14 de fev. de 2013

Papa Bento e o Sommelier.



Outro dia fui com a Joana a um restaurante bom, quer dizer mais chique que, nisso é que dá querer dar uma de esnobe, havia sommelier! Ele, empertigado, ia entre as mesas como se estivesse oficiando a sacrossanta cerimônia do vinho. Amigo! Aquilo era a verdadeira santa missa. No fundo estava vestido mesmo de padre. Todo de preto, e isso sim, não usava aquele colarinho clerical, sim uma borboleta. Mas nem a festiva mariposa, podia dissimular-lhe o gosto enrustido por uma sotaina, doidinho para nos arrancar, com cotonetes ou sacarrolhas, o inculto cachaceiro que trazemos amoitado dentro, como o demônio se tratasse.
Enquanto ele falava, te juro que deu vontade de me confessar: Senhor Padre, estou bebendo vinho tinto com o badejo. Pior, ainda, meu colega, é que comecei a olhar com luxuria a cerveja do comensal vizinho.
Entretanto sei que há sommelieres bacanas, que recomendam bebidas e em suas propostas, podemos descobrir novos prazeres, ou uma aventura interessante, até mesmo uma marca que nunca se nos havia ocorrido experimentar. Outros, como esse, é lamentável, são sujeitos empoleirados num púlpito, um apêndice externo, que invadem a privacidade da nossa mesa, para importunar com sua autossuficiência e sua conduta de valentão estripador com sacarrolhas.
Oxalá não proliferem, melhor que isso, se extinguam como o gaturamo bonfinense, ou os espantalhos dos arrozais. Porque senão, espantarão aquele que bebe vinho por gosto próprio, como expulsaram os católicos das igrejas, por puro aborrecimento. A     

8 de fev. de 2013

Milagres e Novas Igrejas.


A ferramenta do Materialismo-Histório é a produção material da vida material. Noutras palavrotas qualquer análise do materialismo – da vida material – ( note que mesmo o mais espiritualista dos seres, por exemplo, o Dalai Lama, se veste, come, bebe e dorme (sendo leviano) jogando palavras ao vento ), voltando, a análise partirá da produção desta vida, a vida material.
Um exemplo: A história “oficial” quando fala da abolição da escravidão, 'esquece' de dizer que o fundamental na extinção deste modo de produção, foi: Um,  naquele momento o escravo custava mais que o homem livre. Dois: ao ver que o 'imigrante' era razoavelmente livre – comparado às suas condições – o escravo entrou na luta, que era, de seu interesse.
Outro exemplo, este contemporâneo, é a debandada geral dos 'católicos' para as religiões novas. Tirante os falsos milagres, as igrejas insistem em receber um dízimo, um valor sobre a renda da pessoa, ora, um desempregado não tem renda, um bebum não tem renda. Assim nota-se a olhos nus que uma das tarefas é retirar o cachaceiro da rua e empregá-lo, fazendo deste um dizimista, e mesmo que seja puído, sempre se apresentará aos cultos na sua melhor indumentária, o terno e gravata, notadamente com o dízimo em dia.
É a mais pura e simples e eficaz “educação” material, para viver no mundo material, suprindo falências estatais, municipais e familiares. Claro é, que vivemos em mundo de consumo, e na maior parte do tempo, assim, somos tratados: consumidores. Claro é também, que quando votamos 'errado' quisera-se que fôramos: cidadãos, mas não vem ao caso. Este 'cristão' novíssimo não deixa de ser reacionário , ademais, como todos os outros, e como a maioria das 'congregações' como Opus, Maçons, etc. Notadamente por estar num dos países mais reacionários do planeta, ocidental, desde que exista ocidente e que se compreenda o conceito de ocidente|oriente.
Por isso e desde já declaro, e uso um verbo caro à religião, declaro que não comungo com as ironias despejadas sobre as tais religiões, porque para mim, se fizessem algum mal, seria o de procrastinar o saber material da cruel ausência e completa de deus. Afinal o fato de acreditar ou ter fé – sei que são posturas e entendimentos diferentes – faz parte da loucura humana, sendo que há ateus que botam a maior fé nos tais 15mim de Andy Warhol, sem sequer um minúsculo questionamento.
As mudanças de comportamento do brasileiro D e E para C, acompanham os mesmos dos da C para B, incultos e bossais, mor das vezes, sendo que a eficiência da mudança de classe material para ser completa deveria ser acompanhada de mudança 'cultural', mas nem exemplos temos. Nosso teatro é irrisório e risível, nossa música, alias quase toda ela vem sendo feita pela classe ascendente, com suas mazelas, seus ecos acabam por influenciar, mesmo, os mais 'clássicos' MPBs. Nossa arte plástica, é mesmo quase isso, descartável, e como tal um lixo a mais nesse lixão que ninguém sabe o que fazer com ele, nem os ambientalistas. Alias ambientalista que não trabalha na prevenção, e desenha condomínios fechados e lá mora, fuckin-up e de saquinho na mão catam rolhas úmidas de cães senhoriais, com vontade de desfilar galgos em Trafalgar Square, rodando sombrinhas no sec. XVIII.

