24 de fev. de 2011
Aforismo: Morrer é circunscrever tempo e espaço em nossa insignificância.
É certa a universalidade do tempo, sua distributividade democrática, sua ubiquidade. O tempo está em continua expansão, é a sua fraqueza. Sem conseguir montar o silogismo necessário, só me resta avançar e dizer que junto com o espaço são as únicas matérias, a não pertencer ao regime de escassez do nosso mundo. Outra qualidade da dupla é a indexação de um em outro. O tempo por não escasso, deveria nos corresponder infinitude. Acontece que capturamos um braço do tempo. Este braço capturado que não se reintegra ao corpo universal do tempo é um esgarçamento. Tal acontecimento é um confinamento. Confinamento de um em outro. Com o confinamento, espaço e tempo, deixam de se expandirem. A ponto de deixarem de existir. O que explica a morte. Espaço ou tempo quando universal pode em sua dilatação dobrar-se sobre si,o que explicaria esse déjà vu.
22 de fev. de 2011
Juízo final ou a eternidade da morte.
Laura está dentro do vitral, melhor dito, na própria luz que o vara. A luz a faz fugir de si e dos próprios olhos luzes. Qualquer modo, esse, seus olhos luzes lhe fazem cegar. Então cerra os olhos e há luz. Responde a uma pergunta não feita. Tartamudeia: sim, sou o que sou. A luz por fim: leitosa, mais tépida que aguda. Está dentro do copo-de-leite cheio de leite a não permitir levantar a cabeça e abrir os olhos, por não haver cabeça nem olhos senão a ideia do leitoso branco, dentro dos olhos, sendo os próprios olhos lácteos. Nem silêncio ou ruídos. Nem luz. Laura não ouve o juíz, se defenderia, nem o pensamento existe, a dar voz ao juíz, ou defesa; apenas a névoa, e por toda parte, nem sabe se alguma pergunta, nuta lentamente, entre um século e outro, bafeja o cristal antes baço, sim o fim, um sopro. Os séculos estacionam, amontoam, perturbam-se entre uma não-pergunta e não esta. A luz no lento abrumar,se descobre do chapéu, gentil e demoradamente,recomenda. Saúda malandramente. Imêmore enleio de séculos. Nunca completamente nem no fundo do mar o dado naufraga o azar.
21 de fev. de 2011
Meu livro.
Há tempos passeio a veleidade de escrever um conto longo. Uma novela. Criei a personagem principal. Dei-lhe ares positivista e iluminista. Decidi que sua tragédia não é ser priápico, tampouco a alteridade, mas ao fim e ao cabo penisca.
Sua industria é desumana, e a executa com fervor patológico e ao final morre, para não nos matar a todos. Mas antes nos dará muitas dores de barriga e principalmente prisão de ventre.
O problema estava em como começar. Estritamente: Aquelas cinco ou dez linhas iniciais.
Há pessoas que me sugestionam e só depois me dou conta. Borges encontrava em Don Quijote um desses começos inesquecíveis:
En un lugar de la Mancha, de cuyo nombre no quiero acordarme, no ha mucho tiempo que vivía un hidalgo de los de lanza en astillero, adarga antigua, rocín flaco y galgo corredor. Una olla de algo más vaca que carnero, salpicón las más noches, duelos y quebrantos los sábados, lentejas los viernes, algún palomino de añadidura los domingos, consumían las tres partes...
Sendo facilmente influenciável gostava de construir um começo digno. Assim a cada dia me punha diante da tela a pensar e de repente estava lá eu a fazer rasta na sobrancelha. Até que resolvi plagiar Machado de Assis e criar um narrador rumiando coisas do passado, retomadas pela memória que não mente e nem falseia, mas esquece, a bem do leitor, e não é que o cara fica sentado diante da tela branca do BrOffice tirando ouro do nariz!
Sua industria é desumana, e a executa com fervor patológico e ao final morre, para não nos matar a todos. Mas antes nos dará muitas dores de barriga e principalmente prisão de ventre.
O problema estava em como começar. Estritamente: Aquelas cinco ou dez linhas iniciais.
Há pessoas que me sugestionam e só depois me dou conta. Borges encontrava em Don Quijote um desses começos inesquecíveis:
En un lugar de la Mancha, de cuyo nombre no quiero acordarme, no ha mucho tiempo que vivía un hidalgo de los de lanza en astillero, adarga antigua, rocín flaco y galgo corredor. Una olla de algo más vaca que carnero, salpicón las más noches, duelos y quebrantos los sábados, lentejas los viernes, algún palomino de añadidura los domingos, consumían las tres partes...
Sendo facilmente influenciável gostava de construir um começo digno. Assim a cada dia me punha diante da tela a pensar e de repente estava lá eu a fazer rasta na sobrancelha. Até que resolvi plagiar Machado de Assis e criar um narrador rumiando coisas do passado, retomadas pela memória que não mente e nem falseia, mas esquece, a bem do leitor, e não é que o cara fica sentado diante da tela branca do BrOffice tirando ouro do nariz!
