Escrevia
um conto, lentamente, com as dificuldades naturais do estilo. Sofria
do excesso de influência daquele conto famoso, onde um
apartamento, um circo e um coliseu se incendeiam ao mesmo tempo, em
seus dois mil anos de distância entre o recente e o remoto.
Chegava um momento em que as personagens Laura e Donato não se
moviam. Perderam o interesse por aquela briga. Olhava para eles, e
de fato tinham mudado. Lembro de ter ido dormir e os deixar ali,
sentados num sofá, numa sala com taças de vinho e
garrafas partidas. Com gritos presos a esguichar como sangue pelas
gargantas abertas. A espera que se matassem com cacos de vidro
enterrados como lanças e o sangue derramado se misturando ao
vinho que empapava o tapete. Quando acordei, ia alta a madrugada.
Tudo estava arrumado. Os cacos de vidro no lixo. O tapete seco. E
eles desfaleciam nus sobre o sofá. O pequeno cão lambia
seus pés. Com grande esforço os colocava novamente em
rota de colisão. Meu único leitor até então
era Grouxo, o sobrinho maranhense, que se aproveitava de meus
cochilos e siestas para atormentar
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