14 de ago. de 2014

Políticos.

Políticos.
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Se fizessem uma pesquisa sobre os problemas do país, com certeza os cidadãos considerariam os políticos como um dos seus três problemas mais importantes. Todos transmitem a impressão de que os políticos de hoje são piores que os de antes, e que a corrupção e encher linguiça são os esportes que mais praticam, e que não praticavam.
Grave erro. Não penso que o passado era melhor, penso que o gênero humano se move sempre por valores e conceitos relacionados com o poder, o dinheiro, o sexo e a religião, não necessariamente nesta ordem. Talvez nos momentos difíceis da história, os homens, alguns com autoridade, tirem a cabeça acima da manada e nos mostrem o caminho. Mas quando impera a mediocridade, os políticos não são mais que o reflexo mais visível, e uma medida, da sociedade.
Não me parece justo lhes atribuir todos os males, ainda que bastantes façam de tudo para ganhar este prêmio. Se salta aos olhos que preferimos antes ficar olhando, criticando, ruminando como os outros trabalham, e não nos comprometermos em projetos coletivos, creio que falta cuidados na desqualificação.
Dizer que estão sempre no olho do furacão, e muitos não são modelo de nada, é chover no molhado. Mark Twain, e note que já chovia, então, dizia: “Leitor, suponha que você fosse um idiota e suponha que fosse um membro do Congresso Nacional; mas, se estou me repetindo...” . Parodiando a Disraeli, que diferenciava desgraça e calamidade com a sentença: “ Seria uma desgraça que Sarney caísse no rio Piracicaba, mas seria uma calamidade que alguém o resgatasse”.
No mais, se o país sobreviveu a Jânio Quadros e depois dele a toda uma trupe domadora de cavalos, a Sir Ney, Collor... Sossegados, sobreviveremos.



13 de ago. de 2014

Tenho muita sorte dentro do azar!

Um dia abri a caixa do correio e lá estava ela, a carta. Diria que a li de trás para frente e de frente para trás infinitas vezes. Estava bem escrita – não esperava menos dela – e era muito interessante. Mas não entendia nada. Falava de tudo e nada. Tentei ler entre as linhas alguma mensagem, que fosse única e para mim, onde explicasse por qual razão, entre todos os habitantes da terra, me tinha escolhido como destinatário. Não soube encontrar. Na minha livre interpretação, aquela carta dizia: “ Meu! Foi só uma trepada!”.
No entanto, não sabia que aquela seria a primeira de muitas, muitas cartas. Tantas que geraram uma necessidade nova, abrir religiosamente a caixa de correio. Verdadeiros tesouros literários, mas “O que queriam me dizer?” me perguntava. Insistia em procurar algum indício, pequeno que fosse, sem sorte. Conclui que havia se encontrado com o seu perfeito leitor, e de passagem me compensava da usa desaparição.
Não respondi nenhuma carta. Mas no dia que ela fazia 30 anos, lhe enviei um buquê de rosas. Então ela me telefonou e saímos.

Na primeira carta depois deste encontro, me disse que negaria tudo, inclusive negaria que houvesse me explicado os seus segredos, me beijado ou acariciado. Por fim diria que havia sido um sonho. Mas eu estava ali, e recordo de tudo, perfeitamente, e até uma frase dela que sempre quero encaixar em alguma conversa, “ tenho muita sorte dentro do azar”...

12 de ago. de 2014

Alienografada!



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Enceto este texto sem ter ideia a tratar. Melhor talvez não escrever, se não tenho nada interessante a dizer, mas quem decide o que é relevante ou não? No mais seria estranho ficar cheio de dedos com o conteúdo, é como se tivesse escrito algo relevante antes! Sigo escrevendo sem pensar muito, quem sabe um alienígena me oriente, ou me aliene, ou me dê a data para o último fim do mundo! Com certeza deve haver algo que gostaria de fazer se soubesse do fim do mundo, da morte! Certo é que não haveria como repercutir, e este tem sido o gozo geral, o compartilhamento! Quando era pequeno queria saber sobre a morte, me diziam que era como não sentir nada. Meu avô, dizia que era o mesmo de antes de nascer, recuerdate? Um brilho de ateísmo saia do seu olhar, miudamente azul!
Ele me perguntava, ''por que os Testemunhas de Jeová não se esforçam em convencer ninguém?”, “no lo sé abuelo, usted dirá!”. “Porque eles sabem que poucos serão os escolhidos, e já há Jeovás de sobra, para a escolha de Deus, assim que se converterem mais alguns, suas chances de serem escolhidos, em muito diminui!”. E chorava a rir. Que não se enfadem com minha descrença. Os ânimos estão já muito exaltados. E lembre-se, pode ser orientação alienígena!

