Saio de casa com o tempo justo de chegar ao trabalho. Todo dia o mesmo caminho, com pequenas variações sugeridas pelos semáforos. Poucas novidades, de quando em quando, uma nova pintura, uma nova fachada, os interiores continuam incertos. Numa rua que ainda não consegui repetir havia um grafite, se preferir, uma pichação: “Acredito que há um mundo fora da minha cabeça”.
13 de fev. de 2015
há algo, por que há algo?
Saio de casa com o tempo justo de chegar ao trabalho. Todo dia o mesmo caminho, com pequenas variações sugeridas pelos semáforos. Poucas novidades, de quando em quando, uma nova pintura, uma nova fachada, os interiores continuam incertos. Numa rua que ainda não consegui repetir havia um grafite, se preferir, uma pichação: “Acredito que há um mundo fora da minha cabeça”.
12 de fev. de 2015
Cavo.
Se um poema, uma
música comove, o faz desde da vida do leitor, ouvinte, de modos que
uma pessoa que não seja ''culta'', se emociona com comprovar que
aquilo que acaba de ler, ouvir, expressa algum aspecto da sua
consciência, ou da sua vida. Constatação , ainda que atrevida,
estendo a outras sensibilidades. Mais ou menos.
Muito embora, e às
vezes, nos tornamos cúmplices de autores e obras, por motivos ainda
mais prosaicos, como os geográficos, linguísticos, de gênero e
étnicos, por que não?
São
refúgios, e por vezes, construídos lá na infância.
Costumo me refugiar num poema de Drummond, Áporo. Que dá a dimensão
do inseto que cava e cava e cava...
é assim:
Um inseto cava
cava sem alarme
perfurando a terra
sem achar escape.
Que fazer, exausto,
em país bloqueado,
enlace de noite
raiz e minério?
Eis que o labirinto
(oh razão, mistério)
presto se desata:
em verde, sozinha,
antieuclidiana,
uma orquídea forma-se.
11 de fev. de 2015
Gente é Para Brilhar....
O mais óbvio é que
vivemos numa sociedade que menospreza a transcendência. De outro
modo, vivemos na sociedade que exalta a superficialidade. Se aprende
desde a mais tenra infância, que a alegria tem a ver com a segunda.
Com as facilidades das coisas, a sua espuma imediata e óbvia, que
dura tanto como a sua própria efêmera resplandecência.
Por outro lado a
tristeza se relaciona com aquilo que transcende qualquer feito. Se
alarga espiritualmente, ou de alguma forma simbólica, se explica por
meio de algum mistério íntimo que temos que resolver, sentir e
explicar.
A morte, por
exemplo, é o signo supremo da transcendência, literalmente e
metaforicamente, enquanto a vida fácil se coloca exatamente onde
luzo, e não além, além e aquém é sombra. A transcendência
requer um grande impulso, o supérfluo se conjuga no presente e
basta, é mais democrático e transversal.
Não posso esquecer
que tudo que faço, penso e sinto tende à transcendência, nem que
não queira, já que tudo tem um sentido, ainda que oculto, tudo,
tudo mesmo, e mesmo uma ação superficial como ir comprar ou ficar
no sofá babando diante da TV. Incluo a promessa politica, também,
ainda que não o pareça. O seu não cumprimento implica numa
consequência, porque tudo na nossa vida comparte um discurso
paralelo, numa realidade mais profunda, não haveria de ser
menosprezado o exercício das palavras.
Não fosse aqui, não
conceberia viver num cenário de tamanha mesquinharia. Porque não
vivo num país minimamente inteligente e sensível. Perdemos todo e
qualquer brio, ou jamais o tivemos, e que poderia nos conectar com
algo para não sermos o que somos. Vivemos enterrados nas ruínas do
que não fomos, justo no momento que parecia que tudo começava. O
mais grave de tudo é que, apesar das vexações, querem devastar a
esperança, e isso já não nos importa.
10 de fev. de 2015
Chafurdance!
.
Resisto o tanto
quanto posso, já não posso mais resistir: A pobre Marcela que
carrega sozinha a frente fria, e os anticiclones, porque você já
poderia me perguntar pelos ajudantes, por que não contrata
ajudantes?
Não sei, sei que telefona dia sim dia não ao seu Zé, que
supostamente está no litoral norte, Ubatuba, sem ofício, por sinal,
dizem que toma conta da mãe doente, que nunca fica boa. Não seria
mais fácil levá-la ao Caldeirão do Huck?
