25 de fev. de 2011

Vontade política.

O mundo pode estar a desabar que Vicente Golfeto evoca o mallarmismo, mas podia ser a estupidez laplaciana para dizer: o movimento é binômio vetorial; sugerido pela sucumbência concorrente e livre no espaço euclidiano, entre objeto que fricciona-se com o meio que sofre a ação. Daí ser o movimento: o que resulta da reação do atrito que impede a ação atritiva que impulsiona. Já na Grécia dos homens pensantes montados em homens-cavalinhos, como o Prudêncio brascubano, sob as colunatas da Stoá praticavam austeridades inamovíveis. Zenão era econômico – todos somos economista, outros são palpiteiros - Ah! Zenão era tão econômico que deixou poucos seguidores. Seguidor é o mesmo que discípulo, que é o mesmo que sectário, é mosca na lesma lerda e por último é mimetização, que vem do grego mimetes – com carinho - já tiromante veio do grego turós queijo + mante, prever o futuro usando um queijo. É carnaval.

24 de fev. de 2011

Aforismo: Morrer é circunscrever tempo e espaço em nossa insignificância.

É certa a universalidade do tempo, sua distributividade democrática, sua ubiquidade. O tempo está em continua expansão, é a sua fraqueza. Sem conseguir montar o silogismo necessário, só me resta avançar e dizer que junto com o espaço são as únicas matérias, a não pertencer ao regime de escassez do nosso mundo. Outra qualidade da dupla é a indexação de um em outro. O tempo por não escasso, deveria nos corresponder infinitude. Acontece que capturamos um braço do tempo. Este braço capturado que não se reintegra ao corpo universal do tempo é um esgarçamento. Tal acontecimento é um confinamento. Confinamento de um em outro. Com o confinamento, espaço e tempo, deixam de se expandirem. A ponto de deixarem de existir. O que explica a morte. Espaço ou tempo quando universal pode em sua dilatação dobrar-se sobre si,o que explicaria esse déjà vu.

22 de fev. de 2011

Juízo final ou a eternidade da morte.

Laura está dentro do vitral, melhor dito, na própria luz que o vara. A luz a faz fugir de si e dos próprios olhos luzes. Qualquer modo, esse, seus olhos luzes lhe fazem cegar. Então cerra os olhos e há luz. Responde a uma pergunta não feita. Tartamudeia: sim, sou o que sou. A luz por fim: leitosa, mais tépida que aguda. Está dentro do copo-de-leite cheio de leite a não permitir levantar a cabeça e abrir os olhos, por não haver cabeça nem olhos senão a ideia do leitoso branco, dentro dos olhos, sendo os próprios olhos lácteos. Nem silêncio ou ruídos. Nem luz. Laura não ouve o juíz, se defenderia, nem o pensamento existe, a dar voz ao juíz, ou defesa; apenas a névoa, e por toda parte, nem sabe se alguma pergunta, nuta lentamente, entre um século e outro, bafeja o cristal antes baço, sim o fim, um sopro. Os séculos estacionam, amontoam, perturbam-se entre uma não-pergunta e não esta. A luz no lento abrumar,se descobre do chapéu, gentil e demoradamente,recomenda. Saúda malandramente. Imêmore enleio de séculos. Nunca completamente nem no fundo do mar o dado naufraga o azar.

21 de fev. de 2011

Meu livro.

Há tempos passeio a veleidade de escrever um conto longo. Uma novela. Criei a personagem principal. Dei-lhe ares positivista e iluminista. Decidi que sua tragédia não é ser priápico, tampouco a alteridade, mas ao fim e ao cabo penisca.
Sua industria é desumana, e a executa com fervor patológico e ao final morre, para não nos matar a todos. Mas antes nos dará muitas dores de barriga e principalmente prisão de ventre.
O problema estava em como começar. Estritamente: Aquelas cinco ou dez linhas iniciais.
Há pessoas que me sugestionam e só depois me dou conta. Borges encontrava em Don Quijote um desses começos inesquecíveis:

En un lugar de la Mancha, de cuyo nombre no quiero acordarme, no ha mucho tiempo que vivía un hidalgo de los de lanza en astillero, adarga antigua, rocín flaco y galgo corredor. Una olla de algo más vaca que carnero, salpicón las más noches, duelos y quebrantos los sábados, lentejas los viernes, algún palomino de añadidura los domingos, consumían las tres partes...

