1 de ago. de 2015

Lemuel Gulliver.

Lemuel Gulliver, tão logo chegar de Liliput, aonde as pessoas são altas como a guia rebaixada, e  no mais, miúdas em tudo que se conote. Lemuel manteve a abstração de se achar um gigante, mesmo diante dos demais londrinos. Tanto assim que ao caminhar por Londres não perdia oportunidade em intimidar os transeuntes, mesmo os que iam a cavalo, insultava a todos com desdém, para que franqueassem-lhe o claminho, para não serem esmagados por tamanha grandeza, Gulliver. Se imaginava um gigante entre anões. O que de melhor se podia fazer era rirem se dele, na cara dele, e o escárnio tanto podia ser devido à estupidez, a loucura ou a arrogância. 

31 de jul. de 2015

La Fura dela Baus.

Lá Fura dels Baús. Reminiscências.

Era o 1988, ao Mercat des Flors, em Barcelona se apresentavam o La Fura. Fui com Rose, a pronúncia é Rossa, e Rossa quer dizer vermelha ou vermelho, segundo queira.
Rose me falava do inesperado. Era quase verão, então, primavera.
Compramos o ingresso. Ninguém podia entrar e não havia lugares marcados. Quando a porta se abriu, entramos todos, esperava por escolher um bom lugar, mas não havia. Havia à direita do grande salão, escuro, umas 25 poltronas para mil pessoas. No entanto, ninguém as ocupou. A maioria tinha alguma informação, eu pela teimosia de que Rose só me falasse em catalão, ao que parece não havia entendido nada. Enfim estava ali, e ali era o palco. O espetáculo, Tier Mon do qual me restaram estas reminiscências que conto.
A sala foi escurecendo, um fenômeno invertido, pois a visão vai se habituando à rarefação da luz, no entanto, eles diminuíam ainda a iluminação. Noto que os que me rodeavam olhavam para o teto, nisso distinguia movimentos. Último sinal, a luz ascende até o ponto de penumbra, e os atores passam voando. Havia jaulas. As cenas se desenrolam em pontos diferentes, o público procura a cena. A linguagem é corporal. O palco é por toda parte. O espectador busca a cena. Perdi Rose. Achei. Suava de tanto correr. De repente começam uma guerra, se atiram macarrão, fideus, o chão fica escorregadio, logo atiravam água uns nos outros, suspensos por fios, o piso fica ainda mais liso. Muitos caem e ali ficam a olhar para o que se passa, é tudo que recordo, juro. 

Tempo!

Deus me livre dos paradoxos, mas gosto de saber que o tempo é eterno e sem espanto: relativo.
Que rápido deve ter passado julho para quem estava em gozo de férias, a molecada.
Já quem espera pelo Agosto, num julho sem fim, pelo desgosto das contas, esta sexta 31 não acabava mais, sorte, amanhã é sábado.
O mundo seguirá girando indiferente. Tocará o telefone e uma família feliz, anuncia que chegou quem eles esperavam, é uma linda menina, Laura.
Noutras casas que não esperam notícia alguma, o simples timbre causará uma devastação.
Faço férias em setembro e Agosto teimará em reinar. Abriu mais uma farmácia. Fechou um boteco. É só tristeza, melhor medir o tempo em sóis. Uma noticia, que não impacta mais, mas o Centro continua feio, não tem remédio, a cidade está se mudando para depois do shopping, lá tudo é novo, largo, arborizado, encantado, enquanto o centro caminha para ser o bairro chinês, lei da vida. Lembro quando algum general veio inaugurar aquele viaduto, tinha vasta cabeleira, que penteava de lado e caia sobre os olhos, as leis de Newton passando aqui na frente com um pouco de arrependimentos. Uma vitrine  tem seus motivos,  a que me vem é enigmática, e me causa medo e não me atrevo perguntar: servia para o quê, porque sua imagem se esvai rapidamente, um para Pedro Pedro para da minha estatura. Uns olhos de vidro numa caixa, uma caixa com bismuto, penicilina, gaze. Como temia a palavra gaze.
Como foi difícil ser moleque ao ver um homem dançando tango com a Elza. 

29 de jul. de 2015

Sermão!

Sermão dos afetos.

Todos já tivemos, por demais, experiências negativas. Palavras cortantes como vidro de quem não nos quis ou quer bem, o mais doloroso, por pessoas amadas ou amigas. Devo e devemos perguntar se usamos dos mesmos meios, a rejeição, a calúnia, o descrédito.
Não se trata de esconder discrepâncias, desacordos e problemas. Porque somos fracos tratando com fracos, devemos pensar em como tudo pode afetar nossa credibilidade. Porque o confronto, a briga, a peleja não têm atrativos. A base deveria ser a gentileza.
É certo, que o que há é o enfurecimento, a ira, os gritos, as injúrias e todo tipo de maldades, mas podemos mudar. Melhor: podemos mudar?
Ser afetuoso com os demais?
Deveria, quando se pensa em construir um grupo, um bairro, uma comunidade, uma sociedade mais gostosa de se viver.
Não sou cristão, mas deveria ter isto em mente, os cristãos, não mais que eu, por ateu, também têm este dever, ou como mínimo se calarem, porque "crêem" na comunhão e não na destruição!
O pop papa Chico tem falado de "doenças" cerebrais curáveis, a fofoca, os mimimis, os nhenhenhéns, bobagens, rivalidades mesquinhas, calúnias, falar pelas costas, puxasaquismo, puxa tapetismo; tudo por  'desditar' o outro. A cura se dá ao não tirar os outros por si, dando uma chance ao outro. Isso feito, seremos irreprocháveis, irrepreensíveis, irretocáveis.
Sejamos afetuosos.

