28 de abr. de 2011

Manifesto de FHC. O Papel da Oposição. Parte I

“O Papel da Oposição”; manifesto de FHC; começa por um vicio crasso já na premissa, na descrição desfocada da realidade no seu primeiro parágrafo. É notória a dupla jornada de trabalho que nos cabe enquanto trabalhadores; necessárias a desnudar a vicariedade dessa gente. Trabalhar pesado e ainda ler-lhes a realdade. Mas a tais hábitos inveterados não se necessita de instrumentos tão poderosos como a hermenêutica materialista dialética para pô-los à vista de qualquer interessado – desde que este não queira torcer ( por ingênuo ou intencionalmente, médias, analistas políticos de fachada que pensam tão ociosamente quanto os porteiros de edifícios e ai eu não sei quem ofendo, penso que aos porteiros, duas vezes; posto que tal trabalho em si é degradante, etc), enfim ficou longo o parêntesis, volto a torcer a ferragem da estrutura e derrubar o edifício. O que mobiliza o povão são: as condições objetivas que nada mais são que a relação trabalho e capital. Ora vamos, as conquistas democráticas – década de 80, culminando com a CF 1988 - foram as migalhas oferecidas pela ditadura, em substituição ao banquete almejado pelos sindicatos do ABC liderados por Lula – note-se que o festim só não ocorre por clara traição do MDB de FHC e Ulisses -. A prova disso é a risível, para não dizer triste candidatura de Ulisses Guimarães que caiu na lábia do sociólogo; cuja; o “povão” desqualificou com o cortante 3%. Candidatura esta fruto da leitura e análise política equivocada e desnecessária de FHC e cuja ociosidade vige no atual manifesto. O que mostra que FHC não aprendeu nem com ele mesmo, que há tempos disse: esqueçam o que escrevi. Tanto esqueceu que redunda. Não apreende da própria eleição, conquista vinda no bojo do fato econômico – que se pode, tanto atribuir a FHC quanto ao FMI, Capital Estrangeiro Desejoso de Novos Mercados com Regras Menos Voláteis, indistintamente, tudo é o mesmo, sinônimos, mas sempre um fato\ato\concreto\no-mundo-real – que foi a criação do Real. Já o rearranjo partidário citado por ele não nasce assim de suas pregações, mas sim do terremoto: greves metalúrgicas do ABC; e o consequente tsunami; a criação do PT. E a necessidade da união no mínimo vergonhosa das elites (FHC, Militares, Média, Banca etc) para impedir a que seria clara vitória de Luiz Inácio.

O livro infinito.

Diante do visto\vivido pela vida afora, à leitura de um texto qualquer se interpõe, digamos assim, o DNA-sociocultural ,adquirido pelo leitor no seu trajeto de vida, somado a circunstância contemporânea da leitura. De uma maneira, seja, de um velho modo: não há uma segunda leitura de um mesmo livro; haverá outra leitura de outro livro; o mesmo livro. Se o livro muda, posto que as palavras não estão mumificadas, e mesmo as múmias cambiam - em geral deterioram -, digo que será uma leitura outra.   Assim sendo o próprio autor\escritor lerá um livro diferente daquele por ele escrito, ainda quente recém saído do forno da razão sensível. Partindo do acima dito; pergunto, poderia inferir? Infiro; é impossível ensinar “uma”leitura de um livro (não sendo este um objeto estático) que não seja uma visão\entendimento\aprisionamento efêmera de algo cambiante\cinético (algo que por si só é impossível, pois o livro não cabe no intervalo de um piscar de olhos, como a pintura ou a escultura, e mesmo estas ainda que não alterem o significante com o passar dos anos, se não levarmos em conta o envelhecimento, nos oferecerão variedades de leituras, segundo as visitemos ), ainda somada à possibilidade de: partindo de um trecho lido de um texto, tal leitura alterar o futuro discernimento do “o ainda não lido”.   O que nos levaria a eterna leitura\outra-leitura - nunca releitura - do mesmo livro, criando com isso o livro infinito, o que não deixa de ser os livros todos que existem, todos e o mesmo. Assim me parece e me interessa como futuro “educador” é que se leia, inclusive, teorias da literatura. Pergunto: é possível ensinar a ler, algo além dos significados “estáticos” dos significantes?

