21 de mai. de 2011

Queneau: execício sobre plágio.

Foi na vigília, num  pesadelo, que te revelaste, como alma penada, abrindo a porta, intrusa e oferecida, não te esperava. Não tenho tanto caráter, mas não dissimulo para ti minhas piores caras e resmungos, que por vezes beiram a ofensa. Mas você é repetitiva e se impõe,  sei que me repito, em brutalidade, em ranhetice quase infantil, mas mais que sempre, não te esperava, desesperadamente não te quero. E agora quanto mais te evito mais te enroscas em mim, me envolves  apesar do hálito ganhado à noite e na sua véspera precedida de tarde alcoólica em empapuçado churrasco, meu deus! mesmo dos gases, me desculpas! E vens, sensual, loira e radiante como quer Hitchicok, vestida com este véu qual névoa transparente que vai se abrindo e mostrando teu sol, radiante. Quanto mais me indisponho, mais brilhas, nem reclamas do gosto  de café com leite e pão com manteiga ou do cigarro de minha boca. Me queres mesmo sem a chuveirada restauradora, ainda que um trapo, um farrapo e me envolves com tua volúpia e me entregarás ainda pior à terça.   

exercício de estilo, idealizados por Queneau sobre um texto de Julio Cortázar.  

20 de mai. de 2011

A utopia de Charles Bukowiski: a volta ao útero. Ou, a paz, a volta à natureza

Dois homens numa encruzilhada olhavam o mesmo escudo, para um, sua face era de prata, o outro a via dourada. Um daroês lhes mostra que ambos estão certos e errados. Concomitantemente. Essas duas caras, quando poucas, de uma verdade é o que fascina e aniquila. Fascina sempre que o dervis não tem exército, pois em tê-lo este acaba por obrigar-nos a uma delas.
Existem alguns métodos de interpretação da narrativa humana, qual seja, a vida. O que mais me encanta é materialismo histórico e dialético, onde a dialética pressupõe, na verdade, confronta contradições materiais. Evolui pelo atrito. O homem coisa, a coisa e a coisa feita|transformada pelo homem no tempo e o homem que se transforma ao transformar a coisa; isso é história. Não há quem narre a história senão o homem (e há bastantes dúvidas da existência do objeto, quando ao objeto não cabe papel de sujeito da ação – a pedra rolou ou a gravidade rolou a pedra!), foi necessário que a pedra e o caminho fossem anunciados pelo poeta: tinha! Pois bem esta hermenêutica, este instrumento interpretador anuncia que este homem se faz no contato com a coisa e sua natureza, se faz ao transformar a coisa. Se transforma dependente que é do modo de produzir a mudança na coisa, esta opera nele alterações que a ele se incorpora. Que seja: o modo de produzir e o ato produzem o homem, a coisa e a história. A história se dá quando da inclusão da variante tempo na produção e reprodução do homem, a natureza – geografia, clima, fauna e flora etc - a coisa e a natureza da coisa – objeto não sensível, produto da atividade e sensibilidade humana - e do homem, objeto, sujeito e predicado.
É muito simples, se não existe propriedade não existe ladrão. Assim só a propriedade é capaz de justificar o roubo e o assassinato, posto que as armas foram inventadas para proteger a propriedade. Imagino a dificuldade que seria matar – desarmado - a um semelhante, se facilmente se exaurem nossas forças, já que roubar a vida de outrem é impossível, podemos matar o outro, mas de sua vida nada podemos reter. Assim mata-se por não haver recebido o equivalente a uma pedra de crack. É certo que dir-se-ia: se não houvesse a arma o homicídio seria dificultado, posto que implicaria num encontro corporal, numa briga onde se medem as forças até a morte de um dos oponentes. Não vi nenhum filme que tenha conseguido mostrar o horror, a tragédia que isso encerra. Digo das pelejas de minha adolescência, que não traziam implícitas o fim último. Com a arma de fogo se facilitou, por higiênica, o homicídio. Não há esse contato violento de pele, de suor, de cheiro e de pavor que se estampa no gesto do outro. Poder-se-ia dizer: banalizou-se o homicídio. É notório que não. Banalizou-se a produção e o comércio de armas, sim, ao mesmo tempo que o homem é banalizado. Não é a vida que está banal. Pois a vida é o homem, vivo ou morto. Banal o homem, banal a vida, banal a morte.
A minha pergunta é: onde começa a vulgarização do homem. A minha resposta é: no modo de produção. Não deve-se esquecer que o modo de produção acarreta em produzir|consumir onde há um consumo de produção que é anterior ao produto, o consumo do produto que implica em nova produção, que remete ao consumo das forças vitais do homem e de sua natureza e da relação do homem com a natureza. Deve-se dizer que o homem já foi natureza. Foi natureza quando estendia a mão e colhia o fruto, neste momento a natureza – flora (planta) e fauna (homem) – não terminava na banana, continuava através do homem. Não há como separar da natureza, como ato da natureza, uma traíra comendo um bagre. O rio, o bagre e a traíra “é” natureza independente do que façam. Mas um homem comendo uma banana, nada tem a ver de natural. É uma relação estética, no seu lado mais pedante que é parecer natural. Uma banana é no mínimo o envelhecimento precoce de um homem outro que a produz dentro duma relação de apropriação das forças vitais da bananeira e do homem. A banana vulgarizada faz o homem vulgar, esse homem vulgarizado não adquire nem o valor daquilo que produz. Citado por Marx, Ricardo diz: reduzi o valor da cesta básica e assim se reduzirá o valor do homem. Marx acrescenta que o cinismo não está em Ricardo, mas na "coisa" em si, no modo de produção.
A terra gira e até as utopias, inclusive, pia fraude. Mas a utopia é a geografia prometida, que foge de nós os mesmos passos que damos na sua direção. 
O retorno a natureza é a utopia. Poder-se-ia dizer: é um modismo. Não é. É uma súplica desesperada. Começar de novo, de uma maneira diferente. Coisa que o capitalismo, que é o modo de produção, o sistema engendrador de tudo que é bom e ruim, bem e mal, parece não oferecer saída. É a busca máxima de Charles Bukowiski poeta imprestável, proletário e bêbado: o útero.          

