24 de set. de 2012

Democracia. Redes Sociais x Velha Mídia.



De modo raso, democracia é a escolha dentre 'elites' disponíveis. Acho que é Schumpeter, na dimensão eleitoral, minimamente. Se é de fato só isso, e é talvez o âmbito que alcanço, ou alcançamos, a democracia se torna uma loucura. Devo, todavia, alcançar mais, ir mais fundo, porque senão, acabo por entender que sem mais instrumentos cognitivos, nós a massa, o povo, não conseguimos atingir as diferenças entre tais disponibilidades.

Profundamente, é difícil entender a coexistência, a compatibilidade da democracia com a pobreza e a desigualdade, apesar de não se tratar de uma promessa escancarada dela, sequer obrigação, mas está nela desde o nascimento, com a revolução francesa e outras revoluções, etc. Se a politica está a serviço do desenvolvimento humano, e isso foi transposto quase que literalmente para a nossa constituição de 1988, e estar lá ainda não é suficiente, mas talvez seja gerador de certa tranquilidade de nossos eleitos. O que quero dizer é que se requer, isso sim, a nossa participação, ainda que tenhamos que delegar a soberania individual nesse voto. Para tanto discutir é necessário.
Com o advento das redes sociais, nos deparamos com um modo novo de discussão em contrapartida ao da velha Grande Mídia e seu modo velho de discussão, qual seja, da democracia schumpeteriana de viés 'brasileiro' mas sempre da escolha de elites disponíveis. Que por razões de massiva alienação nos levou sempre à mais aprofundamento de discrepâncias preexistentes.
A situação é nova, e modernizadora, a Internet, mas ainda tem como fonte de argumentação para o debate a velha mídia, porque esta ainda é autoridade, e a autoridade requer altos níveis de confiança, ou comodidade, preguiça.
Ainda estamos citando frases, que mal sabemos a real origem, descontextualizadas, profundas por vezes, que supõe sempre, ou deixa no ar o verdadeiro entendimento daquilo que foi dito, continuamos a postar cachorrinhos com lacinhos, mas tudo passará porque tudo passa – é a única verdade – e deveremos passar a âmbitos mais complexos, dos interesses particulares ao interesse público, afinal estamos no mesmo barco, e tudo isso está baseado mais que na força, na confiança.
Entretanto, vejo que nesse primeiro momento está em disputa não só a liderança de elites regionais, mas, também em questão a autoridade dessas autoridades 'julgadoras' 'denunciadoras' e 'formadoras de opinião' que no seu conjunto fazem a 'grande mídia' regional.
Um fato singular a pensar é que, se além de delegar minha soberania de poder a representantes desse meu poder delegado, devo delegar minha capacidade de pensar, discutir, averiguar, avaliar, julgar valores, atribuir valores, às velhas raposas.
Na democracia clássica a eleição já se deu por sorteio....



12 de set. de 2012

Viver é equilibrar desejos. Alimentar instintos. Sem Aixopluc*!


Tudo que escrevo – com esperanças ou com medo, de gozação ou a sério – me mortifica.
Assim, o que sinto é desagradável. Faz tempo que sei do alcance funesto de meus atos, quais insisto frívolo e obstinadamente.
Tais atos poderiam ter se dado em sonhos, ou que fossem numa minha loucura... ou depois deste prosseco de 16,90 no sono que ele me trouxe, mas foi antes, longe apareceu este comentário simbólico, antecipado à sesta já reclamada, mas é nesse sonho que não dormi que: jogava uma partida de bilhar no bar do Zebrinha, na esquina de frente de casa. Preferiria em lugar do bar ter a Sartre na vereda de frente, mas enquanto jogava bilhar, soube que aquela tacada, bola oito no canto, estava matando um homem. Depois vim a saber que aquele homem era, irremediavelmente, eu.
Assim que o sonho não é improvisado, é de uma satisfação pulcra. Não posso cumprir meu projeto.
Mas a razão de escrever há de estar nos nervos, não noutra utilidade, como pensava, cooperar na produção de um futuro mais conveniente.
Do contrário tenho sido uma fraude, e me envergonho, ou como já disse acima: me mortifico.
Que devo fazer depois de haver escrito tantas coisas de mal gosto? Condenar-me? Serei justo ou não ?
Creio entretanto e sem rebeldia, que o feito não me põe a perder, porque posso, sim, criticar o já feito, depois olhar para tudo que fiz e dizer, Eu fiz. E fiz sabendo dos perigos de se criar algo, e ao mesmo tempo equilibrar diversas consciências. É perigoso viver. É equilibrar desejos. Alimentar instintos. Afiar unhas. Vestir máscara.
Mas pra que? De uma coisa sei, viver não é buscar consolo ou aixopluc*

* aixopluc em catalão é refúgio. 

