6 de nov. de 2010

Incompetência.

V. Golfeto, nas suas três últimas reflexões no Jornal A Cidade de Ribeirão Preto, nos conclama ao debate ideológico, a ter mais consideração para com os iluministas ingleses e por fim: ver o mundo à moda da tauromaquista malaguenho.
Depois de aturada atenção, sucumbo às voltas com a tal empresa. Nossa querida prefeita, a quem Julio Chiavenato refere: alcaidessa, na sua luta contra o Nigromante IBGE a fim de contabilizar os estudantes advindos de outras cidades como ribeirão-pretanos; quer ainda que um processo tramitado, coisa julgada, transija e permita que se verta o Leite Lopes internacionalmente; ei-la incapaz de conduzir um concurso público “DAERP” a um bom porto; inestimável a ajuda do Secretário da Casa Civil e os milhares de reais, do erário, jogados ao vento dum palco e plateia miseráveis.
Iluminismo! Franceses! Ingleses! Direita! Esquerda! Qual Picasso ver que o descontruir, assim mesmo, constrói. Nada disso; o iluminismo possível é o nordestino, representado por Virgulino Ferreira da Silva, vulgo Lampião.

5 de nov. de 2010

Resposta a Vicente Golfeto. Iluminismo.

proposta de estudo.
Origem do federalismo brasileiro.
É um federalismo centrifugo. Se diferencia do norte-americano que é centrípeto, um movimento da periferia para o centro.
Os EUA ( as treze colônias) eram uma confederação.
Eram soberanos. Passaram a ser entes autônomos. Também chamado de federalismo de agregação.
No Brasil. Caracterizado como centrifugo. Era um estado unitário. 1824 a constituição do estado, sem distribuição geográfica do poder. O Império.
A vontade do rei é a medida de todas as coisas. Rei e súdito. Não há cidadão.

Pensamento de Hobbes foi e em que medida foi absolutista.
Prefiro outra abordagem. Leviatã o grande monstro. Equiparou o estado ao Leviatã , o poder só seria licito alojado inteiramente no estado.
Aproximou e alojou o poder todo na estrutura do estado.
Tudo que o rei fizesse ele não poderia ser responsabilizado.

Rei era o estado, confundido com o estado.
A teoria da irresponsabilidade do estado.
Transformada na teoria da responsabilidade objetiva do estado.

Golfeto diz que Platão sintetizou “na pressa é impossível pensar o problema”, então que tal ir com calma. Temos que pensar a formação da federação norte-americana; basicamente: estados soberanos se unem em torno a um poder central; fazendo disso seu último ato soberano; trata-se de movimento centrípeto; da periferia para o centro. Tudo isso quer tão-só dizer que não havia um poder absoluto. Enquanto que a França vivia sob o absolutismo. Hobbes aloja o Leviatã, todo ele, na estrutura do estado. O Rei era o estado, confundido com o estado. Nada mais dizer: o estado é o grande monstro. “Mal necessário”; quando passamos por Locke, já que o “tolo” rousseauniano acreditou na propriedade, alguém havia de mitigar o abuso.
O iluminismo francês foi necessidade fundamental para a divisão do poder; desapear o absolutismo a pleno galope; “a vontade do rei é a medida de todas as coisas”; enquanto o inglês partia de outras premissas; o poder central desconcentrado, sentou as bases do liberalismo. Enquanto França e Inglaterra protegiam a propriedade, os norte-americanos tinham de estimulá-la rumo ao oeste. Na França decepa-se o rei, na Inglaterra seu rei está condicionado, os EUA nem tinham rei: grande parte de sua população era formada a partir do desterro pela lei do “cercamento” inglesa.

3 de nov. de 2010

DISCRIMINAR. Pouco.

