O ateísmo é uma
prática religiosa. E tão só como prática negadora da existência
de deus se torna religiosidade. Isso é fácil ver, mesmo nas
assertivas mais populares como: Fulano vai ao bar religiosamente; em
não se tratando do dono do boteco, Fulano é um barista, discípulo
do mé, um alcoólatra, ainda que não convicto. Assim quem nega é
afirmador da inexistência. É dificílimo enxergar a inexistência,
talvez ainda mais que crer na existência. Crer é muito mais fácil,
afinal todo mundo crê, e ninguém se sente um basbaque por isso,
enfim não há impedimento, muito embora comece a existir um certo
Status quo. Não me interessa tanto esse tema da classicização da
crença. Coisa que não é mais que a etiquetarização. Algo como
marcas, logos, mais ou menos chiques, famosos, caros etc. Mas, as
há, e não é nada difícil vê-las. Isso não me interessa, posto
que a sociedade brasileira é talvez a mais estratificada que há,
assim que mesmo na zona sul, há a zona norte da zona sul e naquela a
zona sul da zona norte da zona sul. Enfim, até os cães ajudam na
dificílima tarefa de estratificar. A religiosidade também. Porque?
Resposta: não há, absolutamente, crença sem igreja. Salvo um e
outro, mas um e outro são traços de existência, quase significando
a inexistência. Baseado nesses pressupostos e não em outros, mas
também neles, caso venham a corroborar com a ideia é que considero
fundada a IGREJA ATEÍSTA.
Os mandamentos do
ateísmo são:
- Amar a si próprio sobretudo.Somente aquele que se ama, por conseguinte, ama a vida, a própria existência, deseja o melhor para si. Isso implica diretamente no seu entorno, material e espiritual. Note que espiritual nada tem a ver com o espirito apartado do corpo, no caso em questão o espiritual é tudo aquilo que não é material, muito embora advenha da vida material. Este ponto é de fundamental importância. É o calcanhar de Aquiles, é a diferença fundamental entre um ateu e um não ateu. O não ateu tem o espiritual apartado da vida material, da produção da vida material. Um exemplo do cotidiano é esse ser no trânsito, há outras circunstâncias mais jocosas, mas no trânsito pode-se perceber que a parte boa do espirito do ser, em havendo, está junto com a hóstia consagrada dentro do sacrário, trancada e a chave está na mão de deus representado. Assim que, depois de causar todo tipo de traquinagens, já ele próprio, inoculado do mesmo veneno, qual há borrifado pelas vias públicas, corre ao sacrário e das mãos do santíssimo, ou do alopata, ou da florista de Bach, num banho de ofurô de teca e então com o espírito em mãos, levará a cabo com tais tentativas, diga-se desesperadas, de alcançar a comunhão, ou seja, unir seu corpo e ao espírito.O ateu por seu turno mantem a unidade. É corpo e alma, carne espiritual. Isso quer dizer que há uma relação, se fosse possível abstrair matéria e espectro, material-espiritual-circunstancial – o que implica em geografia e por conseguinte, clima, demografia etc – dialética. Seja uma luta de afirmações\negações\conclusões entre o corpo\mente\espírito\razão\sentimento\desejo\ e o outro. E o meio. E os animais. E as rochas. E o lixo. E tudo quanto esteja fora efetivamente dele e enseje a que tudo que se aloje fora dele venha a lhe fazer o bem, por que ele se ama a si mesmo acima de tudo. Tudo isso só para dizer que não dá para avançar o sinal vermelho, por que é você, e depois exigir que o outro pare no amarelo. Note como a vida é matéria-espiritual. Para enriquecer o tema eu proponho que se leia esse pequeno excerto do livro O Príncipe de Nicolau Maquiável:
“Todos os Estados, todas as dominações que exerceram ou exercem soberania sobre os homens, tem sido e são repúblicas ou principados. Os principados são, ou hereditários, quando uma mesma família reina ou reinou por grandes períodos de tempo, ou novos. Os novos, ou são de todo novos, como o foi Milão sob Francisco Sforza, ou são como membros agregados ao Estado hereditário do príncipe que os adquire, como é o reino de Nápoles para o rei de Espanha. Os domínios (dominados) assim adquiridos estão acostumados a viver sob um príncipe ou a ser livres; e se adquirem (liberdades) pelas próprias armas ou pelas alheias, por sorte ou por virtude.”
No próximo encontro, se houver, tratarei ainda do primeiro mandamento. Buscarei um enfoque menos politico e mais humano. O que posso adiantar é que será basicamente fundado na seguinte frase: UN COUPE DE DÉS JAMAIS N'ABOLIRA LE HASARD.Como 'trabalho' ouçam a canção de Caetano Veloso: Oração ao Tempo.