5 de fev. de 2013

BBB vs Ler?

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De cara, Grande Irmão é personagem livresco, dizem que é uma das pessoas mais influentes no mundo sem ter jamais existido – em 1984 de Orwell “ The Big Brother watching you” era a propaganda do estado; do livro saiu o programa BB que no Brasil se somou outro B! Não sei se é ocasional esses bês de bunda em abundância.
Há muito deixei de ver televisão – lá pelos idos de 2006 – diante do medo que me assomava ao ter de ouvir, inesperadamente, de pessoas celebres, e só porque celebres, opiniões descerebradas, ou, por exemplo, de ver principalmente em época carnavalesca, que o simples aparecer de uma câmara de TV faz a miss virar o cu para ela, câmara. Não que não goste das adjacências, mas sei que logo o repórter perguntará à dona das protuberâncias redondas tremelicantes e ela responderá: sou mangueira desde... ou bobagens descomunais. Ou então grandes enchentes que levam “tudo que eu tinha” e o choro respectivo, é me desconfortável. A TV tem esse desconforto, claro para quem o sente, para quem não o sente não há contra indicações.
O BBB está inserido dentro deste leque de surpresas. Surpresas que tanto podem ser agradáveis como não? Ou desagradáveis. Ambos sentimentos podem ter significados importantes a serem aproveitados ou descartados, lixo mormente.
Quando vi BBB, e foi pouco o que vi, mas não havia nada que me aborrecesse, senão que os instintos animalescos, que procuro apaziguar em mim, mas é o componente básico às pessoas enclausuradas. Não se pode negar a aptidão que têm de tudo fazerem por um milhão de reais ou mais. Até ai! A vida tem me ensinado que o dinheiro não traz as marcas de sua origem, seja na vida privada ou na vida pública. Ninguém se enrubesce devido a origem do dinheiro que tem. É certo também que há uma classe de pessoas, talvez por não terem se endinheirado, que têm travas a respeito de certos comportamentos. Entretanto estas mesmas pessoas, com o médio que têm, querem o fazer valer mais, noutras palavras com o pouco que têm querem produzir diferenças, e quiças não existam tais diferenças, além da necessidade que sentem de criar guetos para os outros, de certa forma os apartar.
Trabalhei como garção com um festeiro afamado em Rib. Preto no final da década de 70 enquanto frequentava a universidade. Neste trabalho tive contato, até carnal, pois era jovem, nas festas que havia na incipiente capital da cana-de-açúcar. Foi daí que me pesou a frase de John D. Rockfeller que a diferença entre pobres e ricos é o dinheiro, e o dinheiro é o que é.
Uma das grandes falácias que rondam como um urubu a cabeça de pessoas tidas como incultas é o livro. Como se pessoas que leem fossem incapazes de cometerem animalidades. Um sujeito erudito como Adolf Hitler não poderia ter, então, feito o que fez. Hitler alem de admirador das artes plásticas, entre outras coisas leu e entendeu Nietzsche, diferentemente de muitos que vomitam frases de efeito, e vez por outra não foi o que disse Zaratustra. Assim, ler, para uma camada social é um bem, que a todo momento aspiram a que se transforme em algo mais de mera erudição, dinheiro. Tudo pode ser reduzido a dinheiro, afinal estamos no capitalismo, mas saber tudo que se passou com a família Buendia, e por sinal Buendia vem de Buen que é bom e dia que é dia, e faz Bomdia, não se transforma em dinheiro assim, num passo de mágica como na fantástica Macondo. Ler é bom e não bem. Ler não abre a mente de ninguém, em algumas por sinal, vazias, as enche de minhocas, como no caso da famosa triste figura do errante cavaleiro e seu fiel escudeiro. Há algo que é estudarmo-nos enquanto humanidade e enquanto indivíduos, o que somos, para onde vamos ou donde viemos?
No entanto ler é consumir, há que se tirar esse véu obscurantista da atividade de leitor, pois o prazer está em ler com prazer.
E nesse sempiterno consumo de livros se matiza - estranha mania - o gueto. Porque há literatura de todos os pendões e penachos, igual tatuagem. Por exemplo, li Ulisses, num primeiro momento, para falar que o havia lido. Até que um santo dia encontrei um cara na Espanha – quando cometi a asneira de dizer-lhe entre uma tapa e outra que havia lido Ulisses – que me disse: Se não podemos nos entender nesta língua deveríamos mudar de língua. Não sou burro e entendi, supus se tratar de uma citação, mas tive que fingir estar já borracho, enfim mudar de assunto era o significado da frase, já que o amigo sentira minha insipiência no assunto, espécie de vergonha alheia. Isto me fez ler todo o livro novamente para encontrar em Circe a tal frase de Dedalus. Ou seja, se você para mostrar que é rico mostra uma nota de cem dólares, o mínimo que se espera é acabar vendo uma de quinhentos.
Há, para finalizar, uma música sertaneja que conta a historinha de um rei do café e um rei do gado, o do café disse para esnobar o outro que tinha zilhões de pés de café, no que o outro retruca que amarrava um boi em cada pé de café e a inda lhe sobravam rezes.  

