17 de jun. de 2011

Ecce puer. Eis que: O menino-criança.


Ecce Puer.
                                                           Februay 1932, james joyce.


Of the dark past
A child is born;
With joy and grief
My heart is torn. \



Calm in his cradle
The living lies.
May love and mercy
Unclose his eyes! 


Young life is breathed
On the glass;
The world that was not
Comes to pass.

A child is sleeping:
An old man gone.
O, father forsaken ,
Forgive your son! 


 Eis que: o menino-criança.

 Do passado sombrio\ nasce uma criança\ com alegria e tristeza \ meu coração dilacerado. Nasce uma criança do passado escuro,  alegre ou triste meu coração partido.
Calma no seu berço as vivas mentiras. Pode por amor e misericórdia fechar os seus olhos. Calma no seu berço a viva mentira. Pelo amor de deus fechem os seus olhos.
 A jovem vida respirou no vidro; o mundo que não é e não é de passagem, torna a acontecer.



A criança está dormindo, dorme: o velho se foi. Oh, pai desconsolado abandonado, perdoa seu filho.
Escrito em 1932, este poema foi incluido em Collected Poems Joyce de 1936. Ecce Puer significa "Eis que o Menino-criança", Olha o menino, eis a criança.  "Ecce Puer" foi escrito logo depois que o pai de Joyce morreu e seu neto Stephen nasceu, e que contém mesma honestidade subterrânea de seus primeiros poemas.  Mostra um homem em transição; de  filho para o avô e dividido entre "alegria e tristeza," para finalmente perceber a necessidade de reconciliar-se. O perdão.


16 de jun. de 2011

The Man Who Would Be King;

Logo depois de assistir o filme de John Houston de 1975 (Sean Connery e Michel Caine) fui tentando adormecer e acabei por superar todo tipo de perigos impensáveis, cheguei a uma chapada imensa, da mais árida moral, ao cruzá-la a caatingueira fez chagas do meu corpo e suas cicatrizes se sobrepõem. Adiante encontrei o precipício ético. Essa barreira física interposta depois de todas as penúrias passadas em busca de um sonho; o homem legendário; o mais para lá do resigno de fantasma, da nostalgia do pior já passou e do despiste. Ali desolado acendi minha fogueira. Armei a rede e bebi as últimas gotas do meu vinho de esperança casado com o ultimo espeto ideológico.
À beira do fogo recordei o passado, os casos mais sonantes, divertidos, momentos amorosos, possessivo no limite da rosa a roseira e o espinho, amor profundamente brilhante e espalhafatoso, em meio estéril; guerra inconsequente de sobrevivência.
Essa confissão me fez rir. Ri só, e o riso se transformou em gargalhada e ao fim me rasgava de rir, e tal ruido fez eco nas paredes do cânion, tudo estremecia e desbarrancava; o vazio ético se desfazia amontoando-se sobre os terrões da dupla face da moral conveniente.
Por fim o silêncio. O retorno dele me deixou boquiaberto, aquele trovão construíra uma ponte natural com destroços ético-morais e me permitia avançar.
Agora avanço com a alegria de haver vivido minha epopeia de resgate, como um navio emproado que tem diante de si as rochas de arrebentação e as encaro como fatalidade própria, com impeto e vivacidade de quem sabe do destino irreparável.
Egoísta, odioso e inexplicável; solitário sempre cercado de gentes, que de alguma maneira tiro proveito – gentes que aparentam procurar e espalhar a nobreza, quando na intimidade celebram a mesquinheza).
Entretanto, minha alma tempestuosa, o barulho e a fúria de meus atos querem a paz, mas sei que jamais terei descanso, inda mais sob o vulcão do meu próprio fogo e lava. Mas o mais importante é que sou feliz pelo mundo e guardo o ódio de viver para a minha própria autodestruição e não a dos outros, portanto intenso e agradecido.
Este é o meu lado escuro, obscuro, fosco.
Tê-lo?
Todos o temos; mas o mais importante é que devemos conhecer esse nosso lado; principalmente aqueles que fazendo da sua castidade um princípio moral, justificam e exercem a vilania, avareza sórdida de cada dia.               

