"Acabar
com a escravidão não basta", disse Joaquim Nabuco. E
acrescentou: "É preciso destruir a obra da escravidão".
Por outro lado uma das mais belas frases de Sartre é : “O homem é
e se faz com aquilo que fizeram dele”. Durantes séculos homens
nasceram escravos de escravos pela cor da pele, é notório que não
havia outro motivo, exceto a propriedade. Nisso a frase de Sartre tem
um claro impedimento, porque o argumento de Sartre se dá dentro da
vida de um homem, para os padrões do século XX, livre, quando a
liberdade estava no centro da discussão. Seja que a frase sartriana
pressupõe um acorrentamento de um homem que deve se fazer, e
partindo justo deste acorrentamento. No entanto ao tratar-se da
escravidão, onde o indivíduo nascia escravo, filho de escravos, e
morria escravo e se gerasse descendente o seria forçosamente
escravo, ainda que o recém-nascido tivesse sido gerado livre com a
lei do ventre livre. Como uma criança pode ser livre se seus pais
são escravos? Ou seja o homem escravizado era e permanecia até sua
morte na mesma condição, e não podia fazer nada de si que não
fosse escravidão. Com o advento da abolição desta, como
quer Nabuco, necessária sim, mas insuficiente. Quem tiver o
“capricho” de lê-lo entenderá o que significa a imperiosa
necessidade de se destruir a obra da escravidão. De passagem se
aprende o que fora a discussão sobre indenizações devidas pela
expropriação do escravo, dada a abolição, depois a lei definiu que se tratava - o escravo - de uma propriedade anômala, visando não castigar o Estado
com as indenizações, anômala, mas sempre propriedade. Para quem
gosta das palavras, que é veículo por meio do qual enviamos e
recebemos mensagens, sabe que “destruir” não é minimizar,
rarefazer, negociar etc, e nos dizeres de Joaquim Nabuco é disso que
se tratava, destruir o rastro futuro da escravidão passada, e ainda de que
se trata hoje, porque ainda estamos naquele futuro, e as pegadas do
passado insistem em continuar deixando suas marcas.
30 de abr. de 2012
19 de abr. de 2012
O Barça atacou, ataca e atacará! Vencer é a questão. Gol solução.
O Barça antes de ser
universal, ainda que modisticamente, em seu país – porque na
Europa em geral cada cidade é um país, por isso: paisano –
carregam o dístico: El Barça es Mès que un club.
Porque no curto verão
da Anarquia e depois por muito tempo só se falou Catalão – língua
que ademais da Catalunha é falada em Valência, nas ilhas Baleares,
na Sardenha, cidade de Alguer – dentro do Estádio do Futbol Club
Barcelona.
Durante o regime
franquista o Barça era o mais subversivo que se podia permitir o
povo da Catalunha. Seu contraponto, já, era o Reyal Madrid – por
hábito protegido pelo regime – sempre campeão e vestido de
branco, por isso merengues, por sua vez o Barça, blaugrana,
azulgrená sempre atrás do Real Madrid, por isso culé, que vem de
rabo – castelhano “cola” rabo; “culo” cua em catalçao e cu
em português de Portugal, no Brasil bunda, já que aqui cu é o
orifício, então “culero” na rabeira, “culé”.
Sem me aplicar muito
ao oficialismo, penso que as coisas começaram a mudar, quando por
ali chegou o holandês, Johann Cruijff, que em 1974 – porque o
glorioso Zagallo quando perguntado disse desconhecer a Cruyff o mesmo
tanto que desconhecia o time holandês, foi o que se viu. A
Ignorância de Zagallo levou Luiz Pereira, talvez o maior central que
o Brasil já teve, a cometer atrocidades (Fato que me faz pensar na
inteligência emocional de Pelé, que intuíra, vexatório fracasso,
anos antes – Cruijff, gastou a bola nos campos alemães. Pode
ser, que nascia ali, 1974, e elevado a paroxismo o famigerado: Nem
sempre ganha o melhor.
O quê, era a Laranja
Mecânica ? Uma pelada
com uma pitada de companheirismo, solidária, se preferirem, somada a
velocidade? Pode ser.
