9 de set. de 2011

Fausto. Mefisto. Marx. Goethe.





 
Fausto é quente como o próprio inferno. Dualidade céu e terra. Um pacto entre deus e o demônio a despeito do homem. A coisa é uma disputa ranheta - pelo humano, frágil Fausto - entre dois dos vértices do universo, que agem como se fossem as pontas das asas de um origami simétrico. Sem querer adiantar analogias, é dizer que, o universo é uma toalha tridimensional, ou um lençol, o livro é um nó nesse pano, aonde somente as pontas estão livres.

Mefistófeles desce a terra para conquistar Fausto. Fausto anda muito angustiado, pois apesar de todo seu conhecimento, não encontra sua razão de ser e de felicidade. Herói fragilizado acaba por aceitar o pacto com o diabo, assinando com o próprio sangue.

Fausto sai em viagem com o Pé-de-pato. Vão em busca do mundo dos prazeres. Que não o mesmo de os prazeres do mundo. Visita um boteco, o mundo da feitiçaria, onde recebe uma poção de rejuvenescimento, plástica esta que o habilita ao amor de Margarida. Mas em algum lugar, no espelho da história, da mitologia talvez, Fausto vê Helena, a mesma de Menelau. Pobre Menelau. Fausto se apaixona por Margarida. Perdidamente. Mefistófeles proporciona-lhe prazer carnal e espiritual. Cria-se então a tragédia de Margarida. Os mancomunados não pensaram na moça.


Que coisa é Fausto? Um novo homem?

Devo partir do seguinte: a arte é autônoma, mas o artista é homem, e como tal tem a autonomia restringida, e para Goethe a restrição é entender o homem.
Eu penso que Goethe se fez uma pergunta e a sua resposta é: Fausto, ao mesmo tempo resposta pergunta. Wood Allem sempre diz que um judeu responde com uma pergunta? É o que você quer saber?
Um dos aspectos dessa resposta é a forma. A forma poética. Dentro da tradição da poesia de Dante, Homero etc que é a linguagem. A linguagem como forma de liberdade, já que a razão tem grilhões, que a linguagem desconhece, tirante a gramática, a sintaxe. Mas suspeito que a poesia libera inclusive o autor. Chego a pensar que a poesia se dá as expensas do autor. De tal maneira que a cada leitura, fazemos novos entendimentos, dos mesmos significantes.
Fausto de Goethe é um homem que tem que tomar decisões dentro. e em conflitos dentro da zona conflituosa, ele mesmo. O homem poético é conflituoso, ao mesmo tempo que é sujeito desse conflito e sua solução. Sujeito de sua própria história e um desconhecido para si mesmo.
Entendo como solução, encontrada por Fausto, a ação em oposição à contemplação.
Nos dias de hoje o equivalente mefistofélico é a técnica. Eu, neste instante prático este pacto, homem diabo, que é homem\técnica, de qualquer forma um charlatanismo, noutras palavras: dominar o processo.

Para que dominar o processo, se não que para ir ao encontro de um desejo. O ponto central é o sentido da existência, se a existência fosse um lugar e nele instalássemos um desejo. Não importa a dificuldade de satisfação do desejo, satisfeito o desejo, o sentido da existência não se satisfaz. O homem deseja, mas deseja o quê?

Fausto o poema, lança uma flecha sem futuro, sem alvo, ou de alvo invisível, ou seja, há limites?
Há limites à satisfação dos desejos? Como o socialismo recepciona essa questão? As vezes penso que são perguntas demais, para uma resposta pergunta.
Se a satisfação do desejo é imposição de sofrimento ao outro, devo, obrigatoriamente, pensar em limites. Moral? Ou dos inseparáveis teológico teleológico medievos impregnados?

