Nos primeiros tempos,
se levantava, fazia a barba, se duchava, se vestia alinhadamente,
pegava a pastinha com seus currículos, enfrentava filas,
despachava currículos pelo correio. Voltava para casa.
Esperava um toque do telefone. Um e-mail. Um torpedo. Sentava-se no sofá
e via televisão. Então começou alternar, dia
sim, dia não ia distribuir currículos. Voltava para
casa e via televisão. Já não ia distribuir
currículos. Foi perdendo a vontade de comer. Foi perdendo a
vontade de se barbear. Ficava em casa. Vestido com seu moletom.
Sentava no sofá. Esquecia de ligar a televisão.
Esquecia de comer. Um dia bateu a sorte à sua porta. O
encontrou morto.
29 de jun. de 2016
Medo.
O Medo.
Tenho medo. Reconheço
que tenho medo. Digo em voz alta: Tenho medo! Tenho medo! Tenho medo!
Quer saber do que tenho tanto medo? A tudo. A mim mesmo. Do vizinho.
Do cachorro do vizinho. Do som do vizinho, que estraga minha sesta.
Tenho medo que morra meu gato. Tenho medo que morra a orquídea
que paguei caro. Tenho medo que a mulher do vizinho não
encontre trabalho. Tenho medo que o buraco em que se meteu este país
não tenha fundo. Tenho medo de que os políticos parem
de roubar e só sejam incompetentes. Tenho medo de que os
juízes não sejam melhores que os policiais. Que os
policiais não sejam melhores que os bandidos. Que os bandidos
não sejam melhores que eu. Tenho medo. Só não
tenho medo de quem chora. Deste tenho dó. Como diz a canção.
Tenho medo da canção que não conheço.
Tenho medo da Rita Lee. Tenho medo do Belchior. Tenho medo do Gabriel
pensador.
Mas o vizinho vendeu o
som do carro. Sua mulher arranjou emprego. O buraco do país é
mais embaixo. É túnel sem fim, sem luz. Os políticos
continuam roubando e incompetentes. Os juízes não são
melhores que os policiais, que não são melhores que os
bandidos, que não são melhores que eu, que não
sou melhor que ninguém. Não ouço mais canções.
Não ouço a Rita Lee, o Belchior. Gabriel pensador não
pensa. Grande é a merda. Tudo sei que é. Perdi o medo
de ter medo. Só sinto medo. Medo. Medo. Medo.
Conto vomitivo.
O Vômito.
Às vezes tenho
vontade de vomitar. Vomitar muito. Muito. Um vômito espesso. Em
cachoeira. Em rio caudaloso. Cheio de grumos. Grumos tão
grandes que não passem pela minha goela. Um vômito que encherá
a sala onde estou. O corredor. A sala de estar, sempre vazia. A casa. A rua. O bairro. A vila inteira. O ribeirão Preto. O rio em que nele deságua. E essa vontade
imensa de vomitar tanto e continuada, e exagerada, que às
pessoas que estão nos quiosques, nos food trucks, nas cadeiras
nas calçadas, nos bancos dos jardins, no semáforo, enfim, lhes deem vontade, também, de vomitar, de vomitar em grupo, todos
juntos. Gritamos e vomitamos. E quando tudo estiver emporcalhado
pelas nossas vomitadas, estaremos, por fim, limpos.
28 de jun. de 2016
Apolo XI.
Apolo XI.
Fui criado na rua
larga, onde as guias eram as traves para jogar bola. Na rua
passávamos a noite tomando a fresca, os adultos bem sentados
em cadeiras, bancos e a molecada correndo para cima e para baixo, a
estrada e a velha estação da Mogiana, lá no fim
da descida da rua da Igreja eram os nossos limites. A luz mortiça
dos postes nos propiciavam conversas a voz baixa, novidades, piadas,
desgraças se compartiam, enquanto pelas janelas e varandas
fugia o calor acumulado nas casas durante o dia.
- Vaga-lume tem tem,
seu pai tá aqui, tua mãe também e corríamos
com um tição em brasa na ponta, rodopiando no ar,
traçando círculos que sumiam na noite, só
voltariam a aparecer quando fechasse os olhos para dormir.
- Um dois três...
Migrilo, Tigriça, Toin podem voltar, eu vi quando se
mexeram.... Protestos, discussões... a brincadeira voltava a
começar, e quando alguém se metia na rua, a mãe da rua
o tocava... tocou, não tocou... Se nos cansávamos,
íamos para as escadarias da igreja a contar histórias,
mula-sem-cabeça, mãe-d'água, mãe-da~lua,
o Pe Canuto; o medo invadia pouco a pouco e cruzávamos as
árvores do pequeno bosque, pisando leve, mas se alguém
pisasse num graveto, e ele quebrasse, o barulho nos fazia correr, de
por o coração pela boca.
- O pai do Zé
Luiz comprou uma televisão! Sim, compraram uma igual ao do seu
Humberto Toni. Na hora do recreio a noticia se espalhou pelo bairro,
e logo depois da janta, veio gente até do morro do Canequinha,
o Barbuzano. Cada um trouxe sua cadeira, o pai do Zé Luís
botou a TV na varanda. Aquela noite soube do calor que fazia no Rio
de Janeiro, suas praias, vimos Bonanza...