11 de ago. de 2014

Sórdido!

Sórdido.
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s.f. Estado daquilo que é sórdido; imundície, sujidade.
Baixeza, vileza, indignidade: não se envergonha de sua sordidez.
Avareza sórdida.
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Alguns aspectos da minha vida poderiam se definir como indecentes, imorais. Deixei que a sordidez saísse do seu conforto privado que é o meu pensamento, o mesmo lugar ocupado pelos demônios da maioria, para que tenha vida própria. Não diria que me sinto orgulhoso, fui educado severamente e religiosamente. Mas as coisas são assim. Não sou perfeito. Melhor, de fato, imperfeito.
Ruminando a respeito, me pergunto quais sordidezes devem viver na cabeça dos meus conhecidos. Imagino que este local privado em definitivo, é onde não se explica esse tipo de coisa. Bem, sempre há os que explicam, e quem transformariam tais coisas em romance, Bukoswki... James Joyce foi considerado um depravado à sua época. Mas em geral, tal coisa não se revela, nem aos melhores amigos. Quando muito se faz saber das fantasias sexuais – e não chegam a ser sórdidas, são inócuas – e ademais são isso, fantasias.
A sordidez mental é composta daqueles pensamentos que jamais serão confessados, a ninguém. Quais ? Ir para a cama com a mulher de teu melhor amigo? Ou com a irmã de tua mulher? Que morram os pais para ter a herança? Que demitam seu companheiro para que o cargo seja enfim seu? Violar a gostosinha com nariz empinado? Ser violado? O mundo sórdido é ainda mais´amplo. Te dá medo?
Fui no procurar imagens de sordidez no google, e aparece muita coisa, mas aparece Virginia Woolf. Acho que me animei a ler um romance dela, para saber dela por mim mesmo, como me passou com Joyce, e quem sabe fique mais valente....




9 de ago. de 2014

Ode e não ódio aos neutros.



O neutro não quer tomar partido, é abúlico e covarde. Frequentemente um parasita sem vida própria. O neutro faz da indiferença um sistema, não se queixa, não reivindica, não sai na chuva, não se compromete: é um peso morto, na história. E que quem pensa que não opera na história se equivoca, por não fazer nada, pela neutralidade, e precisamente por isso, o neutro deixa passar tudo.
Quando ouço que o melhor é ''panos quentes'', “prudência”, “canja de galinha”, diante das injustiças, me exaspero, porque para mim, viver é tomar partido. Parece que reproduzo Gramsci, mas é meu próprio ponto de vista sobre ser cidadão na contemporaneidade.
O sujeito que abdica da sua vontade, se demite da tarefa de exercer-se de pessoa, permite coisas que somente revoluções, revoltas poderão derrogar.
Pensou sim, ruminou sim, calculou sim, imaginou sim, prognosticou sim, mas não fez nada para a balança pender para algum lado, assim a prudência, o medo e o não correr riscos consentiram. Agora essa chorumela essa ninharia, mas quando foi necessário dizer algo, achou melhor não se comprometer... mas se soma sempre aos ganhadores de ocasião, para também ganhar, sempre, e sempre com a maior cara lavada de inocente.

Me parece que é o estado a que chegamos. Passou batido ao largo do tempo, e hoje, como vimos recentemente, nem botando fogo no mundo as coisas mudam, claro, passaram se décadas, e você mais preocupado em lavar o carro no fim de semana, em comprar um carro um ano mais novo que o do vizinho, agora meu velho, só trocando de você...

17 de mar. de 2014

Prepotência x Potência.