Volto a pergunta: Fausto está descontente com os limites. O pacto com o diabo lhe dá um plus, ultra, como um bônus, uma sobrevida; coisa por demais comum em videogames, onde dependente da ação; ganha-se: vida .
O pacto é uma maneira de escapar da teologia medieval, e assim ganhar autonomia em relação a deus.
Mas independente da ampliação do limite, ele está ai. Fausto percebe à sua volta que o infinito é impossibilidade na concretude dos limites, no amor, no poder, mas ele quer ir além e ai está a tragédia.
O real é inacessível e incontornável, é heideggeriano. Mas e o pacto? O pacto dá a Fausto uma autonomia em relação a Deus, que é uma forma de se atingir o real, mas atingir o real é chegar à morte, à tragédia. O raio de luz. Isso faz da coisa algo irracional, sendo que de todos os reinos, o animal racional é justamente aquele que assim age: irracionalmente,
E apesar de dono do destino, conhecedor dos processos e dominador das técnicas, é sentimental. Duas almas, uma com e outra sem limites. A cultura, o ancestral confronta o prazer.
Há uma certa busca por uma conciliação da dualidade vida e morte.

Em qualquer momento pode-se interpenetrar Mefisto de Klaus Mann, do filme de mesmo nome, de István Szabó, com Klaus Maria Brandauer, que vi no cine Cauin (Lafaiete) a long time ago, sem pipoca.

Dialogo constante entre Fausto e Mefistófeles. Duas almas, uma com limite, outra sem limite. Uma que se apaixona pelo simples pudoroso, ancestral.
E a outra pelo prazer, a traição, o sem limites etc.

O que existe não existe para ser contemplado, mas para ser transformado. É uma fonte qual bebeu Karl Marx. Teses sobre Feurbach. Ideologia Alemã.

Uma pala.

Os filósofos têm apenas interpretado o mundo de maneiras diferentes; a questão, porém, é transformá-lo. Porque, kann die Welt nicht bleiben wie sie ist. Por isso, deswegen muss sie verandert werden. Se, o mundo não pode ficar assim, para tanto deve ser transformado in einer Art und Weise, in die alle Menschen einbezogen sind. De maneira includente. Assim o filósofo não pode proibir mais que ninguém... deveria proibir menos, talvez, se também imaginar mais coisas que o ser acomodado. Dessa maneira Schließlich finalmente gibt há es nichts nada, was dem Philosophen, sowenig wie dem Bourgeois, verbietet, zur Veränderung der Welt mit beizutragen



Mas transformar para que?
Responde Goethe, Fausto e Marx:Transformar por transformar, o processo independente do resultado, o resultado como acidente. Como na História Infinita, não se passa da ficção à ação, ou do ficcional ao real sem que se perda o cerne.  É o paradoxo.

É tudo com o homem. Não há teleologia, nem natureza humana, nem natureza, nenhuma ordem.
Onde a única certeza é o vazio e a insegurança nos âmbitos internos e externos respectivamente.

Fausto é:
Tudo fazer para responder quem sou eu.
Tudo fazer pelo amor.
Tudo fazer para transformar sob o comando humano.
Tudo sem medo do caos.








7 de set. de 2011

O preconceito é um desmaio diante de insuportável dor. Thelma and Louise!!


