3 de fev. de 2015

O Gato do Bar do Toba.





O gato do bar do Toba é negro e lustroso, e o pelo do lombo, olhando de perto, tem a marca da forca. Dizem que matou o seu dono. Todo mundo sabe que o gato chega depois que a missa já começou, ou já vai pelo ofertório, e os canabravas já comeram alguma coisa. Com certeza passou toda a tarde a dormisquejar no canto do curral. O gato vai de mesa em mesa, ao mesmo tempo que um francano vende botas e cintos e sandálias trançadas e bolsas, essas vacas tiveram menos sorte que o felino. Parece que o gato aprecia o espaguete da mesa de dois, em contrapartida, come sem vontade o lambari do Lesmão, ou não aprecia os Jihadistas no jornal que lhe serve de prato, tanto que deixou umas espinhas do peixe. Na mesa dos fumantes ele nem passa... antes de ir-se ainda revira uma migalha de pão da mesa do fundo. Passa por mim e lhe acaricio a cabeça. Como fui generoso, sem demasias, me deu um conselho ao pé da orelha, que me quis passar como um texto de Cortazar – sempre me disseram que os gatos de rua são os mais cultos, ainda que frequentemente lacônicos e mentirosos – O Plagiário, porque não adianta nada roubar uma flauta e não saber tocar.

29 de jan. de 2015

Doravante Vou Usar Máscara.



Lia a legenda de uma fotografia: Quando Papua Nova Guiné se tornou independente, 1964, a tribo Lavongai foi informada que nas primeiras eleições democráticas, tinham a liberdade de votar em quem quisessem. Deram os seus votos a Lyndon Johnson, então presidente dos EUA.

Me parece fantástica a possibilidade da ausência de fronteiras. Uia! Pena que não sei o peso dos votos dos Lavongais naquela eleição, penso um pouco e sou incapaz de tornar concreto o meu voto universal, penso mais um pouco e descubro, que os Lavongais usam máscaras, e conseguem decifrar melhor os nossos políticos mascarados!  

28 de jan. de 2015

Crise Hídrica, Um Banho de Novos Conhecimentos.

obra planejada e executada pelo governo do PSDB, a tecnologia embarcada chega a assustar, fazendo gemer Ramsés II ou III quem sabe.

Começa assim, porque despretensiosa, negada desde quando era curável, mas todos sabemos que desde os gregos a palavra “Krisis” está ligada a oportunidades, mudanças, como um ritual de passagem. Há uns anos, por fatores alheios ao meu controle, acabei por ler Peter Drucker, um guru do mundo corporativo das últimas décadas do séc XX. Lá o fundamental é o Planejamento, Não é difícil, no todo, mas em alguns aspectos, me encruava, e ali estavam conceitos de gestão por objetivos, avaliação, descentralização, “cantados” por Marx “avant la corporation”. A Crise sempre presente no mobile do guru. Conceitos de Missão e Visão na gestão brasileira se transformaram em meros slogans, mesmo nas grandes “corporations”, imagine se um partido politico a abraçasse, pois foi o que os intelectuais do PSDB fizeram. E de lá para cá é gestão daqui, gestão dali, terceirização disso e daquilo, benchmark ou dantosu o melhor do melhor, o Six Sigmas, e lá vai Peter Drucker “O tomador de decisão eficaz compara o esforço e o risco de ação com o risco de inação”, vejo espelhado no espelho d'água do Cantareira esse filme passar. Eficácia, eficiência, gerenciamento, tempo... Ah! A propósito: “Eficácia significa fazer as coisas certas acontecerem.” Não posso reclamar, por este “do the right thing” tucano, pois me ensinou muito. A começar pelas palavras, um enriquecimento prazeroso, afinal, desde criança ouvindo falar em seca, seca do nordeste, uma década de seca... e tudo não passava de crise hídrica. E, por falar em nordeste, me recordo do professor de História a falar que a culpa da seca era quase toda do coronelismo, das grandes fortunas que iam para o Nordeste para sanear a crise Hídrica e eles – os coronéis – a fazer cisternas em terras próprias, ainda se fossem aeroportos, vá lá! Tudo é impactante, grande palavra, impactante, virou um meme nesta gestão por objetivos, planejamento e avaliação, como se fosse um : é nóis!
Creio que muito ainda nos ensinará esta κρίση του νερού, ou όσιμου ύδατος, crise hídrica, então guardei para o fim o ensinamento mais importante.
Tenho, quer dizer, tinha grande dificuldade para entender na prática o significado de Estratégia e Tática, sempre as confundia, quando pensava estrategicamente na verdade traçava táticas, e creio que no mundo do futebol a coisa ainda mais se embaralha, no entanto, a Krisis Hídrica clareou meu horizonte. Agora ficou tudo muito simples: Com a crise a Estratégia é chover, e a Tática é rezar.

