Já olhou os
olhos de um grupo de 30 a 40 crianças ou adolescentes por
quase uma hora, seguidamente? Se não é o caso, nunca
foi professor. Mas, imagina o que deve ser um mestre?
Pense que você é
um médico, advogado, um vendedor, um balconista, e que tenha
o consultório, o escritório, o balcão cheio,
vazando pacientes, compradores, usuários, clientes, cada um
com suas necessidades, capacidades e interesses... diferentes. É
de bom augúrio lembrar que alguns não têm a
minima intensão, vontade de estar ali e que ainda uns tantos
façam um certo rebuliço, e você está só,
sem nenhuma assistência e os tem de atender a todos e ao mesmo
tempo, e com profissionalismo, e até certo ponto com algum
grau de excelência. Tudo juntado com mais essa: cinco dias por
semana e nove meses do ano, e muita das vezes oito vezes ao dia. Como
seria um médico tratando dessa maneira, ou o advogado, o
balconista, o vendedor? Pois assim seria o exercício aparente
da docência em classe.
Disse aparente, porque
a tudo isso tem que se somar, que um professor, seja qual for o
âmbito educacional do seu exercício, há que
preparar aula. Não é como o ser pedreiro, que uma vez
que se saiba levantar paredes e todas sobem da mesma maneira. Cada
grupo de alunos é diferente. Cada aluno individualmente tem um
ritmo e necessidade particular. Preparar o material escolar, manter
o consenso nos critérios de avaliação com os
colegas de trabalho, as adaptações curriculares, a
metodologia especifica que cada grupo requer, ainda pensar nos casos
individuais. E no fim, à noite e durante os fins de semana,
preparar as aulas – já que não há tempo de se
fazer durante o horário de trabalho, já que nestes
momentos há que se dar aulas - corrigir exercícios,
preparar exercícios, preparar e corrigir provas. E também
fora do horário de trabalho – já que os país
não querem perder um dia de trabalho para falar dos seus
filhos – atender as famílias...
Quem não é
capaz de imaginar tudo isso, também não se dá
conta da responsabilidade que se põe, aos professores, saber
que os proprietários dos olhos que os olham não se
fixam apenas nas palavras, signos, equações da lição.
É que se trata de um mestre ele inteiro, uma lição
cada um dos seus gestos, cada olhar seu. Ensina com o que diz e
exemplifica com o que é, como uma vela que se consome enquanto
ilumina o caminho dos outros. É justa compensação
que têm? ...
O que posso dizer-lhes
é que, os olhos que os olham, um dia e outro mais, enquanto
vocês, os mestres, envelhecem, renovavam-se a cada ano na sua
juventude.