Fui comunista quando não sabia o quê, do comunismo. Ou então, pensava que os comunistas odiavam Romanée Conti, Jamon de Bellota,  Alcachofra e Granapadano, ou deviam odiar, ou seja da mesma forma que todos hoje são anticomunistas. Está sublinhado nas artes, na retórica, na prática, no medo, e na própria noção intuitiva de prazer do indivíduo consumidor de espaguetes, sem vê-los platelmintos:  a classe operária tem o paraíso interditado.  Houve quem pensasse que os comunistas comiam crianças, mas ambos os grupos: os que espalharam a noticia e os que creram nela, eram aleijões humanos.
 Tinha por crença a coisa estoica tardia, que a virtude fosse bastante para a felicidade. Pura bobagem, pré-juízo, de quem nunca havia lido William Reich no escuro:
...a vida...
 a vida  não aceita ser expressa por frases tediosas, e só aceita ações transparentes... .
 O preconceito é como o desmaio diante de insuportável dor,  é o limite da resistência sensível do cognoscitivo, é o medo de avançar  e se fazer pura transparência, e se manter alheio aos ossos, da sólida ignorância calcificada, naquilo que não reflete na branca tela da escura sala, a pura carne.
Busquei nos axiomas os conceitos com respeito ao comunismo, e da mesma forma aconteceu quando refinei os entendimentos teológicos, tudo virou fumaça: axiomas e conceitos.
 Os conceitos também rarefazem a liberdade. A interditam.Talvez em menor grau que o preconceito.
 Mas, liberdade é não margem, como quer Guimarães Rosa: em A Terceira Margem, a coisa em si, o rio correndo, a narrativa, o destemor quando:
 Viver é perigoso.
 Dai que comecei a desfrutar, sem deus e sem mundo melhor.
Do que restou, o desgraçado, o  melhor dos mundos: o penitente purgatório, coisa infantil, adolescente, por isso embirrei, e do-contra,  comecei a velar pelo o inferno, não como concretude, por impossível, mas como possibilidade de inquietação, de ladino sofismar, que por sabedoria extraída da experiência, sei, a mera possibilidade de algo, um nenúfar infernal, se raro isótopo de curtíssima vida, sei que se me esbarrará. Não deixo de ter esperança. Não vou desmaiar. Treino. Oro. Não prego. Oro para não desfalecer, se alguma luz assombrar minha ignorância e para que ela se mantenha calada em obséquio de meu prazer.

Não pense que sou um idiota, à beira do abismo, desafiando a gravidade e os limites de minha carcaça. Não! Não mesmo! Meu interesse está antes da morte. Está na vida em vida. Depois dela nada me interessa. Nada a ver com o cristianismo punitivo de Thelma and Louise, que saltaram no vazio em busca de penitência, auto-julgamento sem precedentes, a  rememorar o próprio filho que se anunciou pelo anjo, anunciando-se em suores e sangue, no horto das oliveiras.   

6 de set. de 2011

Uma manhã não anunciada: A Queda. 11\9.



 De todas as estações: A Queda.

Vivo num país,livre, de estações bem definidas. De outro modo: vivo num país, falto, de estações bem definidas. São duas maneiras de ler nosso clima. Uma: indígena. Esta alienígena, forasteira, e trocando em miúdos a botar palavras chãs: imperialista. E a propósito de minha tão dileta estação, nela vi o muro, ao mesmo tempo em que caiam as folhas no Tiergarten, ruir. Não há porque não curtir os minutos vãos dos desvãos da glória, pouca. Tudo é pouco, curto, dentro dessa efêmera biologia. Mas sem ir longe, à porta de casa a sete copas e suas folhas forram a praça. Árvore que arvora sua própria estação, pois uma quadra acima a sete copas já está novinha em folha. Falta alegria nas folhas caídas, por isso admiro a queda, que me faz esbarrar à própria majestade, o devir. Com a queda só aprendi a cair, e nada mais que amar a queda e amar-me e ser amado nela. Afinal, vivi na queda. Caí. Um sem fim. Um parafuso espanado. Poço. Profundo. Assim é a folha da sete copas, dado momento se desprende e flutua, sem rumo, na queda só há sentido, a direção é desobrigada. Um esperneio, birrento, mas raso chão é acontecimento inexorável. Sem ser historiador, posso apropositar a entendedor de queda, que a queda do império ou a inflexão se deu naquele ponto, onde a abelha botou seu ferrão. Se o zangão morre em pleno voo, o império não morre antes da hora. Muito se agitará, por gigantismo, qualquer movimento dele é, e o será, perigoso. O movimento completo durará um monotônico mil e um compassos, allegro ma non troppo. Claro, dependerá muito das forças ascendentes - desconheço solidariedade entre países - e dentre estas forças está o Brasil. Mas o ocaso americano, ainda pode assemelhar-se ao solar. Desaparecido, brilha imenso vermelho alaranjado, para algo, nos iluminar.         

