Entre eles, o que
havia, não passava de sexo pagado. Mas Rud repetia a escolha, por
preguiça e hábito, se alguns momentos de ternura, se aviava por
somar à confusão daquela equação, a insistir numa igualdade
monetária. Entretanto no último dia dos namorados, quando os corpos
se apartaram e assim olhavam as estrelas giratórias daquele céu
rebaixado, Vivian suspirou profundamente, Rud quis saber com rabo
d'olho e foi estremecendo enquanto ela dizia “ Sabe Rud! Hoje, você
me fez sentir... sabe... até hoje não havia sentido, uma vontade
que vem desde as profundezas de mim, me enche o peito, que não sei
bem o que é, sei que é bom, queima o meu rosto e é agradável...
me enche de esperanças... me faz sentir...!” Rud tombou a cabeça,
coçando o ombro com a barba por fazer do queixo, esperava ver
naquele rosto conhecido o laqueado cinismo, mas se deparou com a
doçura inquietante e desesperada de lágrimas formando poça no
canto do olho.
14 de jun. de 2012
9 de jun. de 2012
Trânsito.
Vou e venho de ônibus
e às próprias pernas, real e metaforicamente. Outro dia o sinal
fechou e fiquei cravado em plena Fco. Junqueira, enquanto os carros e
motos arrancaram a me 'tirar fina'. Na Vicente de Carvalho com Rui
Barbosa o condutor me deu sinal para passar – na faixa - , enquanto
a condutora, que estava atrás dele 'abriu' pela direita e ao
ultrapassá-lo me atropelou. 'Atropelou' sei, é forte, mas tampouco
foi menos. Caí, meu cotovelo bateu, amassou o capô preto lustroso,
então 'fração de segundos' influenciado por dubles, rolei sobre o
capô, enquanto ela avançava sem dar a minima pelota para o fato de
eu rolar pelo asfalto. Aquele senhor quis saber, bati o pó e disse:
foi mesmo um susto. Tarde quis, mas não pude anotar a placa e um
transeunte juntava o que fora meu celular de R$ 599,00 reais em 6x,
salvei chip, e bateria. Há um capô amassado em alguma garagem ou
foi reparado. Tenho as restantes parcelas a pagar. Há uma pessoa
'habilitada' sem habilidades, mesmo cruel. Essa pessoa, pode ser,
reclama da violência, da má educação, dos iletrados, dos letrados
desavergonhados, dos corruptos. Essa pessoa é você e você sabe!
Por hora basta. Não rezarei contra você, por ateu. Não te
acionarei, por ignorar seu nome e paradeiro. Não me vingarei, por
contra a justiça com as próprias mãos. Mas a gravidade e as
estatísticas da imprudência – e você o é – são inegociáveis,
portanto não trafegue pela Fco Junqueira, você pode cair no 'corgo'
sem guardrail então a crônica será macabra!
7 de jun. de 2012
Escola e Educação
A educação
é uma 'dependência' que carregamos como sociedade que abandonou o
curso, e como tal não há mais recuperação a ser tentada, porque o
que rui e continua a ruir é velha sociedade. Todavia, como toda
dependência, é antes uma pendência. Devemos mirá-la com todo o
carinho, sem contudo passarmos a mão em sua delicada cabeça (dela).
Antes de mais nada,
toda exceção está contemplada no pensamento, assim, nossa
sociedade está esgarçada, entre rotos e malvestidos, puídos todos.
Não existe por pequena que seja, frustração facilmente
assimilada ou simplesmente assimilada pelo tecido social. No babado,
nas rendas algo sempre sempre reluz, mas isso está naquilo,
contemplar exceções. Na USP SP, sem paralelos históricos, o
estudantado foi horrivelmente reprimido. Primeiro policialescamente,
seguido de linchamento público – redundância obrigatória –
encabeçado pela grande média nacional, muito contraditório, e a
palavra mais cara à Midia é justo esta, pois a vida é a busca
pela liberdade, e nada mais ser senão pela cedência mínima.
