O tempo da Utopia,
para mim, já passou. As únicas revoluções com que estou
preocupado são as do motor da minha Virago. Vivo da Realidade, seja
Real ou Virtual, e são realidades. Para mim o processo para mudar
uma Realidade é feito de rodas dentadas de Realidades, o Real
alterando o Real. A política é o Real, qualquer que seja, feita por
partidos (todos) reais organizados por pessoas (todas) reais. Somo a
isso que o Brasil para mim é tudo que não é o resto do mundo. Cada
país tem a sua história. A história é o rio que lima as arestas
das pedras e as faz seixos. Nossa história ainda não conseguiu
gastar muitas das angulosidades desta pátria, mas ainda é cedo
amor, a história não para, segue sempre em frente, se repetindo, se
falsificando, se tornando pornográfica por vezes, mas segue.
Tenho defendido as
ações do PT, não porque creia que o PT seja a melhor coisa do
mundo, nem eu sou, nem quero ser, porque deve ser difícil ser a
melhor coisa do mundo, além de que, nem deixaria tempo para ler o
Facebook no banheiro. Depois duvido das melhores coisas do mundo,
incluso pessoas, principalmente pessoas. Se a melhor pessoa do mundo
já é um problema, imagino um partido com as melhores pessoas do
mundo, pois sozinha é um psicopata, em grupo...
Já declarei outras
vezes que o centro, o âmago dos problemas brasileiros não é a
corrupção, ainda que dela saiba e que não a defenda, e peça
punição sempre aos corruptos e corruptores.
Outra que já
declarei é que a verdade que tanto se busca, é o centro nevrálgico
do poder. Há muito tempo a verdade era: O Rei tem Poder Absoluto,
que o é outorgado pelo próprio Deus! Por longo tempo travou-se
uma batalha por essa ‘verdade’. Esta batalha nada mais era, que a
batalha pelo Poder e não pela verdade, ainda que hoje saibamos que o
Rei era tão fajuto quanto o Deus que lhe imprimia consignas de
Absolutismos. Eram de alguma forma tempos mais épicos; Napoleões,
Guilhotinas, Maria Antonieta, Brioches, Marat,
Robespierre, Danton... Uns cortavam as cabeças dos outros pelo
poder, seja em nome de Deus ou Povo, este com sua dose demiúrgica,
afinal a voz do povo é...
Este nosso momento
político – diz-se isso como se todos os momentos não fossem
políticos – está até o pescoço enterrado na batalha pelo poder.
Se há batalha, há de haver ao menos dois bandos, e os há, grosso
modo se reduzem ao Governo e a Oposição. Querendo ou não,
inocentemente ou não, de má-fé ou não, escrupulosamente ou não,
quem defende o Governo ataca a Oposição e a possibilidade do
'detrás para frente' também está contemplada.
Não ajo
politicamente de modo a favorecer o meu adversário. Na vida real, o
meu adversário quer um quinhão dos meus pertences, e de novo vale o
inverso. Ah! Mas você faz peripécias para que todos pareçam iguais
na desgraça. Não! A política basicamente é mediadora da disputa
pessoal, feita de modo a atender a todos os indivíduos singulares, o
que não é possível, e nos dividimos em bandos, em tribos, guetos,
ruas, vielas, tatuados e não... Como disse, a corrupção não está
no centro das minhas atenções – sem deixar de enxergá-la por
toda parte, mesmo em mim – quem prefere a discussão moral é o
outro, porque ele tem o aparelho de medir mentiras, e fazer verdades,
que é a Mídia. O PT só está ainda no Poder, pela explosão
Comunicacional causada pelas redes sociais, que amplificaram a voz de
muita gente, anteriormente, lembremos Collor, não havia refutação
alguma das teses mediáticas.
Há muito que se diz
da necessidade de uma Nova Política, uma recauchutagem na nossa
Democracia, não sou contra, sou favorável, mas isso se faz com o
carro em movimento, com os vetores de poder agindo no Parlamento, no
Congresso Nacional, nos Jornais, nos Blogs, nas Redes Sociais. O
importante, para mim, é saber que a condução destas reformas
também estão em zona conflituosa, porque basicamente retirará
parcelas de poder de uns e os dará a outros. Porque no centro de
tudo está o Poder.
Por isso é difícil
discutir com quem pensa que é um ser humano perfeito. Para mim é
mais fácil – mesmo partindo de sérias divergências –
discutir com quem é podre, se sabe podre, porque nisso haverá
sempre a possibilidade de cedência, porque ao contrário do justo,
onde tudo implica em que deixe de ser “tão justo”, para o podre
o processo é o de deixar de ser “tão podre”.