5 de set. de 2011

Das manhãs de setembro: 11.


  

Fui eu quem se fechou no muro
E se guardou lá fora
Fui eu quem num esforço
Se guardou na indiferença
Fui eu que numa tarde
Se fez tarde de tristezas
Fui eu que consegui
Ficar e ir embora...
E fui esquecida
Fui eu!
Fui eu que em noite fria
Se sentia bem
E na solidão
Sem ter ninguém
Fui eu!
Fui eu que em primavera
Só não viu as flores
E o sol
Nas Manhãs de Setembro... Vanusa.




Vivian sempre acordava mais cedo, para ficar zanzando por casa e em pelo pelo quintal. Vestia-se de Eva. Ligava o radio na radio que só tocava as mais tocadas. Naquela manhã, que ainda não era a manhã não esperada, não foi diferente. Eu teimava em dormir e metia o travesseiro nos ouvidos, sempre voltava a dormir. Naquela manhã mesma não foi diferente. Diferente foi o fato de Vivian vir me despertar, ela jamais me despertava, assim: Ô. Acorda Ô, ela me chamou pelo nome tão-só uma vez. E não foi naquela manhã que me despertou. Nua aos pés da cama, mordendo uma maçã, cheguei a me excitar com a visão do paraíso. Tive vontade de perguntar de que árvore era aquele pomo divino. Na verdade eu perguntei, mas ela não entendeu a piada. Então Vivian me disse: Ô, Mataram o Toninho do PT! Não! Vivian jamais diria dessa maneira. Ela disse foi: Ô, Mataram o Prefeito. Eu é que sabia que o prefeito era o Toninho do PT. E diante de minha incredulidade, me disse que estava passando na TV. Corri à TV. E lá estava a EPTV Campinas repercutindo o acontecido naquela madrugada, quando o Prefeito de Campinas fora alvejado por não se sabe, até os dias de hoje, por quem. Ocorre que o primeiro avião já havia encetado a uma das torres do WTC, e a repercussão da morte do prefeito foi interrompida para mostrar o que havia ocorrido em NY, e quando pensava que fosse um replay, era não, era outro avião varando a outra torre como uma frecha. Anos a ver cinema, anos a ver cenas de estética e técnica duvidosa. Ali estava a perfeição da realidade. A crueza da realidade, sem rococós, banal, a mais pura simplicidade, nem mais ou menos luzes. Concebi ali a crítica do que antes era só o meu tédio para aquele tipo de cinema, que sempre me tanto fez mimética kinéctica, cinética. Não houve tempo para tanta especulação, e as torres vieram abaixo. Especulavam supostos outros ataques, que de fato houveram, mas não pude vê-los ao vivo, eu tinha que levar Viviam, a “pegava” no Largo do Pará, mas com a tratativa de portá-la a sua casa na manhã seguinte, e aquela era a manhã seguinte.   

29 de ago. de 2011

José Dirceu, Maria dos Santos, Veja e Eu “ à nível de Veja”





Sábado o Luiz Fernando Juncal postou no Facebook uma postagem do Blog de Luis Nassif. Onde Nassif descreveu a metodologia empregada pela revista semanal, para capturar\bisbilhotar José Dirceu. Não sou legalista – questões intestinais – ou moralista – a hóstia sempre grudava no céu da boca, apesar de sempre haver confessado, o cristianismo não se dissolve com amilase, baba, perdigoto, cuspe.

Neste ponto você deve ouvir esta CANÇÃO.. Para continuar a ler. Ou ler enquanto faz a audição.



