Do trabalho ao terminal rodoviário, há dois – razoáveis – trajetos que posso percorrer. Um pela Jeronimo Gonçalves, outro pelo coração da Baixada. A reforma da Jeronimo já me cansou. Grande demais para ser pequena, e pequena demais para ser grandiosa, problemas de dimensões na estética do belo, além de que com seu aspecto asseado, onde está finalizada, faz saltar ao olhos a desgraçada vizinhança. Assim que desgraça por desgraça vou pela José Bonifácio. Ontem quando cheguei à esquina do mercadão, meio-dia e meia, uma moça se me ofereceu eu perguntei quanto, ela disse quinze. A loja do lado tocava uma música com todos os imbecis decibéis. Eu disse dez, ela disse não posso! Moço! Eu tinha dez. Fiquei ouriçado. Hoje eu retirei mais dinheiro antes de fazer o mesmo trajeto. Tudo ajudado por estar lendo Lolita, confesso que a coisa reacendeu, melhor dizer, nunca apagou. Acendeu. E fui pensando na morena, na verdade pensei nela antes de dormir, ao despertar. Enquanto trabalhava, pensava nela. Pensei no calor de sua boca, no cetro do meu império a escovar sua dentição branca. Antes mesmo de chegar à esquina a divisei. Havia muita gente pela calçada. Minhas pernas davam o sinal que tanto gosto, é o movimento de partida que termina naquilo que todo mundo sabe, mas não dá para narrar, por parecer de mal gosto, pelo menos as todas vezes que li, mas como contar um instante justo ele em momento de inenarrável inconsciência, não sei sequer que se passa, nem sei se é possível interromper, uma vez impetuosamente adentrado nesse estardalhaço. Meu único temor é, que ela peça mais, nessas horas não sei regatear, um bicho, pago o que tenho. Como um cachorro que não consegue esconder sua carência e seu desejo me aproximei, e ouvi de seus lábios grossos com delicioso sotaque: Um Chip Tim! Fui tomado por uma desilusão tão grande, que desorientado entrei no mercadão e quando dei por mim estava no quarto pastel.
4 de jul. de 2011
3 de jul. de 2011
INVERNO DE FOLHINHA.
Começou o inverno na folhinha. Alguma vez senti o inverno de verdad. É tempo lento, solitário e gostoso como um cappuccino ou pouco mais que isso, a neve pousando na soleira, um livro no Café, um café com conhaque, uma adega empoeirada, uma sopa de frutos do mar e umas nádegas quentes, depois do sexo quase religioso e do cigarro. Já os invernos de almanaque me são incalculáveis sem o apoio do próprio calendário. Hoje li no A Cidade a crueldade dos invernos, na crônica de vários escritores, senão todos, tanto que me espantou. Todos andavam nostálgicos: Vicente com Wenceslau, Júlio com o General, Marino – Vovô - com o “nono” Juliano, Ely com um tempo que nunca existiu – depois do renascimento –, o Prof. Sérgio e a querência de fazer da mass education educação pré-industrial, sinto que até o Hamilton - no tempo da mutuca - sentia o peso desse inverno, hollywoodiano de dias voando duma folhinha que se esmaece em preto e branco.
1 de jul. de 2011
FANTASMAS.
Como dizia Alceu Valença: eu desconfio de tudo, pior que Nixon em meio Watergate. Mas entendo que em politica não existe verdade, sim maioria: mais ou menos de um total de 100, 51% verdade, onde 49% não verdade, resumo da opera: Meia-verdade. A meia-verdade é fundamentalmente politica e esta em essência: meia-verdade. Sendo os assessores de vereadores cargos políticos, por antonomásia: meio-cargos, meio-assessores, meio-homens e meio-fantasmas. Até ai tudo bem, está na lógica. Agora, totalmente fantasmas! Dá um clima de Hitchcock, de morcegos em revoadas. Imagino o vereador - ele também um fantasma - indicado por cameral fantasmagoria, à fantasma presidente da mesa. Pois esse presidente fantasma, entra na sala do assessor fantasma, e vê o paletó. Se estiver no espaldar da cadeira, muito que bem, ponto. É do jogo. Mas, e, se estiver vestindo o assessor, Uuuu! que meda!
