14 de mai. de 2011

A criação do perverso.


 O acaso favorável quando ocorre em sequencia finita acaba por desgraçar-nos a vida. A sorte de. modo geral, é a grande engendradora de monstros. Essa sorte que recai sobre o indivíduo com reiteração finita, acaba por voltar-se, contra todos, sempre, na hora do azar e para o mesmo às vezes. Se todavia o azar lhe for fulminante, acabamos por nos salvar de suas ações, caso contrário, seremos vítima do monstro. Um sujeito com tom voz – sorte - que cai ao gosto do auditório. Note-se que ser ouvinte é a priori é um desastre, e ao emprestar sua atenção à voz, dá ao dono dela poderes insondáveis.
Antes do golpe de sorte o indivíduo empenha-se, profundamente na sua industria, para ser digno de nota. Uma vez conquistada a primeira fortuna, este passa agir como senhor dos direitos de glória adquiridos e ouvintes atentos podem perceber pequenos rasgos de perversidade do ególatra recém-empossado. Os pequenos desvios são notados logo que o improviso substitui a intuitividade conscienciosamente estudada, trabalhada, industrializada e à sorte buscada que o tornou protagonista. A partir deste momento toda a empresa é defender o golpe inicial como propriedade natural, já que no geral a intuição é falta, é sempre falta sem o conhecimento devidamente aprofundado. Intuição como talento requerem uma certa ingenuidade. Por vezes o assenhoramento da situação é tão gritante, que o desleixo se transforma em perversidade. Este descurar-se é também em parte fruto de passividades alheias, que corroboram à ideia “de genuíno” do perverso.   

13 de mai. de 2011

ÆticaѼÆstética


A estética se afasta da ética! O homem disse. Eu discordo como sempre. A Ética&Estética do nosso tempo é a do homem&circunstâncias&produção-de-vida&toda-atividade-humano-sensível do mundo em que vivemos.

 Sumário: a relação de trabalho cínica faz homens cínicos.

Das pedras que não rolam no leito do rio não tenho seixos! Poesia. 

 Há pedras pontiagudas em meio a cachoeiras e cascatas, lembra quando escorreguei lá no ribeirão Preto, perto do Brejinho, deus do céu! Que dor! narrativa em prosa. 

 Creio que isso já delimita bastante a coisa, as pedras paradas e o rio corrente, as pedras arrastadas, roladas pela corrente do rio, quero ver nisso razões estéticas e éticas, rolam e isso é possível, não é feio – é ético – são redondas – nem bonitas ou feias – estética formas arredondadas - , enquanto outras ficam paradas, o que é permitido, não é feio estarem paradas – é ético - apesar do aquoso lustre mantêm arestas insofismáveis – estética agressiva, pontiaguda – acho que o humano está em movimento no tempo (note como tempo é espaço em movimento, viajar no tempo é ir junto com o tempo, é ter a mesma velocidade do tempo, a mesma geografia do tempo, é ter o tempo como parceiro) ou está parado no tempo ( é estar na estação entre o passado e o futuro, mas não é o presente, o presente não anda a destempo, assim a estação é à margem do tempo, a espera de uma volta do tempo, não um corte, mas um dobrar-se sobre si) e é desse seu movimento – relação homem\natureza onde a natureza é o local de trabalho, habitats, o sofá, enfim neste mundo ( natureza&mundo inventada, imitada, construída, organizada) e homem&trabalho&produção versus homem&capital&produção, homem&consumo & homem&desejo e desejo é necessidade&vontade&ignorar&não ter versus homem&mercantil. Separo produção de consumo por puro vício, pois uma coisa é a outra, se não há consumo sem produção, nem produção sem consumo. Há uma capacidade tão grande, que ociosa, capaz de transformar todos e tudo em algo plasticamente anódino (estética de massa&ética de massa para produção&consumo massivo, transporto a dúvida íntegra: esse cheiro não é de merda mas, Pardelhas! Parece-se. Faz haver um nivelamento massivo (escassez do bom, tudo é escasso, não há para todos!) e se, sempre por abaixo do mínimo e muito inferior ao possível, e a estas categorias estéticas não as discute, quer é que ande na lama sem que se suje os pés. 

LE MANINE VAGANO!