E por falar em rezar, meu deus,  quanta injustiça cometo, esquecia-me do "Volume Morto"..

A Minha Sanha é Política. Ou, Vê se Me Entende. Ou, Marat L'Ami du Peuple.



O tempo da Utopia, para mim, já passou. As únicas revoluções com que estou preocupado são as do motor da minha Virago. Vivo da Realidade, seja Real ou Virtual, e são realidades. Para mim o processo para mudar uma Realidade é feito de rodas dentadas de Realidades, o Real alterando o Real. A política é o Real, qualquer que seja, feita por partidos (todos) reais organizados por pessoas (todas) reais. Somo a isso que o Brasil para mim é tudo que não é o resto do mundo. Cada país tem a sua história. A história é o rio que lima as arestas das pedras e as faz seixos. Nossa história ainda não conseguiu gastar muitas das angulosidades desta pátria, mas ainda é cedo amor, a história não para, segue sempre em frente, se repetindo, se falsificando, se tornando pornográfica por vezes, mas segue.
Tenho defendido as ações do PT, não porque creia que o PT seja a melhor coisa do mundo, nem eu sou, nem quero ser, porque deve ser difícil ser a melhor coisa do mundo, além de que, nem deixaria tempo para ler o Facebook no banheiro. Depois duvido das melhores coisas do mundo, incluso pessoas, principalmente pessoas. Se a melhor pessoa do mundo já é um problema, imagino um partido com as melhores pessoas do mundo, pois sozinha é um psicopata, em grupo...
Já declarei outras vezes que o centro, o âmago dos problemas brasileiros não é a corrupção, ainda que dela saiba e que não a defenda, e peça punição sempre aos corruptos e corruptores.
Outra que já declarei é que a verdade que tanto se busca, é o centro nevrálgico do poder. Há muito tempo a verdade era: O Rei tem Poder Absoluto, que o é outorgado pelo próprio Deus! Por longo tempo travou-se uma batalha por essa ‘verdade’. Esta batalha nada mais era, que a batalha pelo Poder e não pela verdade, ainda que hoje saibamos que o Rei era tão fajuto quanto o Deus que lhe imprimia consignas de Absolutismos. Eram de alguma forma tempos mais épicos; Napoleões, Guilhotinas, Maria Antonieta, Brioches, Marat, Robespierre, Danton... Uns cortavam as cabeças dos outros pelo poder, seja em nome de Deus ou Povo, este com sua dose demiúrgica, afinal a voz do povo é...
Este nosso momento político – diz-se isso como se todos os momentos não fossem políticos – está até o pescoço enterrado na batalha pelo poder. Se há batalha, há de haver ao menos dois bandos, e os há, grosso modo se reduzem ao Governo e a Oposição. Querendo ou não, inocentemente ou não, de má-fé ou não, escrupulosamente ou não, quem defende o Governo ataca a Oposição e a possibilidade do 'detrás para frente' também está contemplada.
Não ajo politicamente de modo a favorecer o meu adversário. Na vida real, o meu adversário quer um quinhão dos meus pertences, e de novo vale o inverso. Ah! Mas você faz peripécias para que todos pareçam iguais na desgraça. Não! A política basicamente é mediadora da disputa pessoal, feita de modo a atender a todos os indivíduos singulares, o que não é possível, e nos dividimos em bandos, em tribos, guetos, ruas, vielas, tatuados e não... Como disse, a corrupção não está no centro das minhas atenções – sem deixar de enxergá-la por toda parte, mesmo em mim – quem prefere a discussão moral é o outro, porque ele tem o aparelho de medir mentiras, e fazer verdades, que é a Mídia. O PT só está ainda no Poder, pela explosão Comunicacional causada pelas redes sociais, que amplificaram a voz de muita gente, anteriormente, lembremos Collor, não havia refutação alguma das teses mediáticas.
Há muito que se diz da necessidade de uma Nova Política, uma recauchutagem na nossa Democracia, não sou contra, sou favorável, mas isso se faz com o carro em movimento, com os vetores de poder agindo no Parlamento, no Congresso Nacional, nos Jornais, nos Blogs, nas Redes Sociais. O importante, para mim, é saber que a condução destas reformas também estão em zona conflituosa, porque basicamente retirará parcelas de poder de uns e os dará a outros. Porque no centro de tudo está o Poder.