Cruijff foi para o
Barça, e ajudou a equilibrar a balança entre o poder financeiro do
time da capital espanhola, que por isso era pago e devia representar
Espanha, coisa feita às custas do erário espanhol, como agora,
financiado pela Banca Estatal. Os catalães já haviam se unido
entorno ao Barça, se fizeram sócios do clube, mantiveram o clube e
foram crescendo. Poderoso financeiramente, o Barça se engraçou, via
Johann que entendera o espirito do clube blaugrana, pelo futebol
brasileiro. Telê Santana levara para Sarriá – então campo do
Espanhol e bairro de Barcelona – o que se poderia sonhar de melhor
do futebol brasileiro, tanto de jogadores como estilo de jogo – o
que a mídia nacional deplorou, claro, sempre à sua maneira, e
sempre atabalhoada e desarrazoadamente. Depois aderiu. Tarde. (Cabe
aqui este parênteses: A mídia esportiva brasileira nem sequer chega
ao sofisma, por desconhecer a lógica, nem chega a ser estúpida,
pelo fato de que os estúpidos usam a lógica, à pena de se
embaralharem, mas conseguem chegar a sínteses verdadeiras, ainda que
partindo de falsas premissas. Dito isso e dessa maneira, tomemos o
corpo do texto novamente em mãos.)
O mundo se encantou com
o time de Telê. Despachado pela Itália. Inflexível Rossi. Cruijff
e seu poder crescia, na terra do único estado Anárquico que
existiu, e difundia a sua ideia de futebol arte, como se diz, futebol
vistoso, bonito e de toque de bola.
Houve momentos dignos
da eternização, alem do próprio holandês voador, com Romário,
com Ronaldo que lá virou Fenômeno e Rivaldo o incompreendido.
Com Rijkaard como
treinador, o Barça voltou a tocar a bola, e com a chegada de
Ronaldinho em momento de brilhantismo ofuscante, conseguia dissolver
o problema da conclusão, da solução suprema do futebol, que é o
gol.
O Barça de Guardiola é
uma volta a mais do parafuso Rijkaardiano, que era uma parafrase do
time de Telê Santana. Finalmente o que vemos é um Barça
brasileiro, explico: tanto o Culé como o torcedor brasileiro, somos
medrosos, sentimos medo de tomar gol. Foi esse medo que nos fez
sofrer o gol e a derrota para a Holanda na copa Africana. O gol em
contra é o mesmo que o fantasma nos representa quando crianças,
tememos, e tememos tanto que o barulho de nossos próprios passos nos
assustam, e nos faz correr para a cama da mãe. A pergunta é: como
se resolve este medo no futebol?
A resposta parece esta: Tanto para o Seleção brasileira quanto para
o Barça, se dá com a posse de bola. Não se trata de ir para cima
do adversário. Se trata de ir empurrando-o pouco a pouco, e
hipnotizando-o, sem agredi-lo definitivamente, de tal modo que este
se sinta encurralado, mas cômodo, dentro do próprio campo e sem a
bola, e quem possui a gorduchinha acaba por não finalizar, coisa que
implicaria, acertando ou errando, em ceder a posse.
Do
mesmo modo que certos conjuntos, culturalmente, temem tomar gol, o
que os debilita na defesa, outros são capazes de jogar todo a
partida dentro da própria área, a se defender.
No jogo, inflexível, o
Barça hipnotizava o Chelsea, mas não ferroava. A existência da
partida, desde o ponto de vista de uma narrativa, só existia porque
passava pelos pés dos jogadores do Barcelona. O Chelsea a admitia e
por fim se recolhia a sua insignificância, abdicando da posse de
bola. Se fez alguma coisa de transcendente terá sido os lançamentos
desde a lateral, atingindo a área barcelonina como se fossem pedras
de fogo catapultadas. A posse do esférico raiou ao escândalo, para
aquele jogo e aquela copa.
De qualquer maneira
estéril possessão, Xavi dava meia volta, e depois volta inteira
sobre si mesmo. Havendo entretanto momentos que geravam dúvidas
cruéis ao Stanford Bridge, quando o time catalão mudava a
pulsação, como quando Alexis tentou uma parábola por necessidade e
errou na inflexão, ou Iniesta enganchado ao cal da linha de fundo,
parece ter passado por dentro do incrível nigromante inglês, mas
pouco resultava. O Chelsea depois de muito tempo cruzava a linha que
divide o gramado e isso é e foi uma noticia, e por isso noticia é
nova em inglês, aos vinte e nove do primeiro tempo o Chelsea aparece
no campo adversário, antes houve outras duas oportunidades.