15 M: Vai vendo! vá vendo!

Em Espanha e pelo resto de Europa os cidadãos em praça pública reclamam protagonismo, é o 15 M. No centro da questão está que o sistema político caiu de joelhos diante do sistema financeiro, este no genuflexório almofadado de catedrais góticas travestidos de Bancos Centrais a “humilhar-se” para que se esfole mais a todo um povo. O governo, qual seja, tem medo da simples possibilidade de que algo se lhe escape o controle. Podemos julgar a qualidade e orientação deste controle, desde já o controle implica não em imposição, mas que não exista a necessidade de impor-se pela força, em suma que aceitemos as condições, a citar: desemprego, baixos salários, altas exigências, falta de perspectiva para jovens de inserção no mercado de trabalho, alta de juros etc. Para que se não lhe escape ao controle termina por assumir, diga-se, os prejuízos causados pelo descontrole do sistema financeiro. É notório que os governos não têm esse controle, sequer o completo entendimento do funcionamento dele. O analista econômico têm feito; e pessimamente; contabilidade. Trabalha no microcosmo e quando parte para o macro, faz o que em estatística se chama extrapolar; um terço ciência, já que nem a estatística em si o é, dois terços avemarias e padrenossos, enfim, pejorativamente, extrapola exorbitantemente. Nem mesmo o famoso economês lhe serve mais de escudo como dantes a seu obscurantismo pedante, sua calça rasgou, e o fundo esta todo mundo vendo. O pobre analista encosta o nariz na vitrine e vê o reflexo dos próprios olhos incrédulos. Mas sempre dirá qualquer coisa canônica: o governo “vai subir os juros” e blá, blá inflação blá, blá e eu ligo o rádio e blablá... pois o seguro morreu de velho.   

19 de mai. de 2011

Preguiça, requer que se expulse! Ilhe.