É claro, não interessa. Porque o Zé não está em Ubatuba, e sim
bem mais próximo, na Lins de Vasconcelos, em São Paulo, e se faz
passar por seu Zé, mas ali na Lins o chamam Senhor Azevedo, ainda
que os tem a todos enganados, que de verdade se chama Datena. Assim
que permanecerá no novo endereço até princípios de março, se o
deixam, mesmo porque tudo leva a crer que as coisas não lhe vão tão
bem, ainda que Vasconcelos – que outro Vasconcelos? – é seu
costa larga e da própria Marcela.
Marcela
passará o carnaval sozinha, nem à Pascoa terá alguém, porque
parece que os seus filhos, estes sim, no litoral, mas em Rio das
Ostras, não voltarão para a Capital. O que não é novidade, faz
meses que sequer lhe telefonam, nem sinal de vida, e quando algum
deles a chama por SMS é para proporcionar-lhe desgosto.
Gostaria,
quer dizer, fixe bem no que passa na pobre Mansão Olderbrecha:
parece que um dos rapazes não está em Miami, tudo porque este
rapazola perde óleo. E para Marcela, se ele ligar para dizer
bobagens, mais valeria que estivesse com Boku Haran, noutras,
n'África.
Por
fim, Marcela, que, melhor eu te dizer logo e assim quanto mais cedo
possível você vai cuidar da tua vida, mas é complicado dizê-lo
assim de um tropeção, saiba então que o Munrá, ou o veterinário
como preferir, também acoberta as coisas do seu Zé, sendo mais um
anjinho, que você dificilmente o verá, mas ele.... como direi.....
Você
deve estar pensando que tudo isso é uma bobagem, no entanto Marcela
gosta mesmo de chafurdar. E me deixa muito triste, que ela seja uma
iludida, a parte do problema de não poder usar peles nesta terra, e
ninguém as compraria para que pudesse reformar a Mansão, por isso
ela se ausenta. Se repito alguma informação, é pela importância
que tem. Afinal, somos amigos, e mais vale que saiba de tudo,
principalmente do maucaratismo do Datena ou Azevedo, porque eu sempre
estarei ao lado de Marcela, prós e contra, Marcela que amigos têm?
9 de fev. de 2015
Perguntou ao Gato...
Perguntou ao gato:
Se sente muito só? Aquela
parecia ser uma pergunta boba, assim que decidiu perguntar novamente:
Tá se sentindo muito só? E, como de costume, deixou a resposta ao
gato ocre amarelado que ondeava o rabo com lentidão. Claro que se
sente só! Eu também me sinto. Quando disse estas palavras, sentiu
um leve remordimento. Na realidade deveria ter
comprado mais um ou uma gata, para que seu gordo gato ocre amarelado
tivesse
amigos
e formasse uma pequena comunidade felina. Mas, ao mesmo tempo, temia
que a compra de mais gatos o fizesse perder a comunicação que já
tinha com esse. Havia algo de especial entre ambos, como nesse
momento, em que o gato permaneceu imóvel, mirando-o
com seus olhos amarelados, enquanto seu formoso rabo se agitava em
câmara lenta. Tá na cara, que estamos sós, os dois – resumiu. Se
ergueu e foi a cozinha preparar um café. Duas colheres de Alta
Mogiana,
uma de Cerrado mineiro e uma de Altinópolis em
vez do Sul de Minas,
para
provar. Era assim, com alguns tipos de café, era necessário ser
mais comedido. Se ajeitou dentro da calça e da camiseta que escapava
pelo ombro, e se dirigiu de novo ao gato: Sabe do pior? O pior é
que já não se pode estar em paz com a solidão, porque agora não
está de moda estar só; tem
sempre alguém te espreitando; agora eu queria saber do mais pior
ainda? Isto
garanto, você não sabe! É! Há a solidão compartida! Se ao
menos você deixasse seu sorriso! Dizia, enquanto o gato sumia.
8 de fev. de 2015
...
Antes, Inda Antes de
Ter Pressa,
Antes de Pessoa,
Se Antes do Inventar
da Hora,
Antes de Darwin,
Dinossauros e Fósseis,
Tapete, Tabaco e
Tabacaria
Nem Trânsito,
Pântanos,
Enchentes e Secas,
Antes do Mar, sem
Cronistas, Inquiridor,
Antes das Estrelas
Caírem Sobre o Tabuleiro do Desassossego,
Antes dos Sábios,
Prisões, Arenas e Toda Sorte de Apego.
Quando Tudo Era
Vácuo de Fina Tripa
o Negro Sol Duma Sem
Beirada Cor
de Criança que
Chora, Esta Dor
Já Estava Aqui
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