No começo era a lei da
força bruta. A lei do mais forte. Que foi, por eras, a constituição
das tribos, comunidades, pátrias e impérios. Os seus exércitos,
os inquisidores, os capatazes, os DOPS, a tortura etc, eram a forma,
método, modo etc de aplicar a lei. A força era usada para defender
basicamente a propriedade. No fundo eram os juízes, os tribunais,
os supremos, os inquéritos, os delegados e os policiais. Houve
muitas mudanças, há um certo equilíbrio, não o bastante, nem o
suficiente no uso deste predicado da propriedade, mas continua
valendo, ainda que suavemente, e por vezes até de modo obscuro.
Seria obsceno se não dissesse que houve algo de distribuição de
propriedade e a consequente democratização dos mecanismos de
aplicação da lei. A Justiça.
Nada disso caiu do
céu. Foi necessário que a cabeça de Maria Antonieta fosse parar no
balaio, o mesmo, onde jazeu a de seu marido, o rei absoluto de
França; para gerar os Direitos Individuais dos “homens”, que
lá, naquele momento, na revolução francesa, ainda eram dos homens
no sentido do macho com propriedade, o restante eram mulheres e 'sans
culottes', não do homem enquanto humanidade.
Depois foi necessário
que a Revolução Russa trouxesse no seu bojo os Direitos Sociais.
Sim, só foi possível a jornada 'limitada' de trabalho em função
das lutas sociais, onde a ponta de lança foi o comunismo, anarquismo
ou o socialismo. Foram dados anéis para que não se perdessem os
dedos. Foi necessário que mulheres americanas – operárias –
morressem para que algum direito às, outras todas, mulheres fosse
conferido. Foi necessário que Martin Luther King existisse para no
minimo por fim à Ku Klux Klam.
No processo de lutas
intestinas entre nós, humanos, sempre esteve e está presente a
politica. Politica é negociata por excelência. Eu quero trabalhar
menos horas e ganhar o mesmo. Horas de trabalho são propriedades de
quem as vende, o capital é propriedade de quem as compra. Eu quero
mais e o outro paga menos do que quero. Entra em jogo a politica. A
politica é a cartilagem. Politica é a graxa. Sem a politica
temos osso raspando em osso e ferro com ferro. Em suma é força.
No quesito força há
sempre a inutilidade da frase: Oprimidos unidos jamais serão
vencidos. União impossível. Acaba prevalecendo a força da
propriedade que paga, e pouco, para oprimidos uniformizados ou não
a oprimirem seus pares. Não é o caso de viver em devaneios, porque
a opção é clara, inequívoca e inexorável: a opção é Capital e
Democracia e seja lá o que for isso.
E seja lá o que for a
democracia, é com ela que queremos ampliar os direitos, estendê-los
aos animais, à natureza como um todo. Queremos acabar com a fome no
mundo. Queremos acabar com o machismo. Queremos condições de
trabalho para além da irrisória. Queremos acabar com todos os
preconceitos. Queremos saúde para todos em igual condições de
oferta. Queremos condições de vida digna na velhice. Queremos
educação para toda a gente. Queremos arte, queremos e queremos. Mas
isso não se pede. Nunca se pediu. Isso se exige. Mesmo sendo
exigência e não mendicância, nada estará garantido. Porque
depende e muito da politica. Dos partidos políticos. Para tanto
devemos estar dentro dos partidos. Não importa em qual partido.
Desde que se saiba o quê defende o partido. Se o partido é liberal,
ou neo liberal não devemos pedir a estes que não loteiem as terras
acerca dos mananciais, eles querem justamente estes sítios. Se o
partido verde não é verde, ou transformemo-lo em verde ou fundemos
o verde. Ou o vermelho. Ou o rosa. Não podemos ficar daqui ou dacolá
a desferir-lhes adjetivos como se estivéssemos na arquibancada e
nosso craque não quer correr, ou não pode, pois só sai de noitada.
Já disseram que a
democracia é ruim, mas é o melhor que temos. Seria leviano
concordar com isso, mas não faz sentido aprofundar nesse tema,
porque é o que temos, ainda que falaciosa, pois implica que
deleguemos poderes a outros ao votar. E ao delegar ficamos
desprovidos de poder. Não é bem assim. Podemos e devemos continuar
com os poderes individuais e fazer valer nossos desejos e quereres.
Tal possibilidade é maior, ou será maior, se estivermos dentro da
luta partidária, vigiando se nossos desejos são bem tratados,
ninados e mimados ou são e serão abandonados.
Não faz sentido ficar
a bater panelas, porque os políticos devem ser os nossos
representantes, mas com a nossa sombra sempre às suas vistas, do
contrário os teremos transformado em adversários, um tipo de
monarquia pelo voto, e um dia desses haveremos de cortar suas cabeças
em vez do salário.
Na mais insignificante
das câmaras municipais a cada dia se vota matéria que é do nosso
interesse. Até mesmo a escolha do nome de uma rua pode trazer
reflexos importantes no presente e no futuro de nossa cidade. Assim
desde matérias aparentemente banais até às que portarão profundas
consequências à nossa coditidianidade. São do nosso interesse, e
por ser do nosso interesse, e interesse neste momento é o que
importa, não os direitos, porque de nada valem os direitos se não
os fizermos valer, e os faremos valer por força do nosso interesse.
Com toda a história
da humanidade sabida, decorada e em punho devemos exigir, que se vote
em comunhão com nossos interesses. Perdemos muito em cada voto
velado, perdemos muito, talvez mais, numa votação de lei que
estabeleça as diretrizes de uso do solo, que com a corrupção.
Claro que devemos ser contra a corrupção, mas ela não deve
permanecer no centro do debate. Temos outras urgências. Enquanto a
corrupção estiver no centro do debate, ela esconderá toda uma
sorte de matérias mais importantes que afligirão os filhos de
nossos filhos; em Ribeirão Preto, por exemplo, temos a questão –
cessão por 20 anos, na casa do bilhão de reais - do lixo, do Plano
Diretor, da licitação do 'Transporte Público” e a questão da
água, só para citar alguns, e estes são de sumo interesse de
todos nós e estão na pauta. Como esteve na pauta o da Recuperação
do Centro da cidade com um derrame de dinheiro público – pouco é
certo - em propriedades particulares, que por mera coincidência
pertencem a uns poucos, que deixaram que seus imóveis se tornassem
ruínas para não gastarem um tostão furado do capital próprio.
Deviam, sim, reformar tais imóveis – questão de segurança
pública - que estão a ponto de cair sobre a cabeça dos inquilinos
e transeuntes.
Leia o estatuto de
partido do seu interesse, haverá partido que lhe dificultará tal
procedimento. Filie-se. Discuta. Dentro e fora do partido escolhido,
é mais fácil vigiar seu representante, fazendo-se presente no dia a
dia da própria vida. Não devo ficar esperando que alguém faça por
mim o que nem eu mesmo faço. Haja credulidade, inocência!
É certo que devemos e
podemos renovar até mesmo toda a Câmara municipal, mas que
diferença trará o bispo sardinha posto no lugar de um animador de
auditório.
Deveríamos ir mais a
Câmara Municipal do que vamos ao shopping e ao cinema, porque assim
daríamos sustança a nossos representantes e não seria necessário
castigá-los tanto.
Se nada disso der
certo, no mínimo iremos aprender o quão diferentes são os nossos
interesses e da dificuldade, que se trata, de transformá-los em
direitos, claro para todos.