Não sou tímido nem um seu contrário. Eu...
Sou pouco.
Mesmo assim tenho sempre que defender este pouco ser. Querer tomar-me menos. Mas, não sou menos.
Sou pouco.
É pouco. Mas, a um tempo é bastante.
Não se trata de ter. Que tenha pouco. Passar a ter muito. Ou mesmo tudo.É um pulo.
Porém mais não posso ser.
Tampouco tudo.
Jamais serei tudo, contudo menos apoucado.
A primeira vez que fui a Brasília levou-me uma flor paulistana. Achei o congresso pouco, mas com vontade de grandeza. Em seguida fomos ao Teatro Nacional assistir à peça Vestido de Noiva. Aquelas três dimensões da psique e a tragédia humana não me deixam.
Ninguém presta na peça.
Partindo do princípio de que as relações sociais são perversas, todas as atitudes das pessoas se revelam em hipocrisias, a competição desleal, os desejos proibidos, o conformismo imbecilizado ou o inconformismo agressivo, enfim, é um universo de obsessivo pessimismo. A ponto de ser irrefutável a igualdade que Alaíde sente entre estar casada ou Pedro estar morto.
Saí do teatro e não me recompus.
Na volta olhava o congresso nacional com tristeza. Diminui importância ao fato e fui a uma festa em Taguatinga. A casa da festa havia sofrido uma dedálea transformação. Suas paredes recobertas com papelão pintado, cediam intenções de caverna à suas pinturas rupestres: Abaixo a cultura burguesa.
Tudo era um labirinto quando chegou Ziembinski. Ele não sei, mas eu preferia ser fauno a Minotauro. Tudo culpa de Mallarme.
Como se fossemos amigos pousei meus braços nos seus ombros e meus dedos sentiam seus os ossos saltados de sua coluna vertebral, disse-lhe cara a cara: O vestido é um monumento à tragédia judaico-cristã, mas ao congresso nacional lhe falta espessura ou lhe sobra altura, não acha! Ao responder-me ouvi seu hálito morno: Os monumentos reduzem os homens às suas reais dimensões.
Fiquei com medo de ser reduzido. Assim sem amesquinhamento passei a limpo o meu projeto. Disse: doravante serei irredutível. Exato. Pouco.

MESOCANAVIÁLIA.


Ao Mestre Golfeto.

Não se trata da morte dos debates ideológicos, sim de supressão temporária, ou se quisermos: um reordenamento de arqueiros e suas flechas utópicas despontadas. Por havê-las lançado contra muro inexpugnável - Este não cai – o das injustiças eternas. Desde já ideologias e debates são instrumentos necessários - não arcabouço mas sim esqueleto - ainda que não suficientes para romper a indignidade fossilizada.
O capitalismo é jogo de vencedor e também de seu pressuposto, o vencido. Há a pieguice de que dinheiro não compra tudo. Que o rico também chora|sofre. Um monte de bobagens que faz parte do pacote. Psicanalise inclusa. O dinheiro compra o que não existe e a abstração disso. E em não havendo aquela ou este, por incapacidade artística, importa da Xauxa ( o país das maravilhas dos Quéchuas ).
Sem medo de falhar, pois axiomaticamente: Sou ação ordinária com direito a voto (redundância exigida) deste todo mercado que falha em mim. Qual Deus está em toda parte e nenhuma. Neste sentido, de nenhuma parte, de ausência, cavo como o inseto drumondiano: mesocanaviália, onde o que funciona é o infra mercado. O que subjaz. O res do chão. As migalhas. O que se junta com a vassoura. As letras miúdas. Sua chalaça. Excetuando a cana e sua cachaça, que adormece em cada ribeirão-pretano a doçura de se sentir um pouco usineiro|capitalista, ainda que pela palha queimada trazida pelo raro nordeste a emporcalhar nossos quintais.

2 de nov. de 2010

DISCRIMINAR. Textos.