Por isso é difícil discutir com quem pensa que é um ser humano perfeito. Para mim é mais fácil – mesmo partindo de sérias divergências – discutir com quem é podre, se sabe podre, porque nisso haverá sempre a possibilidade de cedência, porque ao contrário do justo, onde tudo implica em que deixe de ser “tão justo”, para o podre o processo é o de deixar de ser “tão podre”.

27 de jan. de 2015

Antônimos. Os Criminosos Sempre Voltam ao Local do Crime.




Há palavras que conduzem diretamente ao seu referente, apesar de poder causar complicações posteriores, Aspirina, ligeira dor de cabeça, por exemplo, é palavra monossêmica (tem único sentido, significado), seja comprimido ou efervescente sabor laranja.
No entanto, há palavras aparentemente simples que apresentam variações segundo as experiências de cada um, conversava sobre isso com o Hélio ainda hoje, o propósito era outro, o desentendimento por ignorar-se o significado de determinadas palavras, de todos modos uma coisa leva a outra; por exemplo rocha, se escrita Rocha pode parecer nome de escritório de advocacia de outro modo, e apesar de dura, é um ser que está numa transição, que nunca acaba, do pó ao ser...
Provavelmente uma das palavras mais utilizadas na poesia e que mais sentidos carrega é a palavra morte, e isso que sua definição no Priberam é taxativa : Cessação da vida animal ou vegetal. Parece que não há nada a dizer, nenhuma possibilidade de somar nada, mas as palavras, que como a morte, se definem a partir de uma antonímia (morte|vida) carregam perigo: é preciso ter bem claro o significado de sua contrária. Que é a vida?
Neste caso as acepções dos dicionários são aproximações imperfeitas que a cada dia, cada instante, se faz, se refaz, desfaz e se contradizem e têm em cada um de nós ao longo da nossa história uma tendência infinita a reproduzir-se e transformar-se. Seja, a morte, como quer o dicionário, a cessação da vida, mas que Vida ? Que Morte?


depois de perder a memória
o assassino volta ao local do crime
na lida encontra quem pensava morta
escravizado, vira um cão de guarda
vigia o casal contra o bandido ausente
que pode roubar-lhe,
o preço do seu resgate

assim retornava, eu, ao local do amor...

O Monstro Comunicacional.




