Aqui vai meu momento de espanto no ano de 2007 em Sevilha.

Hoje não sei o que dizer.
Há sempre um livro nestas páginas em branco, uma vida nesta cronologia sem espaço.
Sou um estranho neste jardim.
Rapazes e moças " Chefs" do ElBulli- Alqueria - por cinco meses. Neurocirurgiões operando o próprio Deus, Michelangelos descascando o mármore onde Davi se esconde.

Então mandam: espátula, sim;
faca, sim;
Coador chinoix, sim;
manteiga clarificada, sim;
redução de carne,sim;
prato para “empratar”, sim.
Andam de um lado para o outro carregando a certeza que irão decidir o futuro da vã humanidade.
Há a compenetração e a seriedade a tangerem o obtuso.
A ubiquidade: ser, prato e ingredientes -necessária - .
Mas a flauta é mais feliz que o flautista e a música se perde no vácuo dos ouvidos moucos.
Chego a achar que falta vida ao prato, uma fumacinha talvez - aquela fumaça quase protagonista nos filmes cults filmados em San Francisco e bairros pobres de N.Y. - que seja uma fumacinha subindo do filé, como sinal de vida, ou de vida vazando,que viver é vazar em..., algo além da obtusidade fulgurante do fenótipo "belo". E por pequeno que seja um dedal ele transbordará se uma cabeça de alfinete ai for vertida, por sua falta.
Asséptico, pasteurizado é este mundo privado de qualquer barroquismo, ainda que se permita um certo rococó da bisnaga com redução de balsâmico, ziguezagueando pelo prato, da erótica gota de caldo de carne, grossa como fosse uma musselina finíssima, colocada ali para que jamais termine de incidir sobre o fundo branco de um prato que em sua demasia é branco.
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