Pequeno
adendo: A vultuosidade da cessão é proporcional à corrupção
contingente, mas não se pode confundir com perda de liberdade. O
indivíduo sem liberdade é intrinsecamente corrupto, que mais não
seja, o é com ele mesmo. No entanto é substancial ceder, para a
vida em sociedade, isso implica na política e não na polícia,
sendo esta, a mão armada defensora da propriedade alheia, e fazendo
uso do Velho Testamento, ninguém, em pensamentos, atos e omissões,
próprio de outrem.
Dito isso, a escola,
como centro educacional, sempre primou no engendrar – palavra
horrorosa – de peças de reposição dentro do sistema de produção
de vida. Até pouco tempo os limites – graus de liberdade – eram
muito bem definidos. O pai dizia: Calado. O professor dizia:
Silêncio ( minha professora de Francês: Fait attention! Regarder!)
e como em tempos de criação o silêncio se fazia. Por medo, crença
ou vergonha. As ditaduras se foram, sejam paternais, demiúrgicas ou
o porrete: e pagãos nos descobrimos defeituosos, fazendo uso
novamente do sagrado, defeito original. De um lado à 'industria' já
não faz falta sujeitos sujeitados; produto que a velha escola sabia
“produzir” muito bem, por se tratarem de puros mecanicismos:
horários, sinais, uniformes, etc. O aluno era 'criança' ( filologia
barata – estado de criação – ) até a chegada daquele que a
colocava noutro logos, o da formação, do silêncio, do fait
attention, do respeito à autoridade. Duma escola de jesuítas
ranzinzas, para dizer pouco, saiu James Joyce, Machado de Assis,
Euclides da Cunha etc. De Tubingen e arredores Hegel, Einstein, Bohr,
Schredingen, Maxxel. Como de Eaton ou da vizinha Southampton
Ghandi, Virginia Wolf, Oscar Wild, Newton, Darwin pouco mais de MIT
Noan Chonsky etc. Cito os bastante bons, mas não me esqueço dos
muitos e Malvados, e muito menos daqueles que fazem o grande limbo
humano, a massa mundial, que quando se diferencia o faz externamente,
por exemplo, o perfume, a etiqueta – não a elegância –, mas
sempre nas velhas castas docemente trazidas da Índia.
Assim a velha
sociedade, com urgência, necessita de mentes abertas para poder se
salvar no novo, mas não sabe como produzir, massivamente, a mente
iluminada e criativa. Como o professor é obra da 'antiga' escola,
continua a reproduzir-se mecanicamente, causando um descompasso, já
que a 'novíssima' sociedade não quer mais 'robôs', quer
indivíduos livres e imaginativos, mas tudo que produz com desleixo
são corruptos robotizados.
1 de jun. de 2012
Sacola sem transparência.
Não sei precisar quanto tempo faz que começaram a dizer o que já
se sabia, que as sacolas de plásticos eram um perigo para nosso
microcosmo, para a vida do planeta, para o futuro da humanidade.
Todos
têm conhecimento da existência de plásticos biodegradáveis quais
basta os olhar, para que se convertam em adubo de jardins, pois tudo
já fora dito. A propedêutica ou prolegômenos mediáticos fizeram
sua parte, assim que não nos pegaram desprevenidos, mais que isso,
estavamos bem dispostos, à força ou de bom grado a assumir o
pagamento pelo uso para que não pague quem fabrica as horrendas
sacolinhas.
Assim
as grandes superfícies começaram a 'vender' sacolas plásticas
desde 25 centavos a até três ou mais reais. Mas como sempre a boa
fé míngua diante da realidade. Porque se é verdade a questão do
plástico, o consumo em geral arrebenta com a ecologia e o futuro do
planeta, posto que o mercado só pensa mesmo é no dia de hoje,
quando muito no futuro imediato, e também, que o não uso da
'sacolinha' só tem efeito psicológico, coisa ridícula diante do
problema ecológico, se não se tratar de coisa trágica, já que
tudo dentro destas 'grandes superfícies' está engarrafado ou
embalado em plástico, e sem ir mais longe, há até alguns seios
são de plástico, o sexo é de plástico e cúmulo da 'elegância' é
sair do 'shopen' com sacolão com volume de 20 litros, mas recheado
de um frasquinho de desodorante com olores da primavera chinesa...
