Ontem à tarde
Cidão e eu fizemos uma boa caminhada por Ribeirão, que
acabou na Única, uma velha casa de café de coador, o
mais antigo da cidade, mas que nem na velhice aprendeu de fato a
fazer um bom café. Falávamos, mais ele que eu, sobre os
bares que ele gosta, quando entraram dois jovens advogados, soube
depois, antes me pareciam corretores de habeas corpus. Se
acotovelaram ao nosso lado e começaram a discutir sobre Olavo
de Carvalho sem jamais chegarem a um acordo. Para um era um gênio,
para outro mero provocador. Para minha surpresa se dirigiram a mim,
para que fizesse de juiz. Que Você pensa de Olavo de Carvalho?
Depois de identificar quem pensava que Olavo era um mero provocador,
lhe perguntei se seu amigo era gente boa. “Uma pessoa magnifica”
me respondeu. “A melhor que conheço”, somou com firmeza.
Nisso está a chave de tudo. Eu disse. As boas pessoas muito
frequentemente são péssimos leitores. E todos saímos
a cagar de rir.
3 de jun. de 2016
O governo interino Temer, sua máscara mortuária.
O governo interino
Temer, sua máscara mortuária.
Não existe
esfera na vida brasileira algo que possa ser considerado respeitável,
pelo grupo que tomou de assalto o Planalto Central. Sua base, o
PMDB, tem como característica, hoje naturalizada em qualquer
meio de comunicação e mesmo dentro do judiciário,
o fisiologismo. E em todos os rincões da vida nacional. Do
mais singelo município à qualquer grande capital, o
procedimento é o mesmo. São caciques que recebem
heranças políticas, por vezes do próprio
familiar, como é o caso de Baleia Rossi, e nesse caso se soma
o espolio político de Orestes Quércia, posto que o
espólio financeiro os filhos e familiares por ele se
engalfinham; uma montanha de dinheiro que faz o Lava-jato ser uma
querela de mendigos.
Não têm
e nunca tiveram claro qualquer projeto de país, e por
conseguinte de governo. Seu último representante republicano
se aposentou. Não são nacionalistas. Não são
liberais. Não são defensores de nada. Por vezes
estão em defesa não da industria nacional, mas do
industrial nacional, simbolicamente um pato e Skaf que agradecem a
servilidade, e na maioria das vezes, não defendem a economia
nacional nem por razões meramente nacionais.
A questão
do orçamento deixa claro, que continuaremos servis junto da
elite financeira, rentista, já que os cortes são
direcionados às áreas sociais, um verdadeiro banquete
reformista cujos pratos são: tempo de aposentadoria, corte de
direitos trabalhistas, investimentos em moradia, a saúde, na
área cultural e na boca do porco a maçã o
retrocesso na visão comportamental. Os editoriais agradecem,
ainda que os interinos cobrem, desses pratos servidos em bandejas
cravadas de pedras preciosas, sua parte de leão.
A esquerda, que
restou, está desmobilizada, dividida e desorganizada. Foi
desmobilizada ao longo dos governos Lula e Dilma. Com influência
direta de Lula. Os sindicatos se acostumaram a ser governo. Cobraram
seu quinhão. Tanto cobraram que muitos passaram diretamente
para a outra banda, como é notório em Paulinho da
Força, mas não é só ele, talvez seja o
exemplo mais verde-abacate cintilante numa praia de vermelhos, mas
todo sindicalismo se perdeu, nesse labirinto. A elite industrial,
euforicamente, ergue a taça em louvor aos sindicatos, e nessa
efusão de alegria, gotas de vinho respingam no sempiterno
presidente. Deste modo, longe da massa, sem vasos intercomunicantes,
posto que os velhos núcleos sumiram por algum portal
intergaláctico. A desmontagem desses elos entre o partido e
sua base começou há algum tempo, por ocasião de
escolhas de candidatos majoritários, e foram tomando ares não
democráticos, que levaram ao seu desaparecimento completo.
Isso explica a rarefação dos movimentos de apoio à
presidenta deposta. Exceção feita ao exercito de
Stédile e Boulos. Quem tenta, visando ganhos futuros, animar a
massa é Ciro Gomes, um baterista que bate em todos os bumbos e
não desafina.
Assim, a massa
não sai a rua nem pelo fato de Dilma haver sido deposta por um
golpe, com requintes de senhores de escravo, no melhor estilo
Leôncio, eternizado por Rubens de Falco, ao mesmo tempo
bananeiro, grampos ilegais, denuncias sem prova, penteados de
Carmem Miranda, família recatada, e as caras duras e a
incontinência de Generais de pijama, juízes deuses que
proíbem beijos em praça pública, uma TV à
venezuelana que desta se envergonhava, analistas políticos que
se vendem pelo próprio emprego e uma camiseta polo com o logo
da empresa, dão a tonalidade paçoca da miséria
cognitiva do momento em que vivemos.
O Republicanismo
cuspido pelo furibundo capataz Gilmar Mendes era só uma
bandeira que já não tem mastro, este só serviu
para a medrosa classe média nele se amarrar com medo do canto
da sereia comunista, e que no lugar de tapar os ouvidos, tapou os
olhos e não o viu, mas agora começa a sentir seu
cheiro velho de enxofre.
2 de jun. de 2016
nenhum
É certo, que o
governo Dilma dizia, de boca própria, tudo que existe deve
perecer. Não houve surpresa, só um descuido, de
duzentos milhões de pessoas, entregues sem resistência a
três sujeitos, Cunha, Temer, Gilmar e a grande Mídia.. E
nisso tudo foi de embrulho e de roldão: A Constituição,
os partidos de esquerda, os cristãos, os verdes, os heróis
de monte Castelo, os políticos de renome, os intelectuais de
prestígio, o código civil, o código penal, seus
códigos processuais; tudo num exercício de mágicos
atabalhoados, que ao esconderem a carta na cartola deixam escapar a
lebre. E assim nos encontramos, nenhum setor porca e parcamente
progressista, tem representação nessa interinidade.
