2 de mar. de 2012

O Medo.





Resulta triste ver jovens,  ou não mais tão jovens, convertidos em conservadores quase xiitas, mais liberais que o liberalismo, e em suma: fundamentalistas rancorosos. De outro lado ver um nonagenário, ou quase, como Vicente Golfeto se transformar num intelectual quase progressista. O homem é de uma afabilidade cruel e de uma lucidez proada, fundamentada num discurso de corte clássico, ainda que atrelado às tradições e posições conservadoras. Entretanto este senhor, culto à europeia, acaba por ser vanguarda de ideias do futuro imediato, e o faz com comodidade de quem já viu tudo e que não espera nada de nada e de ninguém, e menos ainda dos jovens de hoje. Justo estes que têm – todas as gerações a tiveram - a pesada responsabilidade de desenhar uma sociedade melhor que a de hoje, mais justa e equitativa, pelo menos; o que era para ser uma quimera, que a cada momento se parece mais a uma necessidade.
É certo que mesmo os que advogaram por uma economia 'mais humana, mais solidária e capaz de contribuir ao desenvolvimento da dignidade dos povos ou das pessoas', sabem que depois dos referentes do homem como medida de todas as coisas – gregos – e – de Deus nos tempos medievais – que nos miramos no deus capital, desde o âmbito da revolução industrial até desembarcarmos no milagre das novíssimas tecnologias, sempre estão tentando responder às perguntas que questionam o modelo moral atual.
Se o dinheiro é o termômetro de todas as coisas, as reservas essenciais da pessoa se pervertem – felicidade, responsabilidade, justiça, equidade – até o ponto de se perder a perspectiva do coletivo e do social, e por extrapolação portanto, do planeta em que nos cabe viver.
Assim sendo, a chave de retorno, para combater o sistema se baseia, toda a vida, na liberdade. Sobretudo a liberdade de pensamento, que é o território onde a identidade individual pode realizar-se e vir a concretizar-se, primeiro modificando ou fazendo por isso, no seu círculo restrito. Porém esta liberdade, aliás, sempre está ligada a independência intelectual dos indivíduos, seja qual seja o meio que o acolhe, seja qual seja o meio que ele escolhe acolher; ela, a liberdade, resulta cada vez mais difícil frente aos planos dos meios de comunicação ( meios de persuasão nos diz Vicente Golfeto) do poder e do açambarcamento perene e continuado do medo como conceito de utilidade. Não se é um homem com medo, se é um cordeiro, que quando muito olha e ora pela sua sobrevivência, e, terror dos terrores, o faz com a alma lavada – consciência limpa – e pasme-se, quase que por instinto natural.
Entretanto e sem nos darmos conta, o medo é só um cenário, uma conjuntura, uma sombra que ameaça. Notem que cenário, conjuntura e sombra, todos tenebrosos, são vocábulos diários de meios de comunicação. Voltando, por que ameaçam? Ameaçam porque escondem seu conteúdo e pronto e basta. Enquanto as novas redes sociais e os 'novos espíritos' deveriam propor o contrário; não espalhar o medo, mas botar luz nessa impostura obscurantista. Desde Pitágoras sabemos que um raiozinho de luz pode iluminar a escuridão


24 de fev. de 2012

Bumbum de Carnaval.



