Manual do Sexo Manual.
A Humbert Humbert não
passava pela cabeça ser um criminoso. Muito menos por aquilo
que mais lhe dava prazer. O sexo. Estudante de uma faculdade
periférica de um curso idem, do campus da Medicina da USP. No
busão lotado de juventude e libido os olhares se cruzavam, se
procuravam e se encontravam, se desviando de outros, de soslaio, e os
corpos se chamavam, se buscavam se encostavam, as curvas, as formas
arredondadas, pontiagudas, se sentiam, se ajeitavam. Humbert se
acasalava. De fato haviam se escolhido. Tudo começou por um
olhar, estavam distantes e foram se aproximando. Era muito fácil
avançar, mas Humbert Humberto esperava. Ela, por fim, se
desvencilhara de uma amiga, fazia o mesmo com a bolsa tiracolo, um
meneio de cabelos e estavam colados. O percurso não era longo,
e em todo ele atados. Por fim ela descia. Nem um olhar. Nada. Em
outras situações parecidas, Humberto Humb havia
sussurrado algo ao ouvido, e tudo ruía. Então com Lole,
é assim que a chamava de si para consigo, Lole, seria
diferente. Mudava a momento de entrar no ônibus, para se
assegurar do desejo dela, e se punha adiante dela, e ela vinha
sorrateira, e de repente, estavam lá. No refeitório, a
buscava, mas ela não o via. Os olhos dela o varavam e não
o viam. Certa vez, a encontrou numa festa. Pensou em falar-lhe.
Desistiu. Esperava ao menos um sinal, e nada. No dia seguinte, já
um tanto entediado, resolveu entrar a tempo de conseguir um lugar
sentado e acabar com aquilo. E lá foi, fez isso, sentou.
Passado uns minutos o ônibus parou no ponto em que ela subia.
Ela subiu. E não tardou muito para ela estar esfregando no
ombro dele o objeto desejado. Era uma nova posição.
Naquele dia ela levava jeans. No dia seguinte ela vestia minissaia.
Humb Humberto passava sua mão por dentro de sua camisa, até
alcançar o ombro, e com a mão invisíveis
tocava-lhe com suavidade.