14 de jun. de 2011

Sedução.

Até que a ideia de conduzir parte da noite, abraçou o travesseiro e concluiu serenamente e orgulhou-se de despertar com o aroma de maresia, sim sabia bem. Por um momento ouviu chuva, concluía sim docilmente o agradável que é estar abrigado da chuva numa casa no sopé da montanha tendo ao pé a marina, pensou em vinho em taça bojuda, velas, lençóis onde se enrolou, mas não era chuva era o chuveiro, o sol queimando a pele, as ostras, as lulas, os camarões e amar no mar. Logo depois vagou na vigília antes de ser guindado pelo olor de café caipira que ocupava toda a casa. Ele não sabia que a casa estava em meio a neblina, que o sol tardaria, talvez nem viesse, quiçá escutava através das paredes de madeira do chalé o tilintar de xícara, pires e colherinha. Não procurou com o braço a mulher com quem dormira, já não tinha esse hábito cinematográfico de sentir a falta, ou nunca o teve, mas sabia que estava só na cama, e voltará a dormir, porventura ainda dormia. Ela parada ao pé da cama, um segundo, um instante, uma frase sem sentido ou incompleta passava diante de seus olhos um homem que ela pouco conhecia era uma frase com homem ser o que não sei companheiro fiel e invertia-se aleatoriamente fiel homem ser que não sei companheiro. É de fato uma pequena loucura. Conhecera o cara no café do teatro no intervalo da primeira apresentação da orquestra da faculdade da cidade. E ele a cativara dizendo que entendia as dificuldades da orquestra em sua primeira apresentação, pois era sua primeira audição e sentia que como ouvinte tinha dificuldades, pois uma coisa era ouvir dizer ou dizer de Bach outra era estar ali diante da orquestra esta diante do maestro diante do atril nesse ciclo que não se fecha. O que a fez pela primeira vez dizer que não havia gostado. E ele disse que não sabia se não gostara ou não entendera. E que já não tinham tanto tempo assim para ficar em dúvida e que nas mesas do Pinguim a coisa pudesse ganhar um pouco mais de clareza. Depois a menina o estranhara. Foi grossa! Mas ele deu-lhe um chá de desprezo, que me amedrontou um pouco, pois não queria sentir-me desprezada daquela maneira. Ai ele disse a ela que não sabia se ia gostar ou não dela, mas que isso poderia ser importante desde que ele estivesse comigo, e se ela estaria disposta a ceder um pouco, pois ele sim que estava. Ela disse que nem cheira ou fede, mas cheirava. Mas que num momento à noite durante a viagem acontecera um estranhamento, e não se falaram mais. Ele já havia se sentado na cama e ela que viera para dizer-lhe baixinho, se possível fosse , sem acordá-lo que tinha uns problemas de taxas e falar, pagar o zelador e que era massante e tardaria umas duas horas e que ele poderia continuar dormindo e que a Paola também estava dormindo, mas ele disse que se ela esperasse um nada ele já estaria pronto para acompanhá-la e que definitivamente, mal acordado, não queria permanecer na casa com a menina, não sem você. Que besteira é essa agora, não poderia deixar a Paola só a dormir, que custava, que nada custava, acontece.. acontece... você leu ou viu o filme aquele baseado no Nelson Rodrigues, que havia uma tensão entre eles e que temia estar só com ela. Nós viemos relaxar, justamente, então! O que você teme? Não sei o que temo, temo. Teme o que meu deus! Que ela te seduza? Também e o desenrolar. Olha não posso deixá-la aqui só por duas ou três horas. Então leve-a, eu fico só, preparo o almoço, sei lá. Olha vou o mais rápido de posso. Pago a dona Nair e volto, o restante resolvo pelo banco. O carro do Resgate e Policiais foi o que ela viu no seu retorno. Muitos policiais. 

13 de jun. de 2011

Fernando Pessoa.