Sendo facilmente influenciável gostava de construir um começo digno. Assim a cada dia me punha diante da tela a pensar e de repente estava lá eu a fazer rasta na sobrancelha. Até que resolvi plagiar Machado de Assis e criar um narrador rumiando coisas do passado, retomadas pela memória que não mente e nem falseia, mas esquece, a bem do leitor, e não é que o cara fica sentado diante da tela branca do BrOffice tirando ouro do nariz!

19 de fev. de 2011

Bullying.

Até onde o estado deve ser mediador das relações sociais ?
O menos possível! Gloso. O neoliberalismo quer o estado mínimo na economia, no mercado e que este próprio se regule. Aparentemente há regulação de “alto nível” no mercado mobiliário, cujos participantes sugerem resoluções de controle, é dizer: autocontrole, tentativa de minimizar vantagens indevidas devidas à desinformação do incauto, infrações fora deste âmbito, desta zona cinzenta, nebulosa; o estado usa o poder de polícia. Há também algo no mundo dos bancos, futebol e outros esportes.
O bullying numa de suas modalidades é a rejeição como atitude. Rejeita-se manifesta e explicitamente. Gosto. Pois, partir da declaração e da ciência pode-se discutir a questão.
Moisés baixou do monte dizendo que deus ordenou que nos amassemos. Nos odiamos e líder amado é líder deposto ou morto, e morte é uma chancela que cancela muitos vícios do cidadão enquanto vivo. O rejeitado pode e deve rever posições e comportamentos, para ser amado ainda em vida.
Não podemos sair de um momento histórico onde o estado era detentor de prerrogativas exorbitantes (absolutismo) para o tempo dos direitos e prerrogativas exorbitantes do cidadão (democracismo, judiciarismo) à custa dos outros cidadãos, quer dizer, poder pode, espero não ver ninguém ser julgado por botar apelido no outro. Polícia e tribunal custa uma dinheirama.
Borná, dizíamos a um menino filho de um sitiante que sempre levava à professora Terezinha um embornal cheiinho de frutas. É borná ê! É borná ê! Eramos crianças.

18 de fev. de 2011

Bento Santiago: por óbvio é casmurro.

Bento Santiago metido consigo, por meio de: deus é poeta, satanás é maestro e Shakespeare um plagiador. Bento Santiago é um plagiador do plágio e quis ser Otelo. Deixa\faz morrer a amada para ter\ser imortal o seu amor, pois o “objeto” é uma atrapalhação que enreda.

17 de fev. de 2011

Bento Santiago é feminino.

Não, não é mulher, nem tentativa de ser, imitação de, transmutação, metempsicose, transmigração etc é feminino.

...A divisão que foi sempre uma das operações difíceis para mim...

Sua lente de ver o mundo é a lente feminina. Tampouco tem mente feminina. É feminino. À imagem da mãe e suas referências. Um exemplo: O rapazito quer ir à Bahia. A mãe diz que não têm dinheiro nem para chegar a Belo Horizonte. O pai os leva à Bahia, estende a viagem ao Recife com chances de chegar a Fortaleza, estoura o cartão no último dia, dá um cheque descoberto, cobri-lo-á “assim que” chegar de volta, caso consiga o dinheiro. O filho volta estupefacto, louco para uma nova viagem. Caso fosse com a mãe a Belo Horizonte. Dormiria num grande hotel, tomaria café da manhã a cada dia, almoçaria, jantaria e iria para a cama de banho tomado e dentes escovados e: ...a Barra do Sahy é muito mais...
Bento Santiago tem essa referência e não sabe esquecer, esquecer de esquecer-se de lembrar. Bento Santiago não se lhe esquece ou escapa as meias ou as cintas ligas da autóctone afrancesada, que cai e levanta-se presta com a “manha” de ocultar prováveis arranhões no joelho e segue em seu tique, tique, tique, tique...

Bento Santiago quer confessar-se, e para usar uma parole inusitada cita Montaigne: ce ne sont pas mes gestes que j’escris, c’est moi, c’est mon essence... diz-se que a essência é o conjunto do resumo do bem e do mal encarnado, isso é um saco de ossos de um desencarnado e com as falanges se embaralham os escafoides, enfim, não diz da bondade de si, senão que dá a bengala a um cego que perdeu o bordão e perde o trem... Voilà mes gestes, voilà mon essence...