Se o que estava
acontecendo em Stanford Bridge se invertesse, e se, com algum time
brasileiro, eu por exemplo estaria morto, ou havia saído para
caminhar no meio do canavial. Vi o jogo do Barça contra o Santos
como brasileiro, ou santista de última hora, assim que não padeci,
a não ser nos primeiros movimentos, quais indicavam do que se
tratava, e foi, posto que o Santos não soube jogar sem a bola e
naquele dia, nem com ela.
O Chelsea seguiu a
reboque, onde o Barça ia, lá estava o Chelsea, no último terço do
seu próprio campo, dentro da área. As vezes Drogba partia com uma
bola, Puyol roubava-lhe a bola e por cima lhe embrulhava como se este
fora um rebuçado, uma bala, ou Drogba se lançava à terra como se
em uma largada olímpica de natação, e se transformava num croquete
empanado de grama, tudo para romper, quebrar o ritmo, velho truque e
válido.
O Barça refogava,
preparava um cozidão em fogo de lenha. Lento.
Acontece o seguinte.
Drogba fez tudo o que sabia, no limite do que isso significa,
impecavelmente. Beirou por vezes as raias do não futebol, mas isso
não é discutível, afinal se é permitido! É a tal da ética!
Seria um absurdo que fosse exigida, como não foi. Por vezes tenho
pensado que a maneira de vencer o Barça é, acreditem! Pelas pontas,
como gritava uma personagem, Josoareana, a Telê Santana. Neste
sentido, vi uma derrota do Barça em pleno Camp Nou, em que William
ex-Corinthians resolveu o placar da mesma forma que fez Ramires, ir
até o fundo e cruzar rasteira para trás, quando os pés dos beques
já se foram. Lá estava Drogba, como Vavá, Romário, Geraldão etc,
para fazer no limite de suas qualidades técnicas: tocar para dentro,
sem segurança, porque quem sabe chutar com segurança manda por cima
do travessão que o diga Roberto Baggio, e como fez Cesc. O futebol
exigi certa humildade, nem sei se o futebol, ou a bola, essa
humildade de Túlio, bater na bola com o que tiver de mais plano no
seu corpo, quase com a sola do pé, o que Drogba mostrou naquele
toque para gol. Entretanto continuo a gostar muito dos três dedos
de Rivelino, dos efeitos de Zico, de Messi, do insondável Neymar.
Mas a derrota se faz com um gol a menos.
12 de abr. de 2012
Inveja.
Gosto de investigar, de navegar e de algum modo
saber do lado obscuro de minha condição humana, porque me mantém
são, ou me dá certo aspecto de sanidade. Imagino que se atuasse
como se tais coisas não existissem, creio, que me tornaria um louco
de camisa de força. Por outro lado gosto da civilização, luz
elétrica, computadores e polícia, lei, justiça, ainda que encontre
um preço muito alto, o que pagamos para simplesmente suprimir esse
lado escuro.
Em qualquer comunicação humana, ou entre
humanos, em qualquer veículo, os esforços estão centrados
basicamente sobre os mesmos pressupostos: A vida é o desabrochar de
coisas amáveis; que tudo provem do amor, e do carinho, e do cuidado
para com o semelhante, cada dia vivemos mais e melhor e mais tempos
jovens, ser jovem é não deixar-se envelhecer, a qualidade de vida,
e o cuidado para com os animais e finalmente para com os vegetais e
por fim acabamos querendo resgatar os direitos dos insetos, com fúria
carola e beata.
Este tipo de pensamento, atividade que está
mais para a fé que pensamento, e ainda mais distante da realidade,
insiste-se em se fazer acreditar, que as relações humanas são
sensíveis, simples e dóceis, do padre ou pastor com seus fiéis,
como a doçura que todo papa tem com seu lento sinal da cruz, como as
do professor com o aluno ou aluna, do médico e o paciente, da mãe e
a filha, na filantropia, entre amigos e amigas, entre inimigos, sim,
mas a realidade é que mesmo entre inimigos – relação mais
transparente de todas - as relações estão untadas com azeite da
inveja. Aceito como condição humana a existência da inveja. Em
contra partida não concordo que isso nos faça seres humanos
deficientes ou horrorosos, sua existência só tem me mostrado que
não posso controlar todos os meus sentimentos.
