Resulta triste ver jovens, ou não mais tão jovens, convertidos em
conservadores quase xiitas, mais liberais que o liberalismo, e em
suma: fundamentalistas rancorosos. De outro lado ver um
nonagenário, ou quase, como Vicente Golfeto se transformar num
intelectual quase progressista. O homem é de uma afabilidade cruel
e de uma lucidez proada, fundamentada num discurso de corte
clássico, ainda que atrelado às tradições e posições
conservadoras. Entretanto este senhor, culto à europeia, acaba por
ser vanguarda de ideias do futuro imediato, e o faz com comodidade
de quem já viu tudo e que não espera nada de nada e de ninguém,
e menos ainda dos jovens de hoje. Justo estes que têm – todas as
gerações a tiveram - a pesada responsabilidade de desenhar uma
sociedade melhor que a de hoje, mais justa e equitativa, pelo
menos; o que era para ser uma quimera, que a cada momento se
parece mais a uma necessidade.
É
certo que mesmo os que advogaram por uma economia 'mais humana,
mais solidária e capaz de contribuir ao desenvolvimento da
dignidade dos povos ou das pessoas', sabem que depois dos
referentes do homem como medida de todas as coisas – gregos – e
– de Deus nos tempos medievais – que nos miramos no deus
capital, desde o âmbito da revolução industrial até
desembarcarmos no milagre das novíssimas tecnologias, sempre
estão tentando responder às perguntas que questionam o modelo
moral atual.
Se o
dinheiro é o termômetro de todas as coisas, as reservas
essenciais da pessoa se pervertem – felicidade, responsabilidade,
justiça, equidade – até o ponto de se perder a perspectiva do
coletivo e do social, e por extrapolação portanto, do planeta em
que nos cabe viver.
Assim
sendo, a chave de retorno, para combater o sistema se baseia, toda
a vida, na liberdade. Sobretudo a liberdade de pensamento, que é o
território onde a identidade individual pode realizar-se e vir a
concretizar-se, primeiro modificando ou fazendo por isso, no seu
círculo restrito. Porém esta liberdade, aliás, sempre está
ligada a independência intelectual dos indivíduos, seja qual seja
o meio que o acolhe, seja qual seja o meio que ele escolhe acolher;
ela, a liberdade, resulta cada vez mais difícil frente aos planos
dos meios de comunicação ( meios de persuasão nos diz Vicente
Golfeto) do poder e do açambarcamento perene e continuado do medo
como conceito de utilidade. Não se é um homem com medo, se é um
cordeiro, que quando muito olha e ora pela sua sobrevivência, e,
terror dos terrores, o faz com a alma lavada – consciência limpa
– e pasme-se, quase que por instinto natural.
Entretanto
e sem nos darmos conta, o medo é só um cenário, uma conjuntura,
uma sombra que ameaça. Notem que cenário, conjuntura e sombra,
todos tenebrosos, são vocábulos diários de meios de comunicação.
Voltando, por que ameaçam?
Ameaçam porque escondem seu conteúdo e pronto e basta. Enquanto
as novas redes sociais e os 'novos espíritos' deveriam propor o
contrário; não espalhar o medo, mas botar luz nessa impostura
obscurantista. Desde Pitágoras sabemos que um raiozinho de luz
pode iluminar a escuridão