30 de nov. de 2015

A Importância de se chamar Ernesto.



Uma adaptação livre de Oscar Wilde “ A Importância de se chamar Ernesto”. Teatro.

Vou direto à parte em que

Dona Iria Alves. - O que é Você politicamente?
Cravinhos – Esquerda Progressista.
Dona Iria Alves – Está bem, digamos comunista. No fim dá na mesma. Passemos a detalhes menos importantes. Seus pais, vivem?
Cravinhos – Perdi os dois, Dona.
Dona Iria Alves. - perder um, senhor, pode ser uma desgraça, mas os dois, me parece falta de carinho. Quem era seu pai? Certamente, um homem bem posicionado. Mas, nasceu na, como dizem os jornais radicais, em berços de homens de sindicatos ou da companheirada?
Cravinhos. - A verdade é que não sei. Perdi a meus pais, realmente, mas exato seria dizer que meus pais me perderam... Até agora, não sei quem sou... numa palavra: fui... sim, fui encontrado...
Dona Iria Alves. - Encontrado?
Cravinhos. - O falecido senhor Humberto Humbert, que era muito caridoso e de coração bondoso, me encontrou e me deu o nome de Cravinhos, porque naquele momento tinha no bolso uma passagem da Mogiana para Cravinhos.
Dona Iria Alves. - E aonde esse senhor tão caridoso, que tinha uma passagem da Mogiana para Cravinhos, te encontrou?
Cravinhos. - (sem se livrar da pigarra) Numa mala!
Dona Iria Alves.- Numa mala?
Cravinhos. - (ainda grave) Sim, Dona Iria Alves. Numa mala de couro preta, bem grande, com alça... enfim, uma mala normal e corrente.
Dona Iria Alves. - Em que lugar encontrou ele essa mala normal e corrente?
Cravinhos. - Num guarda volumes da estação Gironda. A deram equivocadamente pela sua.
Dona Iria Alves. - Num guarda volumes da estação Gironda?
Cravinhos. - Sim, na linha de São Simão.
Dona Iria Alves. - A linha é de menos, senhor Cravinhos. Te confesso que isso que me diz, me desconcerta bastante. Nascer ou pelo menos, ser criado numa mala com ou sem alças, demonstra um tal desprezo pelas convenções da vida em família, que me faz pensar nos piores excessos da Revolução francesa. Quanto ao lugar em que foi encontrada a mala, é possível que o guarda volumes de uma estação ferroviária sirva para ocultar uma indiscrição social, e provavelmente, não te serviu até agora, e de modo algum servirá como base estável para viver na boa sociedade...


Nosso Herói.

Nosso Herói.


Horacio: “naturam expelles furca, tamen usque recurret.*



Nosso herói é um bolsista de pós-doutorado em Psicologia, mais especificamente em Percepção e Psicofísica. Na linha estrita da Percepção Visual: Percepção do Tamanho e do Espaço, de uma faculdade provinciana, em meio a canaviais, que vivia sem saber o que queria. Se alguém, de supetão o inquirisse: Quer ser um Rei? Talvez respondesse: Bah! Com o despeito de um sorriso largo. Queria ser ele mesmo, coisa que ainda não conseguia definir. Longe ia o tempo dos primeiros anos escolares tão populares, tão democráticos, quando a educação tinha como função enganar a natureza e a procedência de tudo que havíamos herdado, dela, no corpo e na alma. Nosso herói se recorda dos virtuosos e cândidos professores, que o animavam a ser verdadeiro, e obedecer o impulso profundo do seu coração.
Um dia nosso herói ouviu dizer que “só a ação conduz ao êxito” e que o êxito é a “realização do próprio destino”, então, imediatamente decidiu que queria ação e êxito. Mas não era um homem de ação. Os homens de ação são os aventureiros, os financistas, jogam na bolsa de valores... mas para ele, o que move esses homens são as mesquinharias. Ele quer algo prometéico, e se não pode realizar, em si mesmo este destino, está disposto a gestá-lo, no seu próprio filho. Assim, decide se casar, entrar para o corpo docente da universidade e por a cabeça no lugar. Se casou com a formosa Amaranta, filha de José Arcádio e Úrsula, com quem logo teve um filho, que era uma criatura repugnante, doentio, crânio dilatado, e a coluna sinuosa, se criou raquítico, cresceu corcunda, impertinente, arisco, precocemente lascivo e briguento. Acabou se enforcando no fundo da chácara, pendurado de um abacateiro, bailava no ar o futuro Prometeu, desforme e leviano como um fruto temporão.


* quer dizer, por muito que tentemos expulsar a natureza com uma foice, ela sempre terá a última palavra, e sem interrupção reclama seus domínios.   

26 de nov. de 2015

Historia Domini Quijoti Manchegui. In uno lugare manchego, pro cujus nomine non volo calentare cascos..

Historia Domini Quijoti Manchegui.

In uno lugare manchego, pro cujus nomine non volo calentare cascos..

Assim começa a tradução do Quixote ao latim macarrônico realizada pelo indomável Alcidoniun Galvum. Tal proeza não foi fruto do prazer, mas sim uma imposição disciplinar de seu reitor enquanto era seminarista no seminário central de Bonfinae. Houve tempos em que a um jovem se castigava obrigando a traduzir o Quixote ao latim, o resultado é a Historia Domini Quijoti Manchegui, arte e ironia.