Os clássicos gregos nos deram Édipo, por
exemplo, que provavelmente tenha inspirado a Sigmund Freud que veio a
nos dizer e talvez, que se conseguíssemos afastar toda a cortina
repressiva, conseguíssemos ver o justo momento no qual se quis matar
os pais. Deles também é Medeia a matar os filhos. Enfileiro
Raskólnikov, Riobaldo, Humbert Humbert mas também Lolita, Casmurro,
Lozano em Satarsa – Adan y Raza, Azar y Nada - , Fausto, Stephen
Dedalus que não perdoou a mãe que estava no leito de morte,
Augusto Matraga e Joãozinho Bem-Bem – as duas faces da mesma moeda
-, Gregor Samsa, Padre Amaro, Luísa, Doca Street e tantos outros a
dizerem que é normal que na infância se tenha querido matar a seus
pais, mas que o bom disso tudo é pensar, isto, que está mal e essas
histórias nos mostram que eles ainda continuam a sangrar, pelo que
temeram e fizeram. Em todas a vidas há algo que corre e as liga,
querendo ou não ver, coisas como é a truculência do amor, os
ciúmes, o sexo e perversões sem fim, entre todos os tipos de
relações que existam, mesmo entre irmãos.
Não creio que devamos ser condescendentes com
Eurípedes, Sófocles, Machado, Guimarães, Eça, Dostoiévski,
Goethe, Joyce, Cortazar, Vladimir Nabokov ou Kafka, que construíram
histórias e personagens asquerosas e não menos reprimidos que nós,
talvez tolhidos por uma censura diferente. Porque talvez tentaram
mostrar de que matéria derivamos, além do barro, é claro e que
podemos nos encontrar tão reprimidos quanto Matraga, a purgar até
se encontrar com aquele que o levaria definitivamente ao inferno,
Joãozinho Bem-Bem. Graças a deus! Porque não é uma boa ideia ser
um traidor, ser comido por uma rata, se transformar numa barata,
renegar a mãe, transar com ela, matar os filhos, invejar o pai a
ponto de querer matá-lo, ainda que não saiba explicar o porquê de
não se tratar de uma coisa boa, mas saber dessas coisas, talvez nos
mantém em certa sanidade.
Cada vez que me negam a simples discussão, me
entristeço, porque vejo que seria generoso para com mais jovens,
assumir que envelhecemos para toda Dolores Haze, permitir a morte,
dizer adeus e evitar a epidemia de bom mocismo que se exige das
criaturas e aqui entra a inveja, deixemo-nos envelhecer, chega de ser
mais jovem que os jovens.
8 de abr. de 2012
Carta a Berta.
'Sei, que nada sei.'
Vou me gastar na
assertiva: 'Sei que nada sei'.
Poderia dizer que quem
diz: Sei, que nada sei, o faz no meio de um embaraço. E entre se
calar e assumir a nulidade argumentativa – dado que tal afirmação
sempre se faz em meio a calorosos, ou nem tanto, debates. - e diante
do evidente naufrágio do argumento, então e neste caso, uma saída
que parece 'sábia' é: Sei que nada sei.
'Sei que nada sei' tem
sonoridade de 'sabedoria' oriental, e de notória muitos a pensam
irrefutável, mas não é mais que um nenúfar, como aquele de Lao
Tsé: “Quem sabe não fala, quem fala não sabe”. E tão simples
quanto isso: Lao Tsé é mentiroso, porque não sabe, já que diz
saber o que fala.
Os gregos tentaram
estabelecer um mínimo de método à lógica. O
método é matemático e é axiomático. Um axioma é uma proposição
tão evidente que não precisa ser demonstrada. O homem é mortal. Se
se tem este ponto 'indiscutível' pode-se partir para definições
mais complexas derivadas de tal proposição. Sem que sejam
tautologias: 'tudo que é demais sobra', ou sistemas tautológicos
como os que exigem, aos recém-formados, experiência. Ou seja,
pensar 'matematicamente' a lógica. Sem grandes floreios.
Se
disser que todos os Ribeirão-pretanos são mortais, todos os
Bonfinenses são mortais, então todos os Bonfinenses são
Ribeirão-pretanos, isso é uma estupidez, ainda que seja verdade, o
que é uma casualidade. Porque os Bonfinenses são Ribeirão-pretanos
não por serem estes mortais e aqueles também, mas por Bonfim
Paulista ser um distrito de Ribeirão Preto.
Há
situações bastante confusas nesse ambiente. A estupidez é capaz de
chegar a conclusões corretas por caminhos totalmente equivocados.
'Sei que
nada sei' é um paradoxo. Um paradoxo é aparentemente correto, mas
em algo se equivoca.