28 de jan. de 2013

Como Transformar Diamante em Seixo.



Do minuto 38 até o gol de pênalti cobrado por Neymar, o Bragantino foi fraudado dentro da própria casa. A única falta que existiu neste período, foi justamente na meia lua da grande área santista e contra o Santos e não anotada. Do jogo, vi nem o antes, e não me dignei a ver o restante, não estou para tanto e tonto. Neymar, um craque – ainda – parte, verticalmente da meia esquerda para o gol, com a bola dominada, é quase impossível tirar lha, mas a impossibilidade não tem sido de fato testada, levada a cabo, como dizem os cientistas, levada a termo, como diziam os cangaceiros, até o fim como diz o Chico Buarque, quando nasci veio um anjo safado... Na impossibilidade, os zagueiros deveriam, como último recurso, cometer a falta e receber o cartão, em caso de, mas na verdade o apito soa preventivamente. Neste caso, e somente neste caso o arbitro previne a saúde do craque frente a nuanças de mal intenções e até pensamentos ruins, e o craque cai, rola, se descabela, ajeita o meião faz cara de 'pô ceisnãosabbrincar'.
O narrador, comentarista und konsorten repetem, ad nauseam, ladainhas velhas de avemariasepadrenossos, veem outra partida, qual me sonegam. Fico com o que vejo, revejo, mas a imagem não bate com a legenda.
Outro dia via uma partida da Copinha, dito e feito, igual, que nem. O verdadeiro Teatro de Revista, quer dizer, nada sei do teatro de revista, senão que as poses nas revistas velhas dedicadas à vida dos artistas fora do palco, poses, poses e mais poses. Por hora, quanto a nossos futuros craques há um senão, a pose se dá dentro das quatro linhas. Grosso modo digo que não existe, ou existiu esse craque ou aquele craque que ganhasse jogo sozinho. Nem Pelé, Garrincha, Maradona, Ronaldo, Messi conseguiram tal façanha. Pelé funcionou bem na Seleção quanto teve boa equipe a secundá-lo, e em 70 foi Pelé coadjuvante para o esquadrão. Assim, como Santos não constrói uma partida, se vai jogando, empurrando com a barriga, o Neymar andando lá pelas beiradas, quem sabe ele inventa uma ? Então ele desembesta, falta, pênalti etc. Se prestarmos atenção ao gol mais bonito de Maradona, ele é acossado desde o meio campo, vai lutando com o zagueiro, apesar de mais baixo que este, carregando a bola, se livrando dele e o final todos sabem. O mesmo fez Ronaldo, inúmeras vezes, num momento mágico que viveu no Barcelona. O mesmo tem feito Messi, que rara vez recebe falta, recebe, mas dada a sua insistência na progressão, a luta de corpos e braços passa despercebida, e a parar a jogada, só na porrada.
Assim enquanto o argentino foi sendo lapidado de diamante bruto em rara pedra, Neymar de diamante em pedra falsa, espero que não se transforme num seixo como Robinho.