11 de set. de 2012

Li Monteiro Lobato.
















Era época de doenças infecciosas de quem ia descalço pela vida, nem totalmente rural, ou urbana. Em Rusti certa urbanidade, mas em Urbe só rusticidade. Não sei se a obra é racista ou não, é preciso ser negro para sentir, sou branco, e como menino branco e pobre me sentia um espantalho ao lê-lo, a obra é agressiva. Se sei, é que como literatura, jamais li nada tão ruim. Sei que nem Fernão Capelo Gaivota, o Menino do Dedo Verde ou Meu Pé de Laranja Lima tiveram necessidade de tamanhas grosserias para, nem serem tão ruins quão.
Antes de ser racista, se for, não posso saber, posto que não posso verificar com a minha ciência da sensibilidade, mas Monteiro Lobato, a obra Monteiro Lobato é grosseira. Li uma ficção 'cientifica' de Monteiro Lobato que foi uma canseira Monteiro Lobato só aceita uma leitura, a linear, e dessa linearidade não há outra coisa que seu sempiterno deboche a 'seres tidos como inferiores', dada a voz à boneca, então Emília.
Mas como cachorro pelado por água quente tem medo de água fria, Paulo Coelho não li, não leio, não lerei, sabe por que não leio, li ou lerei? Só por birra, só de sarro, aliás quando a coisa é nula se pode dar a esse luxo, e permanecer ignorante.

Jovem.