Na época do mensalão não me espantaram, os métodos dirceunianos de “cooptar” o congresso via papel moeda, pois a intenção subjacente, era minha conhecida, ainda que literariamente, ou da “praxis” certos grupelhos do movimento estudantil, a citar: MR 8.
As dificuldades de qualquer governo com esse arremedo de partidos sempre serão grandes, uma coisa é ter uma oposição, por exemplo o PSDB nesse caso, ou o PT oposição no governo FHC, por quaisquer posições minimamente programáticas, partidárias. Outra é não ter oposição fixa. Oposição nuvem. Fisiológicos que todos até então enfrentavam, sempre, de maneira não declarada, ou as claras. Só um mal dizer, ou outro, de FHC, por ainda andar lá pelas bandas da literatura pastoril.
Talvez o Zé Dirceu, no mundo real ( no mundo real a fome não é estatística, a estatística não é fome, e como diria Tim Maia, me de motivo). Zé Dirceu que andou por ele ( o mundo real) fazendo filhos, disfarçado, outro nome, sabia que ao montar no cavalo do poder, não se lhe oporiam posturas - minimamente - políticas, ideológicas, como as que Lenin se deparou nos salões da bailarina amante do Czar, e do balcão do mesmo palácio soltou discursos, como labaredas saídas da boca de um dragão, a queimarem a gordura daqueles cérebros estupefatos, principalmente dos seus Bolcheviques, mas também de Mencheviques.
José Dirceu sabia que ali, naquela Brasília nada de Mencheviques, mas sim os próprios heraclitianos porcos a se lavarem na lama e bois, e seus chacareiros, palhaços e outros ruminantes, radialistas, médicos com ternos de risquinhas (não é comum dos médicos esse hábito, não aos médicos médicos), médicos ex-prefeitos, ex-prefeitos guindados pelos votos de cidades de 80, 100, 200... mil habitantes com suas necessidades fisiológicas, ambulâncias, pontes, asfalto para estradas vicinais, segundas mulheres, segundos filhos, maridos das filhas, etc. Tudo a ser saciado a cada votação, guiada por “lideranças” partidárias ( imagino o asco sentido pelo Zé diante destas lideranças, a preencherem bilhete de mega sena na antessala).
O que se deu foi relação de uso, como aquela que se dá com um prostituta, ( eu pergunte
a Maria dos Anos, quanto custa pra se ver?), na qual não há a minima necessidade de que unhas postiças e esmaltadas te percorram o peito peludo a desenhar geografias dissimuladas, enquanto a fumaça do cigarro vaga como a mente e como a vagabunda.
A solução foi a compra por atacado. Uma espécie de Paredón. Um auditório SS: quem quer dinheiro? Hahai Lombardi. Um escarro de fumo mascado clinteastwoodiano nos escorpiões. Uma inversão de valores, ou melhor, inversão de papéis, a esquerda ideológica a comprar a moralidade cristã, rural vestida de cravo na lapela e os próprios confessores em seus confessionários. Gozo. Folga. Sim folguei com aqueles dias.
Claro que a coisa não iria longe, afinal o que se comprava era a parte mais podre do cachorro morto em decomposição, da aparente saudável sociedade brasileira dos cães de raça.
Dirceu bandido banido ora vestido de domador de vanidades caninas mumificadas. Eu havia lido Was tun? Oder, Lenin gesagt habe: was tun? Respondeu: Rumo a estação Finlândia: Lenin gesagt habe, e a questão do iceberg submerso, a parte ilegal do partido, era o Zé, praticando, funcionando, adaptando no calor da luta, dentro dela no seu decorrer. Eu gostava, cúmplice, batia também com minha cultura cinematográfica de “velho oeste”. O sempre Clint que partiu bandido agora volta e vira mocinho, para salvar a prostituta francesa que virou donzela, o barbeiro, o coveiro e o taberneiro.
É o mesmo Lenin espremido, dentro de um vagão, pelos que andavam ávidos por ouvi-lo. O próprio jogo, o filme, o livro e a camiseta eram de bandidos, e nisto não há nem havia bem que pudesse ser bom. Mas, eu gostava. Desfrutei. Zé Dirceu era o traficante que “fez fiado” a viciados empedernidos. Afinal que ideologia, que discurso, que retórica poderia tocar aquela gente, senão que a migalha da qual sempre foram escravos, a manutenção de uma chácara com piscina na triste e seca Palestina, a beira do rio Turvo e o jet sky arrastado pela camionete até o Guarujá. Tudo tem sua graça, até mesmo isso. Eu provei e prefiro uma canoa com branca vela velha, mas tem que ter espirito, algo de fantasia interior, para o tempo\trajeto e se não for inventivo, que é o meu caso, busca-se num O Velho e o Mar.
Mas o que fazer quando a aparência é o que importa? Então vem o Zé Dirceu, e diz para o cara de peixe: o ranho da vossa constipação se lhe escapa sobre o bigode!
Para Roberto Jefferson foi demasiado, isto somado a 4 milhões de reais a lhe esfregarem na fuça.
Toma verme.
Toma carniça.
Tome seu bosta.
Como, quem recebe como parte sólida do menosprezo, alem do dinheiro, um bolo de merengue de clara mal formada, na cara .
Mas um pouco de brio tinha o homem, um brio de verme, de lombriga, de taenia. Muitos da dita elite tem nas profundezas da mente o que é comum os flagelados terem no intestino.
Pois o que os vermes não aceitaram foi o vulto refletido da própria vulgaridade vermiforme, banalizada.
No fundo, no princípio também sonharam em ser políticos. Com seu lado romântico. Claro que sim. Mas isso se havia corroído pela fragilidade da composição de seus próprios princípios.
Anteriormente o cara apresentava um projeto. Passo a passo: do projeto a propina. Ou seja, projetava a propina , mediante obtenção, sanção de um projeto em favor da gentalha de sua terra natal. Duas cadeiras de rodas, um berçário, por exemplo, para atender as empregadas domésticas que lhe escutavam pelo rádio, e do cabo eleitoral que perdeu a perna na moenda, ou com a diabetes pelo excesso de cana. Afinal só bêbado e mamado.
Naquele momento não!
Ouviam: Não, nem precisa de projeto Excelência, tó, toma, pegue é seu o pacote, e a mala ofensiva e ostensiva à mesa, que o convocava ao plenário, à militância, uma militância de puta, sem direito a discurso, um rebanho ruminando, que por vezes errou o voto. O mesmo método que eles aplicavam ao seus eleitores.
Doravante eles eram os descalços, descamisados. No sentido que isso possa ter em relação a carência de qualquer minimo que calce-o de valor humano. Camisetas, bolas, chinelos etc.
Resumo da ópera: compra de voto.
E compra de voto é abusar da fragilidade do eleitor. O mundo sempre coloca a boca no mundo, ainda que da boca para fora.