17 de jan. de 2013

Espera, espera, à espera anda.



Anda, anda, anda a espera.
Espera.
Espera, espera, à espera anda.
Anda.




Anda e espera. Espera a andar.
A espera desanda.
O andar desespera.
Desesperando. Desespirando aindanda.
Transpiranda transpirando.
Pira parado.



A quantas andas?
Andava andrajos.
Andava trapos?



Trapaças.
Trespassas?


Eu nos trapos sei a sobras.


De sopas?
De sapos!
Assim soçobras, misses!
Sê sim. És Miss.
Assim na missa.
Sobras e cobras.
Miss em ação.
Andas às cobras.
Espera as sobras de sobejos beijos.



Rastejas a rés dos brejos.
Sem sombras no chão.
Salobras sobras às sombras.
O brejo sabe a uma feijoada de ontem.
Com sua película branca.



Uma aranha que perde o fio.
Que a prendia à teia.
Anda sobre um brejo de feijoada.

Anda aranha.
Me espera.

Zénão diz:  Engraçado cara, podia ser às sombras sobras salobras, esperam miss em ação de sapos nas missas aranham a manhar uma película de teias de brejos que andam a espera de sapos e cobras. Mas tem algo, que não sei a quê, a espera anda a espera.
 Luiz responde: Tem muito sim de sopa de letras jogadas do saco do arcebispo Tillotson, em defesa da deidade na criação do universo, como se não fosse um mero acaso, e se outros meros acasos de baixa energia e muito e talvez por isso um nada qualquer, preguiçosamente, lentamente em busca de menor esforço ainda, um meramente mero universo frente a outros possíveis quaisquer, sem nenhuma necessidade de agradecimentos e devoções

16 de jan. de 2013

Carta de leitor à articulista.


G.H. concedo-me espaço para um concreta e única preocupaçãozinha: nossa capacidade crítica de análise deste dias que correm.
               Por quaisquer razões sabemos: as ciências nem mesmo as naturais vivem isentas de juízo de valor e este por sua vez desacoplado do interesse particular, ele mesmo atado de pés e mãos pelo interesse de classe.  Quê dizer das ciências humanas!
               Do seu texto extraio trechos de outros livres pensadores - parcialidades de outros contextos - como essa história do grande pai. Bastantes foram e são os tutelados.  A psicologia e suas tecnologias se adjudicaram também de uma fatia dessa pizza estatística.  Na Europa menos, na Argentina mais.  Segundo como, desde que a cabeça de Luís XVI rolou para dentro do cesto da história. O deus Tutor, de todas as respostas, tinha a cabeça sobre os ombros do guilhotinado.  Assim à igreja lhe restou pouco desse poder tutelar. Muito foi espalhado entre tantos:  o mercado, o fetiche, como já disse antes, à psicologia tocou-lhe um quinhão etc.
               O protagonismo de Getúlio tanto quanto o de Lula decorreu de atividades\atitudes exercidas dentro de circunstâncias inequívocas. Não cabe diferenciá-las.  Tais circunstâncias e suas possibilidades estiveram como uma pedra, ajoelhada com as mãos no peito e queixo colado no colo, no meio do caminho de José Sarney, Collor de Mello, Itamar Franco e FHC em oito anos. Faltou competência aos competentes!
No exercício do teu mais alto grau de liberdade leio este triste texto, com ameaças veladas - 2º§- de uma classe que sempre teve voz e espaço. E que, senão  nada.  Dentro do mesmo exercício de liberdade você tira o peso da contundência para então ser contundente no 3º §.  Já no 5º§ uma recorrente tentativa que também viceja na seara jornalística que é a de sinalizar para um Lula à la Hitler und so weiter.
O cinismo está aprendido.

Bloom, Ulisses e Eu!