Aplazamiento.
                                                                  14-04-1928
Después de mañana, sí, sólo después de mañana...
Llevaré el día de mañana pensando en después de mañana,
Y sí será posible; pero hoy no...
No, hoy nada; hoy no puedo.
La persistencia confusa de mi subjetividad objetiva,
El sueño de mi vida real, intercalado,
El cansancio anticipado e infinito,
Un cansancio de mundos para tomar un tranvía...
Esta especie de alma...
Sólo después de mañana...
Hoy quiero prepararme,
Quiero prepararme para pensar mañana en el día siguiente...
Es él que es decisivo.
Tengo ya el plano trazado; pero no, hoy no dibujo planos...
Mañana es el día de los planos.
Mañana me sentaré en el escritorio para conquistar el mundo;
Pero sólo conquistaré el mundo después de mañana...
Tengo ganas de llorar,
De repente tengo ganas de llorar mucho, desde dentro...
No, no quieran saber nada más, es secreto, no lo digo.
Sólo después de mañana...
Cuando era niño, el circo del domingo me divertía por toda la
semana.
Hoy sólo me divierte el circo del domingo de toda la semana de mi
infancia...
Después de mañana seré otro,
Mi vida ha de triunfar,
Todas mis cualidades reales de inteligente, leído y práctico
Serán convocadas por un bando...
Pero por un bando de mañana...
Hoy quiero dormir, redactaré mañana...
Por hoy, ¿cuál es el espectáculo que me repetiría la infancia?
Para comprar incluso los boletos de mañana,
Pues para pasado mañana estará bien el espectáculo...
Antes, no...
Pasado mañana tendré la pose pública que mañana estudiaré.
Pasado mañana seré finalmente el que hoy no puedo nunca ser.
Sólo después de mañana...
Tengo sueño como el frío de un perro vagabundo.
Tengo mucho sueño.
Mañana te diré las palabras, o pasado mañana...
Sí, tal vez sólo después de pasado mañana...

El porvenir...
Sí, el porvenir...
























Lisbon revisted 1923.


NÃO: NÃO quero nada.
Já disse que não quero nada.

Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.

Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!
Tirem-me daqui a metafísica!
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem
conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) —
Das ciências, das artes, da civilização moderna!


Que mal fiz eu aos deuses todos?


Se têm a verdade, guardem-a!
Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.


Com todo o direito a sê-lo, ouviram?

Não me macem, por amor de Deus!
Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?
Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja da companhia!

Ó céu azul — o mesmo da minha infância —
Eterna verdade vazia e perfeita!
Ó macio Tejo ancestral e mudo,
Pequena verdade onde o céu se reflete!
Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.

Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo...
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!





TABAQUERIA.

NO SOY nada.
Nunca seré nada.
No puedo querer ser nada.
A parte de eso, tengo en mí todos los sueños del mundo.
Ventanas de mi cuarto,
De mi cuarto de uno de los millones en el mundo que nadie sabe
quién es
(Y si supiesen, ¿qué sabrían?),
Dais al misterio de una calle cruzada constantemente por gente,
A una calle inaccesible a todos los pensamientos,
Real, imposiblemente real, cierta, desconocidamente cierta,
Con el misterio de las cosas bajo las piedras y los seres,
Con la muerte que mancha de humedad las paredes y hace
blancos los cabellos de los hombres,
Con el Destino que conduce la carroza de todo por el camino de
nada.
Estoy hoy vencido, como si supiese la verdad.
Estoy hoy lúcido, como si estuviese por morir,
Y no tuviese más hermandad con las cosas
Que la de una despedida, tornándose esta casa a este lado de la
calle
La hilera de vagones de un tren, y el silbido de una partida
Dentro de mi cabeza,
Y una sacudida de mis nervios y un chirriar de huesos al arrancar.
Estoy hoy perplejo, como quien pensó y halló y olvidó.
Estoy hoy dividido entre la lealtad que debo
A la Tabaquería del otro lado de la calle, como cosa real por fuera,
Y a la sensación de que todo es sueño, como cosa real por dentro.

