazer isso faz tempo'', Como ele era? Pergunta o investigador. ''Alto, forte, camiseta polo de pano grosso, calças dobradas na barra, botina”. E as cores? Lembra?  '' Estava escuro, mas calça e camiseta eram de uma cor só, escuras”. Como ele fez todo esse estrago? ''Ora com a granada, uai!”. E depois? '' Deu um salto, parecia voar, e saiu correndo ''. “ É, não dá para levar a sério, o sujeito é usuário de crack! ” Concordavam os investigadores. De repente um senhor que toda manhã dá milho aos pombos gritou: “ O constitucionalista sumiu! “ Num falei, disse o casqueira."

7 de set. de 2014

Alho-poró!

Por um maracanã de motivos, penso que deveríamos encontrar nos bairros todo tipo de mercadorias. Um desses motivos é o de não ter que tirar o carro da garagem e sair passeando num domingo pela manhã pelas ruas como seu quintal estendido, conversar com os conhecidos da vida inteira, e outros motivos que não estão na minha cesta básica de motivos, e que no entanto r ainda que não os defenda, os gosto. Como a poluição, o meio ambiente, a geração de empregos perto de casa – que é sempre maior nos pequenos mercados, que nos hiper-super da vida – os congestionamentos etc. Pena, não é o que acontece. Hoje fui às quitandas e mercados bonfinenses e não encontrei alho-poró. No entanto, não fiquei triste, porque encontrei uma forma de discriminar,-  no sentido de elencar -  e vindicar a ignorância. Os quitandeiros, em geral, são singelos, mas como em toda parte, os há de ignorantes. A ignorância singela é aquela que só não sabe. A senhora tem alho-poró? Desculpe-me senhor, mas não sei o que é isso! Mas há outros tipos de ignorância. A senhora tem alho-poró? A gente não trabalha com isso! Ou, a senhora tem alho-poró? O povo daqui é ignorante, nem sabe o que é isso! Ou, a senhora tem alho-poró? Não tem gosto nenhum, não serve para nada, melhor você usar cebolinha, dá mais sabor! Ou esta que não esperava, a senhora tem alho-poró? Esta fez aquela cara de carioca a olhar para um paulista com marcas de manga de camisa no braço branco. Tem certeza que é hortifruti? Tenho! Mas penso que foi noutro planeta que vi! Pode ser, porque eu trabalho no ramo a vinte anos e nunca ouvi falar! Nem creme de leite fresco? Por quê? Existe diferença? E cogumelos frescos? Só no pasto, vai fazer chá?
O maluco é que é possível encontrar chips para fazer drones, e não consigo um quiche de alho-poró como deus manda, sem haver de conduzir por 12 quilômetros de ida!

Insone, esperando a mordida meiga do dragão adormecido.



Chega um momento da noite, que o mercúrio parece estar pregado por pés e mãos no capilar do termômetro, 29 nove graus, as duas da madrugada. Um gato miava entusiasta, e era tudo, nem os motoqueiros faziam suas costumeiras estridências.
Peguei a ler um livro – o de sempre, lido e relido, posso parar e pegar em qualquer página que sei de onde e aonde vai – e comecei a me sentir irmão anônimo de uma multidão de insones, e os imaginava pelo mundo, despertos, mas silenciosos, só isso os fazia merecedores de agradecimentos, numa cultura consagrada a fazer barulho – manhã, tarde e noite – com uma contumácia digna das melhores causas, como as há, para o roubar terras aos indígenas, juntar figurinhas da copa, tirar o medonho do corpo... notei que me invadia uma onda de amor universal e indiscriminado.
Sei que são momentos de debilidade, os advirto, e tenho sorte, que não são as horas dos que batem à porta vendendo algo ou cooptando fiéis para alguma seita, porque temo que se me pegassem com a guarda baixa, me deixasse conduzir por um sentimentalismo solitário e inofensivo.
Por sorte chegou uma bufada do nordeste, está certo que a nove quilômetros por hora diz o google, tão fraco e silencioso, que como eu, inspirava meiguice, ternura, e me fez dormir.