Tenho por mania gostar de coisas que desconheço, gratuitamente. Assim, não sabendo da língua francesa, gosto dela, é um absurdo, mas o absurdo tem sido o pressuposto, que fundamenta muitas ações por estes rincões. O francês, antes que me perguntem, entra aqui na definição de prepotência. ''Impuissance mise action''. O mouro a cita em algum lugar, a propósito da impotência posta em ação. Que nada mais é, que o berro, o grito, a arrogância, o pedantismo institucional, privado, eclesial, pentecostal, ateu etc. Matéria de ontem, neste jornal, página A3, nos mostra o descalabro, que são as multas a servidores públicos no exercício de guiar. É a prepotência, disseminada e descarada na nossa sociedade, vai da 'mula-humana' a puxar carroças de recicláveis à ponta da agulha da pirâmide social. Como eu, todos, devemos melhorar, e muito, apesar de nosso leque de escolhas ser muito maior que o dos funcionários públicos, porque estes devem fazer, se e somente se a lei mandar, não é a mesma coisa que ''se permitir''. A nós cidadãos é permitido uma série de atividades que não estão delimitadas pela lei. Assim a lei não é a mesma para todos, porque para os poderes constituídos só lhes é permitido fazer o que dita a lei. Posso optar, por pressa, estacionar em local proibido, levar a multa, pagá-la, perder os pontos. O funcionário público simplesmente não tem esta escolha. Do mesmo modo, um policial que monta uma blitz a alguns metros de uma esquina, não pode exigir que eu passe por ele, se eu posso e quero e preciso virar à direita na esquina. Não pode parar a viatura ''de esgueio'' na via pública, ou ir pela calçada, afinal, não estamos em estado de sitio! Este é o nó da impotência quando se põe a agir. Não se sinaliza, não se organiza. Não digo sinalizar para que eu possa me prevenir dela, a blitz. Mas que me previna de um afunilamento, um abalroamento, por repentino, e por fim causar mais transtornos que os necessários.

Os transtornos necessários são a potência. Os transtornos ''a mais'' não cabem à potestade. Ora, se o tráfego é caótico, não devem, não podem, aqueles que só podem agir segundo a lei, infernizá-lo, pelo contrário, devem organizá-lo. Mas, como meu prepotente amigo Byron, quando numa pelada discutíamos uma bola-na-mão ou mão-na-bola, gritava, ''se é pra relaxar'', e logo chutava a bola para o quintal do Capitão Figueiredo, este a furava!! Foi-se aquele tempo, ficou esta sequela, a impuissance mise action.  

25 de fev. de 2014

O homem que entrou numa fotografia.




Alargou o nó da gravata, enquanto chutava os sapatos para um canto da sala ao mesmo que tempo a mão direita deixa cair da garrafa sobre a pedra de gelo o whisky ferruginoso espesso como mel. Ouvia, ao rodar o copo entre as mãos, o sino da aliança esquecida na mão esquerda. Sentou-se diante do computador e mecanicamente rodou os feeds das noticias postadas pelos amigos. Completou o copo rodou-o entre as mãos. Clicou na música tântrica do amigo iogue, cansado se deixou enlear e abstraído se fixou na foto de um outro post, duma paisagem urbana e remota, o carro claro em formas arredondadas, de para-lamas salientes e também curvos, foi ampliando sobre um transeunte que vestia um impermeatto, o homem caminhava ao seu encontro em meio à rarefeita névoa, se distraiu, olhar perdido na mulher de gabardine preta, que andava adiante. Outro gole de whisky e aterrizava suave e lentamente numa terra longínqua. Apertou o passo, em busca do fru-fru que a seda da gabardine preta fazia à frente. O homem do impermeatto cinza levantou o chapéu e abaixou a cabeça ao cruzar com a mulher. Nosso herói não pode saber se ela ignorou o aceno, só que ela seguia impávida. Torceu o pescoço para saber se o homem do impermeatto a olhava, e não viu homem nenhum, rua nenhuma, calçada nenhuma, a névoa se espessava atrás dele melhor ir mais rápido com isso creio que ela subirá pelo elevado, acelerou o passo e pôs-se lado a lado com ela, não posso olhar, não olhou, pensou na indelicadeza da atitude estava sem chapéu sem gravata sem sapatos um desconforto de sonâmbulo se avizinha que mulher é essa que estou fazendo aqui em meio a névoa só em meias então virou o rosto para vê-la e seu gato que miava roçando seus pés o despertou.