26 de abr. de 2011

Todo o poeta, um pedaço de rua.

A rua com nome de poeta de repente, desaparece. Olho no mapa e lá está ela, reta, contínua e finita, mas vai além. É sempre assim e o que tenho de rua não me basta, necessito justamente o pedaço de rua que falta. Pergunto; não sei! me diz o dono da loja de autopeças, com sua cara ovoide, como se lhe houvesse acusado de roubar o troço de rua com nome de poeta modernista. Tenho notado que triamos mal, ou ao escolher um interlocutor, preterimos justamente aquele que estaria interessado em nos dar a informação. Ou ainda, o preterido ao se sentir assim, prescindido aguça olho, orelhas e fareja e quer por todos os meios se meter onde não foi chamado. O homem que não mora no bairro, que antes mesmo de ser molestado, disse-me para fugir da insulação: pode ser que ela continue ali atrás. Não agradeci, já que a satisfação foi só dele. Fui à paralela daquela que lhe era perpendicular. Lá encontrei uma senhora, que me disse que nasceu em São Paulo e moro aqui quando ainda não tinha asfalto mas olha moço que eu nunca dei a volta no quarteirão por que vou daqui para a igreja para o trabalho que eu trabalho no supermercado mas Ricardo do que mesmo. Ronaldo disse eu. Pergunte àquele senhor... muito agradecido. Subi a Manoel Bandeira e desci a Artur Ramos então encontrei meu pedaço de poeta, de rua, onde todo o bairro tem nome de poetas e narradores em cada quadrante, uma verdadeira biblioteca, uma aula de literatura brasileira, faltava-me uma estante do Carvalho.     

25 de abr. de 2011

Tudo passa: O tempo.

Zé  mostrava-me umas fotos dos tempos em que vivíamos felizes no Deck bar. Fotos da mulher ?”. Então fiz um cálculo do número de anos que Helena viveu com Menelau antes de encontrar Páris, do tempo que passou em Tróia, e do tempo que estivera de volta em Esparta quando Telêmaco a encontrou; depois calculei a idade que ela teria quando Dante a viu no Inferno. Zé  me reprendeu: “Você quer matar Helena, quer não! Você matou Helena”. “Ora vamos, Zé, pensei que ias defender a Sandra! Assim sendo... prezado...”. Acrescentei : “Menippus viu o crânio de Helena, no Hades, desbotando, e admirou-se de ela ter despertado algum dia tantas paixões”. Zé  tirou uma baforada do seu cigarro, passou a mão na testa e depois disse pensativamente: “Ela... afinal... acontece o mesmo com o mundo... bela criação do demiurgo”. Calado permaneci, Zé concluía junto com a fumaça: “Pode ser, em suma, ele deve ter refletido mais do que nós”. No que somei: “Mais não sei, melhor! Certamente”.
desejada, já despojada da auréola que esse desejo havia lhe posto, e lá para o final da sessão, novamente aparecia numas fotos mui recentes, lá estava, e apesar de todos os atenuantes de reminiscentes quereres e sentires, só pude dizer: “Elena vidi, per cui tanto reo\ Tempo si volse”ª … é uma das duas frases latinas, e as  gasto sempre que posso, ou forço a barra. Zé  perguntou indignado: “ Por que Helena

ª Veja Helena, contra quem tão longamente, um tempo de infortúnio se volta..
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24 de abr. de 2011

Amanhã Cristo ressuscita.



Escrever é deixar de fora todas as outras possibilidades. Assim como o marido amado fica fora de Madame Bovary, mas que inclui a mulher que diferencia os homens, e apesar de a Molly Bloom lhes parecer indiferenciáveis, potencializa a Leopold como espirito, acima do banal, com o sim plural. Assim era essa página: pura literatura e fábula, era, pois bastou a primeira palavra para excluir-se a si mesma do mundo sonhado. Essa rejeição, essa reação do espaço baldio à palavra, ainda me espanta, e espanta todo o léxico e as que se me apresentam não o fazem à literatura, ou por vezes se apresentam como inimigas e se constrangem uma a par da outra. Mas é Páscoa e por bem hão de conciliarem-se, como se fosse desta possibilidade o mundo feito. Um decalque da religião no mundo real. Real este pleno de decalques, mas que fogem à segunda-feira, nos abandonando a auto produção do sustento e manutenção insustentável do amanhã.

