12 de jun. de 2011

Cafés, Cigarros e Letras.

 É mais fácil gramar uma enxada que escrever. Da enxada que bem conheço obtive seus calos. Resigno. Necessidade. Do mal o menos. Meses a fio sob sol escaldante. Por vezes no fim da enfiada de cafeeiros surgia um pau-d'alho. À sua sombra usava do cabo da enxada liso e brilhante, que minha mão lustrara, para ancorar o corpo. A ponta do cabo encaixava abaixo do mamilo, vindo pelo sovaco. Dizia-se dar de mamar ao ganha pão. Enrolava um cigarro de palha, dava umas baforadas, enquanto se mantivesse aceso, soia apagar-se. Fumo úmido, mal dichavado, muito apertado na palha. Depois era um dobrar-se e seguir dando às daninhas, extenuando-se. Mas bastava com olhar para o já feito e concluir: é de fato, é real e bem feito, duzentos e cinquenta cafeeiros livres do joio.
Aqui não faço por resignação ou necessidade. É um ato de vontade. Uma vontade que é falta. Anda às voltas. Gostaria que fosse vício. Mas quase sempre faço a mal. Por que o faço? Há um gozo na luta com as palavras, com a norma, com o cânon. Grau de iberdade.  As palavras não aceitam qualquer ajuntamento. As palavras são como guerreiros, e como tal devem atacar de forma organizada. Isso é sintagma. Se elas me levam, seus prazeres de juntarem-se a iluminar um caminho não debuxado no meu mapa, são inadiáveis. É irremediável perder-se, porém não é inútil. Ao mesmo tempo se convertem em burro, a trazer-me de volta. Ou me abandonam a contorcer-me em dialéticas e sofismas para retornar por caminhos irreais.
Ambas são atividades solitárias, estranhamente povoadas. Lá a mente voava, talvez pela pouca irrigação, pois o sangue devia banhar cada rincão, cada músculo, assim sobrava pouco para o cérebro, e pensar era sonhar ou viver devaneios com Telma, Cristina, Regina, Sônia, o drible do Pelé em Mazurkiewicz, eu era Pelé e eu fiz chorar as milhares de pessoas que lotavam o Jalisco. Aqui trata-se de povoar-se de personagens, deixá-las pela ai a penar. Precisam ganhar corpo e substanciarem-se e que se possa discriminá-las. Todas as personagens têm sido uma e eu mesmo. O que é uma tremenda burrice. O chato é que o cigarro não apaga, o café não esfria e a mão não caleja.       

10 de jun. de 2011

Concertador de palavras.Capitulo I. A invenção.

O começamento traz algo de finado, é um intercambio, dizem. E nisso estou certo em dizer: aquele era um dia tal que não se esquece. Nem faria falta no futuro a profusa fotografação a que todos se expunham para lembrarem-se da formatura. Paulão e Marcola tomavam em sério os brindes erguidos para as devidas poses. Cada formando fazia uma foto. As namoradas, deles, Patricia e Ludmila retocavam-se, a maquiagem. Eles e os demais se embriagavam. Aquela amizade germanal remonta de princípio do curso e muito já haviam discutido sobre algum futuro. Diziam-se de vez em quando “amanhã” e ali em meio a festa de despedidas de rosas fechadas e cravos nas lapela, como se manhã de primavera; entre um gole e outro se perguntavam: “Que fazer?”. Não haviam se destacado no plantio. “Ora vamos”, dizia Marcola, “é só uma ferramenta”, continuava. “Sei”, dizia Paulão, “temos intuição e um pouco de ciência e temos iniciativa”. Todavia temiam a possibilidade de se tornarem professores do Estado. “Não há dignidade” dizia Marcola, “que vamos fazer com um curso de letras?” “Cavar poesias!” Dizia o outro. “Sacudir o dicionário como se fosse o saco do Arcebispo Tillotson e dele tirar um livro que ensine milagres”. Tornava o um. “Batear sintagmas para uma grande Literatura!” retornava o outro. “Se tivéssemos feito mecânica, seriamos mecânicos!” Disseram em uníssono. Uma luz brilhou nos olhos vivos e verdes de Paulão. Sentia o paraquedas abrindo a meio caminho de esborrachar-se, daquilo que lhe parecera um salto no escuro, a necessidade a iluminar o ponto final da queda; o solo, a rocha o asfalto; mas o medo do choque a l abrir-lhe asas. Marcola esboçou um sorriso em lábios finos de negociante, sentindo na ponta do aquilino; cheiro do sucesso; soergueu a cabeça que jazia entre as palmas das mãos, qual candelabro sustido por cotovelos plantados, entre copos, no tampo duro da mesa.” Mecânico de Letras” “Gramáticos” sibilou Marcola labial, linguodental...” Ah! Não!”É muito maquinal, automático!” Analisou Paulão.”Pensava algo mais artesanal, humano.” “Ah! Isso Não! Tá muito gasto esse negócio de Artesão, Oficina... tem até oficina da pizza! Hahaha! Estamos discutindo a forma”, ralhou Marcola e adicionou, que “é pela imagem que vamos vender, mas que vamos vender? Consertos! Consertos ?” “É! Consertos de palavras!” Disse Paulão silabando. “Espera um pouco... deixe... pensar... consertador... concertador é isso meu amigo, presta atenção, estou pensando como Haroldo, Augusto de Campos e Décio Pignatari e em vez de arranjar, dar um jeito nas palavras para que funcionem melhor, podemos concertá-las, harmonizá-las, que parece? Já estou vendo o neon”...
    • Não quero apagar o luminoso, velho, mas esse papo agora é sério, é o único coelho que tenho para tirar. Disse Paulão. Haviam matado muitas aulas para bebê-las e chorá-las. Muitas industrias haviam nascido nas saideiras e não despertaram, nem cronicamente como as segundas-feiras de dietas e caminhadas.
    • Você quer consertar palavras, consertaremos, você tira o seu coelho que iluminarei a ambos!
    • Tá bem! Sócio. Reunião amanhã! Feito!
    • Domingo! E a Pati? Sócio.
    • Domingo! Dá um jeito, velho, e não lhe diga nada  ainda, até a coisa ficar nos trinques. Quando                                                                                                                                             Pati e Ludmila voltavam da toalete foram guindadas à pista de dança pelos concertadores de palavras.