Quer motivo mais fútil que ser expulso de algum sitio, por uma maçã! E saber que a cobra de cabo a rabo – filologia barata: cabo do latim caput = cabeça – pois essa cobra, todinha, foi escolhida por deus para permanecer. A senhora fique, disse. Coisas de deus, que ressuscitou Lázaro e não sabemos seu paradeiro. Caim, outro estrangeiro, se mandou com sua mulher sem nome para o leste do paraíso, fundou uma nação – Enoque - vitima do primeiro tsunami, o dilúvio. Noé preteriu-os ao casal de... hipopótamos, que sei eu! A crônica, melhor digo, a cronicidade das expulsões depois de qualquer diatribe está entranhada. Nos fez a todos estrangeiros e é a primeira pena noticiada. Talmente, segundo o delito, além de deus, o Rei Roberto não oblitera, quer sumariedade. É patético , pois, depois ficam por ai tecendo cachecóis no pier até o regresso do herói que não bota cera nos ouvidos, ao primeiro canto de sereia.  

17 de mai. de 2011

palocci

Palocci ficou rico. Não era pobre, Palocci, fez medicina. Não parece óbvio que foi o uso do placebo que o fez ter saúde financeira, invejável. Invejo-o. Mas deus não gosta de ricos ou invejosos. Deus dizia, dizem que dizia: Não cobiçai blá, blá, blá... e é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha... - fazendo filologia barata: veio dai o verbo camelar - . Busílis; tampouco deus sabe como Palocci endinheirou-se. Trapalhadas. Deus também se atrapalha, imagine, criou o dia antes de criar o sol. Mas Palocci é discípulo de Lao: Sabe e não quer dizer. Ouçamos Lao Tsé: quem fala não sabe, quem sabe não fala. Fácil. Palocci! Não fala. Lao pode que  odiasse ensinar, ou tange a isso se range a rede. Mesmo, mesmo, Lao Tsé soia ser enigmático, pois falando não sabia, e mesmo assim o tomamos como sábio. Palocci não é enigma, que nos devore. O jovem Palocci já tinha poder, poder de liderar, conseguia com que o quinto e sexto ano de medicina fizessem greve! É muito! Mas, “O poder tende a corromper. O poder absoluto corrompe”. Ouçamos outros deuses – Maquiavel e Hobbes – : o homem é mau por natureza, há que domesticá-lo. Não se espante, por que alguns traços permanecem; se somos ingratos, volúveis, simuladores, covardes ante o perigo e ávidos de lucros. O bastante neste particular quesito, é que temos grandes mestres, “ganhando” muito, e pasmem: esta ótima escola: é publica!  

15 de mai. de 2011

Agora quem dá bola é o alvo e negro.

         Chamam branco mas é o preto que buscam. Miram no centro onde está o  negro do alvo. Já o alvinegro praiano é o novo campeão. Faz por onde. O time é leve, é assim que dá bola o alvinegro praiano, os jogadores correm leves, quase não tocam o chão, como se a lei da gravidade lhes foi dividida por dois, mudam de direção com um soslaio, correm esguios, abrem os braços para frear, piscam os olhos para fintar, braços! os colam ao corpo para aumentar aerodinâmica, como Pelé corria, chegam na bola perpendiculares, sobrando humanos, como Pelé chegava, de peito estufado, como Pelé estufava, chutam sem esforço, como Pelé chutava, chutar era só mais um atrevimento do seu pas de basque, pois sobrava, jogam sem amor ou ódio, só com o orgulho de saber jogar, fácil, eficiente, eficaz; eficácia também poderia ser outro apelido do alvinegro praiano, de Pelé, mas não é plástico, fácil, leve, simétrico e curto como; onde a segunda silaba se diz por dizer, para relaxar o esforço do “p” como Pelé, peixe, ou “b” buli, boli, bola pé bola olé. O alvinegro praiano não tem coisa especial dessas conservadoras e espartanas, como garra, pegada, sangue suor e lágrima, não tem! tem bola, não é exército! Para que estratégia, tática e arte da guerra, ninguém gosta de guerra, só os que odeiam a arte amam a guerra e dormem com seu catecismo ridículo. Alvo seu negro centro.  

STF: Onze Capitus.

                   Outro dia a câmara municipal de Rib. Preto ganhou mais uma Adin. É a enésima, que só vem confirmar sua inaptidão. Na mesma semana o STF concede aos pares homoafetivos certa equivalência aos pares héteros. Como se diz ali na pracinha:" tava caindo de maduro", é costume e se tanto deve ser lei.
                O fato intrigante é o STF ocupar o vazio que deixa o legislativo federal. Parece que estas câmaras foram atingidas por algo, que as deixou catatônicas; empacaram como o Sete Copas, e não há o quê faça o muar mover-se.