Uma pouco mais :n isto capítulo tratatur de qua casta pajarorum erat dóminus Quijotus et de cosis in quibus matabat tempus.
In uno lugare manchego, pro cujus nómine non volo calentare cascos, vivebat facit paucum tempus, quidam fidalgus de his qui habent lanzam in astillerum, adargam antiquam, rocinum flacum et perrum galgum, qui currebat sicut ánima quae llevatur a diábolo. Manducatoria sua consistebat in unam ollam cum pizca más ex vaca quam ex carnero, et in unum ágilis-mógilis qui llamabatur salpiconem, qui erat cena ordinaria, exceptis diebus de viernes quae cambiabatur in lentéjibus et diebus dominguis in quibus talis homo chupabatur unum palominum. In isto consumebat tertiam partem suae haciendae, et restum consumebatur in trajis decorosis sicut sayus velarte, calzae de velludo, pantufli et alia vestimenta que non veniut ad cassum.

A abertura de Cervantes é magistral mesmo em latim macarrônico.  

Dárcy, a grama baixa custa uma grana alta!

Dárcy: Cortar Grama baixa é Grana alta.

Eu não gosto dos americanos do norte em pontos específicos, em particular a mania de por gramados por toda parte. Chegou ao sul. Chove a grama cresce, cresce, vira mato alto, a prefeitura paga uma fortuna mensalmente para fazer a grama abaixar, mas só abaixa a grana do caixa, do erário, errático se consumindo em aparar grama dos canteiros centrais de avenidas, de praças etc. Não me parece inteligente, e quiçá ecológico, tampouco bonito, já que passa a maior parte do tempo alta como capim. E há tantos tipos de  pisos que captam água da chuva. Gastou uma vez, com trabalhos mais qualificados, etc e tal e não faz falta essa brigada de roçadores rondando avenidas sem fim...

Dárcy: Rua João Bim!


A rua João Bim é paradoxal. Consegue ser a pior rua asfaltada de Ribeirão, e pasmem até as recentes chuvas, ali havia dois buracos, o que é muito  pouco relativamente a sua extensão, e frente ao padrão do município. O que a faz ruim é seu asfaltamento, é um asfalto enrugado, e em certo pontos parece que é uma costelinha de porco. Façamos um BOTOX nessas rugas!? Vamos desossar? 

Dárcy.

Darcy, eu gosto dos americanos do norte por alguns motivos específicos. Um deles é  que não acreditam na consciência, nem no bom senso humano. Por isso inventaram os semáforos, depois o de três tempos, porque se deixar para o arbítrio, o ônibus atropela o carro que atropela a moto que atropela o pedestre, e se bobear o pedestre atropela o ônibus, o carro, a bicicleta e a moto e aos outros pedestres de bengala. Vamos instalar uns quantos desses cotizadores de trânsito, vamos!? Verde , agora você!  

24 de nov. de 2015

Pop never Stop.

Pop.
A democratização , as vezes, querem dizer, levou à vulgarização, no âmbito cultural. Com o advento das novas tecnologias a generalização se esparramou.
Há quinhentos anos, somente as elites religiosas e os nobres tinham acesso livre, os demais comiam capim na escuridão da ignorância.
Hoje, apesar da sua clara falta de qualidade, a educação universal, os meios audiovisuais, e o desmoronamento das informações para todas as mentes, mesmo os mais burros, os mais preguiçosos, os que não querem, sabem. Faço um parênteses, recordo da bibliotecária do Otoniel Mota, com seus colares de bolotas coloridas, que me bloqueava o acervo. Fim do parênteses. Muitos, como eu, tínhamos muitas dificuldades em ter livros, televisão, jornais… outros não, e eram uma parcela muito maior que a de príncipes e bispos de antanho.
Hoje tá tudo na nuvem. Todos os volumes do mundo, na língua que me apraz.
Tudo faz crescer a homogeneização, que faz tempo que desemboca no que se diz,Pop. Tudo que significa cultura está sob este guarda chuva, ao custo de um clique, pouco mais: R$ 79,90 por mês.
Alguns insistiam no conceito de alta cultura, mas a alta cultura deu uma rabeada, e sua carga caiu no barro fundamental e a mistura se tornou inclassificável, de natureza esquiva, como seu criador,  disforme, borrando todas as fronteiras entre a arte e a qualidade. Por fim, não se sabe o que é cultura. Nem ela sabe quem somos,  justo nós quem devemos consumi-la, para que então ela exista. Concordamos em Bach, Beethoven, Mozart, quem sabe Villa Lobos e pouco mais. Mas concordar em quais os melhores cantores e cantoras do séc XX, que são umas centenas, só dos que já foram enterrados?  O mesmo nas artes plásticas Picasso, Portinari, Caribe, Miró… mas depois das vanguardas , não creio que saberíamos coroar a hierarquia pictórica das últimas décadas. Por falta de perspectiva, certamente, ainda que o fim das fronteiras, de que falei, mas a banalização, e até mesmo a ridicularização da alta cultura, tudo isso tem a ver com essa cegueira. Vivemos na superfície, dos extratos, resumos, a imediatez das ideias, as imagens, as manchetes, os memes, a fugacidade das reflexões. Talvez nos  falte saber gestionar, não é preciso que seja ruim, se soubemos antes, ou será que esta recusa em discriminar nos leva ao desastre?.