O pai do Zé
explicou que comprará a prestação, no carnet. Em
poucos meses quase todos tínhamos nosso próprio
aparelho, fomos substituindo as cadeiras, os banquinhos na calçada
pelo sofá, a mesa do jantar, pelo sofá, e as conversas
sussurradas pelo psiu, ” Assim não posso ouvir o que dizem”.
Enquanto víamos
ao vivo, cada uma na sua casa, a chegada da Apolo XI à lua,
morria a dona Isildinha. Ninguém sentiu sua falta antes da
manhã do dia seguinte, quando ela não saiu para varrer
a frente de sua casa.Apolo XI.
Eu, ou meus Erros e eu!
Eu,
ou meus Erros e eu!
As
vezes meus erros são mais inteligentes que eu. O certo é
que acada erro me ensina algo de mim mesmo, mas alguns deles me
levam intelectualmente a lugares longínquos, que minha razão
nem sequer é capaz de sonhar. Sonhar que as emoções
modifiquem os fatos, já não sonho. Que tudo passa, mas
o passar permanece no seu passar, até que então passe.
Que muito da vida depende da sorte, e isso simplesmente não
posso aceitar, esperar. Hoje o que mais temo é um fotógrafo,
que um psicanalista, um argumento contrário.
Muitos
que conheço temem ou não querem ser identificados com
nenhum grupo bem definido por suas divisas, de onde podem a tudo
atacar. Acontece que isso me parece a vã glória do
anonimato; não sei se fazem isso por fragilidade, ou por isso
se tornam frágeis, o que é um problema, me parece,
principalmente, se as divisas se tornam fronteiras.
Aprendi
imenso com palavras convincentes e não pelo que pudessem,
simplesmente, significar, porque todo absoluto é algo
patológico; por isso não me canso de repetir uma frase
da MPB que diz que quem vende saúde, provavelmente é
doente; o que é horroroso, espécie de misticismo
religioso que baniu a teologia, ou qualquer condicionante.
Hoje
quase não me entedio, não me aborreço
facilmente, mas por vezes não me escapo do tédio, no
entanto nesses momentos não saio a procura de fazer, ou de um
acontecer, porque é muito comum acontecer algo, e temo não
estar preparado, então espero o aborrecimento passar, é
melhor; porque, entre outras, se não me preparo, sou campeão
em fazer mal e porcamente as coisas boas, e perfeitamente as coisa
ruins.
Moral
da história, melhor não fazer nada sem estar
minimamente preparado, senão que acaba tudo dando no mesmo,
em erro. Embora saiba que possa de alguns erros tirar proveito, mas
sei que de nem todos, melhor dizendo de poucos.
EXARCONTE OU CORO
EXARCONTE OU CORO
Se quer exarconte, mas não passa de coro, formado por grupos de fantasmas, suicidas, afogados, prestamistas, palhaços e imbecis, sacerdotes e bispos malvados, médicos agiotas, serviçais ineficazes, bacharéis às pencas, ignorantes diplomados, corruptos da antinomia: policiais e bandidos, pensadores estetas e estetas de toda classe e ausência, nenhum desses grupos necessita ser revalidado pelo sistema, analógico, ao que todos contribuímos inevitavelmente. Personagens fascinantes? Sim... mas tênues, opacos, cinzas.
Se quer exarconte, mas não passa de coro, formado por grupos de fantasmas, suicidas, afogados, prestamistas, palhaços e imbecis, sacerdotes e bispos malvados, médicos agiotas, serviçais ineficazes, bacharéis às pencas, ignorantes diplomados, corruptos da antinomia: policiais e bandidos, pensadores estetas e estetas de toda classe e ausência, nenhum desses grupos necessita ser revalidado pelo sistema, analógico, ao que todos contribuímos inevitavelmente. Personagens fascinantes? Sim... mas tênues, opacos, cinzas.
Butecuando?
A saideira, antes do Toba bar, iu toba!
Importação de médicos.
Sometimes me pergunto se o pessoar da unaerp, de vassouras, de sei lá... donde, ''passa'' no tal exame. Quando estudava nas imediações da USP, por um motivo que não vem ao caso, ficava sabendo, por exemplo, que a residência estava aberta à concorrência, mas não entrava ninguém de fora, da faculdade local, por incompetência. Claro que está em causa não exatamente as habilidades médicas dos médicos que virão intravenosamente ou a conta-gotas, mas questão de poder, então não existe argumento de partes que se confrontam! tais argumentos servem aos indecisos, por imbecis, quais forem, pois quem tem posição tomada, por ideologia ou alienação, que dá na mesma está empacado, como eu e você!
Importação de médicos.
Sometimes me pergunto se o pessoar da unaerp, de vassouras, de sei lá... donde, ''passa'' no tal exame. Quando estudava nas imediações da USP, por um motivo que não vem ao caso, ficava sabendo, por exemplo, que a residência estava aberta à concorrência, mas não entrava ninguém de fora, da faculdade local, por incompetência. Claro que está em causa não exatamente as habilidades médicas dos médicos que virão intravenosamente ou a conta-gotas, mas questão de poder, então não existe argumento de partes que se confrontam! tais argumentos servem aos indecisos, por imbecis, quais forem, pois quem tem posição tomada, por ideologia ou alienação, que dá na mesma está empacado, como eu e você!
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