O mais óbvio é que
vivemos numa sociedade que menospreza a transcendência. De outro
modo, vivemos na sociedade que exalta a superficialidade. Se aprende
desde a mais tenra infância, que a alegria tem a ver com a segunda.
Com as facilidades das coisas, a sua espuma imediata e óbvia, que
dura tanto como a sua própria efêmera resplandecência.
Por outro lado a
tristeza se relaciona com aquilo que transcende qualquer feito. Se
alarga espiritualmente, ou de alguma forma simbólica, se explica por
meio de algum mistério íntimo que temos que resolver, sentir e
explicar.
A morte, por
exemplo, é o signo supremo da transcendência, literalmente e
metaforicamente, enquanto a vida fácil se coloca exatamente onde
luzo, e não além, além e aquém é sombra. A transcendência
requer um grande impulso, o supérfluo se conjuga no presente e
basta, é mais democrático e transversal.
Não posso esquecer
que tudo que faço, penso e sinto tende à transcendência, nem que
não queira, já que tudo tem um sentido, ainda que oculto, tudo,
tudo mesmo, e mesmo uma ação superficial como ir comprar ou ficar
no sofá babando diante da TV. Incluo a promessa politica, também,
ainda que não o pareça. O seu não cumprimento implica numa
consequência, porque tudo na nossa vida comparte um discurso
paralelo, numa realidade mais profunda, não haveria de ser
menosprezado o exercício das palavras.
Não fosse aqui, não
conceberia viver num cenário de tamanha mesquinharia. Porque não
vivo num país minimamente inteligente e sensível. Perdemos todo e
qualquer brio, ou jamais o tivemos, e que poderia nos conectar com
algo para não sermos o que somos. Vivemos enterrados nas ruínas do
que não fomos, justo no momento que parecia que tudo começava. O
mais grave de tudo é que, apesar das vexações, querem devastar a
esperança, e isso já não nos importa.