Fallé en todo.
Como no hice ningún propósito, tal vez todo fuese nada.
El aprendizaje que me dieron,
Descendí por la ventana trasera de la casa.
Fui al campo con grandes propósitos.
Pero allí sólo encontré yerbas y árboles,
Y cuando había gente era igual a la otra.
Me retiro de la ventana y me siento en una silla. ¿En qué he de
pensar?
¿Qué sé yo lo que seré, yo, que no sé lo que soy?
¿Ser lo que pienso? ¡Pienso ser tanta cosa!
¡Y hay tantos que piensan ser la misma cosa que no puede haber
tantos!
¿Genio? En este momento
Cien mil cerebros se piensan en sueños genios como yo,
Y la historia no señalará, ¿quién sabe? ni a uno,
No habrá sino un muladar para tantas futuras conquistas.
No, no creo en mí.
¡En todos los manicomios hay tantos locos deschavetados con
tantas certezas!
Yo, que no tengo ninguna certeza, ¿soy más cierto o menos cierto?
No, ni en mí...
¿En cuántas buhardillas y no buhardillas del mundo
No están en esta hora genios-para-sí-mismos soñando?
¿Cuántas aspiraciones altas y nobles y lúcidas—
Sí, verdaderamente altas y nobles y lúcidas—,
Y quién sabe si realizables
¿Nunca verán la luz del sol real ni hallaran oídos de nadie?
El mundo es de quien nace para conquistarlo
Y no para quien sueña que puede conquistarlo, aunque tenga
razón.
He soñado más que Napoleón.He abrazado contra el pecho hipotético más humanidades que
Cristo.
Hice filosofías en secreto que ningún Kant escribió.
Pero soy, y tal vez seré siempre, el de la buhardilla,
Aunque no viva en ella;
Seré siempre el que no nació para esto,
Seré siempre sólo el que tenía cualidades;
Seré siempre el que esperó que le abriesen la puerta al pie
de una pared sin puerta,
Y cantó la cantiga del Infinito en un gallinero,
Y escuchó la voz de Dios en un pozo cegado.
¿Creer en mí? No, ni en nada.
Que me derrame la Naturaleza sobre la cabeza ardiente
Su sol, su lluvia, el viento que me despeina,
Y lo demás que venga si viene o que tenga que venir, o que no
venga.
Esclavos cardíacos de las estrellas,
Conquistamos todo el mundo antes de levantarnos de la cama;
Pero nos despertamos y él es opaco,
Nos levantamos y es ajeno,
Salimos de casa y es la tierra entera,
Más el sistema solar y la Vía Láctea y lo Indefinido.
(Come chocolates, niña;
¡Come chocolates!
Mira que no hay más metafísica en el mundo que la de los
chocolates.
Mira que todas las religiones no enseñan más que la confitería.
¡Come, niña sucia, come!
¡Si pudiera yo comer chocolates con la misma verdad con que tú
los comes!
Pero yo pienso y, al quitarles el papel plateado, que es de estaño,
Arrojo todo al suelo, como tiré la vida.)
Pero queda al menos de la amargura de lo que nunca seré
La caligrafía rápida de estos versos,
Pórtico hendido hacia lo Imposible.
Pero al menos dedico a mí mismo un desprecio sin lágrimas,
Noble al menos por el gesto amplio con que arrojo
La ropa sucia que soy, sin motivo, para el decurso de las cosas,
Y me quedo en casa sin camisa.
(Tú que consuelas, que no existes y por eso consuelas,
O diosa griega, concebida como estatua con vida,
O patricia romana, imposiblemente noble y nefasta,
O princesa de trovadores, gentilísima y colorida,
O marquesa del siglo dieciocho, escotada y distante,
O cocotte célebre del tiempo de nuestros padres,
O no sé qué moderno —no concibo bien qué—,
Todo eso, sea lo que fuera, lo que sea, si puede inspirar ¡qué
inspire!
Mi corazón es un balde vacío.
Como invocan espíritus los que invocan espíritus me invoco
Me invoco a mí mismo y nada encuentro.