A pequena Isadora passou as últimas férias escolares, nos seus finais de tarde desse tórrido verão, sentada na calçada com suas amiguinhas. Seus shorts sempre acabavam por ficar avermelhados pelo pó da terra roxa. Ela sempre batia a poeira com a palma da mão, mas talvez a umidade dela, muito provavelmente devida ao constante manuseio do celular, mais emporcalhavam que espanavam. Corriam, saltavam e gritavam quanto passava uma saveiro com o seu te pego ai ai... Chegou o carnaval e Isadora desfilou fantasiada de libélula, alguns adereços, uma tiara azul, transparências e um fio dental, também ele invisível. A pele brilhante e dourada da exuberância de seus quatorze anos, o seu bumbum empinado, substituíam com folga os incipientes seios, talvez por isso, mais tapados que o resto do corpo, seduziram uma plateia de marmanjos que se emborrachavam na escadaria da praça e gritavam: gostosa, quando ela passava, e ela retribuía com um triste samba no pé, sobre o salto plataforma. Sua mãe, hoje dona de par de braços tão gordos, na parte posterior que se dobram sobre o cotovelo, como se fossem outras duas barriguinhas na inflexão de seus trinta e dois anos; ouvia os gritos que ecoavam de um passado não muito distante, como se fossem para ela, numa época em que suas nádegas destruíam famílias, e fizeram por aumentar o consumo de cachaça em todo o distrito.
Hoje Isadora quando caia a tarde, saiu com seu short mais apertado. Os pobres demoram a se desvencilhar da moda, sendo que a última moda é o shorts mais airado, leve e solto, como se tratasse um tecido de seda, em cores discretas, para contrapor a sensualidade quase erótica que pode causar o movimento do pano, as vezes colando suavemente nas partes mais íntimas, normalmente sem outra peça por baixo, esse é o propósito, ou abrindo fendas e gerando perspectivas e possibilidades de exploração visual, que o pano grosso e colado não permite. Como dizia, Isadora portava o mais apertado dos shorts, onde as duplas costuras do cós punham em risco sua virgindade. Isadora foi caminhar. Foi ali para os lados dos condomínios, onde dizem que chegará a João Fiúsa. O rapaz da saveiro passou lentamente e seu escudeiro, botando meio corpo para fora, disse coisas que não ouvi, e seguiram caminho, lentamente. Isadora olhava por cima dos ombros, num exercício impossível, dobrando a espinha, alçando o bumbum para cima, sim, creio que ela o via.     

21 de fev. de 2012

A formação da maioria. Corrupção e Poder, poder e corrupção.




PREMISSAS POSSÍVEIS:


O estúpido como qualquer criatura humana é parte integrante da sociedade.


Em geral exercemos influências entre os pares.


Há muitos fatores que determinam a capacidade de influenciar.


Entre estes fatores podemos afirmar: o genético (belo|conteúdo) e o poder (conteúdo).


O belo. Tudo sucumbe diante do belo. O belo é poder.


QUESTÕES LEVIANAS.


Existe poder sem o belo? Por vezes o belo nos deixa sem opções de escolha. O belo em muitos casos chega a sufocar outras possibilidades.



Existe o poder em si? Ninguém poderia mandar que calasse a boca, se não tivesse atado, corrompido.



Três palavras respeito ao poder.


A frase mais estúpida que já ouvi é: O PODER CORROMPE.



O poder não é forma o poder é conteúdo, portanto o poder não corrompe, posto que o poder não existe antes da corrupção.



Forma é Democracia, Monarquia, Ditadura etc então Poder não é necessidade, mas inerência. Note-se a presença da corrupção ou poder em todas as formas.



Não há poder do bem, pois todo poder é tutelar e em sã consciência não precisamos de tutor. Se precisar ou aceitar tutores é por estar degradado, corrompido como projeto libertário.
Que é liberdade? Inventar caminhos.
Escolher caminhos de uma bifurcação não é exercício de liberdade, é coação!
O poder sem o ser corrompido não existe.
Portanto o poder em sim é corrupção. Por se tratar da manifestação do ser degradado. Note que não existe outro ser que não o degradado. O ser não degradado não delega, não elege tutor.
O poder também um dia foi genético e divino (deus era o tutor único), nascia-se Rei, Príncipe etc. Era uma falácia.
Hoje o poder assumiu forma democrática, não deixou de ser uma falácia. A democracia é a ditadura da maioria.
A maioria é sempre a mesma desde tempos imemoriais.
Vivo a me perguntar como se forma essa maioria? Para responder tento pousar sobre o tema um olhar atento, calmo e concentrado. A maioria sempre se repete e é sempre a mesma. Para a assertiva parti a seguinte observação empírica: a maioria que preferiu Collor a Lula, preteriu Lula a FHC e Serra a Lula. E preferiu Dilma a Serra. Neste momento está sendo gerada uma maioria. Esta maioria não é outra que em seu momento afirmou Collor, FHC, Lula e Dilma.
Neste ponto tenho que lançar mão da minoria. A única maioria impossível é a minoria. A minoria é constituída basicamente de parcela da categoria dos seres inteligentes.
Inteligência nada tem a ver com livros que se leu, línguas que se fala, música que se ouve, questões de físico-química quântica que se resolva, anos de escola, universidade, embora tudo isso ajude.
Definição de inteligência.
É aquele que, humano nos seus fazeres, suas industrias, suas iniciativas, suas atividades gera lucro compartido.
Quando a minoria é da categoria dos crédulos. Há que se notar que estes normalmente estão acompanhados de malvados e estúpidos. Esta é uma maioria possível.
Sem perder a concentração, a atenção e a calma. Saliento que tanto a maioria quanto a minoria já estão formadas.
Não importando os seus representantes.