De tudo que tenho visto o fato marcante é que as sacolas
biodegradáveis, ou nem, querem significar um passo a frente, a
própria evolução da espécie Humana e que usar a cor verde é
estar na mais pura sintonia com a natureza.
31 de mai. de 2012
Eu não tenho a bomba.
As
vezes – sempre, mais vezes, recorrentes nesses tempos bicudos –
penso como é, e tem sido lastimosa a fragmentação em tantos campos
do conhecimento – poderia se dizer cultura, mas me parece que há
sempre que se definir ou redefinir tal sintagma – ou da informação
e o fato de que muitos se salvaguardem em multiplicidades de
interesses e perspectivas com as quais nos vemos e vemos o mundo; a
miúde, nada mais que inevitáveis modos de sobreviver à
hostilidade externa e por que não à própria, interna, coisa que
nos têm conduzido a uma atomização pessoal e social, com a qual
nos tornamos incapazes de ter prioridades, em quaisquer dos campos da
nossa curta história individual e coletiva.
Releio
o parágrafo anterior. Convicto, comigo, sei que nem os mais
ferrenhos seguidores da crônica humanista se perdoariam do uso de
tanta subordinação sem conclusão. Faço uma pausa. Me despenalizo
sem fazer juízo de mim, para dizer pouco. No mais como acontece –
e como se justificam políticos, a “alta” elite, responsáveis de
todas as cores, sejam nacionais, internacionais ou dos arredores -
àqueles que se têm permitido cantar este império do absurdo e que
feliz ou infelizmente nem existente...
Pergunto:
por que não eu?
Me
suspendo na suspensão do parágrafo anterior, porque sei da
inutilidade de continuar e ainda mais diversificá-lo. Ao mesmo
tempo, começo a me envergonhar por compartilhar com outras pessoas
esta inutilidade, que tem sido apontar caminhos diferentes às rotas
inevitáveis das reações coletivas e talvez definitivas, porque
amanhã continuarei incapaz de qualquer ação também não inercial.
Falarei da ditadura encoberta da mídia, da falácia própria da
democracia, da arte ditatorial da arte, da música tornada verme, das
palavras obrigatórias ou da dualidade partícula-onda, dos orbitais
sp, dos entrelaçamentos de nuvens eletrônicas, irei mais fundo no
spin como momento angular intrínseco, mas não terei definitivamente
o artefato explosivo.
28 de mai. de 2012
CONTO.
Conto.
Aparentemente, disse
ele ao médico, tudo começou na pelada da semana passada, quando o
brutamontes do Dudu, no campinho da praça perto de casa... Uma bola
alçada pelo goleiro adversário, que vinha na minha direção,
descreveu sua parábola costumeira, mas antes mesmo do ponto de
inflexão fui tomado de antiga fantasia, que não seja outra que a
de dar uma matada a Ademir da Guia, o que implica em inclinar o corpo
todo a frente, enquanto o pé de apoio se mantem vertical o outro que
receberá a bola, que primeiro tangenciará o meu peito e assim
seguirá até o outro que alinhado com o restante do corpo haverá
será afastado uma mica e o pé receberá o balão como se fosse uma
colher e a com a bola ali segura e morta se deslocará ainda mais
para trás. Como dizia o Dudu pisou no dedo menor que tenho no pé.