Uma coisa é a tragédia e a comédia humana. Qual coisa não exclui os cariocas, nem lhes faz diferentes. Salvo as gloriosas exceções que reforçam a regra. Outra coisa é a tragicômica realidade social carioca e, tampouco nisto há diferenças substanciais frente ao todo da República Federativa. Arnaldo Jabor produz um texto quase líquido para depois de forricar-se, anunciar que mesmo assim de calças arriadas lutarão (inclui os desvalidos) contra a anti-heroína de seu catecismo. É a eterna busca, peregrina, de um homem obstinado a ser Carlos Lacerda.
Num texto permeado por vocábulos como: pistilo, pétalas, corola, gineceu e estames inserirmos a palavra “rosa” não há como fugir da flor. Mas se a tessitura é tricotada por: cheiro, beleza, pétalas, suavidade, flor, lábios e rosa: é difícil fugir da conotação mulher.
Exemplo. Passei pelo chiqueiro, joguei umas espigas à porcada, a lama havia de retirá-la, os cochos lavá-los, uns leitões chafurdavam incorrigíveis, mal ouvia o que mamãe dizia: sim estão gordinhos. Matar um leitão! Gritei. Não! Gritava mamãe com o telefone na mão agitada: é a Miriam Leitão. Mas ninguém se incomoda com os argumentos ontológicos.

1 de nov. de 2010

DISCRIMINAR. Aforismo.

FHC. A maioria não gosta (dele) por não entender o que ele diz ou disse, já os demais gostam justamente por isso.

Lula. A maioria gosta (dele) por entender o que ele diz ou disse, já os demais não gostam justamente por isso.

DISCRIMINAR. Culpa difusa.

“Riobaldo, não se
matou a Ana Duzuza... Nada de reprovável não se fez...” –
falou. E eu não respondendo. Agora, o que era que aquilo me
importava – de malfeitos e castigos? Eu ambicionava o suíxo
manso dum córrego nas lajes – o bom sumiço dum riacho mato
a fundo.
João Guimarães Rosa.

A educação formal,ou não, visa estabelecer fronteiras comportamentais necessárias. Tanto à convivência pacífica como a produtiva no tecido social. Estas zonas fronteiriças sempre estiveram no centro do debate educacional. Os horários, a rigidez, a presença, a atenção e o controle são atos de um ordenamento que conforma o dado civilizatório e adequa o indivíduo ao processo produtivo e social.
O fim da ditadura foi acompanhado da também desestruturação do núcleo duro da família, automática e instintivamente. A ditadura, os pais e os professores batiam . A igreja recomendava. Era feio apanhar, mas não era feio bater. Assim passamos da submissão familiar e social quase total a uma total insubmissão.
O professorado paulista não participou do processo de lutas reivindicatórias, iniciadas pelo operariado paulista. Por não participar não se organizou. Por vários motivos. Dos mais mesquinhos: por presumirem-se classe especial, ao mais nobre, por serem no exercício do seu quefazer efetivamente uma classe especial. Aqueles professores em geral pertenciam a famílias tradicionais, donos de propriedades, comércios e possuidores de outras fontes de renda. Também no atacado eram mulheres, que não dependiam exclusivamente daquela fonte de renda.
A classe média e alta ribeirão-pretana fugia da rigidez e alto nível, - do Décio Setti grande professor de física - do O. Mota para as escolas particulares para-passar-de-ano.
Até então as escolas particulares tinham fama e eram diferenciadas e reconhecidas negativamente perante as estaduais. Por outro lado o vestibular motivava a concorrência entre aquelas. E rapidamente o quadro se inverteu. Ao mesmo tempo em a ditadura arrefecia, abrandava e surgiam as primeiras greves no ABC.
A democratização da educação formal, significando maior contingente de educandos, fazendo que a classe média, no uso do direito de se auto segregar – hoje muram o neo-feudo - , migrasse definitivamente para a rede particular. A migração de professores à rede privada pelos melhores salários. A perda de autoridade do professor ( fim da punição enquanto método). Substituido pelo descaso. Que é a pior punição possível. O acirramento da luta por vagas nas universidades públicas. A não substituição dos então valores de classe média por outro qualquer. A consequência desta ausência de valores. A irrelevância do ensino face aos salários praticados no mercado terciário. A mesma insignificância destes salários para os docentes da rede pública. A alta frequência na implementação de mudanças de conteúdo, contexto e metodologia imprimidas à educação estadual nas duas últimas décadas, sem tempo sequer para pensar, que dirá ser. Este conjunto não poderia mostrar cenário mais desolador. Eu não creio em culpa, mas ela é difusa.