30 de jun. de 2011
Caçador de obras fantasmas.
Administrar – no sentido pequeno, a la português de padaria - é difícil. Mais difícil ainda será – claro levando a sério - se se fala em missão, visão, estratégia e gestão de pessoas. Não basta o resumo de Peter Drucker, às vezes não “cai” na prova. Mas, ora vamos, vestir o velho estilo com estas miçangas sob luz dicroica, convenho, é só brilho. Há problemas que parecem, por crônico, insolúveis, com tendencia a piorar. Exemplo é o transporte coletivo. Peter Drucker – diga-se já ultrapassado - aproximou os vários setores e hierarquias da empresa, acabando com os vazios de mando e distribuição de poderes e responsabilidades nessa geografia. Por aqui, aponta-se justo o contrário, a criação de vazios, só por um acaso, aumentando o custo do transporte, não só coletivo, mas a logística urbana. Ficam os terrenos baldios, criando “de um tudo” mesmo pequenos bosques. Mas, se se entende que lutar com unhas e dentes para perpetuar um evento é o máximo. Sabe-me mui amaro, ágrio show.
Falar mais é coisa para Ghostbusters. Ou Ghostobrasbusters.
28 de jun. de 2011
Fumo: Serra e FHC.
Unidos e separados pelo Fumo, Serra e FHC vêm-no, um como inimigo dos homens, portanto aliado politico, via saúde; este o toma por aliado pensando no voto do maconheiro pasmado das décadas de 80-90 do século passado, ao que parece ter se tornado Classe C, e se esquece que maconheiro é mais traíra que a própria e ele próprio, fuma mas não traga. Serra não entende que tudo que passou, não volta; FHC, que é próprio do fumo ser a não solidez de uma fogueira que se apaga.
26 de jun. de 2011
ODE AO FUMO.
ODE AO FUMO.
Oh, Fumo redentor, que alegrais os meus pecados.
Fumo do meu passado.
Fumo da primeira luz, filho de toda a honra e glória, aquele Fumo que do pé de um havano e lentamente alastrastes os seus fios dançantes de Fumo interminável, subistes ao céu da câmara que eu habitava, habitação, quarto amigo, restaurante, bar ou onde outras almas perdidas repousavam nas altas horas, nos baixos círculos.
Oh, Fumo de claridade, Fumo de tempo elementar, quando entre os meus dedos consumíeis e queimáveis os minutos que faltavam para acender a fogueira eterna, onde crepita o canto dos deuses inalcançados, que se escondem para não me perdoar.
Fumo do meu passado. Fumo do meu primeiro sopro cinzento e espesso. Fumo que me deu sentido e gosto ao sabor de todas as coisas. Fumo que me livrastes do mal, do bem e da insípida alface.
Oh Fumo do meu presente, que é o Fumo do Fumo dos meus passados e dos passados de todos aqueles Fumos que me acompanharam na glória de todas as solidões de fumantes que se buscam e se encontram e se dissipam pela leveza da essência.
Oh, Fumo de hoje que velais por mim, que chegais lá onde minha profunda ignorância, não chega. Vades e percorrais os caminhos, os abismos por mim. Oh, Fumo do instante que carregais o pecado do mundo, sinuoso e quente, na boca aberta dos homens boquiabertos.
Fumo fugaz e eterno Fumo.
Fumo sincero.
Fumo que na tua morte e ressurreição vivestes e morrestes para me salvar. Fumo meu de cada dia, te confesso, oh Fumo todo-poderoso, que pequei por minha culpa: eu traguei.
