Outro dia encontrei
um amigo a que, apesar de conversas pelas redes sociais, não via
havia décadas. Ao lado da alegria do reencontro, a troca de
novidades, o repasso do passado e tudo que vem ao caso nestas
ocasiões, me reconfortou especialmente comprovar que ainda fumava.
Muito dos velhos amigos deixaram de fumar, por uma razão ou outra,
mas de fundo é a melhoria da saúde e sua conservação. Ainda que
todos sejam permissivos, tenho que andar com cuidados, pois me olham
com certa comiseração, se não me chamam a atenção com palavras,
o fazem com o olhar, como se se me vissem a andar pela contramão
pela Anhanguera.
As vezes tento uns
truques, ainda não me propus a deixar o tabaco, como o de não me
deixar vencer facilmente pela tentação, e assim prolongar o desejo
até que se apresente um momento propício. Um momento ou uma
paisagem. Assim, por exemplo, ao final de uma caminhada pelas
estradas de terra, ou lá embaixo na beira do córrego, onde há uma
casa desabitada, sento-me a beira do riachinho, então pegar um
cigarro com todos os cuidados, como cheirar seu fumo, acendê-lo,
protegendo o fogo do isqueiro com a palma da mão, saboreando-o de
cara para o ouro do poente.
Ou então comprazer
meu desejo de fumar desde uma perspectiva exterior, intimamente,
lendo um livro. Ou como prêmio por alguma empreitada, como fazia meu
avô, ao finalizar uma tarefa, desbrotar duzentos tomateiros, de tal
modo que se parece muito a coroamentos, entrega de medalha, cerimonial, de algo proveitoso ou deleitável...Laurie Anderson Superman