Neste momento, em que escrevo, se me lembro bem, as condições são idênticas, parece-me, e fico a me perguntar pelos avós, que resolveram se encravar bem nos beiços do dragão , a esperar por suas mordidas quentes e meigas, que os levaria ao céu, um a um

6 de set. de 2014

JK


Socialmente e politicamente, o país parece viver um momento de extraordinária intensidade. No entanto, a minha sensação é de monotonia, lento com aceleradas cautelosas, enfim, tédio, o bolero de Ravel levado ao pé da letra, que só é bom mesmo para o sexo, com a subida de tom estonteante, longe dai, a prática cultural não apresenta novidades positivas destacáveis. A política em compasso de espera, para a última palavra, quando não houver  tempo para recuos.
Ando disperso. Preciso sentir o hoje, em algum lugar Pessoa diz que o universo não tem ideias. O universo não é feito de ideias, senão de sensações, e se sinto hoje o que sentia ontem, e ontem já era um cadáver dos sentidos, é questão de perpetuar as memórias póstumas. E parece que culturalmente vamos rememorando, com falhanços, lapsos de memória, é o samba, a bola, a bossa... a ditadura, o getúlio, o lula o fhc, mas sinto que é preciso um JK.  

5 de set. de 2014

Elisabete, Bete da Bacia, aliás Vivian!

Elisabete, aliás Bete da Bacia, botou as quatro coisas que tinha numa mala e se mandou para São Paulo, como haviam feito suas irmãs antes que ela. A vida tinha lhe escrito um roteiro triste e previsível, como a todas as mulheres de sua geração, que não tiveram a sorte de nascer ricas. Nem de carreirinha sabia ler. Dela nada mais esperava-se que trabalhar sem gozo, sem queixas e na hora certa casasse com um bom rapaz trabalhador. Era 1976. Mas, na colonia da fazenda Bacia, não brilhavam as luzes daquele último quarto de século, talvez o século XX ainda estavisse longe dali. Bete se rebelou contra seu destino. Era bonita, irriquieta e belíssima voz do coro do Sagrado Coração de Maria, isso seria o bastante para ela ter encontrado o compositor Nelson Mota e ele no que a visse botasse os seus olhos nela. Faria aulas de canto e debutaria com a gravação de um disco bossa-novista em 77, que incluiria êxitos de finíssima releitura de Guilherme Arantes. A filha de lavradores, então tinha o nome artístico de Vivian. A pobre menina da roça em sua carreira meteórica, no dia 3 de março de 78 lotava o Canecão. Os jornais fluminenses diziam “artista de voz e graça sem limites”. “A Rainha de Copacabana”. Em 79 sobe o tom, e canta um tango “célebre estrella de la canción, la de la voz de oro”. Foi então que registrou o mítico “Fumando espero”, numa versão muito mais explicita que a de Dalva de Oliveira. Seu repertório não era, definitivamente, para menores. Uma releitura brilhante de Cachaça não é Água. “Cadê Você” e “Vou Tirar Você desse Lugar” de Odair José. Não faltou o famoso “Tango de la Cocaina” ainda mais eloquente. Nesta espera foi encontrada por um viúvo de Santa Rita do Passa Quatro. E a cantora, então, voltava ao ponto de partida. Cuidar do marido e dos filhos, que sequer eram dela. A carruagem começa a virar abóbora. O homem se mandou e ela ficou com seus filhos. Anos mais tarde, quando os filhos que criou como se seus fossem, se tornaram adultos, conheceu um escritor divorciado, que anos depois morreu tuberculoso. Outra vez só recomeçou e morreu atropelada numa esquina da rua Augusta.     

4 de set. de 2014

Dublim!

Quando comecei a ter aulas de geografia, de repente queria me chamar Berlim. Berlim sonhava encontrar Lisboa e se casar. A primeira filha se chamou Florença. Não há nome mais bonito que Florença. O menino logo gerou grande discussão, propus Ohio, que pelos motivos óbvios, rechaçado, claro a molecada na escola ia ter muito divertimento. México nem pensar, me dizia Lisboa. A barriga de Lisboa crescia. Tóquio disse desde o sofá, nem pensar fingindo braveza, gesticulava Lisboa. As dores do parto se aproximando e não havia acordo. Paris! Disse pensando ter a proposta vencedora. Não, dizia meigamente Lisboa, meu Berlimdo! Se botar o acento vira mito! Dores do parto. Correria. Maternidade. Buá buá! Dublim? Lisboa! Sim, sim, sim Berlim, Dublim!