A unha não caiu, ao contrário, ficou negra na hora, ou preta se
preferir. Segui as instruções do Dudu. Água quente, água fria,
gelo, beladona e enfaixei. No dia seguinte quando tirei a faixa todo
o peito do pé estava preto, ou negro se preferir. Continuei com as
compressas, que o Pedrão da farmácia, um farmacêutico prático
recomendou. Trabalhei todo o dia e quando cheguei em casa e fui a
ducha estava negro, ou preto até a cintura. Tomei diclofenaco, que
me recomendou Júlia, e que me acariciou, me acalmou, e que me
pareceu disfarçar certo contentamento. Fizemos amor, como a tempos
não fazíamos. E voltamos ao sexo na madrugada, ela irradiava
prazer. Quando despertei estava, assim! Como vê, totalmente negro.
Mas, e ela? Perguntou o
doutor. Ela! disse ele,
ela disse, bem, tire o dia de folga, mor!
3 de mai. de 2012
Uma resposta para a pergunta: Por que há algo e não, mais bem, nada?
Eu
vou dizer: Por quue há tudo o que há? Por que há filosofia? Música? Literatura? Pintura? Escultura? Arquitetura? Por que de tudo isso? Por
que há a arte? Porque em todas as formas de expressão o homem tenta
se imortalizar, transcender-se a si mesmo. Todas estas tentativas
existem porque o homem é um ser finito. Porque o homem morre. Quando
digo homem digo mulher também. Deveríamos fazer uma revolução e
usar a palavra mulher, mas de alguma forma daríamos no mesmo. Então
o homem é um ser finito, tem os dias contados, e ainda que mortal,
tem fome de imortalizar-se, ou de imortalidade. Ninguém quer morrer!
Shakespeare houvera trocado Hamlet, Macbeth por dois anos a mais de
vida. Otelo por mais seis meses, se houvesse uma garantia. O homem
sente pavor da morte. E mesmo assim finito e mortal se pergunta por
ela. O por quê da finitude? A enfrenta, afronta sem a negar. Há
entretanto negações como a droga, o sexismo e um montão de
cerimônias para ocultar o fato de saber que se morre. Mas a
filosofia bota essa questão adiante e sabendo-se um ser
finito sabe, que e por isso se angustia. E se angustia porque morre.
Quando a angustia revela ao homem que seu destino é o nada, ou lhe
aparece a ideia do nada e a ideia do nada o leva a saber que ele,
homem, vai ser nada por muito tempo, ser nada na eternidade.
É
nisso que reside a grandeza do homem, e essa grandeza se revela não
somente na filosofia, mas em muitas manifestações, nos romances, na
pintura, na música e em tudo que termina, e quando termina a
partitura, a música, nos angustiamos. Por isso também existem os
livros, montanhas de livros escritos sobre isso, a morte, mas não
só, muito há para que possamos pensar nossa situação nesse
mundo. E aqui e agora precisamos pensar nossa situação. Como país
precisamos pensar. Não pensar o que querem que pensemos. Não
estamos em outro lugar que senão o Brasil. E é no Brasil e como
brasileiros que devemos pensar e devemos pensar agora, por que não
sabemos se vamos poder fazê-lo depois, mais adiante. Porque o homem
é aberto a milhares de possibilidades, mas em todas essas
possibilidades e em algum momento está a morte, mas ainda assim,
sem urgência, sem desespero temos que considerar que cada minuto é
absolutamente precioso, e agora, agora tem uma densidade de ser, da
qual temos que participar e nos comprometermos e que 'filosofar' é
necessário. Por quê? Porque este pais necessita pensar! Precisamos
abandonar tudo aquilo que nos distraia, toda a pataquada e
estupidez, tudo que trabalha para nos estupidificarmos, em todos os
meios, tudo quer colonizar nossa subjetividade. Toda gente se diz contra
a colonização, mas o que se dá, é justamente a colonização do
subjetivo do cidadão. Noutras palavras sujeitar o sujeito. Muitos
médias estão para, com seu infinito espetáculo triste de pataquadas, atar o sujeito, sujeitá-lo! E sujeitado, está impedido de
ver a própria situação.
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