O que é juventude?
Primeiro há que se saber se é natural ou cultural ser jovem.
Se natural, a maturação sexual, se cultural, produto das condições históricas e dos discursos?
Por natural entende-se o fenômeno programado geneticamente e dependente de certa maturação.
Se cultural estará dependente de influências do contexto cultural, fruto das relações culturais, econômicas e políticas. Alem dos discursos que circulam, são as “vozes” que dizem a esse jovem o quê ele é, influenciando aquilo que iria ser, e efetivamente irá ou não ser.
Assim mais que uma etapa de maturação dos órgãos sexuais, podemos acompanhar pessoas de mesma idade, locais diferentes e épocas diferentes e comportamento diversos.
Pessoas com doze anos de idade no início do séc. XXI e outras no séc. XIX. As pessoas de doze anos no séc. XIX estavam trabalhando e muitas casadas e com filhos. Hoje elas estão na escola, com maior tempo de ócio, lazer em grupos de iguais.
O que temos contemporaneamente de cultura\condição juvenis surge a partir da década de 50, pois na Grécia antiga, eram grupos de homens, que tinham direito ao ócio mais prolongado, desde que houvesse trabalhadores a fazerem o seus trabalhos. Era a elite que viria a governar, no devido momento. A juventude podia chegar até os quarenta anos de idade. Esse tempo de ócio era para se preparar para os cargos de comando.
No séc. XVII é dado o primeiro passo para a concepção atual de juventude.
Melhoram as condições higiênicas, reduz de mortalidade infantil e inventa-se a imprensa e a publicação de livros. A arquitetura das casas se modifica um pouco. Começa-se a se fazer o isolamento do mundo das crianças do dos adultos. Poque até então as crianças viviam todas as práticas da família junto com os adultos. Inclusive o sexo. Esse isolamento é que cria a infância.
Mais adiante essa condição foi reforçada pelas revoluções industriais. No séc. XVIII e no XIX.
Nesse momento passa a ser necessário mais que aprender a ler, escrever e contar;
são as necessidades para o mundo do trabalho. Para preparar e suprir as necessidades do mercado de trabalho é estendida a infância.
De 1945 e 1970, época auge do capitalismo, hemisfério norte, em pleno estado de bem-estar social os pobres começam a ingressar nas escolas, no Brasil quem ingressava em massa nas escolas era a classe média. Assim que o fenômeno de aceder em massa aos bancos escolares é muito recente, constitucionalmente desde 1988 que indivíduos tem 'direito' de acesso pleno às escolas, até os 16 anos.
São simultâneos ainda o crescimento econômico e o das mídias. São essas mídias que vão começar a discursar, principalmente por meio da TV e do Cinema – Hollywood – formas de ver o que é ser jovem. Nasce a ideia de jovem universal – rebelde, usar drogas, desejar e fazer sexo, gostar de Rock e de determinado tipo de roupa. É a representação tipica de James Dean no filme Juventude Transviada.
Acontece que com isso o isolamento do mundo do adulto e o mundo da criança vai pouco a pouco se rompendo. Porque as crianças começam a ter acesso aos segredos. Que estavam em livros para faixas etárias diferentes. Que estavam em livros diferentes para cada faixa etária, em compartimentos diferentes da casa. Sexo. Guerras. Violência. Corrupção. Dinheiro. Problemas no trabalho etc.
Dizem que a mídia é a vilã, porque influencia e altera comportamentos, mas a mídia só divulga aquilo, que já é prática de alguns grupos sociais, e ao os divulgar as crianças e os jovens podem se identificar, por conta do que já vivem nas suas culturas, e a partir disso desenvolver novos comportamentos.
Não é a TV, por exemplo, que determina comportamento, o que há é um processo de identificação. O jovem vê o que há de comum nesse discurso e naquele que já viveu. Então se posiciona, não necessariamente a favor. Podendo construir uma identidade contrária àquilo.
Entretanto não há um padrão universal de cultura juvenil. Músicas, roupas, comportamentos diferentes, não havendo um formato: odo “todo 'jovem' é assim”. São diferentes o jovem do campo ou da cidade, de regiões mais distantes da metrópole e os mais próximos, com mais ou menos acesso aos meios de comunicação, de um país central ou de um periférico, ocidente ou oriente, de comunidades com maior o menor grau de fidelidade à ancestralidade, com maior ou menor poder aquisitivo, condição de moradia.
Alguns desses grupos terão suas 'identidades' ligados ao padrão dominante divulgado pelas mídias –marcadas como valorizadas-.
Outras 'identidades' terão padrões de vestimentas etc que têm menor valor – desvalorizados e “marcados” como inferiores – a isso se chama “diferença”.
Hoje o padrão de jovens que é valorizado é o de jovem feliz, seguro, que participa de muitas festas, que é popular, geralmente, são rapazes cercados de mulheres, etc sempre divulgados com associação de imagens a determinados artistas, políticos, homens de negócios etc. Esta é a identidade dominante, e não ser assim é a diferença.
As mídias não conseguem, como já vimos, influenciar diretamente com seus programas, elas encomendam pesquisas para saber quais são os interesses, as práticas culturais dos jovens, e partindo desses dados realizam seus programas, a mídia não inventa padrão ela encontra 'tendências', mapeando as características existentes em grupos de jovens.
O que se percebe é que há muitos fatores que estabelecem a juventude, entretanto ser jovem é uma questão sociocultural.
A tecno cultura, é o ambiente dos jovens. A MTV em 1999 encomendou um dossiê\pesquisa para saber, que importância têm os aparelhos na vida dos jovens.
Em 1999 dos jovens entre 12 e 30 anos, 15% deles utilizavam e tinha celular e internet.
Em 2010 a faixa é maior que 90%.
Os aparelhos, para os jovens, tem funções especificas, assim que sabem qual é melhor usar em determinada circunstância, um e-mail, um blog, um foto-log etc, por exemplo, o celular evita um terceiro na conversa.
Alem de ter função especifica de cada tecnologia\aparelho, há linguagens diferentes, vídeos, músicas, fotos, isto é, muito mais que só a fala.
As culturas juvenis são pós figurativas, pois no passado, o jovem lutava muito para conseguir pequenas mudanças, que nem eram determinadas por eles, mas hoje não, hoje a cultura da geração anterior não ser para o presente ou o futuro do jovem, e é o jovem quem determina a mudança que quer e quanto quer.
Não é a tecnologia que faz a diferença, mas é a vida em si na cibercultura que é outra, com as trocas de informações das variações culturais em todo o globo, no ciberespaço se vive na tecno cultura, se cria, se produz, ainda que não seja trabalho, mas é como se fosse, é uma formatação possível.
Não se trata de usar aparelhos, mas de tecnologia embarcada no próprio corpo. Se hoje vemos os jovens com seus aparelhos celulares, ipod, etc pendurados junto ao corpo, não é mero exibicionismo, aquilo faz parte do corpo do jovem, como os seios, a genitália, etc. Porque esses aparelhos dão ao jovem um poder extra, que os permite ir alem daquilo que seu corpo humano pode.
Como a vida se dá efetivamente no ciberespaço, lá o jovem não precisa se apresentar com seu corpo real, pode fazer montagens, desnaturalizando o próprio corpo, com descrições diferentes montadas desde contextos diferentes sobre si mesmo, o tempo também é diferente, pode-se falar com uma pessoa em tempo real, mandar uma mensagem para ser recebida e respondida noutro momento, enquanto acessa um outro site, vê fotos em outro etc.
Os jovens usam outras formas de leitura, e se são outras formas de leitura, são outras formas de pensamento.
Tudo isso aumenta os poderes do jovem dentro do ciberespaço, mas também espelha os seu limites reais, com isso aumenta a sua insegurança. Dai os simulacros do corpo. Inseguros com a relação social, preterido o real ao virtual, medo da violência, preferindo o Shopping, o chat aos espaços públicos, inseguros quanto a outras formas de intervenção ( dai a extrema dificuldade de atuar no espaço democrático que é a escola, bares, boates etc)