Le manine scoincidono nel nostro paese con la primavera. Sono delle manine di cui che girano, vagano qua e vagano anche là. Sorvolano il cimitero di cui tutti riposano in pace. Sorvolano il lungomare come i tedeschi... datesi che il freddo non lo sentono loro. Ai... Al... Vagano, vagano. Girolanz... Gironzano... Gironzalon... Vagano, vagano, vagano! clique no azul para ver Aristide Caporale
le manine vagano girozalanz.... vagano vagano Giudizio ( Aristide Caporale) em Amarcord anuncia a primavera seguida de um carrilhão e Nino Rota. Quanta inveja sentia deste ritual de passagem, falto a casa nossa. Nada anuncia o inverno, a primavera.. tampouco temos manines ou flores de amendoeira, mas tudo muda, e de um momento para o outro, descubro: Tudo é ponto de vista. O mundo, a cultura e essa ideia imposta pela Europa. Le manine, a neve, as folhas outonais... ouro sobre azul,  basta desse mito da caverna, este imperialismo cultural! Já podemos anunciar o inverno: Caem as primeiras Fuligens, da palha queimada da cana-de-açúcar, e o fez com fartura; forrou ruas, quintais e telhados de preto. Vamos fazer bonecos de fuligem, convocar nossos poetas e cineastas; só sei plagiar: A fuligem vagueia, gira e gira , vagueia voa voa, roda e roda como urubus!

10 de mai. de 2011

filme argentino.

Rapaz tímido. Designer competente. Apaixonado pela filha do patrão. Ela estuda desenho nos EUA, onde ficou noiva de megaempresário do ramo. Ela elabora um projeto, aplaudido pelo futuro marido. Ela conhece a competência do rapaz tímido. Propõe ao noivo criar uma equipe de trabalho para desenvolver o projeto. O noivo antenado na modernidade incentiva sua industria. O rapaz tímido tem que ir ao aeroporto buenairense de Ezeiza a recebê-la. O rapaz entra em pânico em função da paixão que sente por ela, somada a sua timidez. Não vai só, vai com um amigo do peito, que sabe da paixão e compreende seus cagaços. Em Ezeiza há uma multitudinária manifestação gay .
Câmaras de TV e repórteres por toda parte. Ele ensaia o que dirá à moça para impressioná-la. Aparece de repente um repórter que lhe questiona sobre o movimento. Ele pensa na moça, e diz: o tempo é agora, nem ontem ou amanhã, agora, e , é agora que ele quer viver seu amor ou desamor. O dito é visto e ouvido por todo o Ezeiza. A multidão boquiaberta, a moça boquiaberta, o noivo da moça, enfim. O rapaz tímido aparece em canal nacional fazendo sua declaração de princípios. A comunidade o transforma em líder. Já na festa aonde seria homenageado e empossado: presidente, sem que ele soubesse, que só aproveitava da estadia no bar para discutir com o patrão, sua filha, o noivo de sua filha, e mãe da moça, os planos dele dentro da nova empreitada. Não ouve como  pusilânime, um ataque do patrão ao comportamento homossexual. Seguido de perto por verdadeiros fãs, defende o gênero brilhantemente. Agradando a moça, o noivo, a mãe e toda a gente presente. Aplaudido de pé ao sair, passando por um  corredor polonês, alguns tocavam-no como se de uma divindade se tratasse. O rapaz tímido, agora é visto pela moça como um brilhante designer e um líder natural e competente e manifesto da causa. Aprova-o e incentiva-o. Ele se da conta que: atuando como gay, seus pensamentos saem límpidos e brilhantes, e contraproducentes como um macho tímido. A coisa lhe agrada enquanto interpretação,  teatralidade ademais da facilidade que lhe brota para criar e expor pensamentos incisivos e assertivas inabaláveis.  mas continua apaixonado pela moça. Ela tem casamento marcado. Ele tentará tudo e mais um pouco para mostrar-lhe primeiro o mal-entendido e depois que a ama.
É um filme argentino que não lembro o nome.  

9 de mai. de 2011

Arcanjos.

