Se
queremos nos conhecer, a nós mesmos, devemos entender nossas
trajetórias. Donde viemos até adonde vamos. E
especialmente saber, se vamos para onde dissemos que iríamos,
ou queríamos ir. As trajetórias são mais
valiosas que a acumulação de experiências e
tropeções pontuais, porque as trajetórias criam
hábitos. Se não a avaliarmos não pode haver
consciência do próximo passo. Que pode ser um desvio de
rota, para o qual não há retorno. Como país, a
rota democrática, sempre a interrompemos. A ponte que propõem
nada mais é que um retorno ao passado mais cruel. A rota do
aniquilamento da maior parte da população. Em qualquer
momento haveremos de tentar novamente, e recomeçar do zero.
27 de abr. de 2016
só vou te contar um segredo não nada,nada de mal nos alcança pois tendo você meu brinquedo nada machuca nem cansa
só vou te contar um segredo
não nada,nada de mal nos alcança
pois tendo você meu brinquedo nada machuca nem cansa. fulgaz, Marina.
não nada,nada de mal nos alcança
pois tendo você meu brinquedo nada machuca nem cansa. fulgaz, Marina.
Normalmente, contam-me
coisas que já sei, mas as vezes no meio da conversa aparece um
detalhe, novo, um perdigoto, um lapso de linguagem, um sem querer,
que recolho com cuidado, como se fosse um coração
pulsando fora do peito, carrego-o com carinho, até o novo
dono. Não se pode desperdiçar nenhum detalhe das
conversas, não desperdiço, porque não se sabe se
se converterá, lá à frente numa ponta de um
novelo que se pode ir puxando, puxando. As vezes, e isso é o
mais desesperador, me contam coisas com a condição de
que não as conte a ninguém. Sim, digo que sim. Ouço
em silêncio. Me emociono. E calo. Para sempre. Normalmente,
isso que tenho que guardar, é aquilo que daria verossimilhança
e intensidade a um relato, e tem que ver, claro, coma as coisas
humanas dos que compartilham com os demais humanos. Tenho o quintal
cheio de buracos, nos quais enterrei meus segredos. Está se
tornando um campo minado, mas a alguem tenho que dizer o que me calo,
para que não me expluda.
22 de abr. de 2016
Velório de Nézin do Corote e Mel Gibson.
No
funeral do Nèzin do Corote o padre passou seu sermão,
curto, falando de Mel Gibson. A câmara ardente estava cheia, muitos
candidatos. Nèzin nunca teve uma relação
estreita com Mel Gibson. Não teve nenhuma, na verdade. Mas o
padre achou que tinha o zap, sete-copas e espadilha. O caso é
que o tipo não havia começado mal o despacho: “vejam
vocês, nessa vida não somos ninguém.
De um dia
para outro um ser querido nos deixa, assim, inesperadamente.
Repentinamente.” Ele sabia, mas não ia dizer nada, ali à
frente da mãe e dos irmãos de Nèzin do Corote,
sobre sua entrega a Allan, alambique; e continuou ...” bom como
Nèzin que só tinha 50 anos, tampouco era uma
criança...” Vendo que não podia falar muito da vida
porca de Corote, decidiu falar de Mel Gibson. Desse sim, sabia muito.
Deve ser por culpa do filme Paixão de Cristo.
Não creio
que o padre tenha gostado ou visto o filme, mas dá no mesmo, é
como se o tivesse visto. E se meteu com o cineasta como sempre
fazemos, seja, direto no bolso. Esse Mel Gibson, tem mais dinheiro
que estrelas no firmamento. Aquela metáfora, ou como quer que
se chame esta hipérbole demente, me pareceu dum valor poético
altíssimo e precioso, e um tanto acidental.
Recordei
disso, não sei bem por quê, acho que foi com a história
de um senhor do Adelino Simeone, um bairro da periferia de Ribeirão
Preto, digamos, José, seu José, que morreu faz uns
meses, numa casa cheia de lixo. José tinha síndrome de
Diógenes. Tinha também uma bicicleta velha, que
passeava pelas tardes. Ia de lixo em lixo, tomando os desperdícios
como tesouros. Até um computador encontrou. No mundo real,
José era um sujeito fodido, sem família nem trabalho,
um louco de vida desgraçada e penosa. No mundo virtual, se
transformava, como se transforma Clark Kent ao sair da cabine.
No
Facebook, José se sentia Super-homem. Enfeitara seu perfil com
fotos do rio Pardo, de poentes, e de amanheceres. Bendizia a paz, o
amor, a esperança. Muitas crianças, cães e
gatinhos. E tudo era curtir e amei. Não estava só.
Tinha 700 amigos. Tinha mais amigos que estrelas o firmamento.
