28 de set. de 2012

Lili do tanatório.



Lili foi a primeira antes de Eva e Adão. Lânguida Lili! Deus a deu a Adão e Lili a Adão lindos e radiantes filhos e filhas', foi sua primeira mulher. Mas Deus deu a Adão, Eva, segunda mulher. Lili, para vingar-se da mulher humana de Adão, a induz ingerir o fruto proibido e conceber Caim, assassino do irmão. Lili deixou de ser serpente para ser espirito na noite dos tempos. Por vezes rege angelicamente a geração de homens, outras endemoniadamente assusta os que dormem a sós ou andam por estradas ermas. Assustadoramente silenciosa e vasta e solta cabeleira loura, parada sob um poste de pouca luz, pede ao táxi traslado até o cemitério.

' "glittering sons and radiant daughters"
Adaptado de JLBorges.
Lilith

HANIEL, KAFZIEL, AZRIEL E ANIEL.





Na Babilônia, Ezequiel teve uma visão de quatro animais ou anjos, ““ e cada um Tinha quatro caras, e quatro asas e “ as figuras de suas caras eram a face de homem, e cara de leão a direita, e cara de boi à parte esquerda e os quatro tinham assim mesmo cara de águia””. Caminhavam para onde lhes levava o espírito, “ cada um em obediência a sua face”, o de suas quatro faces, talvez crescendo magicamente, ia aos quatro ventos. Quatro rodas “tão grandes que eram horríveis” seguiam aos anjos e estavam cercadas de olhos.
Memórias de Ezequiel inspiraram os animais da “Revelação de São João”, em cujo capítulo quarto se lê:
“ E diante do trono havia como um mar de vidro semelhante ao cristal; e no meio do trono; e ao redor do trono quatro animais cheios de olhos adiante e atrás”.
“ E o primeiro animal era semelhante a um leão, e o segundo animal, semelhante a um bezerro, e o terceiro animal tinha a cara de homem, e o quarto animal, semelhante à águia que voa. E os quatro animais tinham cada um para si seis asas em volta; e dentro estavam cheios de olhos; e não tinham descanso e passavam dia e noite dizendo: Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus Todo-poderoso, que era, e que é, e que há de vir”
tradução não ortodoxa desde.
 livro de J.L.Borges.
Libro de los seres imaginarios.
segunda edición en Club: octubre 1982.
Ed. Bruguera SA. Barcelona.

27 de set. de 2012

Liberdade de expressão: Temos o que dizer?


Meu conhecimento no que diz respeito a 'liberdade de expressão' é empírico, me obriga citar alguns fatos do meu cotidiano.
O diretor do Google, no Brasil, foi preso hoje 27\9 e logo liberado ao se comprometer a 'pensar' seriamente a respeito de um vídeo postado por um mato-grossense. Não sei do conteúdo desse vídeo, mas é acusado de difamação, calúnias, abuso disso e daquilo etc. Não vem ao caso. Só não creio que o Google deva ser responsabilizado por tal coisa. Outro juiz de Ribeirão Preto também decretou a prisão do mesmo diretor brasileiro.
Hoje a candidata a reeleição à prefeitura de Ribeirão Preto fez uso do direito de resposta, referente a ataques verbais disferidos, pelo também candidato Chiarelli, numa entrevista levada ao ar pela EPTV RP. Neste caso vi a entrevista, que posteriormente foi postada no Youtube e correu mundo com mais de meio milhão de visitas. O quê, do sucesso, não está ligado à qualidade argumentativa do candidato, mas à forma, à moda de um Jânio endemoniado, para não dizer de um mendigo na disputa das Xepas de jilós maduros e chuchus abandonados num fim de feira.
Não sei qualificar a pertinência das alegações de Chiarelli, pode que sejam verdadeiras, mas não é o caso, pois no caso a verdade que poderia haver foi maculada pela forma. Como não é o caso, também, de Chiarelli aos berros chamar o PSDB e Nogueirinha de sócios do tráficos de droga na porta das escolas do ensino fundamental. Pode que, dado o largo tempo do governo paulista estar em mãos do PSDB, este ter culpa na questão do tráfico, mas isso não se transfere diretamente, é uma questão complexa que deve ser discutida, deve encontrar culpados, mas Chiarelli não tem essa paciência, não só ele, muitos de meus amigos virtuais têm essa dificuldade, a argumentativa, e partem furiosamente para os palavrões, ataques pessoais, criando um 'ruido' ensurdecedor na rede social, que pouco serve e acrescenta à questão política, servindo quando muito a um mero desabafo pessoal, e em grande parte a ofender velhos amigos, que tem posturas definidas politicamente.
Há imagens 'poéticas' como essa : … escarro da lixeira humana... , mas que nada acrescenta, pois o que testaria os limites da liberdade de expressão, seria fazer uma crítica contundente quanto à posição do governante, enfocando a outra ou outras possibilidades menos risíveis da tal posição, e em outras questões da pertinência que leva o 'comentarista' a tudo chamar de merda.
Nossa educação, principalmente a de 'gentes' que nasceram nos 60, 70 e meados dos 80, foi o curso complementar de jurado com Aracy de Almeida, Pedro de Lara e Cia, Mestrado com Dercy Gonçalves e doutorado no Programa do Chacrinha.
Tais manifestações que não passam de monossilábicos grunhidos e ruídos o que lhes dão verosimilhanças a uma buzina, latidos ou berros de vaca.
Enquanto o guru pergunta: Vai pro trono ou não vai?
Preciso de mais, quero mais. Gosto de debater, mas sem ter que ouvir ofensas pessoais.
A Razão falha em muitos aspectos relativamente a compreensão dos fatos, de outra forma, nem tudo pode ser racionalizado, temos sentimentos e sentidos a nos ajudar, mas mesmo eles, não integralmente, cabem em belos argumentos, ainda que contrários, ainda que me tirem da zona de conforto. 