Nenhum.
Voltamos para antes do ponto de partida.
Temer não supera
Castelo Branco, e já vejo este espectro caminhar entre nós.
E nós teremos que trabalhar para pagar as dívidas da
família Marinho e Civita e Frias e Saads.... Definitivamente
não sabemos viver em democracia, nossa classe dominante tem
medo a qualquer baile com som mais alto, logo vê nisso uma
bagunça. Só conseguem dormir tranquilos enquanto a
massa dorme faminta, sofrida e auto inculpada.
A caricatura do assalto
a Canudos sempre vem à tona. Qualquer maltrapilho os mete
medo. Assim o MST os faz recordar de Conselheiro.
Não vamos a
lugar algum enquanto não nos livrarmos dessa superstição
de ilustração. Não somos ilustrados. Somos
escravagistas, só sabemos comandar sob chibata. Aqui a
liberdade é antidemocrática, e cada negro diplomado é
visto como Zumbi possível fundador de novos quilombos., cada
mendigo com a boca de fel, como o Velho do Restelo, uma nova
Canudos, que portanto, deve ser arrasada. É frequente o uso da
frase, ninguém tem memória. Diria que ninguém
tem memória letrada, mas todos sabem desde o inconsciente o
que é a classe dominante no país. E quem tem memória
letrada sabe que o conteúdo desta frase vai alem dela. Senão
o que se vê não é a derrubada de uma Presidenta
eleita, mas como o trapaceiro derruba as concessões tiradas da
classe dominante durante o último século. O estado
voltando a uma forma mais antiga, do domínio desavergonhado
das forças policiais. Voltamos para antes do ponto de
partida.
achtzehnte Brumaire.
Cuidado! Cachorro Ignorante!
Cuidado! Cachorro
ignorante.
César Aléxis,
considerado o melhor adestrador de cães da região. Tem
seu canal no youtube ensinando técnicas básicas para
cuidar e educar o melhor amigo. Autor de um belo livro sobre
psicologia canina, que lançará na Feira do Livro de
Ribeirão Preto.
Um dia recebeu uma
chamada urgente pelo telefone: - Senhor Aléxis? Sou o Juiz Bruno
Gotgut, Temos um problema com nosso cachorro – uma voz que soava
aterrorizada, como se aquele homem esperasse que do animal surgisse
milhões de carrapatos infectados pela espiroqueta da
enfermidade de Lyme, loucas para picar-lhe. É um pitbull e
muito agressivo. Pago o que for necessário. - Fique tranquilo,
senhor Bruno, cães agressivos são minha especialidade.
Qual seu endereço?
Um caminho de
paralelepípedos entre maciços de primaveras de todas as
cores conduzia à casa dos donos do pitbull. Logo à
entrada, uma placa com os dizeres: “Atenção! Cachorro
Ignorante”. César tocou o interfone, sem obter resposta.
Depois de uma segunda tentativa falhada, percebeu que a porta
principal estava aberta.
Entrou e dado uns
passos estava num amplo salão fez ecoar: “Senhor Bruno!”,
e não obteve resposta. Então gritou: “Olá! Oi
de casa!” tampouco funcionou. Assim, subiu uma escadaria em mármore
com um caminho ao meio feito de um tapete vermelho com os fixadores
em dourado em cada dobra do degrau, até o segundo andar. Um
templo de luxo e gosto duvidoso. No corredor estavam dois cadáveres,
horripilantes mutilações, nadando em seu sangue como
filés de picanha antes da brasa. As paredes da casa pareciam
feitas de carne. Carne crua e carne na chapa, uma cena tarantínica
. Indistintamente. Algo na parede se movia e completava a cena.
“Oooooo,
deusdocéu...!” Gritou com voz que parecia um mugido, em
rotações mais baixas. César Aléxis correu para a
saída, saltou degraus da escadaria. Tudo em vão. O
cachorro saltou direto á sua garganta. O sangue esguichou.
1 de jun. de 2016
Adeus.
Adeus.
Quem sabe a grave despedida
hoje ou amanhã,
ou quem diria ainda
uma palavra?
Nada mais, sorrio e penso
destruir o mundo
com meu silêncio.
19 de mai. de 2016
O Dia que Matei a Mariana. .
Fui tomado de imensa
alegria ao me deparar com uma nota de cem reais dentro da biografia
de Joyce. O que não esperava é que Mariana -a República
- com seu barrete frígio e seus olhos baços e ela toda
verde-azulada-cinzenta parcimoniosa girasse a cabeça e me
olhasse fixamente, mostrando um sorriso cruel, com dentes afiados,
que parecem gritar impacientes. De repente a nota salta para meu
pescoço. Arregalo os olhos desmedidamente, enquanto meu
cérebro tenta processar o ataque. Agarro a nota de cem, e a arranco de meu pescoço, e meu sangue jorra na parede. Saio
para a rua, entro no bar do Toba, peço uma porção,
e com o palito de dentes espeto a República bem no coração,
transpassando-a. A nota faz um ruído como um furo de pneu e
desaparece. Tomo uma cerveja, e logo outra e outra. A mesa parece um
tabuleiro de xadrez aonde as peças são o meu consumo. Num copo vejo o reflexo de meus olhos vermelhos e as veias prestes a
explodir. O Tobias e os clientes estão aterrorizados, então
eu digo: Um Campari, por favor.
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