26 de ago. de 2011

Muralha da China.


 De tudo há. Assim há uns que pertencem a deus. Outros que são fantasmas. Os mumificados. Domésticos. Porcos. Sereias. Fabulosos. Libertos. Todos os anteriores. Os que se agitam como loucos. Os pintados com pelo de camelo. Há os que não são os anteriores e nem os a seguir nomeados. Os que acabam de quebrar o rabo. Os que de longe parecem moscas. Lista livremente adaptada desde Borges, el outro, que cita enciclopédia chinesa. Os animais. A lista interdita qualquer possibilidade de pensar ausências. Cada elemento taxonômico é universo de semelhanças e fronteiriço de universos de diversidades. É geografia estranha, entrelaçada, sem todavia permitir intersecções. Onde, mesmo o ranho é um ciclope quando em cavernoso nariz. Esses seres que são todos, nós incluídos, nos vem facilitar o pensamento, acomodá-lo no seu puf ideológico ou simplesmente caótico, desatento, casual e provável, se fosse possível impedir o acaso num jogo de dados. Nada mais terrível que incomodar o acomodado. Com isso esta taxonomia geral e irrestrita assossega a todos. Para que cada um se acomode, no seu balanço. E não se meta em universos outros e desconhecidos, inacessíveis por interditos. Dai que o melhor a fazer é a cara patética do universo de iguais, ao qual devíamos nos manter restritos. Mas mesmo isso não nos atura, ainda quando esbarramos em verdadeiras muralhas de desconhecimento, teimosamente apomos as nossas, feitas de quadrados tijolos, da massapê endurecida pelo pisoteio de ignorâncias, para não ver assimetrias outras. Assim estanques entre amuradas, o discurso que deveria pairar por sobre o universo de singularidades, incerto como uma nuvem, para ver, sentir, aperceber o universo de diversidades dentro do universo das semelhanças, se torna interdito, rarefeito a criar guetos inacessíveis às diferenças, diversidades, e nem sequer chega-se a segunda lei da termodinâmica. Desse modo o esparramo caótico do céu estrelado, que é só uma das possibilidades, acaba por ser ferozmente vindicado como único e imutável, como a própria muralha da China.  