Epimênides
que era de Creta disse: Os cretenses são mentirosos. Epimênides que
era cretense mentia. Ainda que Epimênides conhecesse todos os
cretenses. É uma estupidez. De tal modo que se se quer concluir
algo, tal será: um ciclo vicioso, uma contradição. Mas isso era
o principio de tudo. O principio da 'sabedoria', provavelmente,
oriental, que criava mais enigmas que os resolvia. De algum modo soa
'oriental', oriental no sentido vulgar, ordinário ou 'mass media'.
Porque o oriente, ou a noção de oriente, não coincide com o
oriente geográfico, ao mesmo tempo que se confunde oriente com
islamismo ou budismo e o que se diz é Lao Tsé querendo se passar
por Confucionismo, sem sabê-lo sequer cético. Certo é que
Austrália nada tem a ver com o oriente, sendo tanto ou mais oriental
que a Índia. E a Grécia tão bem cravada no oriente é quem funda o
pensamento ocidental, por outro lado os ocidentais Egito, Tunísia,
Casablanca, Cairo, Israel ou Palestina tidos como orientais.
Desse
modo um argumento que contenha a palavra Oriente como sujeito, ou
predicado de algum sujeito, deve ser mesurada, ou adjetivada.
Oriente-se.
Se digo
que sei, algo sei.
Platão
presenteou a lógica com um principio banal, o princípio da não
contradição - que os sofistas não usavam pois os sofistas, os
dialéticos de então, o que queriam era confundir o debate e se
saírem vencedores, e não serem lógicos ou verdadeiros -.
Como o
interesse aqui é ser lógico e partindo de premissas particulares,
não estabelecer conclusões generalizantes. Universalizar é
possível sim, desde que não se viole uma das leis do silogismo, tão
caras a Aristóteles, ou seja não se universaliza partindo das
premissas particulares. Leio esta frase:
“Toda
unanimidade é burra”. É frase cunhada por Nélson Rodrigues, e se
tornou um fóssil que de quando em quando se desgarra de sua matéria
pedra e volta para assustar os vivos de hoje. Não somos ou não
devemos ser unânimes quanto ao governo ao a forma de governo, ao
clube do coração, à melhor canção, porque seria nossa alma que
ficaria prejudicada na unanimidade é o que Nélson Rodrigues quer
dizer, é que seria um desastre para os interesses humanos, aqui não
estamos tratando da lógica mas da alma, enquanto interesses humanos,
que devem, partindo da frase, ser subversivos, ou discordar no mínimo
de qualquer processo 'humano' que seja unânime. No entanto a frase
é universalizante. Somos unânimes em crer que dois mais dois
resulta quatro. Somos unânimes em nossa mortalidade. Somos unânimes
que amanhã será outro dia, independente de nós, e nesse caso só o
fim hoje da humanidade seria capaz de impedir o amanhã, da
unanimidade. Portanto o que se desdobra é que não devemos ser
unânimes cegamente, como diz Nélson Rodrigues “Quem pensa com a
unanimidade não precisa pensar”. Não sei se Nélson Rodrigues
conhecia o Tratado de Sanhedrin que pertence ao Talmude, à tradição
Judaica, porque nele há algo muito próximo, pois que senão:
"A
lei, o privilégio concedido à determinada compreensão do que é
certo, só se faz legítima na medida em que, dadas as condições
necessárias, sua preservação possa até mesmo ser mantida através
de sua desobediência." e mais adiante ...”O sentido de tal
lei, expressão da alma e obviamente subversiva, é a desconfiança
de que um processo possa ser tão bem conduzido que não paire
qualquer dúvida quanto a uma leitura diferente da situação. A
unanimidade expressa uma acomodação à verdade absoluta que é
insuportável à vida e que tem grande potencial destrutivo."
Ou seja,
se a lei não postular a desobediência será uma arbitrariedade.
Donde conclui-se que a unanimidade é arbitrariedade. O tratado de
Sanhedrin estabelece variados tribunais, com três, 23 e chegando a
71 juízes, dependendo da gravidade e abrangência do julgado. Mas
deixa claro que se o veredicto for unânime este sera anulado, por
que não creem em um processo ou procedimento perfeito, há que se
estar atento.
Voltando
ao mundo dos vivos.
Sei.
Este é um argumento. Um segundo argumento dentro do mesmo pensamento
não pode contraditar o primeiro como: Nada Sei.