20 de fev. de 2012

Igreja Ateísta: A Liberdade.




 Sermão pela impossível dupla: Stéphanè Mallarmé & Søren Kierkegaard.



O ser humano atua, isso quer dizer, que não está programado pela natureza para executar determinadas funções, de maneira dada, senão que para as eleger ou optar por alguma ou várias delas. Mas sim poder lançar o dado e não ver excluída nem a possibilidade do acaso. Isso é o que podemos chamar liberdade. A liberdade é simplesmente o fato de não termos nossos objetivos biológicos, zoológicos determinados de uma maneira fixa como o resto dos animais. Por termos um amplo volume de possibilidades distintas pela frente e diante das quais exercemos o arbítrio e optamos ou elegemos. Pelo qual, o sentimento de vazio, de não ter obrigações, como o de poder dizer sim e não, o de ir para lá e para cá, entre tantos outras circunstância, fato que acaba por nos produzir angustia. E angustia é isso, o sentimento diante do vazio gerado pela liberdade e as escolhas, e que por fim e ao cabo, o vazio diante da liberdade corresponde também ao vazio da morte que pressentimos e que ai não temos escolha. De modo que o espirito treme e se angustia e, em termos últimos, busca a saída pela fé, mas a fé por sua vez é algo temível, porque a divindade não nos promete em princípio: razão, compreensão, utilidade, senãoa que, eleger entre o mundo da razão, da compreensão, da utilidade, do verossímil e o mundo da fé. Aqui se faz necessário abrir um parêntese para que não se compreenda a divindade e a fé, como as adaptações produzidas pelas infinitas igrejas, como se divindade e fé fossem compatíveis com esse modo de produção de vida, no qual vivemos, pois eleger a fé é romper com tudo que é racional, e é o mundo que vivemos, ainda que selvagem, bárbaro e aparentemente irracional. Irracional é o modelo de Deus, que nada menos, ordena que um pai suba ao monte com seu filho e que o sacrifique, execute a esse filho. Nessa história bíblica está o absurdo terrível da divindade, que apresenta em sua crueza o homem religioso, na qual o pai aterrorizado, mas cheio de fé – homem religioso - leva seu filho ao monte e está a ponto de matá-lo até que a mão de Deus o impeça. A fé está em executar, mas crer, confiar que Deus impedirá, seja o arbítrio está em Deus. O que a divindade quer dizer com essa história? Não outra coisa que: não valem nenhuns dos fundamentos razoáveis humanos, racionamentos ou arrazoados humanos, nem mesmo as razões éticas que fazem com que não se permita a um pai matar seu próprio filho. Para o homem ético, o que faz Abraão, é mera loucura. E ai temos que pensar que Abraão é o homem religioso. É crer ou não crer, ou entra ou não entra, e uma vez crente tudo é possível. Pois, para Deus tudo é possível, e não há nada necessário, nem sequer o passado, tudo pode ser mudado, apagado e o entrar no mundo de Deus é entrar no mundo das possibilidades, puras e abertas, ou então permanecer no mundo do necessário, do mecânico, seja, do natural. Esta é a opção que se apresenta, sim. Não tenho forças para me converter nessa profundeza da fé, de romper com o mundo e dizer: que fique, ai, o mundo com sua razão e me entrego ao irracional. O que se desprende é que não há mediações possíveis entre o homem religioso e o ético, somente riscos, sangue e decisão. Assim a religiosidade é a interpelação pessoal do indivíduo pelo uno absoluto, noutra palavra, o absoluto o interdita. Esta é uma relação de resignação e de confiança infinitas. É também um salto no abismo da incerteza ou do nada. Por outro lado o indivíduo capaz de assumir sua subjetividade de sofredor e negar-se a saltar no vazio, esse indivíduo também está sempre exposto ao nada, e esta exposição é a própria angustia, mas esta revela sua liberdade, sua responsabilidade e o risco ineludível de eleger-se a si mesmo a cada passo, ainda que seja o abismo e que não haverá a possibilidade de que a mão divina o mantenha suspenso.    