7 de jun. de 2011

robespierre.

A raiz do capitalismo é a acumulação de capital. O furto é uma maneira de apropriação. Cristo na cruz recomendou, vindicando o bom ladrão, nota-se como já havia a inflação adjetivista. Fez-se o primeiro santo. Acho que ouvi isso de São Vicente Golfeto. Os romanos sabiam disso: mais perigoso é o ideólogo: Cristo, que o ladrão de ovelhas. Foi-se o tempo destas balidoras, ficou a nuvem financeira e com ela: ladrões. As folhas balem! Devo notar que nem em todas as iClouds de Mr. Jobs, possíveis e imaginárias, se todas não fossem, caberiam os ladrões que há. O que me impede de discutir o infinito da infinidade de cada caso e o que me impede de recomendá-los, ou a mim. Faz tempo que desci da cruz, e Cristo jamais o repus, assim que deixa-se a enxugar com longas melenas, posto que ando falto em ressuscitamentos, sou mais um fantasma. Mas o que interessa é que não há incompatibilidade entre roubo e capitalismo. Al Capone fundamental. É notório como certas corporações não menoscabam certos diretores; um para mim dois para ti, estimulam-se. O Ciclope prevendo as intenções de Ulisses, comia seus companheiros (dele). Este furou-lhe o olho, mandou-lhe uma banana e fez um churrasco com tudo que se movia em quatro patas, balidoras ou mugentes, o restante embarcou-os. Bovinamente rumino, mas longe de mim o jesuíta execrável, nem tenho nada que fazer e ao mesmo não me proponho enclítico, claro, metaforicamente, nem tenho insônia, sogro ou... enfim não tenho propriedades, nem no outro sentido; talvez e por isso, as organolépticas. Porque? Por que excluo Robespierre e por que quero dar-me ao menos um raio! Pois, só assim, apartadas as teias da aranha, ela própria se arrinconará. 

CHORUME.

O lixão.