23 de abr. de 2011

MALHAÇÃO DO JUDAS.

      Essa é mais uma tentativa de chegar ao inviável, e isso me pede intensidade e me oferece impossibilidade. Este inviável, é, se é para mim, é o mais próximo que posso chegar ao meu nada, o fim do meu universo, o meu limite, borda opaca de todos meus abismos ideológicos. É busca pelo desconhecido, é a interface donde termino e começa o outro, que não esconde esperança, que e não é outra, senão fé.
 Esta fé é novo empréstimo que o avaro concede ao inadimplente, cuja garantia é imaterial, numa palavra, eu sou você. É essa passagem sem pontes, integração geográfica invisível; como números pares pertencem aos naturais; que se dá ao malharmos o judas. 
Eu sou o teu judas, e tu o meu. Em suma o outro. O outro só importa como território a ser ocupado, uma tal impossibilidade leva a indiferença, ou a certos pecados capitais, inveja é outro deles. 

...Schopenhauer é muita hermenêutica, não careço, ou não posso. 

Serve mesmo Fernando Pessoa: ''se compreendo o pensamento do outro, eu discordo dele; eu mesmo se penso, discordo de mim mesmo'';      já se compreendo o que outro sente, eu sou ele. Isso só mostra que pela razão, nos afastamos e pelo sentimento nos aproximamos; nesse caso ser o outro é a compreensão total do outro, é amar; o ódio é a incompreensão total do outro, um analfabetismo da alma, do coração; não tendo nada a ver com a razão; 
se discordar é um levar-se em conta o outro, respeitar, é seguramente uma forma de amor, não de ódio. Por isso: eu sou você, e discordo em gênero, número e grau. Eu sinto o que vc sente. Afinal o sentimento do mundo é o mesmo. A tragédia é a mesma. Ainda que as aspirinas sejam opostas, assimétricas. Estas assimetrias estão no placebo e não em nós. Eu gosto da letra da canção Pão e Poesia de Moraes Moreira e Fausto Nilo, particularmente do verso: ...que te maltrata entre o almoço e o jantar.

22 de abr. de 2011

Sexta-feira da paixão. Ditadura. Democracia. Lista tríplice.


Todo mundo sabe que ditadura é a ideia – muito praticada – da impossibilidade de conformar-se em um governo todos os interesses individuais, na prática é governo de minorias. A democracia afirma o contrário, mas contraditoriamente pratica a ditadura da maioria. A lista tríplice sempre foi coisa da ditadura, botando nas coisas um ar democrático. Desde menino, na escola, sabia quem ia ser escolhido para recitar quadrinhas em homenagem a Tiradentes – quanto vexame, incompetência se viu – o filho de alguém, nunca o filho de algum. Marcelo, o filho do sitiante abastado, ajudado pela professora Teresinha, engasgava logo de cara no nome próprio. A dona Teresinha dizia: meninos! Não zombem! Ajudem o seu coleguinha! Eramos todos rurais, mais que urbanos. Lembro-me do Nico Quaglio: mas professora! a senhora pede para o carroceiro puxar a carroça pelo burro! Já para a diretoria! E da classe ouvíamos a diretora Josefa Castro aos berros. Tudo isso para dizer que as eleições têm seu caráter premeditado, previsto, entrevisto, etc. As pesquisas de opinião são tão somente mais um tipo de produto, consumido, por pura gula, desnecessário. Por isso Pôncio Pilatos conformou aquela lista tríplice, sabia qual deveria ser escolhido, e sabia como age o rebanho encurralado. A massa sempre prefere a via da preguiça mental, não gosta que lhe roubem os bens, mas o prefere àquele que lhe rouba o sossego, a preguiça, a inércia; noutras palavras, a sabedoria.