16 de fev. de 2012

Igreja Ateísta. 1° Mandamento: Amar a si mesmo sobretudo.



O ateísmo é uma prática religiosa. E tão só como prática negadora da existência de deus se torna religiosidade. Isso é fácil ver, mesmo nas assertivas mais populares como: Fulano vai ao bar religiosamente; em não se tratando do dono do boteco, Fulano é um barista, discípulo do mé, um alcoólatra, ainda que não convicto. Assim quem nega é afirmador da inexistência. É dificílimo enxergar a inexistência, talvez ainda mais que crer na existência. Crer é muito mais fácil, afinal todo mundo crê, e ninguém se sente um basbaque por isso, enfim não há impedimento, muito embora comece a existir um certo Status quo. Não me interessa tanto esse tema da classicização da crença. Coisa que não é mais que a etiquetarização. Algo como marcas, logos, mais ou menos chiques, famosos, caros etc. Mas, as há, e não é nada difícil vê-las. Isso não me interessa, posto que a sociedade brasileira é talvez a mais estratificada que há, assim que mesmo na zona sul, há a zona norte da zona sul e naquela a zona sul da zona norte da zona sul. Enfim, até os cães ajudam na dificílima tarefa de estratificar. A religiosidade também. Porque? Resposta: não há, absolutamente, crença sem igreja. Salvo um e outro, mas um e outro são traços de existência, quase significando a inexistência. Baseado nesses pressupostos e não em outros, mas também neles, caso venham a corroborar com a ideia é que considero fundada a IGREJA ATEÍSTA.
Os mandamentos do ateísmo são:

  1. Amar a si próprio sobretudo.
    Somente aquele que se ama, por conseguinte, ama a vida, a própria existência, deseja o melhor para si. Isso implica diretamente no seu entorno, material e espiritual. Note que espiritual nada tem a ver com o espirito apartado do corpo, no caso em questão o espiritual é tudo aquilo que não é material, muito embora advenha da vida material. Este ponto é de fundamental importância. É o calcanhar de Aquiles, é a diferença fundamental entre um ateu e um não ateu. O não ateu tem o espiritual apartado da vida material, da produção da vida material. Um exemplo do cotidiano é esse ser no trânsito, há outras circunstâncias mais jocosas, mas no trânsito pode-se perceber que a parte boa do espirito do ser, em havendo, está junto com a hóstia consagrada dentro do sacrário, trancada e a chave está na mão de deus representado. Assim que, depois de causar todo tipo de traquinagens, já ele próprio, inoculado do mesmo veneno, qual há borrifado pelas vias públicas, corre ao sacrário e das mãos do santíssimo, ou do alopata, ou da florista de Bach, num banho de ofurô de teca e então com o espírito em mãos, levará a cabo com tais tentativas, diga-se desesperadas, de alcançar a comunhão, ou seja, unir seu corpo e ao espírito.
    O ateu por seu turno mantem a unidade. É corpo e alma, carne espiritual. Isso quer dizer que há uma relação, se fosse possível abstrair matéria e espectro, material-espiritual-circunstancial – o que implica em geografia e por conseguinte, clima, demografia etc – dialética. Seja uma luta de afirmações\negações\conclusões entre o corpo\mente\espírito\razão\sentimento\desejo\ e o outro. E o meio. E os animais. E as rochas. E o lixo. E tudo quanto esteja fora efetivamente dele e enseje a que tudo que se aloje fora dele venha a lhe fazer o bem, por que ele se ama a si mesmo acima de tudo. Tudo isso só para dizer que não dá para avançar o sinal vermelho, por que é você, e depois exigir que o outro pare no amarelo. Note como a vida é matéria-espiritual. Para enriquecer o tema eu proponho que se leia esse pequeno excerto do livro O Príncipe de Nicolau Maquiável:


    “Todos os Estados, todas as dominações que exerceram ou exercem soberania sobre os homens, tem sido e são repúblicas ou principados. Os principados são, ou hereditários, quando uma mesma família reina ou reinou por grandes períodos de tempo, ou novos. Os novos, ou são de todo novos, como o foi Milão sob Francisco Sforza, ou são como membros agregados ao Estado hereditário do príncipe que os adquire, como é o reino de Nápoles para o rei de Espanha. Os domínios (dominados) assim adquiridos estão acostumados a viver sob um príncipe ou a ser livres; e se adquirem (liberdades) pelas próprias armas ou pelas alheias, por sorte ou por virtude.”

