moleja
...Lo que más le gustaba eran los riñones de cordero a la plancha que
le proporcionaban al paladar un delicado gustillo a orina tenuemente aromatizada.
Experimentei uma moleja. Sabe a noz. Saber é o verbo do paladar. Assim a moleja sabe a noz. O vinho sabe a frutas silvestres vermelhas com uma pitada de pimenta do reino e de fundo, quiças, tomilho. A moleja é uma glândula carnuda situada na parte inferior do pescoço de bovinos e suínos. A que eu comi era bovina. Sabia a noz. Não sei se sabia a noz. Receio que o garção tenha me sugestionado, ou outra pessoa qualquer. Temo pois não terei certeza que saiba a noz. Tenho procurado a moleja, mas os açougueiros não têm vaga ideia do que falo. A moleja é a tireoide. Ando tão estrangeiro que algumas manhãs tardo quarto de hora a saber onde estou. Confesso: há dias que só são possíveis depois de algumas lágrimas, pois jurava na vigília que dormia debaixo de um banco na praça Castro Alves, e como desjejum e banho havia um mergulho no Farol da Barra. Vendia umas pulseirinhas, por ali. Comia uns camarões secos com uma cerveja, e cruzava a baia direção à ilha de Itaparica. A sede de cerveja nascia no trajeto e morria no primeiro buteco da Boa Vista, junto com mexilhões-catados com tomate e coentro. Eu pedia para juntarem uma mica de leite de coco e uma gota de azeite de dendê.
Mexilhão sabe a mar. O mar é uma placenta estourada.
31 de jan. de 2011
Parado ai no ponto?
Num ponto de ônibus da Av. Independência, uma publicidade municipal contra a dengue diz: 600 mil contra a dengue.”e você” Parado ai no ponto ? Pois é senhor publicista, se o sistema de mobilidade pública funcionasse, estaria em casa cuidando de minhas bromélias. Por bom humor ficaríamos nisso, mas em tal reclame há questões implícitas, subliminares ou subjacentes de grave teor discriminatório, senão vejamos: Primeiro dá a ideia que todos estão fazendo algo contra a dengue – risível - e a cidadã\cidadão que está ali parado no ponto, nada faz; e o “nada-faz” é em oposição aos demais que tudo fazem, como os que conduzem seus veículos pelas ruas da cidade, não estão ali parados e leem a tal apelo e concluem que a indivídua\o ali parado “que nem poste” é culpado\a pela dengue, ou seja a criatura espera o ônibus mais do que quer, mais do que é necessário em qualquer lugar civilizado, espera indignamente, sujeito às intempéries, ao destempero e despreparo das empresas concessionarias, e ainda leva a culpa da infestação. Como quem espera ônibus é pobre, a infestação se liga, indexa e se linka ao desgraçado. Que a sociedade civil tenha suas mazelas e esta estranha necessidade de nutrir alteridade em relação a negros e pobres: sentimento mazombo,é coisa déjà-vu, mas dum órgão ou ente público que paga a publicidade com dinheiro que saiu também do meu bolso... tratamento isonômico, meus senhores, por favor! A publicidade viola a constituição em : artigo terceiro inciso IV dignidade da pessoa humana; artigo quinto inciso X … inviolável a honra e imagem das pessoas, difusamente. Mandado de segurança.
29 de jan. de 2011
saudosismo.
Se o Pedro II anda ocioso, é porque a arte é ociosa. Há quem pense utilitária. Muitos. Utilitária. Mas a arte nada tem a ver com produção contínua e em poucas cores da cultura de massa. A grande arte, ao menos, não. Se nos é difícil discriminá-la em meio ao utilitarismo – arte-para-as-massas -; é um outro problema – talvez não consigamos nos distinguir em meio a tudo -. Convir se torna necessário, já que é impossível gostar de ópera uma vez por década, ou teatro, ou cinema, ou música clássica. Razão de sobra têm os que usam para outro fim um teatro de ópera, se para seu fim o Pedro II não opera. A obra arquitetônica tem fim como equipamento, por não ser arte, se tanto, teria fim em si como já o disse. A arte é artéria e não parte da carteira, de nada adiantará que apartes a Marte, a arte não reparte, nem se reparte como sorte em um carteado; então a arte pode dizer se quiser; desde que profundezas a vida surge.