27 de jul. de 2015

Impeachment.

Impeachment.

O Impeachment não tem fundamento legal, é sempre político. Paradoxo. Solução política para quando a politica não tem solução. Digo que não tem fundamento legal, apesar de que o Impeachment pode ser ancorado por uma lei, mas seu leitmotiv  sempre será político. Foi assim com Collor, para além do bem e do mal, mas foi político.
A lei, em si, só serve para pendengas que apresentam rarefação política, por exemplo, roubar algo do vizinho, se o ladrão não tiver relações nenhuma com os poderes instituídos, porquê, em tendo, já vira política.
Aliás, no caso de pedido de Impeachment, o Judiciário, a qualquer tempo, é o pior juiz. Os políticos devem ser julgados ( nas causas políticas e de interesse público) por seus pares e o povo ( a cidadania). Invocar a  legalidade ou ilegalidade quando se pleiteia o Impeachment é em si fazer politica.
Portanto, se digo golpe, e você diz Impeachment, é só uma forma do braço de ferro político. Todas as demais falas são argumentos prós e contra, cada um com sua força política, como corrupção, distribuição de renda etc, nada além... Tudo vale e será verdadeiro o vitorioso, e por conseguinte, ao vencedor as batatas... 

Barulhos sem pentagramas ou eita povo incívil.




Um produto para irritar o cérebro para ser favas contadas, fadado ao sucesso comercial  deve ter como pressupostos o calor e o barulho da incivilidade de nossa terra.
Já é um clássico apelar ao nosso DNA latino como desculpa, ou para dar ares positivos à contaminação acústica que nos invade por todos os lados.
A tal da qualidade de vida, a saúde comunitária se ressentem...mas somos assim, falamos aos gritos, com a buzina para saudar aos amigos, o som no último, porque afinal estamos em festa, como me disse a gazela vizinha.
Em seu ensaio O Cântico no templo, de Cidno Galvão,  Cidno lamenta ao nos dizer que como lhe agradaria que a nossa terra fosse como umas terras do Equador além, onde dizem que, a gente é limpa, nobre, culta, rica, livre, despreocupada e feliz.
Mas olhe, a felicidade tem muito a ver com o descanso, com os passeios tranquilos e.pausados.e a hora da sesta deve ser silenciosa.
A Vila de Cantrone, no sul da Itália,tem claro que o silêncio e o descanso são importantes. Há poucos dias aprovaram normas que punem os cães, quer dizer, seus proprietários, se aqueles latem a hora da sesta e à noite.
Parece uma boa medida para nos darmos conta que vivemos em comunidade, e por isso, devemos estabelecer lindes de convivência, que não se pode varar.
A música que em princípio é um som agradável, se converte na autêntica tortura, quando está em mãos tão incíveis passeando seus veículos contaminando as redondezas. O barulho é a fonte principal dos conflitos entre vizinhos.
Outro dia no bar do Zebra, que não permite barulho, (na verdade o vizinho, que é uma casa de família sem alvará pra coisa noturna que inferniza a vida boêmia) tínhamos à mesa um advogado ( que vive disso) e um outro que perguntou-lhe se poderia tomar alguma providência  respeito a paixão pelo barulho sem pentagramas dos seus vizinhos?  Impossível, não há lei e quando há não há aparelho para medir os decibéis, e para botar um pouco de  humor nessa chalaça, disse que mora no condomínio Turmalina, e as casas são paredes-meias, disse que os gritos, gemidos orgásmicos, acompanhados pelo  tum-tum de compassos 6/8 da cabeceira da cama na parede, lhe convertiam as noites em pesadelos, como medir os decibéis dos atos sexuais? Todos rimos, mas o outro falava sério, a ponto estava de emitir a famosa frase; Vendo tudo e vou pra Miami.

26 de jul. de 2015

Felicidade.


Para Renato Andrade. 
Felicidade é uma palavra/conceito muito, grandiloqüente. Prefiro pensar que felicidade é se levantar cedo no domingo, dar uma pedalada até a biquinha da Invernada, ler o jornal da cidade, aproveitar esse calor invernal sentado numa cadeira espreguiçadeira à calçada, tomando um arábica da Alta Mogiana, enquanto uma menina de não mais que sete anos com um bebê de colo, organiza a brincadeira de outras tantas, que discutem quem deve procurar quem!
Depois sair para comprar ingredientes faltosos e ter em mente todos. Mas, aí, sair do super e dar de cara com um amigo, que ao ver bananas na caixa de compras, te passa a receita de uma farofa que as incluí, e de súbito e seduzido,  ter que alterar o menu, para a incluir. Pimenta biquinho, a tenho num vaso, pensei. Uma farinha em flocos que me chapam o côco, idem. É só dar uma enviesada e mantenho a vagem com bacon.
Por que penso essas coisas?  Enquanto frito o bacon, depois a cebola, e um noroeste agradável passa pela cozinha, cozinho os ovos, ao mesmo tempo em que penso nos fracassos bem intencionados, os olhares de superioridade que me possam ter sido endereçados, o medo de  ciomprometerem-se, tão boas pessoas, a viagem da esquerda ao status quo, o sabor acre-doce da política a todo momento, na força destruidora que o poder esconde, e como sua visão se desfoca. Então me dou um conselho, que por sinal não o aplicarei, querer estar em tudo é uma fraqueza, pior ainda, é ridículo.