Me acerco a la ventana y veo la calle con una nitidez absoluta.
Veo las tiendas, veo las aceras, veo los coches que pasan.
Veo los entes vivos vestidos que se cruzan,
Veo los perros que también existen,
Y todo esto me pesa como un condena al destierro,
Y todo esto es extranjero, como todo.)
Viví, estudié, amé y hasta creí,
Y hoy no hay mendigo al que no envidie sólo por no ser yo.
En cada uno miro los andrajos y las llagas y la mentira,
Y pienso: tal vez nunca hayas vivido ni estudiado ni amado ni
creído
(Porque es posible hacer la realidad de todo eso sin hacer
nada de eso);
Tal vez hayas existido apenas, como un lagarto a quien cortan
la cola
Y que es cola más acá del lagarto que se retuerce.
Hice de mí lo que no supe,
Y lo que pude hacer de mí no lo hice.
Vestí un disfraz equivocado.
Me tomaron enseguida por quien no era, y no lo desmentí, y me
perdí.
Cuando quise arrancarme la máscara,
Estaba pegada a la cara.
Cuando la arrojé y me vi en el espejo,
Ya había envejecido.
Estaba borracho, y no sabía vestir el disfraz que no me había
quitado.
Arrojé la mascara y dormí en el vestidor
Como un perro tolerado por la gerencia
Por ser inofensivo
Y voy a escribir esta historia para probar que soy sublime.
Esencia musical de mis versos inútiles,
quién pudiera encontrarte como cosas que yo hice,
Y no quedarme siempre enfrente de la Tabaquería de enfrente,
Pisoteando la conciencia de estar existiendo,
Como un tapete con el que tropieza un borracho
O la esterilla que los gitanos roban y no vale nada.
Pero el Dueño de la Tabaquería se asomó a la puerta y se quedó
en ella.
Lo miro con la incomodidad de la cabeza torcida
Y con la incomodidad de una alma que mal entiende.
Él morirá y yo moriré.
Él dejará el letrero, yo dejaré versos.
Y un día morirá el letrero y también mis versos.
Después morirá la calle donde estuvo el letrero,
Y la lengua en que fueron escritos los versos
Morirá después el planeta girante en que todo esto sucedió.
En otros satélites de otros sistemas cualquier cosa como nosotros
Continuará haciendo cosas como versos y viviendo debajo de las
cosas como letreros,
Siempre una cosa frente a otra,
Siempre una cosa tan inútil como la otra.
Siempre lo imposible tan estúpido como lo real,
Siempre el misterio del fondo tan cierto como el sueño del
misterio de la superficie,
Siempre ésta o aquella cosa o ni una ni la otra cosa.
Pero un hombre entró en la Tabaquería (¿a comprar tabaco?),
Y la realidad plausible cae de repente sobre mí.
Me incorporo a medias enérgico, convencido, humano,
Y voy a intentar escribir estos versos en los que digo lo contrario.
Enciendo un cigarro al pensar en escribirlos
Y saboreo en el cigarro la liberación de todos los pensamientos.
Sigo el humo como mi camino,
Y gozo, en un momento sensitivo y adecuado,
La liberación de todas las especulaciones
Y la conciencia de que la metafísica es la consecuencia de una
indisposición.
Después me reclino en la silla
Y sigo fumando.
Seguiré fumando hasta que el Destino me lo permita.(Si me casase con la hija de mi lavandera
Tal vez sería feliz.)
Visto esto, me levanto de la silla. Me acerco a la ventana.
El hombre salió de la Tabaquería (¿guarda el cambio en el bolsillo
del pantalón?).
Ah, lo conozco: es Esteves sin metafísica.
(El Dueño de la Tabaquería llegó a la puerta.)
Como por un instinto divino, Esteves se volvió y me vio.
Hizo una señal de adiós, le grité ¡Adiós, Esteves!, y el universo
Se reconstruye en mí sin ideal ni esperanza, y el Dueño de la
Tabaquería sonrió.