Aqui vai meu momento de espanto no ano de 2007 em Sevilha.
eu
Hoje não sei o que dizer.
Há sempre um livro nestas páginas em branco, uma vida nesta cronologia sem espaço.
Sou um estranho neste jardim.
Rapazes e moças " Chefs" do ElBulli- Alqueria - por cinco meses. Neurocirurgiões operando o próprio Deus, Michelangelos descascando o mármore onde Davi se esconde.
aneis de polvo
Então mandam: espátula, sim;
faca, sim;
Coador chinoix, sim;
manteiga clarificada, sim;
redução de carne,sim;
prato para “empratar”, sim.
Andam de um lado para o outro carregando a certeza que irão decidir o futuro da vã humanidade.
Há a compenetração e a seriedade a tangerem o obtuso.
A ubiquidade: ser, prato e ingredientes -necessária - .
Mas a flauta é mais feliz que o flautista e a música se perde no vácuo dos ouvidos moucos.
Chego a achar que falta vida ao prato, uma fumacinha talvez - aquela fumaça quase protagonista nos filmes cults filmados em San Francisco e bairros pobres de N.Y. - que seja uma fumacinha subindo do filé, como sinal de vida, ou de vida vazando,que viver é vazar em..., algo além da obtusidade fulgurante do fenótipo "belo". E por pequeno que seja um dedal ele transbordará se uma cabeça de alfinete ai for vertida, por sua falta.
Asséptico, pasteurizado é este mundo privado de qualquer barroquismo, ainda que se permita um certo rococó da bisnaga com redução de balsâmico, ziguezagueando pelo prato, da erótica gota de caldo de carne, grossa como fosse uma musselina finíssima, colocada ali para que jamais termine de incidir sobre o fundo branco de um prato que em sua demasia é branco.
Aqui vai meu momento de espanto no ano de 2007 em Sevilha.
eu
Hoje não sei o que dizer.
Há sempre um livro nestas páginas em branco, uma vida nesta cronologia sem espaço.
Sou um estranho neste jardim.
Rapazes e moças " Chefs" do ElBulli- Alqueria - por cinco meses. Neurocirurgiões operando o próprio Deus, Michelangelos descascando o mármore onde Davi se esconde.
aneis de polvo
Então mandam: espátula, sim;
faca, sim;
Coador chinoix, sim;
manteiga clarificada, sim;
redução de carne,sim;
prato para “empratar”, sim.
Andam de um lado para o outro carregando a certeza que irão decidir o futuro da vã humanidade.
Há a compenetração e a seriedade a tangerem o obtuso.
A ubiquidade: ser, prato e ingredientes -necessária - .
Mas a flauta é mais feliz que o flautista e a música se perde no vácuo dos ouvidos moucos.
Chego a achar que falta vida ao prato, uma fumacinha talvez - aquela fumaça quase protagonista nos filmes cults filmados em San Francisco e bairros pobres de N.Y. - que seja uma fumacinha subindo do filé, como sinal de vida, ou de vida vazando,que viver é vazar em..., algo além da obtusidade fulgurante do fenótipo "belo". E por pequeno que seja um dedal ele transbordará se uma cabeça de alfinete ai for vertida, por sua falta.
Asséptico, pasteurizado é este mundo privado de qualquer barroquismo, ainda que se permita um certo rococó da bisnaga com redução de balsâmico, ziguezagueando pelo prato, da erótica gota de caldo de carne, grossa como fosse uma musselina finíssima, colocada ali para que jamais termine de incidir sobre o fundo branco de um prato que em sua demasia é branco.
28 de jan. de 2011
Teatro Pedro II. A farsa.
