2 de jun. de 2011

Homo-caricatus.


Alguns “héteros”, em particular aqueles que pagavam para “ver” duas “mulheres” em “ação”, não suportam isso “gratuitamente”. Caricatura de pudor.
Na vida real e em particular na literatura há um tipo de mulher com gestual exageradamente delicado, fútil, caricatural. Que em muitos homossexuais de origem masculinos se tornou sua essência, caricatura da caricatura. Dessa dupla caricatura às vezes se tem vontade de fazer troça, na verdade se torna quase obrigatório, praxe.
Dentro da mesma linha da caricatura, algumas homossexuais coçam o terceiro testículo, parodiando Chico Buarque, coçar um membro que já se perdeu ou nunca teve, ter dor de dente na prótese, mascam fumo e cospem no escorpião e o matam, sem o cinismo “far” “cool” de Clint Eastwood.

31 de mai. de 2011

Quando casei uns amigos.

Um dia ele chegou, bonito, como um filho de Apolo. Não digo isso gratuitamente, senão que me a pagava com incerta admiração, por beleza não era, que não a pretendo. Admiração assimétrica. De um fotógrafo desinteressado pela pose. Sem saber o motivo de sua admiração a digo: incerta. Pois bem, ele me disse que ia se casar. Ora vamos, Peteca, você me diga com quem! Sim era ela, bonita, como se fosse filha de Circe, sem as poções. Meus olhos se deleitavam ao vê-la passar por Sousa, eu já me sentia então um fauno espreitando ninfas, garota de Ipanema, se o rio Atibaia fosse o mar aos pés do Corcovado e a Rua Maneco Rosa fosse a Farme de Amoedo. Castaño, um filho de Mallorca, vivia a beira do Atibaia, e dizia que na madrugada, hora em que a bruma se forma sobre o rio, esta esconde sobre as pedras uma Atibaíade, que canta com a voz mais doce que um humano pode produzir, enquanto trata de seus longos cabelos, era ela. O divino Peteca me disse também que eu iria casá-los, eu quis saber se ela sabia quem seria o anti-clérico, ele disse que sim, mas um outro dia veio ela a mim e disse-me: Cidão você vai fazer o meu casamento com o Peteca. Depois chegou ele, beberam bom vinho e comeram boa pizza. Voltaram num domingo, trouxeram as alianças, que não eram desde já alianças comuns, eles não eram comuns e tampouco sou comum, mortais mas, incomuns como aquelas alianças e aquela aliança. Eu me lembro de ter invocado ao grande deus, um deus de letra minúscula que coubesse no meu entendimento e no entendimento deles, e disse: introibo ad altare dei, enfim que entrava no altar de deus, o deus do amor, que é a única coisa que os levava a casar, além de uma casinha pequenina à beira do lago, claro. Disse mais coisas, bendisse a aliança, saudei suas belezas, rendi graças à minha escolha, perguntei-lhe se ele a queria como esposa, ele disse que sim, então perguntei a ela: Lívia quer o Peteca como seu esposo, ela disse que sim, beijaram-se e eu quis dizer uma palavra em hebraico, mas dela só me lembrei agora, שָׁלוֹם עֲלֵיכֶם;.

30 de mai. de 2011

Nulisseu. Nulisses.

Depois de cada aventura matam ovelhas e cabras, preparam um banquete, bebem vinho segundo o paladar de cada um, vinhos tão bons a que podem adicionar vinte medidas de água e cada um a soma a seu gosto. Cansados, adormecem na areia da praia ao som do agitado mar salgado. Poderiam haver se mandado, depois de furar o olho do gigante globolho, mas não, houve-se por bem tripudiar o derrotado.