12 de jun. de 2011

Cafés, Cigarros e Letras.

 É mais fácil gramar uma enxada que escrever. Da enxada que bem conheço obtive seus calos. Resigno. Necessidade. Do mal o menos. Meses a fio sob sol escaldante. Por vezes no fim da enfiada de cafeeiros surgia um pau-d'alho. À sua sombra usava do cabo da enxada liso e brilhante, que minha mão lustrara, para ancorar o corpo. A ponta do cabo encaixava abaixo do mamilo, vindo pelo sovaco. Dizia-se dar de mamar ao ganha pão. Enrolava um cigarro de palha, dava umas baforadas, enquanto se mantivesse aceso, soia apagar-se. Fumo úmido, mal dichavado, muito apertado na palha. Depois era um dobrar-se e seguir dando às daninhas, extenuando-se. Mas bastava com olhar para o já feito e concluir: é de fato, é real e bem feito, duzentos e cinquenta cafeeiros livres do joio.
Aqui não faço por resignação ou necessidade. É um ato de vontade. Uma vontade que é falta. Anda às voltas. Gostaria que fosse vício. Mas quase sempre faço a mal. Por que o faço? Há um gozo na luta com as palavras, com a norma, com o cânon. Grau de iberdade.  As palavras não aceitam qualquer ajuntamento. As palavras são como guerreiros, e como tal devem atacar de forma organizada. Isso é sintagma. Se elas me levam, seus prazeres de juntarem-se a iluminar um caminho não debuxado no meu mapa, são inadiáveis. É irremediável perder-se, porém não é inútil. Ao mesmo tempo se convertem em burro, a trazer-me de volta. Ou me abandonam a contorcer-me em dialéticas e sofismas para retornar por caminhos irreais.
Ambas são atividades solitárias, estranhamente povoadas. Lá a mente voava, talvez pela pouca irrigação, pois o sangue devia banhar cada rincão, cada músculo, assim sobrava pouco para o cérebro, e pensar era sonhar ou viver devaneios com Telma, Cristina, Regina, Sônia, o drible do Pelé em Mazurkiewicz, eu era Pelé e eu fiz chorar as milhares de pessoas que lotavam o Jalisco. Aqui trata-se de povoar-se de personagens, deixá-las pela ai a penar. Precisam ganhar corpo e substanciarem-se e que se possa discriminá-las. Todas as personagens têm sido uma e eu mesmo. O que é uma tremenda burrice. O chato é que o cigarro não apaga, o café não esfria e a mão não caleja.       

10 de jun. de 2011

Concertador de palavras.Capitulo I. A invenção.

