Nosso
Herói.
Horacio:
“naturam
expelles furca, tamen usque recurret”.*
Nosso herói é
um bolsista de pós-doutorado em Psicologia, mais
especificamente em Percepção e Psicofísica. Na
linha estrita da Percepção Visual: Percepção
do Tamanho e do Espaço, de uma faculdade provinciana, em meio
a canaviais, que vivia sem saber o que queria. Se alguém, de supetão
o inquirisse: Quer ser um Rei? Talvez respondesse: Bah! Com o
despeito de um sorriso largo. Queria ser ele mesmo, coisa que ainda
não conseguia definir. Longe ia o tempo dos primeiros anos
escolares tão populares, tão democráticos,
quando a educação tinha como função
enganar a natureza e a procedência de tudo que havíamos
herdado, dela, no corpo e na alma. Nosso herói se recorda dos
virtuosos e cândidos professores, que o animavam a ser
verdadeiro, e obedecer o impulso profundo do seu coração.
Um dia
nosso herói ouviu dizer que “só a ação
conduz ao êxito” e que o êxito é a “realização
do próprio destino”, então, imediatamente decidiu que
queria ação e êxito. Mas não era um homem
de ação. Os homens de ação são os
aventureiros, os financistas, jogam na bolsa de valores... mas para
ele, o que move esses homens são as mesquinharias. Ele quer
algo prometéico, e se não pode realizar, em si mesmo
este destino, está disposto a gestá-lo, no seu próprio
filho. Assim, decide se casar, entrar para o corpo docente da
universidade e por a cabeça no lugar. Se casou com a formosa
Amaranta, filha de José Arcádio e Úrsula, com
quem logo teve um filho, que era uma criatura repugnante, doentio,
crânio dilatado, e a coluna sinuosa, se criou raquítico,
cresceu corcunda, impertinente, arisco, precocemente lascivo e
briguento. Acabou se enforcando no fundo da chácara, pendurado
de um abacateiro, bailava no ar o futuro Prometeu, desforme e leviano
como um fruto temporão.
* quer dizer, por muito
que tentemos expulsar a natureza com uma foice, ela sempre terá
a última palavra, e sem interrupção reclama seus
domínios.