Uma janela imensa, o
bochorno, a toalha úmida descartada, por seca, o ventilador em seu
pendular movimento que Antônio Niterói decifrou pelas oladas de ar
quente, de uma longínqua combustão. Dormiu, sonhou e despertou,
espetado nos olhos por um raio avermelhado de sol que cruzou a
colcha, que interpretava a cortina, numa grande janela de uma
hospedaria que dá para a José Bonifácio. Com um salto se pôs sob
a ducha, onde lavou sua regata amarelada. Fez gestos espaçosos, não
alcançava nem o chuveiro, por sua mediana estatura, como os
acidentes que vira e mexe lhe ocorriam no apartamento anterior.
Passou pela cozinha, onde Sebá tinha um belo café da manhã, sem se
interessar. Caiu na rua e esquecido do sonho, que poderia lhe
orientar na solução de um caso, advindo em um sonho anterior.
Esquecido, sonâmbulo, parado na calçada em meio o vai e vem de
funcionários retirando motos das lojas, para estacioná-las junto ao
meio fio. Voltou para a cozinha, onde encontrou Sebá a ler o jornal
A Cidade, que trazia a história de um jovem desaparecido.
A claridade do dia
apenas se anunciava através da colcha vermelha que ocupava o lugar
da cortina, na grande janela da hospedaria do Sebá, na esquina da
José Bonifácio com Mariana Junqueira, onde a princípios do seculo
XX fora um pastifício de fama regional, e o alarme do celular de
Antônio Niterói disparou. Envolto em uma toalha úmida e vestindo
uma camiseta regata branca, surrada e encardida, pois junto com as
cuecas era lavada sob a ducha, Antônio Niterói, tropeçou no
ventilador. Depois da ducha reconfortante, no espaçoso banheiro,
calmamente desceu as escadas que davam à cozinha, onde Sebá já
havia disposto as delicias de um café da manhã, sobre a mesa, uma
frugalidade comparável a do Grand Hotel.
- Novidades! Disse
Antônio Niterói interpelando Sebá, que calmamente lia o jornal A
Cidade.
- De sempre, estão
acusando o Palácio Rio Branco de vender sorteios da COHAB, e o
garoto?
- Ah! Por falar nisso,
onde anda aquele seu celular não identificável ?
-
Está aqui! E para variar tem pouco crédito, você vai falar muito?
-
É rapidinho, vou resolver essa história.
-
Não sei qual o seu interesse, você nem foi contratado para isso! Disse Sebá. Era só para se manter em exercício, que Antônio Niterói se
envolveu na busca de Cezinha. Cezinha estava desaparecido a dois
dias ou três dias. A família sem noticias do rapaz. Os amigos fazendo correntes
pelas redes sociais. A policia procurando e Antônio Niterói
investigava.
Antônio
Niterói ligou para Salmora, um Civil, amigo dos tempos de
corretagem.
-
Então Salmora, descola o número de telefone da família do sumido.
-
Sem palhaçadas hein! Niterror! Veja lá o que vai fazer!
-
Chi! Sal! Quando foi que... bom, esquece, pode confiar! Eu sei que
você confia. E preste atenção, em vinte minutos te ligo! Não
foge não, você vai gostar!
Sebá
se comia de curiosidade e Antônio Niterói não lhe adiantou nada,
tão só lhe disse que ficasse atento àquela façanha.
-98801815. tu!tu!.. O telefone chamou por quatro vezes antes de ser atendido, por uma voz
de mulher. Uma voz de rouquidão suave e matinal. Era sim a mãe do
rapaz sumido.
-
Então madame quero que a senhora preste bem atenção. Tamo aqui
com seu filho. Somo uns cinco, sabe é um sequestro, tamo querendo
deiz mil cada um, pra devolve o garotão.
Eva
a mãe de Cezinha, começou a rir um pouco nervosa, havia recebido
vários telefonemas, inclusive de gente que o havia visto em
Blumenau ou Fortaleza, mas nenhum nem suposto sequestrador.
-
Num ri não madame! Se a senhora quiser eu mando a ponta da orelha
dele, com essa argola de txucarramãe que ele tem na orelha. Eva
exalando espirituosidade lhe disse, que os txucarramães usam argola
no lábio e não na orelha.
-
Do jeito que senhora quiser, então a gente mandamos os dois, o lábio
e a orelha, e se as coisa sair errado, num for como nós combinar,
nós picamos ele tudo. Escuta direito. Tá escutando né! Então leva
o dinheiro no bar verde da Zé Bonifácio. Deixa tudo lá com a
Maiara, não fala o que é não! Aquilo é mais bandida que nóis! Tá
me entendendo? Até meio-dia! Tá combinado? Eva ficou temeu, nunca
se sabe, e esse bandido sabe o telefone de minha casa...
-
Ô mano! Que combinado que nada! Pensa que sou boba é! Meu filho tá
em Buriti...
-
Tá em Buritizal, Sebá, tomando banho de cachoeira nas furnas!