25 de jan. de 2015

Como um Urubu.



Como um Urubu.
Estamos autorizados a falar em nome de árvores frondosas?É capaz de explicar que intenções tem o vento com esse balaio de roupas estendidas?
Que sabe das nuvens escuras?
E da represa cheia de barro rachado?
E dos carros encostados à sarjeta?
Quem te deu permissão para olhar a lata de cerveja com uma lupa?
E a cruz branca na beira da Anhanguera?
- Na subida de imponente Jequitibá! -
E de quem balança no balanço de pneu?
Pense se com palavras já tem o bastante
ou
mais valeria
bater asas de galho em galho como um urubu.

Nem Felicidade politica, ou Política felicidade: Felicidade e Política.

We the People of the United States, in Order to form a more perfect Union, establish Justice, insure domestic Tranquility, provide for the common defence, promote the general Welfare, and secure the Blessings of Liberty to ourselves and our Posterity, do ordain and establish this Constitution for the United States of America.



O direito a felicidade é difícil de configurar no âmbito da  politica. Pela primeira vez na história (1776) a Felicidade foi incorporada a Declaração de Independência dos Estados Unidos da América, em realidade, era e é um imperativo de construir um governo que garantisse aos cidadães as maiores possibilidades de conseguir sua Tranquilidade e Felicidade, sempre em maiúsculas no texto original.
Se relacionou a Felicidade (Welfare) com a renda, a saúde e a esperança de vida, com a integração social e laboral, com o modo de gestionar o tempo... e desde os anos 70 vem se acumulando estudos que relacionam a maneira de governar um país com a Felicidade de seus cidadãos.
Tudo começou com o FIB, Felicidade Interna Bruta do Butão, uma monarquia parlamentarista budista situada entre o Tibet e a Índia. Trata-se da medida de nove parâmetros onde somente um é econômico.
Fazer as pessoas felizes deveria ser a finalidade da política, segundo Aristóteles, quando se persegue o bem supremo. Desgraçadamente andamos decepcionados com a politica, com as instituições e com os partidos, e não é modo de dizer que a política não nos faz felizes, na verdade ela nos entristece ainda mais. Paradoxalmente, o fato de como a política é feita nos decepcionar e nos indignar nos convence ainda mais, a Felicidade tem uma dimensão politica e não é exclusivamente individual.
Isso significa reconhecer que a politica tem um enorme poder sobre as nossas vidas e sobre o nosso grau de Felicidade, e aceitar que constitua, simultaneamente, um risco para o nosso bem-estar; mas também uma das forças mais poderosas, na hora de proporcionar oportunidades de autorrealização e de crescimento para cada indivíduo e para o conjunto das sociedades e da Humanidade.   

23 de jan. de 2015

O Grande Assado: Poder ao Forno com Trufas e Couve de Bruxelas ao Mel: A Tolerância.




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Em meio a grande mesa, pousado em grande e preciosa baixela, o assado gourmetizado preferido do ser humano: O Poder. Nos seus devidos lugares: os comensais, uns sentados, uns nas cabeceiras, outros na segunda linha e outros se distanciando dele, mas guardando uma visão parcial ou do todo suculento. Houve um tempo em que o mais forte o puxava para si, sem delongas. Outro em que o Absoluto dele se nutria e deitava migalhas. Por votação... mérito, sorte ou azar, mas sempre resta sobre a legitimidade de quem o esquarteja um zum-zum zum, um mi-mi-mi, um blá blá blá que num crescendo, vez sim outra também, termina em tremendo bafafá, e nesse momento não há como mitigar; se atiram sobre as partes desejadas, mesmo quando caídas ao chão, e uns aos outros e às migalhas se as disputam com os cães no auge da mendicância.
Simplesmente, não há acordo possível. Nem o budismo, o cristianismo, o protestantismo, o islamismo e todos os ismos ligados à religião, à filosofia ou a ética, por muito que se tenha ou tivessem fé, ou se esteja ou estivessem comprometidos, agora ou antes, fizeram água na Idade Média ou em plena Revolução Francesa, não funcionam e não funcionaram como elemento de coesão bastante e suficiente entre os povos. De fato, desde nossos círculos de convivência e das pessoas que podemos chegar a compreender, nem se amam as nações, nem as pessoas, nem as empresas, nem as torcidas de futebol...
Não é agradável reconhecer essas nossas limitações na convivência entre os povos, culturas e pessoas. Mas boto minha roupa bem vincada de realista, sem me deixar cair no cinismo, ou na desesperança, para especular sobre as possibilidades. Penso na tolerância. A tolerância. Bendizemos a tolerância. Mas será a única virtude cívica que nos resta? A única maneira prática de aceitar o outro e de o suportar até o que nos desagrada neles? Será a tolerância a coluna vertebral da convivência pacífica? Tenho minhas dúvidas! A tolerância para mim é um tédio. A tolerância é para aquilo que não sinto nem amor, amizade ou simpatia. Apesar disso, parece eficaz, sem milagres. Num mundo aonde a Moral, o Amor, a Razão todos, fracassaram, inclua-se neles todos seus discursos.