É uma
estupidez:
Sei,
Nada sei.
Logo: ...
Logo é
um desadaptação à realidade ocidental. Quem sabe, num outro
sistema lógico, nossa estupidez seja sabedoria, neste não. Posto
que a realidade ocidental é e foi forjada por um sistema lógico –
muito bem poderia ser outro, mas não é – marcado a bala e
canhões e bombas atômicas e chibatas e tudo quanto foi necessário,
até homilias. E a maior ambição de nosso sistema é definir uma
noção aceitável – níveis aceitáveis – de estupidez.
Certo é
que, é possível que exista quem saiba nada, e neste caso o sujeito
estará condenado a não saber, nem mesmo, da própria ignorância, e
não poderá afirmar que não sabe, porque nem sabe o que é saber ou
não saber.
Sei. Sei,
que sei alguma coisa. E se sei estas, que sei, há nada que impeça
outras tantas existirem, quais não saiba. O que tento impedir, que
aconteça na minha vida, é vir a sabê-las demasiado tarde, coisa
que naturalmente sói não ocorrer. Outra coisa que sei, é que não
sei algumas outras coisas, ou muitas quiça, mas se ignorar muitas ou
poucas, uma frase, sábia que seja, não me fará sábio, muito menos
se se tratar de uma estupidez, ainda que consagrada.
6 de abr. de 2012
Sexta-feira da Paixão.
Equinócio é o
fenômeno no qual a duração da noite é igual a do dia. O último
deu-se no final de março (21), o equinócio de outono.
- Quer dizer que a sexta-feira da paixão se dá na primeira sexta-feira posterior à lua Crescente - no Plenilúnio - que se segue ao equinócio de outono. Entende?
- Muito bem. Você poderia me dizer quem ajeitou as coisas deste modo ?
- Xente, que de lá pra cá, muita água passou debaixo da ponte!
- E muita água por cima da ponte, bem mais do que deveria! Mas chega a ser poético o tipo de escolha, o modo, o sistema, depois de tal lua, depois do equinócio. Fico a pensar em minhas férias, a todo vapor no equinócio de primavera; e que terminará em plena lua cheia. Desde miudinho que reparo no plenilúnio, e acho que não combina com a sexta da paixão, talvez se fosse minguante, pode ser, pois esse dia, agora nem tanto, mas de pequeno, o sentia tétrico, aquele homem na cruz, a procissão do senhor morto, aquelas chagas abertas e os hematomas na imagem, pardeus que me assustavam. Não podia sequer se pregar um prego numa madeira, e como a cada ano, sei lá por que cargas d'água, me dava com um martelo em punho um prego e a avó a berrar (baixinho): Moleque atentado!
5 de abr. de 2012
Judas Iscariotes é Deus.
Quando menino, malhei o
Judas. Por ignorância, confundia Judas com Judeu, malhava a ambos
Judeus.
Que beijo! Nenhum outro
beijo – real ou fictício - amealhou tanto reconhecimento, para
o bem ou mal, que o dado por Judas Iscariotes. Para o cristianismo
foi fundamental, porque numa quinta-feira como hoje e por trinta
moedas Jesus foi traído por Judas, e por esse beijo, é até nossos
dias Judas é maldito e vilipendiado. Há uma leitura possível que
é a de que esse beijo forjou a glória de Jesus, ao mesmo tempo é
episódio dos mais novelescos que se encontra na Bíblia. Judas é
sem dúvida a personagem fundamental para a existência do
Catolicismo, um oximoro. Oximoro é uma figura de linguagem que
mistura palavras contraditórias: bondade cruel, sol negro, luz
escura e o beijo de Judas, que é a traição glorificante.
A tese de traição
glorificante é de Nils Runeberg e é descrita por J.L.Borges em
Tres versiones de Judas, em Artificio de 1944. Segundo Borges, De
Quincey defende que Judas quis forçar Jesus a assumir sua divindade
e ascender uma rebelião contra Roma. Já Runeberg sugere que sendo
Jesus O Mestre predicador e operador de milagres aos olhos das
multidões, não faltava o tal beijo denunciador, e completa que o
beijo não foi casual, foi premeditado, mas premeditado por Deus e
tem caráter misterioso na industria da redenção.