O lixão é uma cidade, luxuosa é, um shopping, se lauta em lixo, mas nenhuns a querem, por perto. As cidades mais poderosas, querem depositar seus dejetos o mais distante possível, se possível, noutro município, que em troca dos olores dos detritos; este recebe: lixo e lixão; urubus, catadores e algum dinheiro, é claro. Mas o resíduo antes de ser enterrado gera muita riqueza e muita miséria. Empresas especificas mas sem especificidade de qualidade, antes mesmo da recolha do lixoso objeto, trituram-nos a todos indistintamente: políticos, lixeiros e sociedade civil. Assim, a coisa, no seu caminho aparentemente natural vai nos se apodrecendo.
O chorume da porcaria, a essas alturas repugnante, goteja dos caminhões. Nós choramos nosso dinheiro, suado, pelos corruptos desviados como se o tivéssemos encontrado num lixo anterior, pois lixo, lixão, em qualquer brasil é corrupção. Os caminhões correm pelas ruas, atulham-se, transbordam e suas bocarras mastigam e engolem os sacos. Destilam-se homens, a correr, quase humanos, quase assalariados, o perseguem, nesse ritual absurdo, a saciarem a máquina do que rejeitamos.
Ressuma o chorume pelas ruas, mas depois de longo e lastimoso caminho, que começa no excesso de consumo e continua pelos restos e sobras que são matérias líquidas e sólidas e gasosas; essências da nossa existência; seguindo a corrupção, CPI, baixo salário, ganância, avareza, descuido com a natureza e desprezo pelo que mais e melhor produzimos, lixo. Ele chega ao lixo shopping a céu aberto, onde o esperam felizes: crianças, ratos, bigatos, vermes, gusanos e urubus. E por vezes algum fotografo atras da foto, da fama, da grana. Chorume.  

6 de jun. de 2011

Os Reinos do Amarelo. João Cabral de Melo Neto.

1.
A terra lauta da Mata produz e exibe
um amarelo rico (se não o dos metais):
o amarelo do maracujá e os da manga,
o do oiti-da-praia, do caju e do cajá;
amarelo vegetal, alegre de sol livre,
beirando o estridente, de tão alegre,
e que o sol eleva de vegetal a mineral,
polindo-o, até um aceso metal de pele.
Só que fere a vista um amarelo outro,
e a fere embora baço (sol não o acende):
amarelo aquém do vegetal, e se animal,
de um animal cobre: pobre, podremente.

2.

Só que fere a vista um amarelo outro:
se animal, de homem: de corpo humano;
de corpo e vida; de tudo o que segrega
(sarro ou suor, bile íntima ou ranho),
ou sofre (o amarelo de sentir triste,
de ser analfabeto, de existir aguado):
amarelo que no homem dali se adiciona
o que há em ser pântano, ser-se fardo.
Embora comum ali, esse amarelo humano
ainda dá na vista (mais pelo prodígio):
pelo que tardam a secar, e ao sol dali,
tais poças de amarelo, de escarro vivo.

      A temática social em João Cabral é explicita ou velada, 

mas antes de mais nada é o espanto do poeta diante da 

realidade. O poeta João Cabral trava com a realidade uma 

luta em que sempre saí derrotado, e o poema é sua derrota, 

ou noticia dessa derrota. Em “Os Reinos do amarelo"

que aparece na 3° parte do livro “Educação pela Pedra” 

apresenta uma tensão onde os contrários criam uma 

cromática em tons  do amarelo. Vai percorrendo os amarelo 
possíveis, do amarelo vivo da 1° estrofe,

“o amarelo do maracujá e os da manga ,

o do oiti e do cajá

amarelo vegetal,alegre de sol livre,”

até:

“tais poças de amarelo, de escarro vivo.” o amarelo biliar e 

ranhoso do homem cozido pelo sol e pelas injustiças, ai o 

escarro é vivo. O homem é excremento. Eu posso dizer, João 

Cabral, não, pois não fazia retórica, essa é artimanha minha. 

Assim chegou (Ele) ao limite do suportável.


 São passagens de realismo brutal, o poema todo é uma 

expectoração. Mas não se trata de menos apreçar o homem e 

sim a passagem daquele homem\amarelo para o 

poema\quadro\pintura\amarelo não há combinações 

possíveis na paleta do poeta, senão o próprio ranho, escarro e 

a bile. 


A realidade era esta, o poema nesse caso não é mera mimese, 


é plágio puro da realidade.


 A primeira estrofe dedicada ao reino vegetal, enfatizando-

lhe o caráter vivificante, que faz do sol a matéria de sua 

exuberância até permite um certo naturalismo "dada"

tropical, se essa coisa é possivel.

 Na segunda o amarelo é outro, “amarelo aquém do vegetal, e 

se animal, de um animal cobre: pobre, podremente.”

A segunda estrofe estropia o amarelo e ele perde o sentido 

vital e nela não só prestará a caracterizar o homem “de ser 

analfabeto, de existir aguado”, mas o materializa com a 

matéria mesma dele homem que rompe-se sobre a tela em 

relevos líquidos, pegajosos de viscosidade assustadora.



























2 de jun. de 2011

Os livro dos menino de rua.