19 de fev. de 2011
Bullying.
Até onde o estado deve ser mediador das relações sociais ?
O menos possível! Gloso. O neoliberalismo quer o estado mínimo na economia, no mercado e que este próprio se regule. Aparentemente há regulação de “alto nível” no mercado mobiliário, cujos participantes sugerem resoluções de controle, é dizer: autocontrole, tentativa de minimizar vantagens indevidas devidas à desinformação do incauto, infrações fora deste âmbito, desta zona cinzenta, nebulosa; o estado usa o poder de polícia. Há também algo no mundo dos bancos, futebol e outros esportes.
O bullying numa de suas modalidades é a rejeição como atitude. Rejeita-se manifesta e explicitamente. Gosto. Pois, partir da declaração e da ciência pode-se discutir a questão.
Moisés baixou do monte dizendo que deus ordenou que nos amassemos. Nos odiamos e líder amado é líder deposto ou morto, e morte é uma chancela que cancela muitos vícios do cidadão enquanto vivo. O rejeitado pode e deve rever posições e comportamentos, para ser amado ainda em vida.
Não podemos sair de um momento histórico onde o estado era detentor de prerrogativas exorbitantes (absolutismo) para o tempo dos direitos e prerrogativas exorbitantes do cidadão (democracismo, judiciarismo) à custa dos outros cidadãos, quer dizer, poder pode, espero não ver ninguém ser julgado por botar apelido no outro. Polícia e tribunal custa uma dinheirama.
Borná, dizíamos a um menino filho de um sitiante que sempre levava à professora Terezinha um embornal cheiinho de frutas. É borná ê! É borná ê! Eramos crianças.
O menos possível! Gloso. O neoliberalismo quer o estado mínimo na economia, no mercado e que este próprio se regule. Aparentemente há regulação de “alto nível” no mercado mobiliário, cujos participantes sugerem resoluções de controle, é dizer: autocontrole, tentativa de minimizar vantagens indevidas devidas à desinformação do incauto, infrações fora deste âmbito, desta zona cinzenta, nebulosa; o estado usa o poder de polícia. Há também algo no mundo dos bancos, futebol e outros esportes.
O bullying numa de suas modalidades é a rejeição como atitude. Rejeita-se manifesta e explicitamente. Gosto. Pois, partir da declaração e da ciência pode-se discutir a questão.
Moisés baixou do monte dizendo que deus ordenou que nos amassemos. Nos odiamos e líder amado é líder deposto ou morto, e morte é uma chancela que cancela muitos vícios do cidadão enquanto vivo. O rejeitado pode e deve rever posições e comportamentos, para ser amado ainda em vida.
Não podemos sair de um momento histórico onde o estado era detentor de prerrogativas exorbitantes (absolutismo) para o tempo dos direitos e prerrogativas exorbitantes do cidadão (democracismo, judiciarismo) à custa dos outros cidadãos, quer dizer, poder pode, espero não ver ninguém ser julgado por botar apelido no outro. Polícia e tribunal custa uma dinheirama.
Borná, dizíamos a um menino filho de um sitiante que sempre levava à professora Terezinha um embornal cheiinho de frutas. É borná ê! É borná ê! Eramos crianças.
18 de fev. de 2011
Bento Santiago: por óbvio é casmurro.
Bento Santiago metido consigo, por meio de: deus é poeta, satanás é maestro e Shakespeare um plagiador. Bento Santiago é um plagiador do plágio e quis ser Otelo. Deixa\faz morrer a amada para ter\ser imortal o seu amor, pois o “objeto” é uma atrapalhação que enreda.
17 de fev. de 2011
Bento Santiago é feminino.
Não, não é mulher, nem tentativa de ser, imitação de, transmutação, metempsicose, transmigração etc é feminino.
...A divisão que foi sempre uma das operações difíceis para mim...
Sua lente de ver o mundo é a lente feminina. Tampouco tem mente feminina. É feminino. À imagem da mãe e suas referências. Um exemplo: O rapazito quer ir à Bahia. A mãe diz que não têm dinheiro nem para chegar a Belo Horizonte. O pai os leva à Bahia, estende a viagem ao Recife com chances de chegar a Fortaleza, estoura o cartão no último dia, dá um cheque descoberto, cobri-lo-á “assim que” chegar de volta, caso consiga o dinheiro. O filho volta estupefacto, louco para uma nova viagem. Caso fosse com a mãe a Belo Horizonte. Dormiria num grande hotel, tomaria café da manhã a cada dia, almoçaria, jantaria e iria para a cama de banho tomado e dentes escovados e: ...a Barra do Sahy é muito mais...
Bento Santiago tem essa referência e não sabe esquecer, esquecer de esquecer-se de lembrar. Bento Santiago não se lhe esquece ou escapa as meias ou as cintas ligas da autóctone afrancesada, que cai e levanta-se presta com a “manha” de ocultar prováveis arranhões no joelho e segue em seu tique, tique, tique, tique...