Em latim amarelo e cariado o homem com um berrante a tiracolo troou: OoÕ chão preto, do palco do pedro segundo, introibo meu berrante ad altare dei, deixo os conservadores basbaques e o pseudo intelectual furibundo. Os prelados protetores das artes sacam suas espadas. Pequena farsa seu nome de imperador.
Ajoelhemos e perdoemos seus olhos cinzentos – (si bemol tenor) o prelado mor.
Não seja hiperbóreo. (lá maior) o homem do berrante.
Thalata! Thalata! Nossa doce mãe. (ré menor soprano) a cultura.
É o fim. (mi maior com sexta – baixo). O homem-evento com um sorriso ainda tolerante.
O homem do berrante apresentava os animais que chacoalhavam o sinete ao entrarem no palco, coberto de feno e estrumes das estrelas.
Boooi Zebu, vaaacamarela...
A plateia em delírio atirava seus chapéus aos camarotes, estes estouravam champanhe sobre tudo.
Ajoelhemos e perdoemos seus olhos cinzentos – (si bemol tenor) o prelado mor.
Não seja hiperbóreo. (lá maior) o homem do berrante.
Thalata! Thalata! Nossa doce mãe. (ré menor soprano) a cultura.
É o fim. (mi maior com sexta – baixo). O homem-evento com um sorriso ainda tolerante.
O homem do berrante apresentava os animais que chacoalhavam o sinete ao entrarem no palco, coberto de feno e estrumes das estrelas.
Boooi Zebu, vaaacamarela...
A plateia em delírio atirava seus chapéus aos camarotes, estes estouravam champanhe sobre tudo.
27 de jan. de 2011
Pedro II, o teatro
Teatro Pedro II.
foto de Leandro M. Lourenço.
Às portas do crack da bolsa de 1929 surgia o imponente teatro de ópera Pedro II em Ribeirão Preto. Hoje segundo entre os pares, em número de poltronas. É herança do ciclo do café.
Do ciclo da cana-de-açúcar: fuligem que evola das queimadas. Mais que isso; a arquitetura “fake” por miniaturização; de edifícios de renome – por gigantismo - novaiorquinos e não mantêm a proporção áurea; esta não garante o belo, só impede aquele aspecto de cópia empobrecida pela sua ignorância, na maioria dos edifícios sobra altura relativa à base, urge consistência, estética...
Umberto Eco algures disse do “more” na vida americana do norte, a ponto de “importarem” castelos, obras de arte italianas etc. Um exemplo era um "Última Ceia” repintado e aumentado e “more” “and more” Califórnia que o do Santa Maria delle Grazie da Milano.
21 de jan. de 2011
Deus
A J.L.Borges lhe atraiam os paradoxos, buscava-os. Um dos que mais citava em entrevistas e, chegou a escrevê-lo em algum livro que me esqueço, dizia da onipresença do demiurgo: “Deus está em todos os lugares e, se tanto, também em nenhum”. Note-se que nenhum lugar é parte do todo. Assim há dois gêneros de religião: da ubiquidade e a quântica, esta explica mesmo o “lugaralgum”. Aquela tem experimentado levar a diversidade a números, tantos, quantos humanos há; esta se reduz aos ateus. Tal fenômeno deve-se às liberdades constituídas e ao capitalismo. O capitalismo clama, facilita e favorece a inclusão no sistema de toda atividade humana, bota, chapéu, berrante , música sertaneja, hip-hop e inclusive as religiões, os amores, o aborto, a filantropia, a demagogia etc. Não há almoço ou religião gratuita. Não consumo religião, como não consumo bife parmegiana, mas sou completamente, absolutamente favorável ao pargmegiana e a todas as religiões e igrejas, e com a mesma força e completude defensor da devida tributação, cabendo o montante ao erário municipal. Assim, crentes e ateus num pais laico, têm tantos “direitos especiais” quantos têm os consumidores de parmegiana, talvez estes mais por recolherem impostos municipais, estaduais e federais além, claro, da pesada composição.