Feliz. Naquele dia, que faz meses, abandonou a realidade de vez, aos
51 anos, emparedado pelo lixo, foi encontrado só, primeiro
pelos urubus, depois pelos vizinhos, mera repetição, veio o Datena. E
o padre, também becado, nem foi até lá, para
falar mal de Mel Gibson. Acho que já virou pó, desse
que se fazem estrelas, dessas que abundam no firmamento. .
Poeta e Ladrão, Nobre Deputado.
Poeta
e Ladrão, nobre deputado.
Ao
que me consta, ele advertiu numa entrevista: “...não creio
que alguém possa viver de escrever poesias. Empresa romântica
e quixotesca”. Mas ele vivia bem. O delegado Menezes o deteve no
Hotel Asturias no Rio de Janeiro no verão de 1989. No momento
que se aprontava para assistir à entrega do prêmio
Machado de Assis de poesia, do qual dizia ao delegado ser jurado. Era o seu habitat. Concurso ao qual havia apresentado seu
último livro: “Tanajuras, o vértice”. Levava
consigo a arma incriminadora, a esferográfica. Não é
que escrevesse tão mal que merecesse ir preso. Tinha uma certa
fama, de fato. Ainda o encontramos na Amazon e no sitio Domínio
Público do governo federal. Jaboti, Jaboticaba, fora
publicado em 1985. O problema é que quando não fazia
versos falsificava cheques. Ninguém suspeitaria desse
maranhense de formas divertidas; Jusmari Negromonte poeta e
romancista ganhador do premio Ribeirão das Letras de
Literatura entre outros galardões e Sarnem, o Deputado, fossem a mesma pessoa que alimentava uma capivara, uma folha corrida
delitiva mais extensa que seu corpus poético. Qualquer
cronista da época citava uns versos de seu poema “ Pardeus,
que Máscara!” , que rapidamente adquiriam um novo sentido.
“
Rasgue
o seu disfarce,/
rasgue
e pronto,/
o
carnaval já terminou/
o
carnaval se foi tonto” .
Dele
foi retirada a máscara, e para ele a festa estava acabada; no
entanto, não sofria pelos milhões de cruzados
estafados, porque logo ao sair da prisão em 1996 foi preso
novamente, depois de mais um golpe do colarinho branco, esse sim, deixou uns bancos cariocas com um buraco de milhão de dólares,
toda uma fortuna. Se fizermos caso da crônica que assinava
Julinho Chiavenato no A Cidade, o delegado que levava o caso,
mostrou-se admirado. “Me deu muito trabalho, quer dizer, novamente
me deu muito trabalho, senhor Sarnem. Cada vez o faz melhor e é
difícil pegá-lo”. Continua Julinho, O poeta
agradeceu o elogio “ Isso quer dizer que nós dois temos sido
bons profissionais” .
Moral
da história, Sarnem roubava porque havia, ele próprio, que editar seus livros de poemas, e acima de tudo queria ser poeta, sem ter que se
importar com o preço.
19 de abr. de 2016
Por Deus! Pardelhas!
Topou
com o muro da incredulidade,
ateu
Levado
na manada fanática, à toa.
Fingiu
isenta distância dos extremos,
ator.
Engolido cru, por deus! atum.
Espera
a próxima,
até.
18 de abr. de 2016
Eu, O Monstro.
Eu,
o Monstro.
Estou
com minha miséria existencial até o pescoço. Há
coisas para as quais não estou preparado. Hoje enfrento cara a
cara a mais dilacerante de todas. Uma ferida que sangra sem remédio.
Não é mortal, sei, mas levarei esta cruz pelo resto de
minha vida. Minha filha, minha mais e única amada filha, meu
tesouro, a luz dos meus olhos, gravou-me em minhas roncaduras. E os botou para
que ouvisse. Os ouvi. Os ouvi junto com toda a família. E
asseguram que esse estranho ser roncador que dorme com minha querida Joana,
sou eu. Dei um ultimato a minha querida filha: borre esses roncos de
seu celular, ou que suporte as consequências... adotar uma
filha.
13 de abr. de 2016
Resumidinho
Resumidinho.
O país cresce. O cara fatura. Cria uma offshore. Transfere capital para ela. Vem a crise. Aquele capital não volta para investimentos. Em crise os bancos limitam crédito. Sobra como única forma de manter lucratividade diminuir salários. Com um governo mais para a esquerda não é possível. Democraticamente a mudança não ocorreria nem em 2018. Em 2022 já estará formado Fernando Haddad. Solução: Golpe.
O país cresce. O cara fatura. Cria uma offshore. Transfere capital para ela. Vem a crise. Aquele capital não volta para investimentos. Em crise os bancos limitam crédito. Sobra como única forma de manter lucratividade diminuir salários. Com um governo mais para a esquerda não é possível. Democraticamente a mudança não ocorreria nem em 2018. Em 2022 já estará formado Fernando Haddad. Solução: Golpe.
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