26 de set. de 2012

Democracia: Informação. Virtude Cívica.



Na democracia deve haver um lugar para a oposição. Isso só ocorre se houver eleições regulares, competitivas, limpas, sob controle de instituição apartidária.
Não há contestação adequada se não houver participação equivalente. A participação depende em grande parte de acesso a informação. À boa informação não basta ser oficial, ou oficialmente oposta, deve ser alternativa, para permitir a formação de um amalgama, um cimento que possibilite a compreensão do funcionamento do sistema. O sistema é muito complexo, porque é composto de multiplicidade de interesses, por exemplo, o quê determina a posse de um pedaço de terra? Essa decisão já foi tomada à base da luta direta entre os postulantes, hoje se dá de modo mais civilizado, ainda com resquício da força, porque a posse está na base da discórdia, entretanto se aceita a regra.
A compreensão legitimada pela 'boa' informação, causa implicações nas decisões.
Por isso se faz necessário essa vindicação da virtude cívica. Porque, afinal, se trata de autogoverno. Mas no auto governo a representação é a exigência central, porque não podemos todos governar.
Cidadania. O sistema democrático é uma obra aberta. A participação já foi menor, mas as dimensões do exercício da cidadania se abre a possibilidades de ampliação dessa participação, com a evidente qualificação da cidadania.
Tudo começou com os Direitos Civis e evoluí a Direitos Políticos, Direitos Sociais, e outras dimensões, Sociais e Econômicos, Ambientais e afinal hoje falamos em direito dos Animais Domésticos e assim por diante, como metas a serem alcançadas e ampliadas.
A intervenção da cidadania é decorrente da igualdade politica, mas também, como já disse, da virtude cívica, da qualidade da cidadania etc.
Há que se notar e é fundamental que há uma diferença entre o governo do império da lei previamente estabelecida – submissão voluntária de modo consensual – e o governo do homem que depende dos interesses de quem comanda. Enfim, a lei submete, deve submeter a todos os cidadães.
Por que a democracia? Porque afasta a tirania.
Mas também é uma decorrência racionalista. Para os donos dos anéis, a segunda melhor, porque, impede a guerra de todos contra todos. Os que têm e os sem anéis.
A convivência pacifica, na impossibilidade da imposição de um grande poder. Pois há uma certa garantia mínima de sobrevivência a todos.
Garante direitos fundamentais, direito a vida, seu objeto central. E tem como objetivo do bom governo criar condições superiores àquele selvagem. Protege os interesses individuais de indivíduos diferentes reivindicando cada um a sua própria existência.
Autonomia moral dos indivíduos frente a ordem das prioridades públicos, supõe que assume-se graus de responsabilidade frente a estes interesses.
Isso quer dizer da existência de interesses individuais diferentes dentro da igualdade de condições. Isso se traduz em transparência de procedimentos e em antidoto a lei de Gerson.
Produz ainda a igualdade intrínseca, noutras, qualquer pessoa que sabe bem qual o seu interesse, saberá o que é bom para ele, e isto é o que o qualifica para a tomada de decisões nos processos de interesse particular e geral.
Havendo participação, contestação, virtude cívica, cidadania etc, implicam na desnecessidade de guardiães. Na verdade são os gestores devem ser dirigidos pelos políticos, porque o gestor entende do melhor processo de produção e organização de determinado mecanismo, e o politico dos interesses a que servem os produtos gestionados na melhor forma de produção.
O bom governo depende de virtude cívica e esta transmite-se de geração em geração, devemos educar, qualificar, procurar fontes alternativas de informação, porque as decisões são tomadas pelo Estado sobre as sociedade são vinculantes, agem o tempo todo sobre nós, e estas decisões são tensas. A relação entre Executivo, legislativo e judiciário é tensa, deve ser tensa, para não serem o mesmo, e se tratar de uma ditadura.
Enfim o Estado toma decisões – na democracia de forma legitima – organiza um conjunto de instituições que exercem poder sobre a sociedade, que atua na mediação do conflito politico, há conflito, interesses em disputa, buscando a legitimação. As instituições formam um conjunto tenso. 