    No próximo encontro, se houver, tratarei ainda do primeiro mandamento. Buscarei um enfoque menos politico e mais humano. O que posso adiantar é que será basicamente fundado na seguinte frase: UN COUPE DE DÉS JAMAIS N'ABOLIRA LE HASARD.
    Como 'trabalho' ouçam a canção de Caetano Veloso: Oração ao Tempo.   

31 de jan. de 2012

Deus Morreu. Nietzsche. Nietzsche Morreu. Deus.


Bases para a Igreja do Humano.


A vontade de poder não pode ter fim, ou seja, não deve ser somente conservadora, necessita de novas conquistas. Adolf Hitler encarnou a vontade de poder nietzschiana no limite. Quando Adolf Hitler nasce politicamente, primeiro se faz fotografar com Elisabeth, irmã de Friedrich e o próprio busto do filosofo de A Vontade de Poder. O fueher surgia belicosamente, ao exigir o espaço vital: Eu sou Alemanha e conquanto Alemanha exijo o espaço vital para Alemanha, claro que nenhum espaço seria suficiente para tanta vontade de poder. Mas a grande sacada de Nietzsche é que a vontade de poder deve antes de mais nada querer-se a si mesma, é um ir além constante, isso está em Hegel, na dialética do Senhor e do Escravo. Como está em Sartre na intencionalidade da consciência, seja consciência fenomenológica atirada no mundo, que sempre vai além de si mesma. Se quiséssemos, a história da sacolinha é uma vitória da vontade de poder de quem não quer mais dar sacolinha, assim aos derrotados cabe comprá-la, o que é uma conquista do capital e não do meio ambientalismo, que não é consciência, pelo simples motivo que não se gera consciência, se esta não está já lançada, porque a vontade de poder é intencionalidade e está jogada no mundo.
A vida é vontade de poder, o mundo é vontade de poder. Sarkozy é vontade de poder, Merckel é vontade de poder, Dilma é vontade de poder, intencional, e ademais não deve somente conservar, deve crescer, aumentar, pois que senão se afunda e morre. Por esse simples fato, Serra não pode se retirar, pois seria ignominioso. Por isso também o Império Bélico-Comunicacional norte-americano deve seguir crescendo, e se sair do Oriente médio, em outra geografia buscará espaço vital.
Da mesma forma a vida tem porvir pela vontade de poder. Em A Gaia Ciência, Deus Morreu. E todos os valores supra sensíveis, conquanto valores de Deus, da imagem de Deus, nisso instância suprema e fundadora, acima do homem, porque Deus é fundamento do pensamento daquele que o aceita. Portanto quando Nietzsche diz que deus morreu, diz que seu pensamento não se baseia no fundamento divino, e seu pensamento seguirá dizendo da vida, que a vida é porvir, é potência, e a vida é verdade, e a verdade é aquilo que a vontade de poder conquista, e note, meu caro, que frase disse Friedrich Nietzsche:
Não há fatos, há só ou tão somente interpretações.
É descomunal. Onde está a verdade? E ai, o vai seguir Foucault: 'A verdade é uma conquista da vontade de poder'. Se você duvida disso, faça se já não faz, ligue o rádio, leia os jornais, o Datena e verá a quantidade de interpretações de cada fato no começo do dia, uma interpretação não é a verdade, mas aquela que se impor no final da jornada, se imporá pela vontade de poder. A verdade é filha do poder. Claro que eu também tenho minha verdade que colide, inclusive, com outras verdades, pequenas com certeza, brigam entre elas as verdades, mas a que seguirá, será aquela emitida pela maior fonte de poder, e que prevalecerá sobre as demais. Nietzsche é assim, belicoso, e concebe a verdade como luta, como enfrentamento, e como expressão poderosa de quem precisa continuar conquistando. É nisso que nasce o Nihilismo nietzschiano, que ao ver que as verdades supremas, divinas, os ideais platônicos, nihilizaram a vida, ele então nihiliza o próprio deus. E nihilizar é negar, e Nietzsche nega a Deus, e este pensamento reduz deus a cinzas. Porque o que põe como sua meta é a verdade da vida, a verdade do porvir, a verdade da conservação do poder, a verdade da conquista da vontade de poder e conquista da verdade pela vontade de conquistar da vontade de poder. Ou seja, quanto mais poderosos somos, mais donos da verdade vamos ser.
Hegel era um otimista, Marx era outro otimista, que achava que uma classe social viria a botar ordem na história, desalojando o poder dos homens, mas para Nietzsche não há ordem na história, a história é caos: verdades se colidindo: é a luta para impor meu poder ao poder do outro e a medida que meu poder se impõe, impõe a minha verdade e minha verdade é conquista da minha vontade de poder. Todo esse furação esse redemoinho é Dionisíaco. 'É o esplendor da embriaguez, onde cada membro se entrega a embriaguez' (Hegel). Não a racionalidade de Apolo, pois o pressuposto é que o 'eu' se perca, e ao se perder, perder a individualidade. Mas perder o 'eu' é acercar-se da loucura. E viver é, no fundo isso, perder o 'eu' e embriagado não saber nem sequer quem sou. É uma concepção sanguínea, barbárica, rapinica.
Um ser apolíneo não perde a razão, não perde o centro do 'eu'. Mas, o ego se perde na festa dionisíaca e entrega-se aos instintos.
'Todo desejo contido engendra a peste.' William Blake.
E Nietzsche disse: Todos os instintos que o homem mantem contido em si, por meio da cultura apolíneo burguesa, por meio da piedade, compaixão, e o ascetismo cristão, que censura, que lacera aos instintos mais autênticos, selvagens, brutais e descontrolados do homem: tudo isso é peste.
Há que se entregar desaforadamente aos instintos dionisíacos e perder-se e recuperar-se como besta, como ave de rapina, como guerreiro bárbaro e gozar, gozar por si e fazer gozar aos outros homens em meio a uma orgia interminável.
Para tudo aquilo que Hegel disse: o real é racional e o racional é real, nada disso, tem valor para Nietzsche, em vez disso:
Instinto, Dionisismo e Loucura.