        Sua mulher ainda dormia quando ele voltava do açougue com uns bifes de rins de cordeiro. Sua gata miava roçando contra suas pernas. Era feliz se pudesse comer vísceras como desjejum e depois defecar com critério. Derramou o leite quentinho no prato da gata. Levou para sua mulher um par de ovos moles e uma fatia de bacon junto com duas torradas, ao percebê-la desperta pelo nheque-nheque da cama. Meteu a mão em meio a sua bunda quente e úmida. Despediu-se dela com um beijo na bochecha.
 Defecou com calma enquanto passava os olhos numa revista velha, quando nova a havia guardado por algum artigo que então lhe despertara interesse, hoje a folheia como se tratasse de uma revista de infinitas folhas, não encontra o artigo. Nunca tarda muito neste defecar, pois crê que o estar ali em demasia provoca hemorroidas.
No caminho para o trabalho, era um vendedor de anúncios de jornal, comprou um sabonete. Passou na sauna uns bons minutos. Saiu com o sabonete umedecido, embrulhado numa folha de revista, metido no bolso.
 Não tinha pressa, pois faria somente uma visita agendada com o senhor Xaves, o chaveiro, antes de ver seu amigo pela última vez.
 Passou pela quitanda para acochar o traseiro da quitandeira. Ela lhe realçou seu odor a eucaliptos. Ele estranhou que o sabonete de nada lhe havia servido. Como iria a um enterro com este aroma de lavabo asseado.
        Passou pelo mercadão, no bar do Ceará pelos rins de bode, lá seu amigo José comia o segundo ovo cozido, soube disso ao ver no pratinho as cascas em duas cores. Passou o sabonete para o bolso traseiro. Sentou-se no tamborete.
        Na Única encontrou-se com Xaves por casualidade. Juntos foram ao escritório, onde Xaves lhe deixou três cheques pré-datados, “não sei se vão aceitar o primeiro para trinta dias”. “pegar ou largar”. Pegou.
Dali foi para a sede do jornal onde o chefe dos editores estava reunido com os editores-chefes. Estes não lhe deram a menor atenção, mas logo repararam na gola puída de sua camisa. Quem era aquele, quis saber o chefe.
Era vendedor de anúncios e antes de tudo casado com a melhor bunda de vila Bonfim, e que ela fazia favores ao editor de política. “O Jorge aquele nazista.” Sim.
        Deixou os cheques com a secretária. Novamente no saguão foi interpelado pelo chefe. “Virás conosco?” “Não venho com o fotografo.”  “Faço questão.”  “Assim sendo.”       No carro com o redator de cultura a seu lado, fez muitos meneios de cabeça, e voltou o sabonete para o bolso da frente.
“Na vida não há tempo para tudo.” Disse o redator. Meneou. “Não há tempo para rir, chorar, divertir-se e entediar-se“ Aquiesceu. “Quando nascemos já sentimos o cheiro espalhado” “Cheiro! De que?” “da morte por isso choramos” “É”!” “Depois nos acostumamos”“ A que?” “É melhor mudar de conversa, gostas de futebol?” Anuiu.          Que digo ao esteta, que gosto de minha gata, de minha puta, do cheiro de urina que tem os rins de animais que como, para depois aliviar com sossego o meu ventre, lendo seus artiguinhos bajuladores, com o cheiro de merda misturado ao de jornal.
Tudo imaginando relatos antes de empreender um dia de trabalho, trabalho esse duvidoso, pois o que faço é andar a esmo, perambular, apachorrar, passar a mão na quitandeira, naquele cu fragrante de ventosidades matinais.
 Que sou a carne, sangue e ossos do mais autêntico e desconcertado despiste. E minha alma reencarnada ou não, meu espírito, transmigrando ou donde quer que se encontre são a matéria ou o vento de uma peregrinação acorrentada à carne.
Passo em revista o universo rememorando a peripécia da minha vida, arrastando correntes feito alma penada, acolhida e rechaçada, não pelo mesmo céu de donos de jornais e de almas, se não que o céu de analfabetos e leitores, santos e canalhas, crentes e ateus, trabalhadores e preguiçosos, e  assistimos ou atravessamos o drama conscientemente ou de maneira casual, pois a vida é uma enciclopédia de casualidades. 
À noite voltarei para ela que é ardente e perspicaz  e tenuamente puta, como todos mais ou menos o somos. Voltarei bêbado e sem os argumentos que pereceram a luz do dia. Meu argumento é diluído e poroso como o passar do tempo, ou mesmo o inacessível  entendimento desse passar o tempo. 

Sou as coisas que me sucedem, me tocam e que a mim se misturam e se alteram para separar-me delas transformado ou como se não houvesse passado coisa nenhuma, salvo a matéria de que são feitas tais coisas, de tempo diluído, de porosidade e inacessibilidade e que por isso duram.