Tenhais piedade. Fumo que ascendeis ao além de todos os olhos, nos altares das coberturas conjugadas, do milagre dos anéis de depois de amanhã, que escondeis entre os dedos que apontam o caminho, que asfalteis os caminhos entre palavras pronunciadas.
Fumo, Verbo que em ti cada manhã fostes e sois o primeiro, pura revelação, mistério e santidade.
Oh Fumo do meu futuro, te exilaram, estais proscrito, te abjuraram, e agora clamais no deserto, Vós, Fumo do amanhã e de toda esperança e fé. Fumo que subis o Calvário, crucificado pelos pregos dos ignorantes, tenhais piedade.
Agora que és fumaça, recordação longínqua, sacrifício meu, apiedai-vos de mim. Oh Fumo onipresente, guardai a tua ira, o gosto da minha alma pecadora, e esperai-me no teu paraíso infernal; enquanto espreito com minha língua, isenta de sua impureza, a triste paisagem granjeira; a hora de botar o ovo, de bicar a ração, de virar pasto. Eu, seu consorte e comparsa, a cometer o pecado, saneado, desnatado, esterilizado, pasteurizado, bombado e lubrificado e infalível, como se falhar não fizesse parte da própria infâmia.
Picho e trepo.
Picho e trepo, era uma frase pichada, que via a cada dia no muro em frente de casa. Frase curta, memorável e contundente. Digna de ser esculpida em pedra para epitáfio. Alguém, não sei o motivo, apagou-a, depois de anos, ali, e sua incontestável presença no bairro, este falto de genialidades, nem inúteis candidatos a apagaram. Pode ter sido um rompante súbito de civismo, assaltado pela consciência desvelada.
Mas ainda assim com o passar dos anos, lá está ela, aqui está, no cabeçalho dessa blogada, e em tantas outras linhas, nestas linhas, entrelinhas, recordando-me a paisagem urbana que habito, e creio que me pertence, sentimentalmente.
Mas ainda assim com o passar dos anos, lá está ela, aqui está, no cabeçalho dessa blogada, e em tantas outras linhas, nestas linhas, entrelinhas, recordando-me a paisagem urbana que habito, e creio que me pertence, sentimentalmente.
Não era bem um grafite, tampouco, uma ególatra declaração de intenções, mas sim, uma simples constatação sem assinatura com os verbos na primeira pessoa e a conjunção que a ninguém exclui. Capaz de unir realidades e botá-las à mesma altura e criar, de certo modo, uma
realidade nova. Pixar e trepar , este, pode certamente, ter uma importância capital na vida de uma pessoa, tanta e bastante para ficar imortalizada em uma parede pelo recurso da primeira, a pichação, e não sei se praticada concomitantemente, nem que fosse de pensamento.
realidade nova. Pixar e trepar , este, pode certamente, ter uma importância capital na vida de uma pessoa, tanta e bastante para ficar imortalizada em uma parede pelo recurso da primeira, a pichação, e não sei se praticada concomitantemente, nem que fosse de pensamento.
Picho e trepo. A pintura como uma necessidade de expressar o inefável que nos povoa, e o sexo como cenário alternativo a esta, ou vice-versa, em perfeita harmonia.
Pichar e trepar, que alegria. Excelsa realidade, não se espante, plausível, veemente. Mais que um epitáfio, uma constituição.
Sem duvida, aquela frase naquela parede suja, à parte sua gloriosa semântica, significava um motivo de satisfação à vista, uma recordação de alguém que se move e que pode fazer que os outros se movam, intimamente.
A maioria dos muros do mundo caem, se espatifam, com o peso das assinaturas e garranchos de toda sorte de energúmenos, com vontade de aparecer a qualquer preço, pela via fácil da imbecilidade. Picho e trepo. Este não, por filiação apaixonada, paixão anônima, a verdadeira inteligencia emocional, inédita, nos muros de uma cidade erotizada por cartazes e propagandas, por isso triste. Espero que o “artista”, onde estiver, siga praticando.
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