Diante disso nossa aventura se semelha cada vez mais chinfrim. O inimigo é: o chefe, o inadimplente, o Bolsonaro, o palhaço deputado, o eleitor do palhaço, a música alta do vizinho, o exterminador de gatos, o vereador bêbado ou o mosquito da dengue. Todo mundo come todo mundo e ninguém come ninguém. Para comemorar: um maço de alface, um frango de plástico, a cereja falsa sobre o bolo dietético, a cerveja de tudo: de boca grande, a primeira, a que xinga argentino, enfim tudo: menos cevada, lúpulo e malte e se formos metidos a bestas e com sorte, teremos o vinho aquoso do famoso “custo benefício” e o gosto de frutas silvestres, que nestes trópicos nunca provamos, sabor a bosque profundo, que a tempos devastamos.
Tenho a terrível impressão de que os mortos nos governam. Que a própria aventura individual foi copiada do google. Um google remoto, anterior ao Google and Co. E desde já anuncio: não é a virtualidade que incomoda, ou o veículo, mas a pobreza do festim pela insignificância da vitória.
Por isso não há redenção. Por isso Leopold Bloom é Ulisses. Por isso Circe é uma prostituta e aceita cartão de crédito. Pois todas as batalhas foram travadas, essa é a tragédia.

28 de mai. de 2011

Palocci não é catupiri, ou a língua de pau.

Não defenderei Antônio Palocci Filho, por óbvio, não sou advogado. Tudo que Palocci parece precisar é de advogado ou advogados, peritos e contadores. Sou cozinheiro e o gourmet é Antônio Delfim Neto. Mas me disponibilizo, para ambos, como tal, a preço de mercado. Pratico uma cozinha anti-ética. Que é isso? Pegunta aquele que pergunta. E para você respondo: cozinho confiando na tua língua de pau, na tua língua rugosa queimada pelo excesso de sal do dia-a-dia, conto com tua incapacidade gustativa, com tua fome ancestral, com teus vícios palatais, com tua ansiedade que te faz glutão. Substituo alho e cebola por arisco, coloco mais pimenta, açúcar no molho, umani – pra você eu digo: umani é açúcar, é sal, é azedo e é doce é pra de vez em quando - , encho de cebola e você come sardinha por aliche. Sardinha é ótimo, mas não é aliche. Contra é melhor que filé, até músculo é, mas não o é. O Mestre Golfeto sabe: depois da higiene vêm outras querências. Queira! É só querer.       

26 de mai. de 2011

Rios sem Discurso. João Cabral de Melo Neto.


Rios sem Discurso pertence à coletânea Educação pela Pedra, publicada por João Cabral de Melo Neto no ano de 1966, pela Editora do Autor. Rio de Janeiro.

Começo pelo fim: “em que se tem voz a se ele combate” . Um rio combate a seca, a voz se opõe ao silêncio. seca|mudez rio|voz assim rio|seca mudez|voz. Não é de qualquer rio ou qualquer voz imperativo combater, sim um discurso único. Mas este rio-único-discurso sempre é enfrasado a partir de palavras que se comunicam em frases menores formando sentença-rio.

Mas há o isolamento da água em poças, das palavras em situação dicionário. As poças não se comunicam com outras e definham, evaporam e são tragadas pela seca terra. As palavras em dicionarizadas catacumbas estão mortas, mudas; são todas mas nada podem dizer neste isolamento.



                  Rios sem Discurso.

A Gabino Alejandro Carriedo.

Quando um rio corta, corta-se de vez
o discurso-rio de água que ele fazia;
cortado, a água se quebra em pedaços,
em poços de água, em água paralítica.
Em situação de poço, a água equivale
a uma palavra em situação dicionária:
isolada, estanque no poço dela mesma,
e porque assim estanque, estancada:
e mais: porque assim estancada, muda,
e muda porque com nenhuma comunica,
porque cortou-se a sintaxe desse rio,
o fio de água por que ele discorria.

*

O curso de um rio, seu discurso-rio,
chega raramente a se reatar de vez:
um rio precisa de muito fio de água
para refazer o fio antigo que o fez.
Salvo a grandiloquência de uma cheia
lhe impondo interina outra linguagem,
um rio precisa de muita água em fios
para que todos os poços se enfrasem:
se reatando, de um para outro poço,
em frases curtas, então frase e frase,
até a sentença-rio do discurso único
em que se tem voz a seca ele combate.