Bento Santiago quer confessar-se, e para usar uma parole inusitada cita Montaigne: ce ne sont pas mes gestes que j’escris, c’est moi, c’est mon essence... diz-se que a essência é o conjunto do resumo do bem e do mal encarnado, isso é um saco de ossos de um desencarnado e com as falanges se embaralham os escafoides, enfim, não diz da bondade de si, senão que dá a bengala a um cego que perdeu o bordão e perde o trem... Voilà mes gestes, voilà mon essence...
...A divisão que foi sempre uma das operações difíceis para mim...
Sua lente de ver o mundo é a lente feminina. Tampouco tem mente feminina. É feminino. À imagem da mãe e suas referências. Um exemplo: O rapazito quer ir à Bahia. A mãe diz que não têm dinheiro nem para chegar a Belo Horizonte. O pai os leva à Bahia, estende a viagem ao Recife com chances de chegar a Fortaleza, estoura o cartão no último dia, dá um cheque descoberto, cobri-lo-á “assim que” chegar de volta, caso consiga o dinheiro. O filho volta estupefacto, louco para uma nova viagem. Caso fosse com a mãe a Belo Horizonte. Dormiria num grande hotel, tomaria café da manhã a cada dia, almoçaria, jantaria e iria para a cama de banho tomado e dentes escovados e: ...a Barra do Sahy é muito mais...
Bento Santiago tem essa referência e não sabe esquecer, esquecer de esquecer-se de lembrar. Bento Santiago não se lhe esquece ou escapa as meias ou as cintas ligas da autóctone afrancesada, que cai e levanta-se presta com a “manha” de ocultar prováveis arranhões no joelho e segue em seu tique, tique, tique, tique...
Bento Santiago quer confessar-se, e para usar uma parole inusitada cita Montaigne: ce ne sont pas mes gestes que j’escris, c’est moi, c’est mon essence... diz-se que a essência é o conjunto do resumo do bem e do mal encarnado, isso é um saco de ossos de um desencarnado e com as falanges se embaralham os escafoides, enfim, não diz da bondade de si, senão que dá a bengala a um cego que perdeu o bordão e perde o trem... Voilà mes gestes, voilà mon essence...
15 de fev. de 2011
Bento Satiago vive só.
Bento Santiago vive só. Viver só é diferente de viver na solidão. Só é tão-só sozinho. A solidão é povoada, é demografia fantasmal orgiástica. Bento Santiago está e vive só, pois somente assim é possível a certeza. Certeza do caminho, certeza que assim lhe queriam; só. O amor é incerto. As declinações do latim são uma obrigação, além de certas.
Bento Santiago não julga e por desnecessidade: não perdoa, não culpa, apenas resigna-se, sem se entregar a própria condição humana. Bento Santiago só quer saber, é o seu vício pequeno burguês.(Poder do conhecimento: O sujeito sabe, a coisa, objeto são meras implicações do poder-saber. Michel Foucault) Bento Santiago é civilizado ( em antagonismo a bárbaros, entregues à paixão - aqui vale repisar Foucault: não há relação de poder entre indivíduos livres - assim no "bárbaro" o poder não se perpetua, só no "civilizado" se estabelece a priori a relação de poder), reservado versus transbordado, no cerne de uma família que rubra diante dos superlativos( empáfia de quasiescravo) de José Dias ( fóssil vivo da escravidão), assim como faz Bento Santiago não ver sentido “reservado, civilizado, burguês” no simples canapé quando ocupado por homem e mulher. Gustav von Aschenbach, homem civilizado reservado, ao experimentar essa “entrega à paixão” ( Morte em Veneza) enlouquece. Bento Santiago nem chegou a experimentar, fugiu, para que talvez amar seja dividir,coisa deveras inútil numa sociedade que encontrou sua expressão, mais superlativa, na propriedade.
Se quiser saber o que é paixão leia:clicando
Zé Gabriel
Bento Santiago não julga e por desnecessidade: não perdoa, não culpa, apenas resigna-se, sem se entregar a própria condição humana. Bento Santiago só quer saber, é o seu vício pequeno burguês.(Poder do conhecimento: O sujeito sabe, a coisa, objeto são meras implicações do poder-saber. Michel Foucault) Bento Santiago é civilizado ( em antagonismo a bárbaros, entregues à paixão - aqui vale repisar Foucault: não há relação de poder entre indivíduos livres - assim no "bárbaro" o poder não se perpetua, só no "civilizado" se estabelece a priori a relação de poder), reservado versus transbordado, no cerne de uma família que rubra diante dos superlativos( empáfia de quasiescravo) de José Dias ( fóssil vivo da escravidão), assim como faz Bento Santiago não ver sentido “reservado, civilizado, burguês” no simples canapé quando ocupado por homem e mulher. Gustav von Aschenbach, homem civilizado reservado, ao experimentar essa “entrega à paixão” ( Morte em Veneza) enlouquece. Bento Santiago nem chegou a experimentar, fugiu, para que talvez amar seja dividir,coisa deveras inútil numa sociedade que encontrou sua expressão, mais superlativa, na propriedade.
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