20 de jan. de 2011
gosto, fé e futebol - I
Gosto, fé e futebol não se discute. Em termos. Eu gosto de cogumelos. O meu preferido é o Boletus Edulis. Gostei tanto que fui a bosques de Soria, Pallars Juça e Baden-Baden buscá-los pelo gosto. Na Itália é conhecido como funghi Porcini. Na Espanha como Ceps. J. L. Borges gostava de metáforas, principalmente das escandinavas. Uma citada por ele, atribuída a um rei Sueco, parente de um príncipe inglês dizia da herança de um deles: um “lote inglês” - o tal “sete palmos” para nós - pois os ingleses sepultavam seus mortos no tal terreno, como nós, mas há e havia quem o fizesse de outras maneiras, em gavetas por exemplo como os Espanhóis. Outra coisa que gosto é de Percebes –
um fruto do mar em forma de pé de cabra, assim o chamam na Catalunha, “péus de cabra”.
A J.L.Borges, que lhe gostava os epitáfios escreveu em algum livro que esqueço: “Su Tumba son de Flandes las Campañas\ su Epitafio la sangrienta Luna”.
Não se discute “ em termos disse antes”, pois há um elemento cultural no gosto, na fé e no futebol. A cultura é composta de elementos sociais, geográfico e circunstanciais. É indiscutível meu gosto por cogumelos, desde que este não se transforme em um catecismo, a negar e impedir outros gostos alheios e querer ser fundamental.
RECEITAS DE CARNE DE PORCO DO CHEF CIDOGALVÃO
3 de jan. de 2011
ANO NOVO PLÁGIO VELHO
Faz cinquenta anos que busco ser criativo, mas tudo que tenho conseguido é pequena adaptação de algum plágio; como queria James Joyce: à noite sempre por óbvio, claro quando isto se fazia às escuras e por vezes às expensas dela, hoje holofotes e espelhos, mas a dor... inútil dormir... (Chico Buarque)
Por sorte inventaram o calendário que é a margem a balizar nossas angustias – há indivíduos que não padecem deste mal – que é o sentimento frente a incerteza do que virá. O ano não deixa de ser um labirinto que desaguará no seguinte aqueles que nele entraram exceto os que venham morrer.
Como diz meu amigo Florenci: acaba um ano começa outro a cada dia, pelo simples fato do desejo exigir o futuro, posto que o passado é a dor ou simplesmente um projeto desejado e falhado.
Há entretanto coisas e sentimentos que desconhecem o tempo, pois são na vida ( concretamente é tudo que queremos saber(com plenos sentidos), mas sequer tangencio tal entendimento: ser na vida!).
Em todo caso ser na vida é ser como ela, imutável, continua e essencial. Esta é uma maneira que encontrei para me acercar do objeto e não do objetivo.
Desta maneira o ano que começo é urgência dos meus desejos. Haverá sentimentos que sequer começarei, por não sabê-los, e que não cessarão por não começados. De resto continuo meu projeto de gozar o máximo possível ignorar o mesmo tanto.
Por sorte inventaram o calendário que é a margem a balizar nossas angustias – há indivíduos que não padecem deste mal – que é o sentimento frente a incerteza do que virá. O ano não deixa de ser um labirinto que desaguará no seguinte aqueles que nele entraram exceto os que venham morrer.
Como diz meu amigo Florenci: acaba um ano começa outro a cada dia, pelo simples fato do desejo exigir o futuro, posto que o passado é a dor ou simplesmente um projeto desejado e falhado.
Há entretanto coisas e sentimentos que desconhecem o tempo, pois são na vida ( concretamente é tudo que queremos saber(com plenos sentidos), mas sequer tangencio tal entendimento: ser na vida!).
Em todo caso ser na vida é ser como ela, imutável, continua e essencial. Esta é uma maneira que encontrei para me acercar do objeto e não do objetivo.
Desta maneira o ano que começo é urgência dos meus desejos. Haverá sentimentos que sequer começarei, por não sabê-los, e que não cessarão por não começados. De resto continuo meu projeto de gozar o máximo possível ignorar o mesmo tanto.
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