29 de jan. de 2012

Segunda-feira.


Soa o despertador. Desperto, não é a palavra, mas enfim, desperto. A água fria na pia na cara, de pele ainda quente, fará sua parte, que depois do estalido do despertador será a segunda coisa desagradável do dia. Gosto da noite, da alta noite. Jamais iria dormir, se pudesse, só para curtir o silêncio dessas horas, aonde os celulares não chamam, não clamam, as saveiros não passeiam seus sons horripilantes e até os cães não ladram. Tudo ruídos artificiais, mesmo os cães, deslocados para sempre, como a cada manhã de domingo um testemunha de Jeová a bater a porta, para ouvir um rosnar deselegante que o deixa, haja masoquismo, feliz. O despertador, a água fria e o crente são bofetadas imerecidas. Mesmo em meio a esse protocolo diário de hostilidades, sempre, começo o dia em busca de um grão de felicidade, antes de entrar na engrenagem perfeita, e a primeira boa noticia são duas: uma entra pelo nariz, é o cheiro do café, outra é o barulho da pressão da cafeteira e logo a palatável, o café do jeito que gosto, sem bolachinhas de chocolate, sem biscoitinhos de polvilho com zest de limão, sem canela em rama, sem qualquer aditivo, sem ideologia, mascava ou orgânica: café e um tiquinho de açúcar, a gosto. Abandonado nessa letargia, me ocupo de um segundo café matizado agora com um cigarro, lá na rua, na calçada, olhando Marte ou Vênus. Ambos. Tudo é simples tentativa de aliviar o peso das horas subsequentes. Como se fosse ganhando força, que logo, logo a porei em prova.
Olho e volto a olhar. De relance tudo sei de memória, a gradação da luz, dos ruídos em crescente, mas cabe sembre perguntar qual será o próximo dessabor, uma pessoa, um e-mail, um telefonema, uma frase ou palavra que tem como objetivo, consciente ou não, como uma flecha, transpassar do mundo externo ao mais íntimo do meu ser, e cravar lá a semente de seu veneno, e de quebra deixar o seu cheiro amargo invadir o já irrespirável ar.
Apesar de tudo, dessa eterna repetição de tragédia em gotas, saio a procura de doçura e calor, de cumplicidade, de um riso que faça crível o amanhã.