Relata Borges nos
dizeres de Nils: “ O verbo feito carne, passou da ubiquidade ao
espaço da eternidade”. E para operar esta transformação foi
necessário o sacrifício de um homem em nome da humanidade. O homem,
Judas Iscariotes, foi quem intuiu o terrível propósito de Jesus. A
tese é: se Deus se rebaixou a ser mortal, Judas discípulo do Verbo
feito carne se rebaixou a delator. Porque Jesus não poderia partir
para a morte de forma voluntária. A delação em si é imensa
infâmia, mas se somarmos a ela as trinta moedas, mais ainda se
reprova o traidor, e com isso ganha direito ao fogo eterno.
Nils Runeberg termina
com uma conclusão macabra, ou seja, que O Verbo feito carne ter
padecido somente uma tarde na cruz é uma heresia uma blasfêmia,
pois seria somente um momento atroz na eternidade, assim que Deus se
fez carne, totalmente, e totalmente homem, homem até a infâmia, até
a delação e o abismo, e para salvar a humanidade escolheu o pior de
todos os destinos: foi Judas. Deus poderia eleger qualquer outro
destino na trama da história e ser: Pitagoras, Cesar ou mesmo Jesus.
Dizem que Nils seguiu
errante pelas ruas de Malmô, mas que estava contente por dividir com
Deus um pedacinho do Inferno.
pinturas: acima Judas de da Vinci, e abaixo o beijo de Caravaggio.
3 de abr. de 2012
Manifesto pela Politica.
No começo era a lei da
força bruta. A lei do mais forte. Que foi, por eras, a constituição
das tribos, comunidades, pátrias e impérios. Os seus exércitos,
os inquisidores, os capatazes, os DOPS, a tortura etc, eram a forma,
método, modo etc de aplicar a lei. A força era usada para defender
basicamente a propriedade. No fundo eram os juízes, os tribunais,
os supremos, os inquéritos, os delegados e os policiais. Houve
muitas mudanças, há um certo equilíbrio, não o bastante, nem o
suficiente no uso deste predicado da propriedade, mas continua
valendo, ainda que suavemente, e por vezes até de modo obscuro.
Seria obsceno se não dissesse que houve algo de distribuição de
propriedade e a consequente democratização dos mecanismos de
aplicação da lei. A Justiça.
Nada disso caiu do
céu. Foi necessário que a cabeça de Maria Antonieta fosse parar no
balaio, o mesmo, onde jazeu a de seu marido, o rei absoluto de
França; para gerar os Direitos Individuais dos “homens”, que
lá, naquele momento, na revolução francesa, ainda eram dos homens
no sentido do macho com propriedade, o restante eram mulheres e 'sans
culottes', não do homem enquanto humanidade.
Depois foi necessário
que a Revolução Russa trouxesse no seu bojo os Direitos Sociais.
Sim, só foi possível a jornada 'limitada' de trabalho em função
das lutas sociais, onde a ponta de lança foi o comunismo, anarquismo
ou o socialismo. Foram dados anéis para que não se perdessem os
dedos. Foi necessário que mulheres americanas – operárias –
morressem para que algum direito às, outras todas, mulheres fosse
conferido. Foi necessário que Martin Luther King existisse para no
minimo por fim à Ku Klux Klam.
No processo de lutas
intestinas entre nós, humanos, sempre esteve e está presente a
politica. Politica é negociata por excelência. Eu quero trabalhar
menos horas e ganhar o mesmo. Horas de trabalho são propriedades de
quem as vende, o capital é propriedade de quem as compra. Eu quero
mais e o outro paga menos do que quero. Entra em jogo a politica. A
politica é a cartilagem. Politica é a graxa. Sem a politica
temos osso raspando em osso e ferro com ferro. Em suma é força.
No quesito força há
sempre a inutilidade da frase: Oprimidos unidos jamais serão
vencidos. União impossível. Acaba prevalecendo a força da
propriedade que paga, e pouco, para oprimidos uniformizados ou não
a oprimirem seus pares. Não é o caso de viver em devaneios, porque
a opção é clara, inequívoca e inexorável: a opção é Capital e
Democracia e seja lá o que for isso.
E seja lá o que for a
democracia, é com ela que queremos ampliar os direitos, estendê-los
aos animais, à natureza como um todo. Queremos acabar com a fome no
mundo. Queremos acabar com o machismo. Queremos condições de
trabalho para além da irrisória. Queremos acabar com todos os
preconceitos. Queremos saúde para todos em igual condições de
oferta. Queremos condições de vida digna na velhice. Queremos
educação para toda a gente. Queremos arte, queremos e queremos. Mas
isso não se pede. Nunca se pediu. Isso se exige. Mesmo sendo
exigência e não mendicância, nada estará garantido. Porque
depende e muito da politica. Dos partidos políticos. Para tanto
devemos estar dentro dos partidos. Não importa em qual partido.