10 de set. de 2012

A Consciência. em A Ideologia Alemã. por Karl Marx.



A produção da consciência está  direta e intimamente ligada à atividade material e às relações materiais entre os homens; é a linguagem da vida real. As representações, o pensamento, o comércio intelectual dos homens surge aqui como emanação direta do seu comportamento material. São os homens que produzem as suas representações, as suas ideias. Homens reais, atuantes e como foram condicionados por um determinado desenvolvimento das suas forças produtivas e do modo de relações que lhe corresponde, incluindo até as formas mais amplas que estas possam tomar, a consciência não pode ser mais do que o Ser consciente e o Ser dos homens é o seu processo da vida real.
Na ideologia os homens e as suas relações nos surgem invertidos, tal como acontece numa câmara escura. Isto é apenas o resultado do seu processo de vida histórico, do mesmo modo que a imagem invertida dos objetos que se forma na retina,  é uma consequência do seu processo de vida diretamente físico. Isto significa que não se parte daquilo que os homens dizem, imaginam e pensam,  nem daquilo que são nas palavras, no pensamento, na imaginação e na representação de outrem para se chegar aos homens em carne e osso. Parte-se dos homens, da sua atividade real. É a partir do seu processo de vida real, que  representa o desenvolvimento dos reflexos,  e das repercussões ideológicas deste processo vital. Mesmo os fantasmas correspondem, no cérebro humano, a sublimações necessariamente resultantes do processo da sua vida material, que pode ser observado empiricamente e que repousa em bases materiais.
Assim a consciência perde imediatamente toda a aparência de autonomia, porque não há história, nem desenvolvimento; senão antes os homens, que desenvolvendo a sua produção material e as suas relações materiais, transformam, com esta realidade que lhes é própria, o seu pensamento e os produtos desse pensamento. ,,Não é a consciência que determina a vida, mas sim a vida que determina a consciência.

8 de set. de 2012

Nada.


O neto foi convidado pela avó a morar com ela no casarão, logo depois da morte do avô. Eles se gostavam muito. A avó era metódica e passou-lhe as normas da casa, que por acaso nem eram tantas. Em especial mostrou ao neto o molho de chaves das  portas que davam a dependências já sem uso porque os filhos pouco a pouco foram se casando e saindo da casa. No molho só não tinha chave para uma porta, que a avó disse nada haver depois dela. O neto insistiu pela chave, ela dizia que não tinha a chave. Ele insistia no que havia depois daquela porta: Nada, ela dizia. O neto se angustiava a cada dia mais e mais. Começou procurar a chave  às escondidas. Procurou em cada canto do casarão e por fim a descobriu. Quando abriu a porta se deparou com o absoluto nada. Enlouquecido matou a avó com muitas facadas.