Vejo você andando pelas ruas com seus ombros caídos. Não é verdade, muitos meninos têm os ombros caídos e não são meninos de rua. Tem muito adulto com os ombros caídos, tanto os há, que inventaram ombreiras para disfarçá-los, ombros e seus donos. Enfim, vai você com suas orelhas de abano. É outra mentira. Vai você sujo atrás da orelha. Menino nenhum sabe lavar-se atrás da orelha. Nem os adultos. Todos botam perfume atrás da orelha. Não para esconder o perfume. Muito pelo contrário. Perfume custa caro. Há perfumes baratos verdadeiros assassinos do olfato, mas todos nós os outros temos que sentir e consenti-lo. Mas passam atrás da orelha por não lavá-las direito. O atrás da orelha secreta olor esquisito. Vai vendo! Vai você pardo. Mais uma. Você negro, branco. Tudo mentira. Todos somos ou pretos, ou pardos, ou brancos e temos um que outro orelhas de abano e ombros caídos. Mas uma coisa você precisa saber. Você cometerá um crime. Anda pelas ruas a pedir. Pede dinheiro. Então dizem que você precisa de escola. Como? Se anda pelas ruas para aprender! Dizem, de outra, escola. A rua é má escola. Nada! A rua é o hipermercado. Há à sua disposição um gondola cheia deles. Crimes. Você escolhe. Na Câmara se comete muitos crimes. Nos hospitais. No mundo forense. Universitário. Sim plágio. Na média. Sim fazer média na mídia, é crime. Estes você não vai cometer. Reserva de mercado. Diploma. Diploma que você não terá. Ainda que escolado. É! Mas o MEC não reconhece a rua. Reconhece coisas de gênio, mas terá outros a sua escolha. Qualquer um. Não vale escolher o crime gramatical, pois esses todos cometemos. Os livro ninguém diz, já que ninguém se refere a eles. Quem lê? Dizem: o óculos, por óbvio, os de sol. Quatro carro na garagem. Ou nas garage. Quatro pão. Comprá um óculos di sol nu shopein. Saiba que o seu crime é necessário. É o único crime natural. O crime por necessidade, as vezes, nem sempre, mas o crime frontal, sem elipses, direto, crime de autor. Pois existe um monstro que devora toneladas de dinheiro que se chama judiciário. Ele precisa de crimes como os teu, quer dizer, aquele que você cometerá, é inescapável, que cometa. Se não cometê-los, sim podem vir a ser “pluralidade”, vai da sua especialização. Sim é louco, uma pluralidade de um ato singular é um ato plural e não plurais. Não se importe em saber quantos advogados vivem dos crimes, oficiais de justiça, carcereiros, juízes togados ou não, promotores, o parquet, a doutrina e as facul, fábricas de Vossas Excelências e OAB para fazer o recall de suas más formações. Saiba, a maioria deles não sabe o que é entropia, caos ou ordem. Depois temos os narradores de crimes. São vestais da moralidade. Castidade exemplar. É! Nesse seu crime, não há nada de espetacular. Pois esse é um mundo de ladrão que rouba ladrão. Mas o único que não se esconde por traz da lei é o seu. Você pode por casuísmo tirar-me a vida. O casuísmo não está em apagar alguém e sim, quem. Eu, por exemplo. Esse crime, sendo eu ainda moço, diminuirá a expectativa de vida de todos os patrícios. Aumentará o trabalho daquele povo supra citado. O que você precisa saber é: peça sempre Dinheiro. Claro que alguns objetos também, pois podem a Ele se converter. Mas ouça uma coisa: esse negócio de ong! caia fora. Desenho! Música? Carinho? Ouça as músicas que fazem! Ninguém sabe música! E carinho! Não caia nessa, meu broder, essa gente tá beijando cachorro e gato, e você não os é! Cometa seus crime, que os crime compensa. Se você levantar a mor grana,
os livro e a doutrina tão ai pra defendê-lo. Senão leia o livro que não dá para dormir com essa pia Fraus. 

Homo-caricatus.


Alguns “héteros”, em particular aqueles que pagavam para “ver” duas “mulheres” em “ação”, não suportam isso “gratuitamente”. Caricatura de pudor.
Na vida real e em particular na literatura há um tipo de mulher com gestual exageradamente delicado, fútil, caricatural. Que em muitos homossexuais de origem masculinos se tornou sua essência, caricatura da caricatura. Dessa dupla caricatura às vezes se tem vontade de fazer troça, na verdade se torna quase obrigatório, praxe.
Dentro da mesma linha da caricatura, algumas homossexuais coçam o terceiro testículo, parodiando Chico Buarque, coçar um membro que já se perdeu ou nunca teve, ter dor de dente na prótese, mascam fumo e cospem no escorpião e o matam, sem o cinismo “far” “cool” de Clint Eastwood.