O manipulador diz ao leitor que as palavras sem contexto não têm valor. E que um texto ainda que falto de uma palavra, é sempre texto. E nesse caso cabe ao manipulado leitor ir ao cemitério de palavras e buscar-lhe a palavra certa para atingir o texto pleno, posto que sem isso será sempre o texto um aleijão. João Cabral não lhe gostam as metáforas, prefere a simetria, o espelho é o maior criador de simetrias, por isso João Cabral insiste no poema objeto não metafórico que através do espelho|leitor se remonte pleno como um rio que se faz discurso partindo das poças interligadas em fios e esses fios como outros fios d´água e a tantos outros muitos, até o rio-sentença.

Acontece porém que há um impedimento heraclitiano aonde o rio cortado não volta a ser o mesmo, cortado, o discurso não se remonta simetricamente, assim esse rio é um discurso vazio. Resta-me enquanto manipulado leitor a metáfora, da união dos esforços, da comunhão possível já que nos falta a palavra ou nos sobra grandiloquências. Como dizia Karl Marx em algum lugar de A Ideologia Alemã: l´impuissance mise in action. O poema é a própria impotência posta em ação. Uma vez que para Jean Duboi discurso é “linguagem posta em ação, a língua assumida pelo falante”, para Massaud Moisés: o vocábulo “discurso” ostenta polivalência de sentido segundo o contexto.
Assim os rios sem discursos são poemas metafóricos, é recife, que sempre é: acumulo de corais que se depositam, mas sempre quer ensinar, comover e entreter.





25 de mai. de 2011

Pagão.

Antes mesmo que ele fizesse suas mãos rastejarem pela mesa, puxada pelo fura-bolo e o mata-piolho, qual caranguejo mal projetado, desviando-se dos copos, da garrafa pela metade e do numerador de mesa, para ao final obter um toque com o mesmo indicador na imensa unha postiça e vermelha da espalmada mão dela sobre a toalha axadrezada – gritando: oriundi (a toalha) -, ela tascou-lhe a pergunta: “Você acredita em Deus?”. Sem exitar ele disse que sim não sem antes pigarrear. Ela disse que “É! Mas não parece! ”. Nem sabia a parecença dos pagões, mas o problema não está em parecer ou não parecer, em crer ou descrer se é que há um problema e de uma vez por todas, em havendo não é um problema meu (dele) sei que as coisas são infinitas, e até o infinito o é; assim  o problema é divino e não meu. Sua pergunta só tenta transferir o problema para mim, onde ele vai se colocar concretamente  meio a  imensidão, para não se transformar em mais um mágico, faquir ou charlatão, já que sua primeira tentativa de aproximação falhara ele disse isso. Ela levantou-se repuxou a minissaia repugnando-o e se retirando "pagão"! Ele que fabricara um ateísmo pessoal com filigranas gregas e vedantas, ficou até terminar o vinho para pagar a conta, sempre paguei essa conta disse, faltava isso pagão! 

24 de mai. de 2011

Tecendo a Manhã.

Tecendo a Manhã é um poema publicado na coletânea Educação pela Pedra de 1966, pela Editora do Autor, Rio de Janeiro. Poema fundamental da poética de João Cabral. A “tecedura” do poema obedece a um rigor estrutural, associando o sentido coletivo de sua construção e a solidariedade das ações humanas.

Tecendo a Manhã.


Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito que um galo antes
e o lance a outro; e de ouros galos
que com muitos outros galos se cruzem
e os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.

                         2.

E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.

Se texto é tecido e o tecido é produto da tecedura da linha, a linha aqui é a união de todos os gritos de todos os galos, uns acordados pelos outros, para que despertem o próximo. João Cabral quer o poema|tecido como uma tenda e ela deve abrigar a todos. (a manhã) é também amanhã livre de amarras, de esqueletos, leve e luminosa como um balão. Os galos em uníssono tecem a manhã, já os homens (operários que tecem) unidos tecem o amanhã. O poema é um manifesto, e como tecido é um pano, um lenço (vermelho por suposto) que deve ser agitado, entretendido, esticado, por e para todos. Pode-se, se se quer, ouvir o grito do manifesto comunista: “operários de todos os povos, uni-vos.