Desde que se saiba o quê defende o partido. Se o partido é liberal,
ou neo liberal não devemos pedir a estes que não loteiem as terras
acerca dos mananciais, eles querem justamente estes sítios. Se o
partido verde não é verde, ou transformemo-lo em verde ou fundemos
o verde. Ou o vermelho. Ou o rosa. Não podemos ficar daqui ou dacolá
a desferir-lhes adjetivos como se estivéssemos na arquibancada e
nosso craque não quer correr, ou não pode, pois só sai de noitada.
Já disseram que a
democracia é ruim, mas é o melhor que temos. Seria leviano
concordar com isso, mas não faz sentido aprofundar nesse tema,
porque é o que temos, ainda que falaciosa, pois implica que
deleguemos poderes a outros ao votar. E ao delegar ficamos
desprovidos de poder. Não é bem assim. Podemos e devemos continuar
com os poderes individuais e fazer valer nossos desejos e quereres.
Tal possibilidade é maior, ou será maior, se estivermos dentro da
luta partidária, vigiando se nossos desejos são bem tratados,
ninados e mimados ou são e serão abandonados.
Não faz sentido ficar
a bater panelas, porque os políticos devem ser os nossos
representantes, mas com a nossa sombra sempre às suas vistas, do
contrário os teremos transformado em adversários, um tipo de
monarquia pelo voto, e um dia desses haveremos de cortar suas cabeças
em vez do salário.
Na mais insignificante
das câmaras municipais a cada dia se vota matéria que é do nosso
interesse. Até mesmo a escolha do nome de uma rua pode trazer
reflexos importantes no presente e no futuro de nossa cidade. Assim
desde matérias aparentemente banais até às que portarão profundas
consequências à nossa coditidianidade. São do nosso interesse, e
por ser do nosso interesse, e interesse neste momento é o que
importa, não os direitos, porque de nada valem os direitos se não
os fizermos valer, e os faremos valer por força do nosso interesse.
Com toda a história
da humanidade sabida, decorada e em punho devemos exigir, que se vote
em comunhão com nossos interesses. Perdemos muito em cada voto
velado, perdemos muito, talvez mais, numa votação de lei que
estabeleça as diretrizes de uso do solo, que com a corrupção.
Claro que devemos ser contra a corrupção, mas ela não deve
permanecer no centro do debate. Temos outras urgências. Enquanto a
corrupção estiver no centro do debate, ela esconderá toda uma
sorte de matérias mais importantes que afligirão os filhos de
nossos filhos; em Ribeirão Preto, por exemplo, temos a questão –
cessão por 20 anos, na casa do bilhão de reais - do lixo, do Plano
Diretor, da licitação do 'Transporte Público” e a questão da
água, só para citar alguns, e estes são de sumo interesse de
todos nós e estão na pauta. Como esteve na pauta o da Recuperação
do Centro da cidade com um derrame de dinheiro público – pouco é
certo - em propriedades particulares, que por mera coincidência
pertencem a uns poucos, que deixaram que seus imóveis se tornassem
ruínas para não gastarem um tostão furado do capital próprio.
Deviam, sim, reformar tais imóveis – questão de segurança
pública - que estão a ponto de cair sobre a cabeça dos inquilinos
e transeuntes.
Leia o estatuto de
partido do seu interesse, haverá partido que lhe dificultará tal
procedimento. Filie-se. Discuta. Dentro e fora do partido escolhido,
é mais fácil vigiar seu representante, fazendo-se presente no dia a
dia da própria vida. Não devo ficar esperando que alguém faça por
mim o que nem eu mesmo faço. Haja credulidade, inocência!
É certo que devemos e
podemos renovar até mesmo toda a Câmara municipal, mas que
diferença trará o bispo sardinha posto no lugar de um animador de
auditório.
Deveríamos ir mais a
Câmara Municipal do que vamos ao shopping e ao cinema, porque assim
daríamos sustança a nossos representantes e não seria necessário
castigá-los tanto.
Se nada disso der
certo, no mínimo iremos aprender o quão diferentes são os nossos
interesses e da dificuldade, que se trata, de transformá-los em
direitos, claro para todos.
Assinar:
Postagens (Atom)