O começamento traz algo de finado, é um intercambio, dizem. E nisso estou certo em dizer: aquele era um dia tal que não se esquece. Nem faria falta no futuro a profusa fotografação a que todos se expunham para lembrarem-se da formatura. Paulão e Marcola tomavam em sério os brindes erguidos para as devidas poses. Cada formando fazia uma foto. As namoradas, deles, Patricia e Ludmila retocavam-se, a maquiagem. Eles e os demais se embriagavam. Aquela amizade germanal remonta de princípio do curso e muito já haviam discutido sobre algum futuro. Diziam-se de vez em quando “amanhã” e ali em meio a festa de despedidas de rosas fechadas e cravos nas lapela, como se manhã de primavera; entre um gole e outro se perguntavam: “Que fazer?”. Não haviam se destacado no plantio. “Ora vamos”, dizia Marcola, “é só uma ferramenta”, continuava. “Sei”, dizia Paulão, “temos intuição e um pouco de ciência e temos iniciativa”. Todavia temiam a possibilidade de se tornarem professores do Estado. “Não há dignidade” dizia Marcola, “que vamos fazer com um curso de letras?” “Cavar poesias!” Dizia o outro. “Sacudir o dicionário como se fosse o saco do Arcebispo Tillotson e dele tirar um livro que ensine milagres”. Tornava o um. “Batear sintagmas para uma grande Literatura!” retornava o outro. “Se tivéssemos feito mecânica, seriamos mecânicos!” Disseram em uníssono. Uma luz brilhou nos olhos vivos e verdes de Paulão. Sentia o paraquedas abrindo a meio caminho de esborrachar-se, daquilo que lhe parecera um salto no escuro, a necessidade a iluminar o ponto final da queda; o solo, a rocha o asfalto; mas o medo do choque a l abrir-lhe asas. Marcola esboçou um sorriso em lábios finos de negociante, sentindo na ponta do aquilino; cheiro do sucesso; soergueu a cabeça que jazia entre as palmas das mãos, qual candelabro sustido por cotovelos plantados, entre copos, no tampo duro da mesa.” Mecânico de Letras” “Gramáticos” sibilou Marcola labial, linguodental...” Ah! Não!”É muito maquinal, automático!” Analisou Paulão.”Pensava algo mais artesanal, humano.” “Ah! Isso Não! Tá muito gasto esse negócio de Artesão, Oficina... tem até oficina da pizza! Hahaha! Estamos discutindo a forma”, ralhou Marcola e adicionou, que “é pela imagem que vamos vender, mas que vamos vender? Consertos! Consertos ?” “É! Consertos de palavras!” Disse Paulão silabando. “Espera um pouco... deixe... pensar... consertador... concertador é isso meu amigo, presta atenção, estou pensando como Haroldo, Augusto de Campos e Décio Pignatari e em vez de arranjar, dar um jeito nas palavras para que funcionem melhor, podemos concertá-las, harmonizá-las, que parece? Já estou vendo o neon”...
    • Não quero apagar o luminoso, velho, mas esse papo agora é sério, é o único coelho que tenho para tirar. Disse Paulão. Haviam matado muitas aulas para bebê-las e chorá-las. Muitas industrias haviam nascido nas saideiras e não despertaram, nem cronicamente como as segundas-feiras de dietas e caminhadas.
    • Você quer consertar palavras, consertaremos, você tira o seu coelho que iluminarei a ambos!
    • Tá bem! Sócio. Reunião amanhã! Feito!
    • Domingo! E a Pati? Sócio.
    • Domingo! Dá um jeito, velho, e não lhe diga nada  ainda, até a coisa ficar nos trinques. Quando                                                                                                                                             Pati e Ludmila voltavam da toalete foram guindadas à pista de dança pelos concertadores de palavras.



7 de jun. de 2011

robespierre.

A raiz do capitalismo é a acumulação de capital. O furto é uma maneira de apropriação. Cristo na cruz recomendou, vindicando o bom ladrão, nota-se como já havia a inflação adjetivista. Fez-se o primeiro santo. Acho que ouvi isso de São Vicente Golfeto. Os romanos sabiam disso: mais perigoso é o ideólogo: Cristo, que o ladrão de ovelhas. Foi-se o tempo destas balidoras, ficou a nuvem financeira e com ela: ladrões. As folhas balem! Devo notar que nem em todas as iClouds de Mr. Jobs, possíveis e imaginárias, se todas não fossem, caberiam os ladrões que há. O que me impede de discutir o infinito da infinidade de cada caso e o que me impede de recomendá-los, ou a mim. Faz tempo que desci da cruz, e Cristo jamais o repus, assim que deixa-se a enxugar com longas melenas, posto que ando falto em ressuscitamentos, sou mais um fantasma. Mas o que interessa é que não há incompatibilidade entre roubo e capitalismo. Al Capone fundamental. É notório como certas corporações não menoscabam certos diretores; um para mim dois para ti, estimulam-se. O Ciclope prevendo as intenções de Ulisses, comia seus companheiros (dele). Este furou-lhe o olho, mandou-lhe uma banana e fez um churrasco com tudo que se movia em quatro patas, balidoras ou mugentes, o restante embarcou-os. Bovinamente rumino, mas longe de mim o jesuíta execrável, nem tenho nada que fazer e ao mesmo não me proponho enclítico, claro, metaforicamente, nem tenho insônia, sogro ou... enfim não tenho propriedades, nem no outro sentido; talvez e por isso, as organolépticas. Porque? Por que excluo Robespierre e por que quero dar-me ao menos um raio! Pois, só assim, apartadas as teias da aranha, ela própria se arrinconará.