Em tempo: Couve de Bruxelas talvez seja a ignomínia do mundo vegetal!

22 de jan. de 2015

Nevoeiro.


Dizer jamais é sempre um exagero, pode ser que um nevoeiro cinzento me envolva numa trama, que farei chegar até você. Você o reconhecerá, ou alguém que te conhece, ou tenha vivido perto de você, ou esteve com você na mesma sala de cinema, sim, é um suspense, quando não uma baba viscosa suspendida, que não sabe saltar no desconhecido, e fica ali esticando e encolhendo. Então abre a boca como um peixe fora da água, confiando que avessa à baba soltará palavras, mas é como se abrisse a torneira no mesmo filme, e não sai nada, monossílabo átono que seja, de verdade só a baba viscosa, que nojo... já faz tempo que jaz dormida da mordida vis-à-vis nojenta.     

21 de jan. de 2015

O Equilíbrio. Mauri Lima.


MauriLima. Artista Plástico. obra em
 Ferro Fundido


Buscar o equilíbrio das pedras requer silêncio. Até que as pedras falem. Ou até que não se possa falar. Ou ainda que se canse do silêncio. Ou até que se descubra que o equilíbrio não se pode desenhar com outra coisa senão silêncio. Ou até que queira, necessite, quebrar o silêncio, o equilíbrio, mas não as pedras. 

Pequena homenagem a Mauri Lima. 

19 de jan. de 2015

Encher Linguiça.




A tudo dizem, cultura. E já se esquece o que realmente é, e já ninguém fala, ainda que todos nela se socorram para tudo. Tudo é cultura, alimentação, saúde, esporte, TV e pobre de quem rumine fora do cocho, porque as bocas se encheram até cuspirem espuma com expressões que comecem com cultura de... e que não queira saber como acabam, porque a variedade é ilimitada como a diversidade de gostos que são obrigadas a ter as linguiças, que as fazem com rúcula, provolone, muçarela, tomate seco, tanta variedade que me obrigam a pedir linguiça de linguiça. Com a cultura se dá o mesmo, e ao final nomearemos cultura cultura. Porque não quero conselhos para correr melhor, receitas de linhaça, nem análise profunda do último BBB, nem a lista dos bares da cidade com as melhores comidas de boteco.
A cultura fazia perguntas, fazia pensar, a praga hermenêutica não havia tomado conta de tudo, agora parece que querem nos dissuadir, os degustadores culturais, que enquanto como batata frita com creme de alhos, ele mastiga para mim a última novidade editorial, que leu em duas noites ou uma e enche uma long neck de adjetivos, para que eu possa falar algo, quando me perguntarem, você já leu? Sempre chegarei tarde, eles vão às pré-estreias, eu corro e como linhaça, saio com sacolas do Shopping, bebo cervejas artesanais, sempre tarde, porque a cultura se consome de pressa ou já vencida.
Temos que viver de alguma coisa e que se o ranking dos melhores coloridos ovos cozidos da capital... então percorremos a cidade apressados a ingerir ovos. Afinal devo estar em dia com o que interessa a todos e interessa a todos o que se faz agora não o que foi feito a dez anos, cem anos... e estão ai as listas de locais e as coleções de os dez melhores disso e daquilo, de conselhos dietéticos e estéticos, e polifacéticos, que fazem em conjunto uma bufa tribal.
A cultura pode ser estática, lenta, e atemporal, ou ainda, devia ser, não sei bem, mas aposto por isso. Assim pode-se ver um filme dos anos 80, ler um livro escrito em 1909,de um século, e não é um exagero meu, estou sendo muito preciso com o tempo, claro, se foram feitos com algo mais que a pressa, ou com o afã de estar no decálogo do momento. No entanto, nos confundimos, e tudo confusamente é cultura e é essencialmente consumo e preferentemente imediato.
Pode parecer que exagero, ou que estas linhas são brotos de sofisticação, mas não, é só abrir a TV, o jornal, os olhos e ver a encheção de linguiça.
O que quero dizer, e ainda que não pareça, que falamos de TV, de correr, andar de bici, ou de dietas milagrosas em meio a críticas de livros que não lemos, e ao lado da entrevista do escritor a lista dos melhores quitutes de boteco, afinal não sou obrigado a ler nada. Quero dizer que cada vez custa mais encontrar coisas legíveis, e as cervejas de mil gostos farão com que um dia esqueçamos que a base de uma boa cerveja é cevada e lúpulo, e que uma boa linguiça se faz com carne de porco. Se me queixo que os escritos são encheção de linguiça é porque tampouco a linguiça é feita como linguiça, resta saber do que são feitos os porcos.