25 de set. de 2012

A luta pela democracia. Celebremos!


A expansão da democracia é o grande evento do século XX.
A primeira onda democrática nasce na Inglaterra do XVII até a revolução liberal norte-americana e francesa.
Tem sequencia na segunda onda no pós segunda guerra e o pronto restabelecimento da democracia nos países do eixo. A terceira onda começa com Portugal e Espanha, América Latina e a queda do muro de Berlim e continua no século XXI no norte da África.
Pode-se colocar uma série de questões. Dentre elas: Qual o quê que caracteriza o ponto de vista democrático?
Há o caso inglês que ao longo de séculos consolida a democracia, onde o estado democrático de direito, e isso quer dizer o primado da lei, da lei consensualizada, isso quer dizer constituição, e tanto e a ponto de sua constituição quase não existir, efetivamente do ponto de vista formal, escrito. Isso quer dizer que o primado da lei cobre todo o estado inglês de modo democrático, permitindo a todos o acesso. Onde a politica pratica com o viés do governante o exercício do interesse público. Esse assentamento democrático não permite sequer o acosso a intenções totalitárias.
Outro caso é o de democracias, estabelecidas em pleno século XX, oriundas de sistemas totalitários. Não é possível e nem se pode sonhar, que com a retirada do totalitarismo anterior se estabeleça a imediata instalação – em sua plenitude – do sistema democrático. Com o primado da lei não igualmente distribuído – no nosso caso, há a lei – mas a lei no Brasil – ainda – vale para uns diferentemente do que para outros.
A tradição republicana democrática tem seu ideal na liberdade e igualdade. De todas as formas: liberdade, mas também igualdade de condições, fundamentalmente igualdade politica, mas igualdade.
Como indivíduos, o tempo todo nos nossos quefazeres, pensamos no ideal e na realização prática desse ideal. A democracia é a mesma coisa.
A ideia pela qual os sírios tem hoje travado uma guerra, e outros países do mediterrâneo afreicano travaram,  é a mesma, liberdade de escolhas, igualdade ainda que meramente política.    

João Guimarães Rosa. Saber, de saber, sei pouco, mas tenho muitas dúvidas.




24 de set. de 2012

Democracia. Redes Sociais x Velha Mídia.



De modo raso, democracia é a escolha dentre 'elites' disponíveis. Acho que é Schumpeter, na dimensão eleitoral, minimamente. Se é de fato só isso, e é talvez o âmbito que alcanço, ou alcançamos, a democracia se torna uma loucura. Devo, todavia, alcançar mais, ir mais fundo, porque senão, acabo por entender que sem mais instrumentos cognitivos, nós a massa, o povo, não conseguimos atingir as diferenças entre tais disponibilidades.

Profundamente, é difícil entender a coexistência, a compatibilidade da democracia com a pobreza e a desigualdade, apesar de não se tratar de uma promessa escancarada dela, sequer obrigação, mas está nela desde o nascimento, com a revolução francesa e outras revoluções, etc. Se a politica está a serviço do desenvolvimento humano, e isso foi transposto quase que literalmente para a nossa constituição de 1988, e estar lá ainda não é suficiente, mas talvez seja gerador de certa tranquilidade de nossos eleitos. O que quero dizer é que se requer, isso sim, a nossa participação, ainda que tenhamos que delegar a soberania individual nesse voto. Para tanto discutir é necessário.
Com o advento das redes sociais, nos deparamos com um modo novo de discussão em contrapartida ao da velha Grande Mídia e seu modo velho de discussão, qual seja, da democracia schumpeteriana de viés 'brasileiro' mas sempre da escolha de elites disponíveis. Que por razões de massiva alienação nos levou sempre à mais aprofundamento de discrepâncias preexistentes.
A situação é nova, e modernizadora, a Internet, mas ainda tem como fonte de argumentação para o debate a velha mídia, porque esta ainda é autoridade, e a autoridade requer altos níveis de confiança, ou comodidade, preguiça.
Ainda estamos citando frases, que mal sabemos a real origem, descontextualizadas, profundas por vezes, que supõe sempre, ou deixa no ar o verdadeiro entendimento daquilo que foi dito, continuamos a postar cachorrinhos com lacinhos, mas tudo passará porque tudo passa – é a única verdade – e deveremos passar a âmbitos mais complexos, dos interesses particulares ao interesse público, afinal estamos no mesmo barco, e tudo isso está baseado mais que na força, na confiança.
Entretanto, vejo que nesse primeiro momento está em disputa não só a liderança de elites regionais, mas, também em questão a autoridade dessas autoridades 'julgadoras' 'denunciadoras' e 'formadoras de opinião' que no seu conjunto fazem a 'grande mídia' regional.
Um fato singular a pensar é que, se além de delegar minha soberania de poder a representantes desse meu poder delegado, devo delegar minha capacidade de pensar, discutir, averiguar, avaliar, julgar valores, atribuir valores, às velhas raposas.
Na democracia clássica a eleição já se deu por sorteio....