Não vai longe no tempo, que aquilo que saia nos meios de comunicação tinha presunção de verdadeiro, veracidade. Ninguém os ousava botar em dúvida. “Tá no jornal”, “saiu na TV”, “ouvi no rádio”, diziam os repetidores da notícia, e todo mundo, com babas escorrendo, diziam amém. Os meios de comunicação tinham prestígio entre a população sedenta de notícias, conhecimentos e informações. Falo de modo genérico, mas podia nomeá-los um a um, cabiam nos dedos de uma mão. Entretanto desde que a revolução chegou às tecnologias da comunicação, qualquer pessoa pode ser um jornalista em potencial e qualquer grupinho de malcriados se crê com autoridade suficiente para gerar a sua própria realidade, e fazê-la correr pela rede sem parada e nem freio. As instituições sempre viveram de um 'tanto' de protocolo, e de algum modo, me parece, que sem a banalização e proliferação descontrolada dos meios, não é possível entender a descrença e o desprestigio na política em geral. Claro que a política, ela sozinha, tem feito o bastante e com sobras para a sua ruína, e falta de prestígio, mas ninguém se oporá se digo que houve uma explosão comunicacional, que o Grande Império é comunicacional, e os ventos da explosão comunicacional têm contribuído para pôr a deriva este navio fantasma que ainda faz política.
Agora, veja bem, qualquer bobagem hoje produzida pode se transformar num trending topic e em poucas horas atravessar o mundo, sem que ninguém se importe se o que difunde é falso ou verdadeiro, muito poucos perdem tempo para contrastá-lo.
Ao mesmo tempo, que não se pode fazer nada, é o signo dos tempos que vivemos. Assim, chegamos ao ponto em que todas as instituições democráticas são postas em dúvida e chamadas a se reinventarem, me parece razoável, neste momento, se colocar sobre a mesa esse debate: a função social dos meios e como a cumprem.

Há tempos, a comunicação social, era chamada de quarto poder, era legítimo. Neste momento, entretanto, é um poder que ultrapassa os demais e os domina, e pela sua universalidade e onipresença, os sequestram. Me parece claro que no país, o executivo, legislativo e judiciário estão sequestrados pelo império comunicacional, do qual tomamos parte. Hoje, a comunicação social, esse monstro inominado, como já disse, mas não é demais repetir: do qual todos fazemos parte, que tudo transformou em espetáculo e nos faz andar de quatro e nos faz sonhar vanidades, deve com urgência ser levado a debate, o debate da sua refundação, tão urgente como a regeneração democrática, com reformas políticas fundamentais.     

26 de jan. de 2015

Wealth: Having It All and Wanting More. Davos.

Wealth: Having It All and Wanting More

Ter tudo e um pouco mais, ou querer mais, ou esperando por mais. É o título do informe que a diretora da Oxfam, Winnie Byanyina, apresentou ao Fórum Internacional de Davos: o documento apresenta cifras de escândalo. Diz que a desigualdade mundial é insultante e apresenta números. O que se pode intuir é que a crise mundial diminuiu o bolo mas não para todos. Nada novo. O primeiro a ser lesado é o ‘leso pobre, que ficará mais pobre, ademais Mateus bíblico já nos animava.
A austeridade significa isso: a pressão do capital é tamanha e a sua fome tanta, que abocanhará mais dos pedaços mais miúdos, ou mesmo das migalhas do bolo. Nem é preciso, e preciso, falar da cereja e no chantili.
Há uma dinâmica insuspeita nas crises, aonde o interesse público e os processos democráticos são sequestrados pelos interesses da minoria poderosa. Isso serve, para quem alcançar, para entender a corrupção.
A Oxfam recomenda no dito Fórum que não se troque dinheiro ( os poderosos) por favores políticos, ao mesmo tempo devem exigir, saúde, educação e proteção social dos cidadãos, com uma ‘arrecadação’ justa e o fim dos “paraísos fiscais”. Descobriu o ovo frito com gema mole. Nada contra a Oxfam, muito pelo contrário, mas pedir à raposa que leve só os ovos que necessite e preserve as poedeiras, e de rachar o bico de rir até o cu cair da bunda.
A assimetria por fim é tanta, que é isso: não só econômica, o é econômica porque poder, e é poder porque política. Pra rua cambada!