Cabo
Clemente, sim o soldado era Cabo, ligou para os seus superiores
diretos, não convidou os subalternos, mas sim, alguns amigos da
corporação, ligou ao Capitão da reserva, presidente da Aspomil; e
aquilo que as vendas antecipadas anunciavam – fracasso -
fracassou, o teatro lotou. Nunca se viu gala tão espartana no teatro
D. Pedro II desde a plateia, balcões, galerias e frisas tudo cheio.
Camila na solidão do
camarim, branqueava sua pela já clara, será uma buliçosa cantora
de ópera. Clemente pronto para brilhar, diante dos seus, na coxia
andava muito falador, o contra regra, menos Sr. Clemente, abrindo-lhe
uma fenda nas cortinas para lhe mostrar novamente o cenário e o lugar
dele nele. Ali Sr. Clemente, onde parece uma rua, com uns postes pintados
com lâmpadas amarelas, como se postes de iluminação fossem, ali
naquela risca, como se sarjeta fosse, de um lado para outro, sim?.
Sim, compreendo. Porque ainda não vestiu seu figurino, Sr. Clemente?
Como assim, estou vestido! Não, não é esse o seu! Como não?
Sr. Clemente, seu figurino é de um policial irlandês, todo em preto e botões prateados e um cassetete, não usamos mais cassetetes, mas não estamos no
mundo real. Por fim, não houve quem fizesse o Cabo Clemente
vestir-se de guarda irlandês, mas concordou em usar o cassetete, que
ainda na coxia fez estalar na palma da mão. Não Sr. Clemente, não
faça esse barulho todo, bata com suavidade. Quando Antônio Niterói
foi finalmente localizado, para que interviesse junto ao Cabo
Clemente, já soava o terceiro sinal. Seja pardelhas e merda! Disse
Camila. Merda! Ressoou. Antônio Niterói zelava por um sujeito
impaciente logo após a frisa direita. O pano se abriu.
No primeiro e segundo
atos, pouco aconteceu, senão que a ovação recebida por Cabo
Clemente de todo a corporação presente, logo que apareceu em cena.
Antônio Niterói escorregou na poltrona, escondendo-se atrás do
balcão, vergonha pelos outros, Naiara quase a chorar, é tanta
emoção! O terceiro ato começa com Leopoldo e Stephen bêbados
numa mesa de bar, rodeados de moças alegres, que eles tateiam. Numa
cama barulhenta, Camila Dunlop em exígua roupa de dormir, era Moly
sonolenta e ciosa do relógio, sem problemas em sentir o calor de
Gibraltar, como se esperasse alguém, que não seu marido, sob o
rochedo. Leopoldo e Stephen saem do prostíbulo cambaleantes, Mr.
Boylan entrava na casa e subia as escadas e fazia sexo anal com ela,
numa cama barulhenta. Leopoldo procurava a chave do portão de casa,
encontrava tudo, até mesmo um sabonete embrulhado numa folha de
jornal, menos a chave em qualquer dos bolsos, resolveu saltar o
portão, como outras vezes fizera quando trocara de calças e esquecera a
chave, Stephen se equilibrava melhor com uma bengala. Leopoldo subiu
no portão. Cabo Clemente empunhou a arma e fez posição de tiro. A
corporação que andava atenta aos movimentos de seu pupilo, deixou
vazar junto com o sorriso um rumor de: esse é nosso menino! Cabo
Clemente sentiu a energia vinda da plateia, das galerias, mãos na
cabeça seu meliante! Leopoldo saltava o portão quando foi atingido
por uma bala certeira. Cabo Clemente olhou para o Comandante no
balcão nobre, que tudo aprovava com um gesto romano. O amante, a
amada, o bêbado Stephen, o contra regras, os maquinistas, a copeira
acudiram ao morto, que Stephen havia anunciado: J. Maurício Anibal está morto de
verdade! A plateia não entendia, era impossível saber quando findou a ficção que fez-se real. Cabo Clemente era o assassino. Duplo assassinato: J.
Maurício Aníbal e Leopoldo estavam mortos.
Continuará... com o
julgamento.