22 de ago. de 2011

Futebol.




Desde sempre gosto de futebol. De menino, aproveitava cada intervalo de outras atividades para meter ai no meio um bola. De pano. De meia. De plástico. De capotão. N° 3, N°4 e 5. No hora do recreio, na horta com os repolhos, quando o Vicente atirava o repolho e então, eu “fazia a ponte” e gritava enquanto caia com o repolho-bola: Mazuuuuuurkiewcs, grande porteiro cisplatino da copa de 70, aquele que Pelé, a coisa quântica: ora Pelé, ora bola. Diante de tamanho obstáculo, Mazurkiewcs, se separou em bola e Pelé, cada um sendo o mesmo, cindido “passou” cada qual por um lado do goalkeeper. Puro encantamento, poesia quântica EΨ = ḢΨ. Diferente de Maradona e Messi sendo que ambos os argentinos, aquele não conseguiu, este ainda não pode ser dual. Pelé\Bola. Pelé o Rei. Este também desconheceu o barroquismo praticado pelo Gaúcho, Neymar. Nomeio-os para estabelecer paralelo de retas, que contra a regra matemática se afastam, apesar de um certo paralelismo inicial. Note que não os boto na mesma frase. Não são dignos, nem sou louco de tal desrespeito. Nem sei tampouco se é gramaticamente possível ter um sujeito como Pelé junto a outros sujeitos de ordens inferiores. Enfim o sujeito não se matiza.
Jogava, ia ao estádio Alfredo Comacchio em Bonfim Paulista assistir o Bonfinense. Ia à Joia de Cimento Armado. Ao Santa Cruz fui ver o adeus Dele, Zé Mário e um Sócrates primevo. Ouvia os jogos do Bafo, do Corinthians e tudo em seguida os comentários das partidas. Na segunda-feira lia o jornal por mais comentários e análises.
Já adulto li as crônicas de Nélson Rodrigues sobre futebol.
Depois me desinteressou pouco a pouco qualquer comentário ou narração a respeito. Creio, que o primeiro passo foi justo terminar a Copa de 1982, em Espanha e então completamente antes da copa qual Zagallo foi guindado a treinador pela enésima oportunidade. A gota d´água foi vê-lo no Jô Onze e meia, dizer que desconhecia a partida beneficente pró Garrincha, em notória trajetória de choque com o Absurdo: Garrincha.
A crônica esportiva começara a ganhar toques de Contigo, bastidores, batom e blusch. Um que outro jornalista esportivo se ocupou das mazelas do futebol, tentando aparentemente dar-lhes caráter político, mas cujo viés, até hoje, não ultrapassa o moralismo de vigário pedófilo. Sendo que ainda que a este moralismo; estes tipos que dele se afanam e afamam, nas três formas de pretérito e presente do indicativo, sequer o tangenciaram apesar de tsunâmica azafama.
Isso que vou dizer merece nova postagem: A queda do futebol é concomitante à baixa qualidade da crônica esportiva.