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17 de jan. de 2015

A Secretária de Segunda Mão.

Aonde vou botar a secretária de segunda mão que comprei para o computador? Aqui? Naquele canto? Gosto dela onde está, de cara para a parede, com o quadro que pensava que me faria entrar para as artes plásticas. Nessas coisas sou prático, não consigo elaborar, boto e vejo e corrijo se for necessário. No meio do caminho? Tem certeza? Há bastante espaço, não há porque tropeçar! É! Então... e pensando bem, muda o ponto de vista, claro, não automaticamente, não é sentar ali e pronto. É sentar um monte de dias enfileirados, olhar tudo desde lá, ler desde lá, responder, escrever, perguntar, propor, mudar o ponto que sempre fixo o olhar, entre a meia parede e o teto, que é lá onde tudo se explica, ou se confunde. É ver tudo desde o meio do escritório. Quem diz escritório, diz mais coisas. Ainda nem sentei naquela cadeira diante da secretária, mas é como se já tivesse sentado, com o novo ponto de vista, com aquele ponto de vista já aderido aos ruminantes, a ponto de desfazer o velho ponto de vista, e olha que isso não é uma publicidade de móveis. Desde o ponto de vista da cadeira da secretária do computador, que posso chamar de ponto de vista da cadeira, vejo tudo o que antes via, mas agora vejo diferente, como se eu não fosse eu, senão um tipo de narrador onisciente, que observa a cena desde fora e a pode descrevê-la como se fosse um manual, não esqueça que quem diz cadeira, escritório diz mais coisas, todas as coisas, e me pergunto, porque comprei uma secretária de segunda mão, para me dar conta que está tudo bem, bastante bem, mas bem do que pensava antes da secretária de segunda mão. Então chega o dia que já tenho o novo ponto de vista, e já o posso usar para tudo, inclusive fora do escritório, na cozinha, na churrasqueira, pelas ruas, e por onde fixo o olhar, vou vendo que não está nada mal, que há muita coisa que se encaixa, que são muitas as coisas que têm o seu lugar próprio, e já faz dias, semanas, meses que poderia dizer que sou feliz, bastante feliz, por não adicionar nem um mas logo depois, é só botar um ponto e seguir. Feliz. E então sento onde me sentava antes, e olho a secretária, e continua não sendo um anúncio de móveis. Falta pouco para recomendar a todos os meus amigos, que agora boto ponto final e um adjetivo, sem mas, e o adjetivo quase foi tarde demais para pronunciá-lo, que comprem uma secretária de segunda mão e a pousem no meio do escritório, quem diz escritório diz mais coisas.