Obama chegou à Casa Branca montado em extraordinários discursos, e estes cavalgavam nos valores da tradição norte-americana. Interesse de Estado. Dizia que o legado dos “antigos” não era bolinha de sabão; e é, justamente, desta aparente fumaça que se fez concreto o sonho, a verdade e o progresso dos EUA. Interesse de Estado. Bush inventou o USA Patriot Act e Obama vai mais fundo e “chega onde os EUA querem que ele chegue”. Interesse de estado. Diante disso não podemos cair na bonomia e arcangelismo de criticar Obama, ou o outro. Se chegamos à tortura, é que os fins justificam os meios, e a tortura tem dado resultado, como qualquer outros meios e outros fins. Assim vamos: um erro atrás do outro , cochilo depois de cochilo. Despertamos só para ver a prevaricação em público, um peculato ao vivo, o casamento real. Vivemos numa sociedade que dormita enquanto assiste passiva a todos os descalabros que entretecem a nossa vida global, e se ladramos é por necessidade retórica.    

5 de mai. de 2011

Os homossexuais vencem aos porteiros da Lei.

Italo Calvino diz: “Os clássicos são aqueles livros que chegam até nós trazendo consigo as marcas das leituras que precederam a nossa e atrás de si os traços que deixaram na cultura ou nas
culturas que atravessaram”. Ou seja Dickens está em mim e sequer o tive às mãos. Lembro-me da enormidade que era ter a mão Vor dem Gesetz:

Vor dem Gesetz steht ein Türhüter. Zu diesem Türhüter kommt ein Mann vom Lande und bittet um Eintritt in das Gesetz. Aber der Türhüter sagt, daß er ihm jetzt den Eintritt nicht gewähren könne. Der Mann überlegt und fragt dann, ob er also später werde eintreten dürfen.
«Es ist möglich», sagt der Türhüter, «jetzt aber nicht.»
«Wenn es dich so lockt versuche es doch, trotz meines Verbotes hineinzugehn. Merke aber: Ich bin mächtig. Und ich bin nur der unterste Türhüter. Von Saal zu Saal stehn aber Türhüter, einer mächtiger als der andere. Schon den Anblick des dritten kam nicht einmal ich mehr ertragen.»
A palavra kafkiano ocupava em mim a prateleira das, aterradoras. Meu alemão de rua, de baustellen, de turco de quase nada servia, senão que a confirmar ignorâncias. Como foi difícil aceitar, acatar que antes da Lei está o porteiro. Que um homem da terra, do interior, pede que seja admitido às leis. O porteiro diz que agora não concede entradas. O Homem rumia e pergunta se poderia entrar mais tarde.
“ é possível” diz o porteiro, “ mas agora não”
Acaso insista, apesar de meu veto à sua entrada, ouça com atenção: Sou poderoso. E apenas o menos poderoso. À cada sala haverá um porteiro mais poderoso que o outro, tanto que do terceiro sequer suporto avistá-lo.
Eu também fiquei como o Homem da terra interior parado no primeiro porteiro. Posto que sabia sem ler Vom dem Gesetz, que havia de acatar que o mundo era kafkiano, principalmente para aquele que não ignora o porteiro e para este que está ali justamente para o que, antes de mais nada, o respeita, quando há de torná-lo invisível.
Mas há em Wenn es dich so lockt ( se você permanece tentando), versuche es doch( mas ainda experimente, procura, tenta), trotz meines (apesar de minha) Verbotes ( veto, proibição) hineinzugehen. (entrar, vir para dentro) é a linguagem mínima e essencial de um guarda-porta e o caipira.





3 de mai. de 2011

Osama. Obama. Oh! lama!

Não existo como Eu. Pois este teclado e esta tela e todas as outras estão sempre a exigir o meu olhar, o meu palpite, meu sim e meu não. Palpito sobre coisas, aparentemente, alheias a mim. Osama. Que coisa é Osama Bin Laden? Poderia ser um velho barbudo dando milho aos pombos na praça de San Marco ? E o pombo a trazer a morte e a mensagem dela a destempo! Que coisa é o aparelho de guerra norte-americano? Um menino que ganhou um guarda-chuva, mas nunca chove! Na verdade; não me comovem ou me interessam! Ainda que por suas criações de fatalidades venha a ser vitimado. São grandiloquências infinitas e e por isso não cabem, compreendidas, no meu saco de despistes. Não concebo, nem por que minha namorada me deixou, ela que odiava sushi, agora não come outra coisa.
Como narrativa, é uma morte que, por fora de hora, estropia o romance. Como se depois de baixar o pano há um desenlace, e em lugar de catarse gere o sarcasmo,  primo da descrença,  uma esperança masculina travestida em saia e meias três-quartos, escocesas,   a depilar-se os sovacos nalgum cabeleireiro de shopping center.